Desfavor bônus: Bianca das Neves. (1)

O reino encantado das Neves: Parte 1

Olá, eu sou o Espelho Falante e a partir de agora serei seu narrador. Se você não se lembra do que aconteceu no capítulo anterior, azar. Meu contrato diz especificamente que só devo contar a história a partir de agora. Bianca, nossa heroína, sente-se sob o efeito de drogas… Quem escreveu isso? Tudo bem… Tudo bem… Como eu ia dizendo, Bianca acabara de sair de um elevador e encontrar em sua frente um local completamente novo, onde uma figura conhecida a esperava:

“Eu sei que eu sou fofinho e encantador… MAS EU NÃO SOU DECORAÇÃO! Eu poderia ter morrido de fome!” – Pamonha, o gato, parece furioso.

“Você… Fala?” – Bianca arregala os olhos.

“Ha! Muito engraçado! A Princesa Negligente agora virou Princesa Boba-da-Corte? Você me prende nessa torre sem NADA para comer por um dia inteiro para fazer sei-lá-o-quê com algum daqueles seus camponeses fedidos e ainda volta brincando com o assunto?” – Pamonha dá as costas para Bianca e bufa. (Gatos bufam em contos-de-fadas, aceite.)

“Torre?” – Bianca finalmente começa a prestar atenção ao aposento no qual se encontra. De formato circular, com as paredes formadas por substanciosos blocos de pedra, todo decorado com motivos medievais.

“Continua brincando mesmo… Um dia desses alguém abre o bico sobre as suas escapadelas e o Rei te manda ser a consorte daquele balofo gasoso do Reino dos Repolhos.” – Pamonha pula sobre a enorme cama no centro do quarto, atravessando o mosquiteiro para finalmente repousar sobre um enorme travesseiro dourado.

“Aquele palmito… Aposto que foi o palmito de ontem. Eu deveria ter escutado a voz do meu bom-senso.” – Bianca divaga, ainda no mesmo lugar.

Depois de notar um grande espelho na parede, Bianca se aproxima para analisar sua situação atual. Surpreende-se com as roupas que veste, algo mais comum em histórias infantis sobre reinos muitos distantes do que intoxicações alimentares.

“O que está acontecendo?” – Bianca move-se para ter uma visão melhor de seu suntuoso vestido.

“Defina acontecendo.” – Eu digo. (Pois é, narrador e personagem. Estraga a história mas dobra meu pagamento.)

“AAAAHHH!” – Bianca cai sentada após o susto de ouvir uma voz sair do espelho.

“Como quiser, Princesa. Neste exato momento Vossa Alteza acaba de cair no chão.” – Um rosto, mais parecido com uma máscara teatral, surge na superfície do espelho.

“Mas que merda! Tudo fala aqui, é?” – Bianca nem se dá ao trabalho de se levantar.

“Princesa, esse palavreado não é digno de sua realeza.” – O espelho diz.

“Pronto, começou a chatice.” – Pamonha rebate.

“É minha função cuidar do desenvolvimento adequado de nossa Princesa.” – Espelho falante.

“É minha função cuidar do nhé nhé nhé nhé nhé…” – Pamonha imita o Espelho.

“Estou acima de suas infantilidades, felino.” – Espelho.

“Também está acima da minha caixinha de necessidades…” – Pamonha.

“Oras, seu animal imundo… Princesa, eu não sabi… Princesa?” – Espelho.

Bianca havia se retirado dali enquanto a discussão acontecia. Depois de passar pela maciça porta de madeira que selava o quarto, Bianca deu de cara com um pequeno aposento cuja saída era uma escadaria espiral para baixo. Mas logo após colocar os pés para fora do ambiente onde se encontrava, foi interpelada por dois homens vestindo pesadas armaduras metálicas. Guardas.

“Vossa Alteza deve permanecer em seus aposentos.” – A voz, abafada pelo capacete, demonstrava seriedade.

“Vossa Alteza? Eu só quero tomar um ar fresco e ver se acordo!” – Bianca tenta avançar, mas é bloqueada pelo outro guarda.

“Ordens do Rei.” – A mesma voz decreta.

“QUE REI? REI DE QUEM? EU QUERO SAIR DAQUI!” – Bianca empurra o homem que impedia sua passagem. Em vão.

“Deixe que eu cuido dela, verifique se ela colocou mais uma trança falsa na janela.” – O guarda que estava quieto faz um sinal para o outro, que se retira rumo à escadaria mais próxima. Bianca fica sozinha com um homem que deveria ter no mínimo dois metros de altura, armado com uma espada maior do que ela mesma. Nesse momento, nem uma agulha passaria… (Se é que vocês me entendem.)

“Princesa, eu já te disse que nesse aí eu não confio. Puxa-saco do Rei. Tinha que ter dado o sinal…” – Levantando seu elmo, o guarda olha ao redor, certificando-se de que não havia mais ninguém por perto.

“De nooovo? Aquele bofe da estrebaria deve mesmo ser mesmo um a-ni-mal! Ui! Vai ter que emprestar! Hahahaha!” – Curiosamente afeminado apesar de suas feições másculas e corpo avantajado, o guarda segue até uma armadura decorativa escorada na parede.

“O que… você… está fazendo?” – Bianca, desconfortável, nota que o guarda coloca a mão entre as pernas da figura, como se estivesse pegando seus… genitais.

“Vou abrir o buraco. Não é isso que você quer, queridinha?” – O guarda continua mexendo no mesmo lugar.

“Abrir o buraco? Isso é alguma gíria para viadagem?” – Bianca, como sempre, sutil.

“Gíria? Viadagem? Que palavras são essas? Andou se atracando com aquele estrangeiro de novo, safadinha? Achei! Rápido.” – O “homem” pega uma grande chave de metal e segue até um pequeno alçapão no chão, que passara despercebido por Bianca até este momento.

Após abrir a portinhola, ele dá uma longa olhada para a Princesa.

“Você vai descer vestida assim? Costuma ser arriscado essa hora. Bom, ele já está acostumado a viver entre cavalos mesmo…” – O guarda parece surpreso.

“Só quero sair daqui. Onde isso vai dar?” – Bianca mal dá tempo para ouvir a resposta e já vai entrando no apertado buraco no chão. Uma escada improvisada com cordas é o meio de locomoção. Não se enxerga nada para baixo.

“No lugar de sempre, a saída do es…” – Um barulho de passos força o afrescalhado tamanho família a mudar o rumo da conversa.

“Desce! Desce! Ele voltou! Quando voltar é só dizer a palavra secreta!” – O guarda diz de forma apressada.

A porta se fecha, deixando Bianca num breu completo. Sem ter outra alternativa, continua descendo. Quanto mais avança, mais sente um cheiro desagradável. As peças do quebra-cabeça finalmente começam a formar uma figura em sua mente.

“Caralho… Eu estou no cano do esgo…” – Bianca é interrompida pelo impacto de um poderoso jato de água acompanhado de alguns detritos sólidos. Juntando coragem, volta a respirar só para constatar o cheiro que já imaginara.

“Não dá pra ficar pior do que isso…” – Bianca, ignorando uma das regras mais básicas de histórias ficcionais, diz as palavras mágicas que desencadeiam os próximos acontecimentos.

“Minha perna está formigando… Acho que estou acordando. Ainda bem.” – Bianca relaxa presa na escada esperando o fim dessa confusão.

“Estranho, parece mais uma cosquinha… E está nos meus braços também… Opa! Chegou na testa… Agora vai.” – Mas nada ocorre. A sensação estranha continua e Bianca resolve sentir sua pele para saber o que estava acontecendo. Seguindo a movimentação em seu rosto, sente alguma coisa sobre sua bochecha. Algo que consegue pegar. Algo que se movimenta. Algo com perninhas.

“AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!” – No desespero para se livrar das incontáveis baratas que andavam sobre seu corpo, Bianca se solta e começa a cair.

Queda amortecida pelo seu vestido, que se prende a alguma coisa no caminho e torna a aterrissagem suficiente macia para que ela finalmente perceba uma luz no fim do túnel. Refeita do susto, engatinha por uma estreita galeria rumo à saída.

Encharcada de água de esgoto e semi-nua, Bianca finalmente experimenta as benesses do ar-livre.

“Puta-que-pariu, como isso fede!” – Ainda absorvida pelos seus pensamentos, não percebe que está sendo observada.

“Veja só, tão bela camponesa presa a tão repugnante profissão. Deveriam proibir damas de limparem esgotos.” – Ao levantar os olhos para seguir a voz que acaba de ouvir, Bianca depara-se com mais um homem de semblante conhecido, montado num imponente cavalo branco.

“Júlio?”

Continua… (E dessa vez continua, palavra de Espelho!)

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Comments (5)

  • Eu juro que preferia lagartixas…
    mas a bianca das neves é maneirinha, fala até palavrão!
    *esperando novos capítulos *-*

  • Lagartixas são bichos bonzinhos, que inclusive comem baratas. Tem gente que enche a casa de lagartixas, vale por uma dedetização.

  • O Somir não usaria lagartixas. Ele tem aquele pensamento semi-ecológico de que lagartixas são bichos bonzinhos que comem mosquitos…

  • Acho que o Somir atingiu seu objetivo…a parte das baratas foi um COMPLETO desfavor!! Sera que voces nao entendem que mulheres vao ficar se imaginando cheias de baratas? Iiiilllllll…Dona Sally…queria ver se fossem lagartixas….hunf!

  • Baratas, eca… Essa é a história de terror mais apavorante que eu já li na minha vida! >__<
    Ahhh, baratas… eca eca eca eca eca!
    Mil vezes eca!

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