Eu, desfavor: Sexo virtual.

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Navego pela internet desde 1996. Municiado de meu Pentium 70Mhz e seu indefectível modem de 36.600Bps, navegava por vários minutos nas madrugadas. Considerando a minha idade na época, não demorou mais do que um “fechar de portas” para tentar achar alguma mulher pelada na rede.

Algum tempo depois, descobri a maravilha dos chats públicos. Foi amor à primeira vista. Já estava irritando e provocando pessoas antes mesmo de saber o que significava o termo “troll”.

Pode-se dizer que passei boa parte do meu tempo online caçando pornografia e contatos anônimos com outros seres humanos. Era de se esperar que eu tivesse pulado de cabeça na onda do sexo virtual, não? Pois é… Não foi o que aconteceu. Mesmo com as fases de não pegar nem gripe na vida real, toda a idéia de sexo virtual parecia ridícula demais… até para mim!

E quando eu falo de sexo virtual, eu realmente quero dizer fingir que está fazendo sexo de verdade com uma pessoa distante de você. Todo mundo fala suas sacanagens eventualmente. Mas aquele ponto, o RPG pornográfico de descrever o que está fazendo com a outra pessoa… Isso era impensável para mim. Talvez eu não me julgasse no direito de ser TÃO nerd assim. (Hoje em dia eu acho patético mesmo.)

Mas acabou chegando o dia onde a curiosidade venceu o senso de auto-preservação de auto-imagem. (Ou algo assim…)

Estávamos na época do ICQ. Toda essa história de webcams ainda não fazia parte da realidade dos ninfomaníacos virtuais. Você tinha que confiar que era mesmo uma mulher do outro lado. Foi na base dessa confiança que comecei minhas conversas com uma tal de Mary. Ainda estava engatinhando na arte do “bico doce”, mas consegui abrir meu caminho rumo a um pouco mais de intimidade com a suposta garota. (No ICQ, você pesquisava entre as pessoas que estavam online ao mesmo tempo que você e SE VIRAVA para ganhar a atenção delas… Nesse ponto era mais divertido e desafiador que o MSN, mas ainda sim, uma nerdice sem tamanho…)

Conversa vai, conversa vem, um belo dia (até aquele momento) eu acabo vencendo as defesas morais de Mary e consigo que ela me descreva como estava vestida. Segundo ela, uma camisola e nada mais. (Na imaginação, camisolas são curtas e sexys, e não camisetas largas e sujas com desenhos infantis, ok? Não me julguem.)

Sinto aquele prazer da vitória. A garota sempre foi jogo duro e agora estava me dizendo que estava sem roupa-de-baixo? Eu com certeza estava seguindo um bom caminho. Mesmo sem grandes prospectos sobre o destino.

Mais algumas daquelas bobagens que dizemos quando estamos no assunto desejado e ela me devolve a pergunta. É nesse momento que eu percebo que teria de escolher entre realidade e fantasia…

Realidade: Uma camiseta surrada e manchada de molho de tomate, completada por uma bermuda antiga comicamente menor do que o normal e uma cueca azul que além de furada, ainda estava com o elástico estourado.

Fantasia: Apenas uma cueca preta. E meus poderosos músculos.

Escolhi a fantasia. As coisas começam a sair de controle nesse exato momento. Começo a perceber que não poderia tratar o assunto como um voyeur textual. Teria que participar daquilo de corpo e alma.

Mas jogar fora meus avanços? Talvez se eu mandasse bem ela topasse mandar uma foto ou mesmo um encontro às cegas. Mas… e se ela fosse uma baranga? E se ela estivesse tirando sarro com a minha cara? E se ela fosse um homem?

Não dava tempo para devaneios, ela me responde dizendo que gostaria que eu estivesse perto dela naquele momento. Eu que não poderia deixar por menos, afinal, tinha procurado por isso. Escrevi que se ela estivesse por perto não se arrependeria. (Falando sem pensar: Por Somir.)

Ela dá o próximo passo perguntando o que eu faria com ela.

É uma das primeiras vezes que eu percebo que minha paranóia sobre quem está do outro lado do computador era capaz de me deixar terrivelmente inibido, mesmo anônimo. “Ela está me sacaneando, eu sei… Deve ter umas dez pessoas lendo isso… Todos rindo de mim.” Os meus próprios crimes contra otários na internet tinham se voltado contra mim. Eu não confiava em mais ninguém formado de bits e bytes.

Mas revelar isso seria muito “viadinho”, penso eu. Tinha que continuar no comando da situação. Naquela sanha estúpida de auto-afirmação, digo que arrancaria aquela camisola dela.

Lembro bem: Ela responde com um “hihihihi”. (Risadinha tímida pré “rsrsrs”. Outros tempos, desfavores…)

Pronto! Estava no controle novamente. Ela que estava tímida. Poderia dormir em paz sabendo que eu tomei a dianteira e deixei-a sem graça com minha testosterona em forma de pixels. Claro que eu ainda resolvo tirar onda perguntando se ela ficou com vergonha. (Claro…)

Ah, Somir, por que você escreveu isso?

Ela diz que sim, mas que é porque só ela que está pelada agora. Quando o “eu faria” se torna “eu estou fazendo”, não tem mais volta. Eu estava prestes a ter minha primeira vez de mentira. E pior, sem nenhuma proteção.

Vacilo um pouco. Penso se eu realmente quero continuar com aquilo. Ela me pergunta se eu que estava com vergonha agora. Maldita pessoa sem rosto da internet! Você me conhecia melhor do que eu mesmo. Óbvio que eu não admitiria isso.

Fantasia: Digo que também estava tirando minha roupa.

Realidade: Mais um gole de refrigerante.

Se serve de consolo, ela que abre a sessão pornográfica de vez, fingindo espanto com o tamanho do que acabara de ser descoberto pela cueca preta. Eu entro no jogo, de forma totalmente mecânica e previsível. De uma certa forma, estava “enfiando dobrado”.

Aquilo já não tinha muita graça. Era puramente virtual, sem a menor indicação de que se tornaria realidade. Estava sendo usado.

Ela me descrevia em detalhes como estávamos fazendo sexo. Eu concordava. Completamente incapaz de entrar no clima e me sentindo violado, comecei a torcer para gozar logo. Não na vida real, o único líquido prestes a sair de meu corpo era mesmo aquele copo de refrigerante. Eu queria terminar logo aquela sessão de sexo virtual, era vergonhoso. Não só pelo fator RPG sexual já citado, mas também porque no final das contas, acabou sendo uma broxada.

Meu o eu fantasioso continuava suas proezas sexuais, contanto.

Se você é mulher, já deve ter percebido que é um tanto quanto suspeita essa descrição sobre a súbita empolgação e assertividade de Mary com o assunto. Quisera eu ter percebido algo de errado ali. Mas até aquele momento, ela parecia a típica mulher fresca que eu estava tão acostumado a ver por aí.

Mary começou a me pedir para descrever meu “gran finale”. E não era para proteger os olhos ou evitar uma gravidez indesejada, Mary queria que chegássemos ao clímax juntos.

Veja bem, apesar de estar numa das fases mais onanistas de minha vida, nunca tinha cronometrado quanto tempo demorava para ir de um ponto ao outro da masturbação. E como estava fingindo até isso, tive que colocar um prazo mental de uns três minutos para avisá-la. Parecia justo.

Enquanto isso, aproveitei e fui me livrar daquela tubaína. (Ainda não era viciado no ácido ortofosfórico…)

Voltando, vi algumas mensagens de incentivo na tela e constatei que estava na hora de gozar. Finalmente! Ela pareceu satisfeita também. Ainda me sentindo sem graça por ter fingido um orgasmo numa sessão de sexo virtual, continuei conversando com ela por mais alguns minutos, dizendo que tinha adorado a experiência.

Ela me disse que precisava dormir. Eu pensei que apesar da estranheza do que acabara de fazer, talvez aquela situação se convertesse em algo mais real depois. Ah, a vida é de quem se arrisca! E pelo menos ela era safada!

No dia seguinte, converso com ela novamente. Ela já abre a janelinha do ICQ me perguntando se estava com saudades. Eu digo que pensei nela a noite toda. (Pensei mesmo. Aquilo tinha sido ridículo.)

Ela parece surpresa. Me pergunta porque eu pensei nela a noite toda. Eu respondo que era por causa da noite anterior.

Ela me faz outra pergunta. “Porque eu não estava aqui?” (traduzido do miguxês arcaico)

Eu respiro fundo… e pergunto onde ela estava na noite anterior. Ela me diz que havia saído com as amigas. Eu fecho a janelinha e apago ela da minha lista.

Até hoje eu não sei com quem tive minha primeira relação sexual virtual. E sinceramente… Não quero saber.

Para me perguntar o que eu estou vestindo, para dizer que eu sou um broxa virtual ou mesmo para dizer que é a Mary e estava só tirando uma com a minha cara: somir@desfavor.com

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Comments (11)

  • Paulo César Nascimento

    Uma idéia tenebrosa invadiu minha mente neste momento: teria o Somir broxado virtualmente com o Deja se passando por mulher?!

  • Meu primeiro contato com computadores foi aos 11 anos, na feliz tentativa de me prender dentro de casa, quando meu tio me largou um pc (q não faço idéia da configuração) com ms-dos e joguinhos do atari, me ensinou comandos básicos como cd e cd.. e disse: Te vira! Aprende! … Aprendi! Rá!
    Fiquei nessa vida um bom tempo até conseguir uma gratificação: windows 95!! * . *
    Daí fui ganhando "ups" até chegar a um pc "decente".

    Enfim, só fui apresentada a internet já na era do MSN (com 'maturidade suficiente' para 'navegar'). Nunca vi um ICQ na minha vida, mas jamais tive qualquer tipo de experiência parecida.

    Mas ri muito com essa do Somir! hahahahahah
    Vai ver ela(e) só tava tirando com a tua cara mesmo!!! hehhe

  • Também estou na internet desde a mesma época que o Somir, e me divertia de forma semelhante, aliás, até uns anos atrás, meu modus operandi era o mesmo.

    Já me fiz de mulher para enganar alguns homens, inclusive, certa feita eu marquei um encontro com um homem em um ponto X, com outro homem nesse mesmo ponto X, passei para o H1 a cor da roupa que o H2 estaria vestindo e vice-versa. (Espero que eles tenham se acertado.)

    Já me fiz de mulher, lésbica, a meta era que ela (outra sapatilha) me abrisse a cam, mas antes desse recurso, eu já me esforçava para convencer algumas mulheres a me ligarem e a fazerem sexo virtual, lembro que enquanto eu assistia "No limite", uma mulher de uns 40 anos gemia e me chava de "meu nego" (Baiana). Também lembro que quando eu assistia ao Jornal Nacional sobre o atentado de 11 de setembro nos USA, uma advogada gozava e falava que pagaria minha passagem para visitá-la.

    Não me excitava com aquilo, nem mesmo pornografia me interessava, mesmo porque, eu já frequentava puteiros desde que recebi meu primeiro salário. Preferia coisas reais (mesmo pagas).

    Houve alguns casos em que foi interessante transformar a conversa em algo real, como no caso de uma afrodescendente (não fazem meu tipo, mas eu precisava experimentar) ninfomaníaca que morava perto da minha casa quis me ver. Foi bom até. Mas terminou quando ela quis me tratar como namoradinho e eu comentei "Legal, até que você tem sentimentos".

    Também namorei por 5 anos alguém que eu apenas queria seduzir porque era uma bela loira…

    Apesar disso, continuei a trollar as pessoas por um certo tempo, mas até fazer boas amizades, na verdade, minha melhor amiga, que pra mim é uma irmã, mãe, me fez rever meus conceitos, acho que antes eu não enxergava os seres do outro lado da tela como pessoas reais, eram só bits e bytes, agora não…

    Antes era como um jogo de xadrez…

  • Anõnima de novo

    Ah, mas também há séculos atrás, devia ser um pirralho tclando com O Mary, que devia já ter certa idade e tava dó de trollagem. Eu quando era pirralha, só queria saber de entrar em chat e zoar pra caramba. Bem divertidos aqueles tempos. Show de bola a postagem!

  • Hahahahahahahahha, puta que o pariu, Somir! Tentarei não deixar de dar créditos pras coisas que você escreve deois dessa! Hahahahhahaha

  • "Fantasia: Apenas uma cueca preta. E meus poderosos músculos."

    hahaha!!

    Sexo virtual… desfavor meeesmo!!!acho q neem saberia o q inventar…! péééésssimo!!

  • eu gostava da época que não se ligava cams e não se usava foto. o papo fluia legal. hoje em dia só querem ver e mostrar os paus e as rachas, ninguém sabe mais conversar.

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