Ele disse, ela disse: Reagindo ao assalto (verbal).

Civilidade, educação e respeito são condições essenciais para qualquer relação minimamente saudável. Mas dificilmente se consegue seguir à risca essa cartilha de comportamento humano aceitável. Todo mundo acaba perdendo a cabeça eventualmente numa relação. Temos um caso onde as coisas parecem ainda mais complexas: No ambiente de trabalho.

A relação de hierarquia direta cria uma tensão extra na relação entre chefe e empregado. Tensão que desencadeia algumas broncas e esporros raivosos na constância da relação profissional. Algumas vezes são justas, outras não… Sally e Somir discordam sobre a melhor forma de lidar com o assunto.

Tema de hoje: Responder a um superior hierárquico ao tomar um esporro, no momento da briga?

Sim. E sempre que possível da forma mais humilhante e destrutiva que você for capaz. Esporro não faz parte de nenhuma relação profissional (a não ser que você trabalhe como ator/atriz pornô…) e é apenas uma demonstração de insegurança e falta de respeito do chefe que o pratica.

Eu vou tirar isso do caminho agora: Se você ou sua família dependem do emprego para sobreviver, faz sentido não responder e aceitar de cabeça baixa. Afinal, nesse caso é uma chantagem (“aceite essa humilhação para inflar meu ego vazio e eu continuo te pagando o necessário para você não passar fome…”) da qual não se pode escapar.

Vamos considerar o caso onde o tema de hoje realmente pode ser discutido: No caso de você poder se arriscar a perder o emprego sem ameaçar sua integridade física e das pessoas com as quais você se importa. Comodidade não conta.

Existe um limite claro entre racionalidade e fúria, e um esporro público de um chefe para cima de um funcionário não faz o MENOR sentido. Empresas existem para gerar lucro, lucro depende de mecanismos eficientes para gastar pouco e ganhar muito. Funcionários desmotivados e humilhados são menos eficientes. Não sou eu que estou dizendo isso, é consenso geral entre quem sabe como ganhar dinheiro com um negócio. Trate seus funcionários mal e eles vão tratar sua empresa da mesma forma. Ação e reação.

Um dos maiores mitos que existem sobre descontroles de superiores hierárquicos é que dentre aquelas palavras duras existe um objetivo nobre: Resolver algum problema e ajudar o funcionário a trabalhar melhor.

Para que algo assim funcione, é necessária a junção de dois tipos bem específicos de pessoas: Um chefe naturalmente grosso, mas justo; além de um funcionário que consegue evitar entrar na defensiva e naturalmente disposto a dar seu máximo pelo trabalho que desempenha.

E mesmo assim, daria exatamente no mesmo uma conversa civilizada.

Percebem que mesmo no raríssimo caso desse ataque do superior hierárquico TER algum objetivo construtivo, ainda sim o ataque em si não é o que demonstra isso?

Descontrole é descontrole, não importa a situação. E abaixar a cabeça para uma pessoa descontrolada é reforçar esse comportamento. Você evita o confronto uma vez e PEDE para ser atacado todas as outras vezes que essa pessoa resolver que precisa “descontar” suas frustrações para cima de alguém que julga não poder revidar.

Você confia que seu chefe seja uma pessoa razoável? Você acredita numa espécie de santidade corporativa? Não é só porque o Zé Ruela está um nível acima de você numa empresa que ele vai ser mais competente ou mais inteligente. Tanta gente sobe na vida sendo desonesto e covarde…

Uma pessoa que berra e tenta te diminuir em público tem uma característica altamente explorável: Insegurança. Acredite em mim quando eu digo que uma resposta controlada e cruel vai entrar DIRETAMENTE debaixo das defesas dessa pessoa. Quem perde a cabeça perde a verdadeira força.

Não sou um grande defensor de berrar de volta e fazer uma disputa aberta de forças. Até porque seu chefe vai simplesmente te demitir. Isso só deve ser feito em último caso, e último caso é justamente aquele onde todas as relações de poder se resumem a quem é mais forte. Eu, por exemplo, não duraria mais do que dois ou três berros com um chefe antes de efetivamente descobrir quem tem a mão mais pesada.

Mas não precisamos transformar qualquer discussão num campeonato de vale-tudo, precisamos? Até porque hoje em dia homens e mulheres são chefes e funcionários. A parte da briga não funcionaria em adversários de gêneros diferentes.

A solução? Responder, mas mantendo a postura de quem está certo. Não obrigatoriamente sobre o assunto em questão, mas de quem está certo de qual é a forma mais civilizada de resolver o problema. A forma eficiente, a forma que gera lucros.

Destrua o poder do seu chefe mostrando que é melhor do que ele. Uma pessoa que tem de apelar para essa forma primata de imposição dificilmente é boa no que faz. Pode ser a hora de jogar na cara dele suas falhas, pode ser a hora de procurar o superior dele e botar as cartas na mesa, pode ser a hora de debochar da cara dele e minar sua autoridade de forma irreversível, pode ser a hora de levantar e falar grosso para demonstrar que a hierarquia não se estende às pessoas envolvidas…

Faça o que fizer, mas restabeleça a diferença entre pessoa e funcionário. O seu chefe pode fazer várias coisas com o funcionário, mas a partir do momento em que ele tentar atacar a sua PESSOA, ele perde a razão e tem que ser confrontado por isso!

Quando um superior hierárquico decide apelar para o esporro, ele quer estender sua autoridade para cima de quem você é. Ele não tem esse direito, ele não tem esse poder, ele não tem nenhuma defesa prática para tal no ambiente corporativo.

Abra as pernas uma vez e isso não para mais. Enfrente uma vez e você vai ter seu resultado. As pessoas são muito mais fracas do que aparentam.

Para dizer que agora vai enfrentar o “homem”, para dizer que prefere levar uma bronca do que se arriscar no mundo da racionalidade ou mesmo para dizer que ninguém manda em você: somir@desfavor.com


Responder a um superior hierárquico ao tomar um esporro, no momento da briga? Não, obrigada. Aliás, se eu pudesse escolher, não responderia nada a ninguém no calor do desentendimento.

Se o seu superior estiver certo e você estiver errado, ficar rebatendo vai aborrecê-lo ainda mais. Se o seu superior estiver errado e você estiver certo, dificilmente ele vai conseguir perceber isso no calor do esporro.

“Mas Sally, tomar um esporro sem merecer é uma merda! Não é melhor cortar a coisa no meio e provar por A + B que a gente tem razão?”. Se para você levar um esporro for uma coisa muito traumática e sofrida, talvez. Eu prefiro ouvir, falando o mínimo possível, deixar a pessoa descarregar tudo em mim e depois, quando a pessoa se acalma, mostrar que estava errada. Plus: a pessoa se corrói de culpa por ter te comido em um esporro injustamente e sempre te compensa de alguma forma.

Existe uma velha frase que diz “Quem grita já perdeu”. Tem seu fundo de verdade. Se a irritação do chefe chegou a um ponto que o fez te comer em um esporro, por alguma razão ele está precisando colocar tudo aquilo para fora. No momento do esporro, poucas pessoas ficam argumentáveis. Em vez de gastar saliva explicando por 40 minutos em um embate desagradável, não seria melhor esperar a poeira abaixar e explicar tudo de forma calma em cinco minutos, com o plus de colocar seu chefe em dívida com você, pela vergonha de ter te dado um esporro por nada?

Sem contar que existem impasses onde não há “certo” ou “errado”, há divergências de opinião. E quando há divergências de opinião, adivinha qual é a que vai prevalecer? Por mais certo que você ache que está, quem manda é o superior. Se você não gosta, melhor procurar outro trabalho, que seja conduzido com uma pessoa que você tenha mais afinidades. Não adianta ficar dando murro em ponta de faca, ficar dando soco para cima. Quem manda é seu chefe, você tem duas opções: entra no esquema ou vai embora. Ficar e espernear é ridículo.

Muito me admira a Madame defender que se deva responder a um chefe no calor da discussão. Logo ele que é “tão democrático”. Por mais de uma vez eu vi ele fazer estagiário e até sócio chorar. Em tese é muito bonito dizer que deve responder, mas na prática esse Perry Cox Way Of Life que ele leva não dá margem a um pio na hora do esporro.

Esporro é para ser levado. Quando acaba, você se defende, se quiser. Mas ficar rebatendo no meio é insolência. Ouça primeiro tudo que seu chefe tem para te dizer. Ouça e reflita, porque ao refletir você pode constatar que ele tem razão em algumas coisas. E se constatar que não tem, você poderá escolher com mais sabedoria as palavras para fazê-lo ver que foi injusto.

Sabe uma coisa que tenho pavor? Gritaria de escritório (escritório = ambiente profissional fechado). Quando alguém responde a um esporro, a tendência é que o chefe se irrite e responda mais alto e quando você vai ver, está instaurada a gritaria. Depõe contra a empresa, assusta os clientes e depõe contra os envolvidos. Cria tumulto, chama a atenção dos fofoqueiros e dos urubus de plantão e vira assunto (deturpado) por semanas. Ninguém ganha com isso. Uma divergência com o chefe tornada pública é um desfavor, é expor a jugular para seus colegas puxadores de tapete.

Não estou dizendo que temos que entubar injustiças de cabeça baixa… jamais! Estou dizendo que no momento em que o bicho ta pegando, é melhor ouvir com atenção e só falar se for perguntando, e ainda assim, de preferência, algo apaziguador, do tipo “Vou levantar os dados a respeito e te entrego um relatório até o final do dia”. Pronto, até o final do dia os ânimos deverão estar calmos e você pode provar por A + B no seu relatório que não fez nada errado.

Quando existe hierarquia, quando outra pessoa paga pelos seus serviços, é inerente levar um esporro uma vez ou outra. Faz parte do pacote. Não devemos nos ofender com esporros de chefes, a menos claro, que seja uma coisa patológica, com única intenção de te humilhar, nesse caso o melhor a fazer é pular fora. Mas aquele esporro dentro dos limites do aceitável, bem, este faz parte. Passamos mais tempo com os colegas de trabalho do que com nossos pais, maridos, esposas e amigos. Natural que de tempos em tempos saiam brigas, esporros e desentendimentos. Cabe a nós não fomentá-los e tentar apaziguar a situação com sabedoria, e não com sentimento revanchista de vingancinha e orgulho ferido.

Certa vez ouvi um “Quem você pensa que é para gritar comigo?”. Respondi com um “Quem você pensa que é para que eu não possa gritar com você?”. Onde já se viu isso? Quem convive muito acaba perdendo a calma, acaba tendo atritos. Trabalho não é lugar para egos gigantes, é lugar para união de esforços. Assim como seu chefe releva muitos erros e defeitos seus, você também tem que relevar erros e defeitos do seu chefe, tudo em prol de um objetivo maior.

Um conselho para a vida: não se rebate argumento quando a pessoa está de cabeça quente. Não precisa abaixar a cabeça, basta adiar a conversa. Um simples “Você está de cabeça quente, não vou conversar com você assim, amanhã a gente conversa” já basta para evitar que a situação ganhe proporções maiores. Não é se humilhar, não é aturar desaforo. É ser esperto.

Para me dizer que não esperava essa calma toda vinda de mim, para dizer que ambos estão errados e que desaforo de chefe se resolve dando porrada e para dizer que só o esporro contrói: sally@desfavor.com

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Comments (8)

  • Filme ou ao menos grave. Mas optar por isso, não responsa nem dê corda. Depois reescute a baixaria e decida se ficou ofendido ou não. Seja qual for seu sentimento, continue gravando. Se os berros se prolongarem em outros episódios e sem razão concreta, torne a se decidir.

  • Pela primeira vez, eu não sei com qual dos dois eu concordo.

    Pois, eu particularmente, posso variar aos dois extremos.

    Tem muitas variáveis aí. Depende do motivo, depende de quem estava perto, depende de como é a personalidade da criatura q tá xingando, depende da hora do dia…

    De vez em quando é bom responder, pro cara não achar que tu é uma mosca morta que vai ouvir tudo q ele quiser te dizer de boca fechada. Mas tb não dá pra levar tudo a ponta de faca e responder tudo q o cara fala.

    Ai, fiquei em cima do muro =(

  • Eu tento, mas não tenho auto-controle, se gritou comigo, grito de volta… isso aconteceu diversas vezes, se repetiu recentemente.

    Normalmente o chefe fica mais manso comigo por um tempo.

  • infelizmente concordo com o mijao, sally.
    quando o esporro vem com berro é sinal que a barreira profissional-pessoal foi aberta, seu chefe pediu por isso, tanto como profissional como pessoa. Dai é como o somir disse, abriu as pernas uma vez, vai se preparando pra ficar de bruços também.
    o esporro é normal sim, afinal o chef esta no front muitas vezes. isso eu respeito.
    mas esporro com as veias da garganta levantando é sinal que vc tem que reagir no ato.

    se vai ser demitido ou não ja nao importa mais.

    Agora, quando vc peita seu chefe todas as vezes, e mesmo assim ele nao tem e nunca terá a dignidade de te mandar pra rua, só mostra o q o somir falou.ELE É INSEGURO E NÃO É TÃO COMPETENTE QUANTO IMAGINA.

    eu se fosse chefe e meu funcionario me peitasse todas as vezes, eu mandaria ele pra rua, certo ou errado.

    Posso mudar de ideia daqui um tempo, mas se alguem grita com voce, GRITE MAIS ALTO.
    SE QUEM GRITA, PERDEU, TENTE PERDER POR ULTIMO DIZENDO QUE FOI ELE QUEM COMEÇOU.hihihihi

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