Dia: 3 de fevereiro de 2010

Dude...

Semana desfavor Lost, desfavor explica com o nerd aqui… Não podia ser diferente. Viagens no tempo são um tipo de assunto carregado de paradoxos, e um prato cheio para quem gosta de confundir os outros.

A ciência diz que essa idéia, se não for mesmo impossível, é praticamente inviável mesmo com tecnologia MUITO mais avançada que a que temos hoje em dia. Mas quem se importa com a realidade? Estamos na semana comemorativa do primeiro capítulo da última temporada de uma série que flerta com o absurdo científico capítulo sim, capítulo também. Eu vou chutar o balde e escrever tudo de “cabeça” mesmo. Este texto está uma viagem… (Aiai…)

E desde a quinta temporada, Lost usou e abusou de viagens temporais para avançar (retroceder e parar) a história. E também para matar a única chance do maior nerd da turma de comer alguém. (Perseguição!)

Infelizmente, eu estou aqui para mostrar mais problemas do que soluções…

QUADRIMENSACIONAL

Antes de qualquer coisa, vamos falar de conceitos básicos: Vivemos num universo onde interagimos com quatro dimensões. Em três delas temos a liberdade de locomoção, mas justamente a que precisa ser navegada numa viagem temporal é aquela da qual somos meros espectadores.

Tire essa expressão de “wat” da cara. As três dimensões que percebemos e que podemos nos locomover são as clássicas: Altura, largura, profundidade. Você está num ponto determinado de uma sala, por exemplo. Se você se movimentar um pouco, vai ter mudado suas coordenadas. (Aliás, você está se movimentando mesmo se for um tetraplégico em coma… Estamos girando ao redor do Sol… que está girando ao redor da galáxia… Nunca estaremos no mesmo ponto tridimensional duas vezes durante nossas vidas. Mas é melhor não mencionar isso para não confundir ninguém.)

A dimensão que “percebemos”, mas não temos a menor liberdade de movimentação é justamente a do tempo. Estamos eternamente (há) presos no presente.

PRESENTE!

O passado e o futuro não existem nem para nós, com limitações dimensionais, nem para um ser que por ventura consiga perceber o universo de forma quadrimensional. Não importa o que aconteça, é sempre presente.

Para TENTAR entender o que seria poder perceber e interagir livremente com a dimensão do tempo, imagine uma pessoa desde o nascimento até a velhice. Você sempre vai ver essa pessoa com a idade atual, mas consegue se lembrar dela mais nova e é capaz de imaginá-la mais velha.

Agora pegue todas essas imagens e as coloque no presente. Desde o nascimento até a morte, no mesmo instante. Numa mesma imagem, um bebê, uma criança, um aborrescente, um adulto, um homem de meia idade num carrão, um idoso e um esqueleto. Só de ver essa imagem, você pode saber tudo o que aconteceu e vai acontecer durante a vida dessa pessoa no mesmo instante que a observa.

Não estamos “presos no presente” porque o tempo é uma linha na qual navegamos, estamos aqui porque nossa percepção é muito limitada para conceber algo além do presente. O passado e o futuro que imaginamos estão todos contidos em cada informação que recebemos.

Digamos que o presente te dá uma tonelada de informação e sua cabeça só consegue armazenar e interagir com um micrograma. É muita areia do tempo para o seu caminhãozinho.

O presente de uma pessoa viajando no tempo e o presente de uma pessoa seguindo a linha “natural” é EXATAMENTE o mesmo, só existe ele, mesmo que pessoas diferentes enxerguem de formas diferentes.

ENTROPIA

Calma, vai ser rápido. Por mais que gostemos de pensar em nossas vidas como algo importante, somos apenas matéria ficando cada vez mais desorganizada. Tudo depende do ponto de vista. Observe muito de perto e somos um amontoado de átomos perdendo energia. Observe de muito longe e somos apenas um bando de macacos pelados numa grande bola rochosa que está perdendo energia.

(Importante: Desorganizar matéria = Perder energia.)

Voltar no tempo seria apenas visualizar outra micrograma de informação ao invés da que estamos acostumados. Voltar O tempo seria violar a entropia. E pode esquecer isso. A matéria não vai ficar mais organizada por conta própria, e desorganiza-se 1.1 de matéria para organizar 1. É jogo perdido. (Big Crunch meu ovo!)

INFORMAÇÃO

E depois disso, eu parto para os paradoxos mais comuns. Prometo. Informação, apenas para explicação nesta coluna, é tudo aquilo que pode ser transmitido pelo espaço-tempo e gerar um resultado. Se você pega um pedaço de pau e cutuca um lutador de vale-tudo, você transmite a força do seu braço para o corpo do lutador utilizando a matéria do pedaço de pau como meio. E o resultado vai ser a surra que você vai levar…

E como informação depende de matéria/energia para chegar de um lugar a outro… A velocidade da luz é o limite. Não se pode transmitir uma informação mais rápido do que isso. (As formas de “bater” a velocidade da luz já conseguidas em testes controversos não conseguiram transmitir informação.)

Mesmo considerando (por puro esporte) dois pontos distintos no tempo, uma informação teria que viajar de um ponto a outro.

REALIDADE

Eu sempre minto nessas colunas. Vocês sabem. Pois bem, por mais que isso doa para o povo do livre arbítrio, não escolhemos nada quando consideramos apenas a matéria/energia. Não alteramos nada. Estamos indo em direção à entropia e ponto final. Se você acha que poderia mudar algo do passado, sinto informar que você não reverte a entropia universal nem se quiser com o fundo do seu coração.

O ser que percebe a quarta dimensão em sua plenitude não tem nenhuma escolha pela incapacidade de ter a ilusão de escolha. (E também esqueça qualquer chance de perder essa ilusão de escolha durante sua vida. Sempre vai parecer que você que decide o seu futuro. Estamos presos no presente… E se por um acaso você achar que essa é uma idéia depressiva, não entendeu porra nenhuma.)

Não é destino no sentido esotérico da coisa, é o caminho irreversível das menores divisões da matéria que nos compõem. Menos energia, menos organização. (Big Freeze = Melhor hipótese.)

PENSAMENTO POSITIVO/NEGATIVO

Para dar uma guinada nesta coluna, vamos parar de achar defeitos e fazer a coisa certa: Mandar tudo à merda e tentar do mesmo jeito. (Afinal, é complicado ter certeza sobre qualquer coisa com essa mente limitada dimensionalmente como a nossa.)

Viajar para o passado realmente está descartado. Pelo menos para o nosso passado. Um homem com mais neurônios e menos funções motoras que eu já disse que a falta de turistas do futuro entrega que não dá mesmo para voltar. E faz todo o sentido. Toda tecnologia acaba se tornando popular com o tempo, impossível que algum babaca do futuro não tentasse vir para esta época para fazer turismo quadrimensional.

A nossa melhor chance de voltar para o passado é ir para o futuro. Eu conheço essa cara de “wat”, já explico: Na única possibilidade teorizada por cientistas sérios até hoje, seria necessário um wormhole para fazer essa ligação entre dois momentos distintos no tempo.

Wormholes são túneis TEÓRICOS entre dois pontos do espaço-tempo. E como está tudo junto, se uma das bocas fosse acelerada perto da velocidade da luz e voltasse para o ponto inicial, ela teria “navegado” mais rápido pelo tempo que a outra boca. E como ambos ainda conectam os mesmos pontos (presente, só tem um), atravessá-lo seria avançar ou retroceder no tempo.

Por isso, o limite “oficial” de quanto se pode voltar ao passado depende da criação do primeiro wormhole. E isso explica o porquê de não vermos turistas do futuro por essas bandas espaço-temporarais. O que aconteceu, aconteceu.

Infelizmente, nem se sonha com a tecnologia necessária para criar um wormhole, ou com a tecnologia que nos permitiria atravessá-lo mesmo que fosse criado (tem um problema sério de não se conseguir sair do meio de um deles), ou mesmo com a tecnologia que conseguiria acelerar uma quantidade insana de matéria assim próxima à velocidade da luz. Seria tanta energia para fazer tudo funcionar que talvez nem várias estrelas conseguiriam abastecer essa aventura.

Ah sim, o seu avô está seguro. Esse paradoxo não vai ocorrer.
E mesmo se acontecesse num caso de wormhole, não é como se você dependesse do seu avô para continuar existindo agora. Vamos para a parte mais “chute” da coluna. E isso é um feito…

ETERNIDADE

Mas, digamos que mesmo com toda essa complicação, nossos descendentes consigam criar um “loop” com o wormhole. A humanidade vai ser eterna e o universo nunca vai esfriar?

Nhé, as coisas não são tão fáceis assim. Lembram que só o presente existe? Lembram que o nosso problema é enxergar só uma minúscula parte da dimensão tempo? Lembram que a entropia está cagando e andando para o que decidimos ou não?

Pois é. Uma nave que entra num wormhole não desaparece e é criada em outra época. Ela tem que atravessar. Ela é informação, no final das contas. Essa nave gasta uma quantidade de energia para fazer a passagem. Acelera a entropia.

Uma viagem no tempo é trocar de ponto de vista dentro dos “virtualmente infinitos” pontos de vista existentes na dimensão tempo. Para quem fica, parece que eles sumiram, mas na verdade apenas saíram do espaço-tempo percebido. Simples mesmo: É como se os viajantes do tempo tivessem entrado por uma porta fora da visão dos que ficaram.

Todos ainda estão dividindo o mesmo presente, a mesma realidade, mas não podem mais se ver.

E para quem vai, é uma troca de ponto PERCEBIDO do espaço-tempo. Na verdade, o tempo (entropia) continua correndo normalmente. “Correndo” para nós, claro. E aí que entra o problema de gastar energia e acelerar a entropia. (gastar energia = desorganizar matéria = acelerar entropia)

Imaginemos que o universo dura uma hora desde o Big Bang até o Big Freeze. Aos 59 minutos de vida do universo, uma nave com o que restou da humanidade volta para os 45 minutos, onde está a boca do primeiro wormhole criado. Quer dizer que faltarão agora 15 minutos para o universo esfriar e a vida ser impossível, certo?

Errado. A energia colossal necessária para toda essa viagem precisa vir de algum lugar. Mil estrelas são consumidas para isso. O que quer dizer que aos 59 minutos de vida do universo foram gastos 10 segundos de vida para fazer essa viagem. Esses 10 segundos NÃO vão ser recuperados a não ser que uma fonte de energia alheia ao Big Bang entre em ação. (E até onde sabemos, ela simplesmente não existe.)

Faltam 14 minutos e 50 segundos de vida para o universo esfriar. E assim, cada vez que a viagem for realizada, menos 10 segundos. Eventualmente a humanidade vai ter encurtado a vida do universo para 44 minutos e 59 segundos. E aí, meus caros, acabou. (E eu nem estou contando toda a energia gasta DURANTE esses minutos em que a humanidade passa no loop…)

É tudo ao mesmo tempo. A ilusão de escolha é a mesma ilusão de tempo. Quando dizem que o universo é relativo, lembrem-se que ele é relativo para o observador. Todos eles, ao mesmo tempo.

Viajar para o futuro, considerando que seria simplesmente uma forma de pegar um atalho para outro ponto de percepção para um ou mais observadores, faz algum sentido. Para o passado tende a ser ficção, pelo menos pelos próximos 15 minutos.

Para dizer que quer o tempo que perdeu lendo isso de volta, para reclamar que um mal falei da série, ou mesmo para dizer que também já viu o primeiro capítulo e percebeu que… hahahaha… somir@desfavor.com