Desfavor da Semana: Desencalha Eu!

Ontem (12/06) foi o dia dos namorados. Hoje (13/06) é o dia de um santo católico conhecido por ser “casamenteiro”. Todo ano é o mesmo desfavor: Homens e mulheres solteiros de todo o Brasil fazem de tudo para não deixar essas datas passarem batidas. Afinal, é uma oportunidade para se adequar à expectativa social de não ficarem sozinhos.

Tem gente que até fica meio depressiva nessa sequência de dias “amorosos”. Isso é um desfavor!

Eu normalmente sou um cético azedo sobre qualquer tipo de data comemorativa. Onde a maioria das pessoas enxerga apenas mais uma oportunidade para fazer algo diferente e “entrar no clima”, eu enxergo um comportamento retrógrado, estúpido e emblemático sobre como nossa espécie ainda vive nas trevas da simbologia e misticismo.

O número do dia que você enxerga no calendário não deveria ter nenhum efeito sobre sua mente. Os dias do ano são convenções altamente influenciadas por motivos religiosos e manipulados ao bel-prazer de quem quer que tivesse poder de mudá-los de acordo com o poder dominante na época. Por si só, não significam nada além de contagem de tempo. (E imprecisa, para ajudar… A cada ano sobram 6 horas que precisam ser jogadas no dia 29 de Fevereiro dos anos bissextos.)

É uma bobagem dessas que mexe tanto com os humores das pessoas? Parece até que ainda adoramos o Sol como uma entidade viva e fazemos rituais para agradá-lo por sermos seres primitivos… (Opa…)

O dia dos namorados é uma data comercial. Óbvio. Mas mesmo a maioria da população que sabe disso ainda é suscetível ao clima criado pela mídia e a empolgação social gerada pelo dia 12 de Junho. Desde as pessoas que se sentem deslocadas por estarem solteiras até os desfavores que acham que nesse dia (e no dia seguinte) vão ter mais chances de arranjar alguém…

Sim, estou sendo excessivamente crítico. Sei que poderia simplesmente ignorar a bobagem que é essa data e deixar as pessoas se divertirem nos seus mundinhos ritualísticos. Mas, ser excessivamente crítico te ajuda a perceber que sempre existe mais por detrás dessa diversão aparentemente inocente:

A pessoa funcional.

A pessoa funcional é aquela que segue os padrões esperados dela, é aquela que mantém a sociedade coesa com objetivos, opiniões e medos mais ou menos parecidos. Todo mundo gosta da pessoa funcional. Ela compra nas datas certas, ela trabalha em prol daquele que conseguiu uma posição superior, ela acredita em (teme) seres imaginários mais ou menos parecidos com a média.

A pessoa funcional fica empolgada com o dia dos namorados. Ela sai e abarrota o comércio do país comprando todo tipo de cacareco entulhado nos estoques das lojas. Ela se sente péssima caso esteja encalhada e pensa em diversas formas de contornar esse problema. Mesmo que esse problema só tenha surgido em sua mente em forma de problema por causa do número do dia e mês que viu no calendário. (Sabe aquele que foi inventado para que alguns líderes políticos e religiosos fossem eternizados?)

A pessoa funcional movimenta a economia e reforça a crença geral nas religiões que melhor controlam a população. Tenham em vista que várias pessoas funcionais estão fazendo simpatias e promessas em nome do santo “de hoje”.

Mesmo que toda e qualquer forma de simpatia e promessa seja uma bobagem sem NENHUM efeito prático em qualquer esfera da realidade. (Efeito placebo já é um conceito científico, não há mais desculpas para misticismo nos dias de hoje.)

A pessoa funcional não contesta. Ela funciona.

Foi mal, mas ninguém comemora o dia dos namorados. As pessoas comemoram o fato de estarem dentro da média do que é esperado delas. É útil que todos tenham objetivos parecidos de fazerem pares e criarem famílias. Faz bem para a economia, faz bem para a divisão de propriedade, faz bem para as instituições que lucram muito com isso…

Além disso, fazer o que todo mundo faz é reconfortante para uma mente tão cheia de inseguranças como a humana. Fazer parte do padrão realmente aumenta a qualidade da vida social de uma pessoa. Se a maioria das pessoas se recusa a perceber que faz exatamente o que querem que ela faça, é uma batalha inútil sair dizendo por aí que vai ser diferente. Por isso, conformismo e conformidade tem papéis tão importantes em datas comemorativas como as quais inspiram esta postagem.

Eu sempre achei que TODAS as datas comemorativas gerais eram absurdos (tirando o dia das crianças e o natal quando era criança…), mas sempre tive que me conformar que outras pessoas pensavam diferente. Inventar uma data para comemorar um conceito abstrato (geral) é mais ou menos como fazer um monumento em homenagem a um deus. Eca.

Mas adianta dizer isso por aí? Aposto que vão dizer que eu chamei o dia dos namorados de desfavor porque não estou namorando. SPOILER: Sempre achei uma merda estúpida, mesmo nos meus melhores momentos de namoro.

Acho menos ridículo comemorar a data do primeiro encontro, ou mesmo do primeiro beijo. E nem comecemos a falar sobre as pessoas que estão colocando imagens de um santo de ponta-cabeça neste exato momento…

Chega de comemorar a “idéia” do que é um namoro. Chega de namorar para não ficar sozinho. Chega de bobagem… A vida é o que NÓS fazemos dela.

Eu não sou funcional. (Pelo menos foi o que disse meu psiquiatra.)

E adoro isso. Feliz dia de nada.

Para dizer que obviamente eu estou amargo por estar solteiro, para dizer que fez uma promessa para o santo e conseguiu um namorado na sua agência de modelos ou mesmo para dizer que não entendeu porra nenhuma: somir@desfavor.com


Nós mulheres, vivemos sob constante pressão social. Temos que ser magras para caber nas roupas que vendem em lojas, temos que ter uma profissão para não sermos consideradas acomodadas, temos que estar atualizadas para não virar uma bonita-burra, temos que parecer jovens e etc. Nesta semana uma das imposições sociais salta aos olhos: dia do namorados. Sim, ainda tem mulher histérica que acredita que sua felicidade se mede pelo sucesso em encontrar um parceiro. E a mídia ajuda a alimentar esse desfavor. Essa pressão social é o desfavor da semana. E quem cede a ela também.

Mulher feliz é aquela com um homem do lado. E é melhor ninguém questionar isso, porque automaticamente ganhará a presunção de encalhada e invejosa. É inveja, é sempre a inveja. “Eu tenho homem, ela não tem”. Sinceramente, para ter alguns homens com os quais neguinho anda namorando e casando… prefiro mil vezes ficar sozinha, se for o caso. E QUE BOM que eu consigo ficar sozinha e ficar bem. Essa é uma das coisas que tenho mais orgulho em mim.

Para completar o pacote de desfavor da semana, hoje ainda é dia de Santo Antônio, o suposto santo casamenteiro. O desespero das socialmente pressionadas que “não tem homem” as leva a depositar suas esperanças em simpatias ridículas, entregando a responsabilidade da sua vida ao divino. Nada contra pequenas simpatias, todo mundo tem superstições, o que estou criticando é essa postura radical de algumas mulheres em não mexer o rabo para fazer acontecer e entregar nas mãos de um santo sua felicidade. E criar expectativas enormes com isso.

Até quando mulheres vão dar tanta importância a homem? Até quando elas fizerem do homem seu “tudo”, o usarem para preencher todas as carências e ocupar todos os papéis da sua vida. Homem é para ser SEU HOMEM, ponto. Não é para ser seu melhor amigo, seu pai, seu irmão, seu confidente seu… “tudo”. Não tem que te acompanhar no salão, no médico, no batizado chato e no exame ginecológico. Quem tem amigos, família, colegas, hobbies, trabalho, enfim… quem tem UMA VIDA, completa e satisfatória, não dá tanta importância a homem, simplesmente porque não tem tempo para isso. Não tem tempo para ligar e ficar perguntando onde ele está, não tem tempo para encher o saco do infeliz, controlar, pegar no pé. Homem é um plus. Isso mesmo, um plus. E não a razão da nossa vida e tábua de salvação da nossa felicidade.

Mas, esta semana deixa exposta essa ferida. Todas aquelas que hiper-valorizam homem começaram a dar piti já na segunda-feira. Recebi muitas perguntas de “como vou fazer para passar um dia dos namorados sem namorado”. As que tem namorado sentem “pena” daquelas que estão sozinhas. Os comerciais de TV te mostram como você não é feliz se não tem um homem do lado. Mulheres mais vulneráveis caem nessa armadilha e se desesperam. Passam a sexta deprimidas e o sábado colocando santo na geladeira de cabeça para baixo.

Eu poderia dizer que o desfavor da semana são essas datas comemorativas, mas sinceramente, não acho que o problema seja a data. Acho legal dia dos namorados. O problema são essas mulheres histéricas que acreditam que sua felicidade depende da presença de um homem na sua vida. Eu sempre dou um mesmo conselho a mulheres que se dizem desesperadas por causa de homem: “Calma, vai aparecer alguém, toda panela tem a sua tampa”. Mas cá entre nós? Tem gente que passa a vida sem viver uma grande história de amor. É bom aceitar isso e descobrir formas alternativas de ser feliz. Sim, o amor não acontece para todo mundo. É provável que aconteça para 90% de nós, mas também pode acontecer de encontrarmos muitos homens errados que nunca preenchem nossas expectativas (principalmente quando elas são enormes).

Vamos colocar uma coisa nas nossas cabecinhas: RELACIONAMENTOS SÃO PASSAGEIROS. A gente fica com um homem do lado enquanto dá certo, quando não dá mais certo, quando as pessoas começam a querer coisas diferentes e incompatíveis, a gente se separa e procura outro homem. Não estou pregando relacionamentos descartáveis, acho que temos que lutar pelo relacionamento, mas com bom senso, enquanto ele for POSSÍVEL. Não dependemos de relacionamento para conseguir felicidade.

E se você ainda acha que precisa de um relacionamento para ser feliz, recomendo que procure fazer mais amigos, abrir sua cabeça, viajar, conhecer a diversidade do mundo, de outras culturas, se dedicar a uma profissão pela qual seja apaixonada, se exercitar, praticar um hobbie que te seja prazeroso, enfim, buscar EM VOCÊ MESMA sua própria felicidade. Repetindo: homem é um plus.

E durante o relacionamento, é preciso manter essa linha de pensamento. Ele não é “tudo” para você. Ninguém aguenta ser “tudo” de ninguém, é muita responsabilidade. Ele é um plus. Você vai continuar saindo sozinha com amigos, continuar trabalhando, continuar praticando seu hobbie, dividindo o tempo que você tem entre todas as atividades, sendo ele MAIS UMA, e não sua prioridade absoluta. É isso aí, mais uma. Trate um homem assim, e ele dificilmente deixará de se apaixonar por você, eu prometo. Dê total prioridade a homem, fique muito disponível e veja por si mesma o que acontece com a relação a longo prazo.

Esta semana da pressão social só é desfavor porque tem gente que cede. Vamos todos refletir sobre a importância que damos ao sexo oposto no relacionamento (porque também tem uns homens surtados que se portam da mesma forma neurótica e sufocadora que as mulheres!). Vamos aprender a ser um inteiro, e não uma metade de alguém. Assim, quando a pessoa vai embora, nós continuamos um inteiro.

Para me dizer que eu não sei o que é amor, para me dizer que eu tenho inveja e para me dizer que preferia que eu tivesse escrito algo na linha “dia dos namorados é um feriado capitalista criado pelo comércio para vender mais”: sally@desfavor.com

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Comments (7)

  • Eu sou um ser contraditório, embora concorde que basicamente o tempo não existe, datas no calendário é só uma marcação (imprecisa como citou o Somir), eu gosto de comemorar o natal presenteando a família, e no dia dos namorados eu quando estou comprometido compro um presente. Eu encaro isso de forma "light", é só uma data, eu sei… é puramente comercial, eu sei… mas acho gostoso comprar um presente, criar um clima mais romântico… e acho que pessoas que dizem "não precisa ter uma data especial para comprar presente ou ser romântico", criaturas chatas, muito chatas… claro que compro presentes em outros dias, mas nesse dia TAMBÉM, só porque é gostoso, legal… não vou deixar de fazer isso só para ser "underground", "rebelde".

    Agora como sou contraditório, odeio comemorar aniversários. Somente parabenizo outrem, porque sei que para outras pessoas é importante.

    E sendo mais contraditório ainda:

    Eu já passei muitos dia dos namorados sozinho, muitos, nunca me deprimi por isso. Porque é só uma data.

  • Só tenho uma citação para fazer:

    "Santo antônio era um intelectual!

    Queria saber quem foi a filha da puta da encalhada que inventou que ele era casamenteiro!

    O infelizinho tem síndrome de pânico de tanto que "tira a criança dele" "arranca a criança dele" "esconde a criança dele"…

    Porra o filho nem é dele, é dos outros! Uma puta duma responsabilidade!

    Agora cada vez que fala "Santo Antônio" ele fica lá todo apavorado…"

    =D

    E, hey, não tenho pena de ninguém não… Ninguém nunca morreu de passar dia dos namorados sozinho, não é hoje que uma catástrofe dessas acontece. Fica frio aí! xD

  • É, porque a realização máxima de uma mulher é fazer filho… e ficar escrava de sua cria pelos próximos vinte anos de sua vida…

  • @Somir

    Alguém mais parou de tomar soma por aqui.

    @Sally

    "O desespero das socialmente pressionadas que 'não tem homem'[..]"

    Você esqueceu do ponto evolutivo do negócio. Se elas não encontrarem um parceiro antes da menopausa, vão acabar morrendo sem procriar, um desastre para a espécie.

  • Todo ano a mesma chatice. Passaria em branco se as pessoas "funcionais" não fizessem tanta questão de citar (e choramingar) em tópicos, na padaria, e na mesa de jantar que é "dia dos namorados". Proibi meu namorado de me dar presente no dia 12, e obviamente não dei (o presente! HÁ). Não é mesquinharia da minha parte não, dou presentes em qualquer data do ano, basta achar algo que ele realmente goste e irá ter significado (jogo, filme, livro)… Me sinto uma vaca quando as propagandas dizem quando eu devo presentear e gastar dinheiro quem eu gosto. Sério.

  • Show de bola os 2 textos!! É lógico que essas datas são puro comércio, mesmo assim a mulherada solteira fica mal e se enche de doces no dia dos namorados.
    Obs: Também adoraaaaaaaava o dia das crianças e o Natal hehehe

  • Campeão, se você reparar, hoje em dia a pessoa "funcional" já está começando a acreditar no Nada.

    É, rapaz, a crença deliberada em lhofas! Valores, religião, tradições, costumes, cultura, NADA!

    E os novos ídolos de quem crê em NADA estão começando a pipocar por aí (engraçado como é quaaase paradoxal, mas não é). Richard Dawkins é só um dos primeiros.

    Bem vindo à nova onda, campeão!

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