Desfavor convidado: Diário de um término masculino.


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Se nós temos coragem de postar nossos textos, imagine só os seus…

DIÁRIO DE UM TÉRMINO – VERSÃO MASCULINA

Li o pedido de uma versão masculina sobre o diário de um término que a Sally escreveu na comunidade do desfavor e resolvi falar sobre as minhas experiências nesse campo. Do mesmo jeito que a Sally falou de tomar um fora ou ter que dar um fora numa pessoa que ainda se gosta, vou contar pelo menos o que acontece comigo…
Podem postar se quiser… Mas sem colocar o meu e-mail.

Dia 1 – Na hora de terminar foi difícil, doeu, mas você conseguiu se segurar e não chorar na frente dela. Você se sente muito mal por não demonstrar o que estava sentindo de verdade, fica pensando se ia mudar alguma coisa. Depois do baque do término, vem uma sensação estranha, como se você não sentisse nada mesmo, acho que a gente acredita na pose que fez mais cedo… Nas primeiras horas você não consegue chorar ou mesmo falar sobre o assunto, fica aquele silêncio interno e externo.

Ninguém ainda sabe do que aconteceu, e você fica imaginando todo o sacrifício que vai ser contar para os amigos ou mesmo para a família. Não é egoísmo de querer evitar trabalho, é medo de estar fragilizado pelo o que acabou de acontecer e acabar demonstrando isso para outras pessoas. É hora de ficar na sua, e se conseguir, chorar um pouco no travesseiro para soltar um pouco do que está represado. Nem sempre você consegue.

Dia 2 – Você acorda meio perdido, como se tivesse tido um pesadelo. Não demora muito para a ficha cair e você lembrar de tudo o que aconteceu no dia anterior. “Será que foi o melhor que poderia ter acontecido? Será que eu não consigo consertar tudo?” Agora é hora das dúvidas – pessoais e intransferíveis – já que um homem tem certeza do que decide e não volta atrás. Certo? Não, não vai ser agora.

É o momento de fazer a primeira grande tarefa do pós-término, que é escolher quem vai ser a primeira pessoa com quem você vai falar sobre o assunto. É estranho ligar para alguém e desabafar, você não quer ser lembrado como o cara que liga para um amigo e começa a chorar. Mais uma grande dúvida que você não quer sanar agora… Ao invés de admitir que precisa de um ouvido amigo, você decide que agüenta seguir sua vida normalmente e resolve seguir sua rotina. A primeira pessoa que fica sabendo nem é tão sua amiga assim, é só um coitado ou uma coitada que te pergunta o porquê de suas olheiras. Mesmo abrindo o jogo, não dá para dizer o que realmente está acontecendo com você, se nem para um grande amigo você choraria as pitangas, imagina só para uma pessoa com quem não tem intimidade? Você solta algo do tipo “É… O que se pode fazer?” e torce para que não percebam que seus olhos marejaram. Normalmente não percebem ou não tem coragem de te dizer que perceberam.

Começa a cair outra ficha, a de que você não deveria ter pulado a etapa de sofrer e de que você não é tão macho assim. Saindo do trabalho você liga para o seu melhor amigo e solta a bomba. Chegou a hora do bar.

Dia 3 – O dia começa pela madrugada, que você passa enchendo a cara. A conversa com seu amigo – ou mais amigos – não chega a ser um desabafo, na verdade você quer se convencer que está fazendo tudo certo e não teve culpa pelo fracasso da relação, discurso que é reforçado por quem está ao seu lado naquela hora. Você solta bravatas do tipo “Agora eu estou solteiro e quero fazer um estrago!”, “Vamos aproveitar a noite!”… Mas no final das contas você vai no máximo espantar alguma pobre garota que está próxima. Você faz pose – de novo – para quem está perto de você e acaba acreditando nela. Se a bebedeira permitir, você volta para casa e aproveita a facilidade para dormir sem pensar em nada.

O primeiro momento de perigo é quando você acorda, com aquele gosto ruim na boca e uma dor de cabeça daquelas… Você se sente um babaca, um perdedor… Dá aquele desespero de achar que fez uma merda muito grande se separando dela. Tudo aquilo do qual você fugiu ontem continua exatamente onde você deixou, você vai até o telefone e disca o número dela até o penúltimo dígito… E repete para si mesmo toda aquela argumentação babaca onde você é totalmente inocente e ela totalmente culpada. Não, não vai ser agora.

Se foi você que terminou, ela costuma não resistir mais e acaba te ligando. Pronto, você escapou dessa! Agora é hora de dizer o que está sentindo, de abrir o coração e contar como está sendo horrível para você, como você está completamente perdido… Mas não, não vai ser agora. Um nó na sua garganta não te deixa falar, e ela também não ajuda, parece que depois de só três dias toda a naturalidade que vocês tinham um com o outro se foi… Silêncios estranhos, perguntas banais… E você, frouxo, passa a imagem de quem não está nem aí para nada. Tudo continua na mesma.

Dia 4 – Parabéns, você conseguiu vencer a fase do choro fácil. A sua cabeça começa a voltar para o lugar, parece que finalmente o pior passou. Foram três dias difíceis… Você resolve comemorar, seja saindo de novo com seus amigos ou mesmo se permitindo alguma atividade solitária divertida. Se ela tenta falar com você hoje, você está inteiro, coloca a cabeça no lugar e diz tudo o que uma pessoa racional diria. É a sua função como homem pensar nessas coisas, você diz para ela que ela vai encontrar outra pessoa, que você nem era o homem certo pra ela mesmo… E todas essas bobagens que dizemos – à toa – para sentirmos que estamos a protegendo novamente.

O dia segue bem. Você ri, se diverte, começa até a fazer algumas piadas com o assunto. Acabou e você aceitou.

Dia 5 – A vida continua, você tem mais o que fazer. Aparece uma força de vontade incrível e você resolve arrumar suas coisas, colocar um pouco de ordem na sua vida. Aí começa a perceber alguns detalhes… Você não fez a barba nesse tempo todo, pediu pizza quatro dias seguidos e não jogou fora as embalagens, esqueceu de desligar a TV antes de dormir… E tem a sensação que dormiu abraçado com o travesseiro nas últimas noites. Estranho… parecia que você estava vivendo no automático. Se for parar para pensar, mal se lembra do que aconteceu até ali. Um homem não tem tempo de ficar pensando nessas coisas… Você começa a arrumar sua bagunça, pensa demoradamente na frente do espelho se deixa o bigode que acabou de aparecer ou não, tira aquela toalha mofada do chão do quarto…

Está na hora de seguir em frente, você já se convenceu. Até que você encontra alguma coisa dela perdida no meio da zona que você chama de casa… Uma foto, um brinco, um cartão de aniversário… Você acha que já superou, mas não, não vai ser agora.

Você olha para essa lembrança, não te parece nada demais. Até que acontece… E eu garanto para vocês que não sei se é só comigo ou se acontece com outros homens, nunca tive coragem de perguntar isso para outro… Um calafrio te anuncia o que vem por aí, e você não consegue mais se segurar, você chora de verdade pela primeira vez. A tristeza toma conta de você como um raio e toda aquela força anterior é reduzida a pó de uma vez. A sua única alegria é não ter ninguém para ver isso. “Acabou… Eu não vou mais ter ela por perto. Acabou…”

Do jeito que você é burro e teimoso, deve ter marcado algum programa para a noite e precisa se livrar dessa cara inchada urgentemente. Com um sacrifício enorme, você faz como sempre te ensinaram e engole o choro. Não importa se passou ou não a vontade, você para de chorar e se força a não ter nenhuma recaída. Quem vê de fora já acredita que você superou, e você vai manter as pessoas pensando assim custe o que custar.

Dia 6 – Você está desesperado porque percebeu que não está imune ao término. Você quer fazer o que puder para resolver isso. E já que você parou de mentir para si mesmo, fica muito mais difícil mentir para os outros. As pessoas mais próximas podem até perceber e taxar de recaída, mas você sabe que acabou de começar… O pior de tudo é que você já perdeu a oportunidade de desabar na frente dos outros. Ela está na sua cabeça, pela primeira vez desde o primeiro dia tomando quase todos os seus pensamentos. E pelo o que você já está sabendo, ela já até saiu com as amigas de novo… Sabe-se lá o que elas aprontaram.

Você não tem escolha a não ser engolir tudo o que estiver sentindo e não dar o braço a torcer. Homem não chora. Sorte que você já sabe como lidar com todo esse sofrimento sem dar nenhum sinal. Uma das melhores formas de fazer isso é não ficar sozinho, é muito mais fácil fingir que está tudo bem quando tem alguém olhando.

“Foda-se, eu não vou ficar em casa hoje… E se eu achar uma mulher razoável hoje, eu vou pegar, não quero nem saber…”

Essa vontade toda de sufocar a tristeza vira uma confiança das grandes, e confiança pega mulher. Sem contar que ainda dá para aproveitar a deixa de “acabei de terminar um namoro, sabe?”. Fácil fácil. Com sorte você até consegue evitar passar uma semana sem sexo.

Dia 7 – Você sabe que vai começar a sentir tudo o que ignorou até agora, e sabe que ainda vai tomar mais algumas dessas rasteiras dos seus sentimentos. Mas acabou o seu sofrimento para o mundo exterior. Você só se permite demonstrar um pouco de tristeza, de uma forma mais controlada e mais conformada, para algumas pessoas bem próximas. Não é exatamente o que você quer dizer, mas quebra o galho.

Você vai entregar as coisas dela que ficaram com você. Ela te devolve as suas. Se você olhar muito tempo para ela, desaba. Se você se permitir abrir o jogo com ela, vai passar a mensagem errada. Você não precisa querer voltar com ela para querer mais um tempo com ela. É mais ou menos o que ela devia estar sentindo quando te ligou logo após o término… Mas os nossos tempos são diferentes… Eu sou o homem, eu agüento. Talvez aconteça um sexo de despedida, mas bem lá no fundo você sabe que é uma idéia burra.

Nada fica resolvido.

Dia 8, 9, 10, 11… – Um homem supera o fim de uma relação em uma semana? Não, pelo menos eu não… Mas depois disso é só comigo. Eu vou fingir que tudo está bem bem antes de tudo estar bem. Vai passar, sempre passa. Você se distrai com o trabalho, resolve dar mais atenção aos amigos, pula de mulher em mulher para passar o tempo… Um homem dá o seu jeito…

Anônimo

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Comments (13)

  • Acabei de terminar um namoro..estou no segundo dia ainda HUASHEUASEH. É incrível como o texto de fato corresponde à realidade.
    Já terminei outros namoros antes, tenho apenas 21 anos, mas costuma ser assim.
    Exceto que, às vezes, as recaídas de fato acontecem e é impossível evitar: "será que fiz a coisa certa?".
    Mulheres…todos são assim, homens e mulheres. Evitar falar do assunto nos faz sentir que ele já passou, mesmo que não tenha.

  • Anna Nascimento

    Términos também são assim para mim e sou mulher. O fingir estar bem não é renegar os sentimentos, menos ainda falhar na comunicação. É apenas guardar para nós mesmos o que é só nosso. Quando o casal já não existe, os sentimentos passam a só dizer respeito a quem os sente, não há mais por que expô-los à outra parte. Também não há por que expô-los a outras pessoas, visto que, sendo sentimentos tão subjetivos e complexos, ninguém seria capaz de realmente compreendê-los, as pessoas limitariam-se a sentir pena de nós, o que é totalmente dispensável.

  • Achei ridículo.

    Um homem acordar pensando para quem vai desabafar? Menos…

    Somos racionais… práticos.

    Tudo bem, posso chorar durante o término, mas lembrar e derramar lágrimas posteriormente? Eu não…
    Acho que o normal é após o término já selecionar candidatas para o novo cargo… dar uma zoada com os amigos, porque a gente se sente LIVRE e isso é muito bom.

  • ah, muito bom.
    foi sincero, insistiu no lance de fingir que não está acontecendo nada. por mais que mulheres reclamem, acho que sabem que os homens são assim.
    dá vontade de matar, mas a gente já se conformou.

  • Cansam rápido um escambal! Muitas mulheres se apaixonam por gays, justamente porque gays demonstram os sentimentos. Pelo jeito vcs nunca vão mudar e a crise na comunicação vai continuar. Desisto!

  • Ótimo texto.
    NINGUÉM deve se punir pelo que sente (ou o que não sente). Qual é o sentido de enganar a si mesmo?
    Se acabou, o consolo que se tem é pensar que foi o melhor a ser feito.

  • Nenhum homem vai aparecer pra comentar? Só em anônimo mesmo, né? Eles são os Supermen, não amam, não choram, não nada… Tô sabendo!

  • Pois é… Os homens fazem questão de aparentar o que não são. Se eles fossem sinceros, as relações seriam melhores. Qual é o problema? É a criação que tiveram? Desde quando ter sentimentos é brega? Vcs deveriam rever os seus conceitos.

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