Dia: 15 de fevereiro de 2010

Sai logo!

Hoje a coluna vai ser bem específica: Consideremos um casal heterossexual habitual, onde o homem por algumas (ou mesmo diversas) vezes passa a impressão que na verdade está “preso no armário”. Como amigo(a) da mulher desse casal, existe uma obrigação de apontar essa percepção sob o risco de não estar sendo uma boa amizade?

Sally e Somir, obviamente, discordam. Não se reprimam: Opinem.

Tema de hoje: Avisa-se a amiga que o namorado dela tem pinta de gay?

Quero avisar que nem considerei o oposto da questão de hoje. No caso de perceber que a namorada do seu amigo parece gostar da mesma fruta que ele, não precisa nem avisar que o rapaz já vai ter contado orgulhoso e matado os amigos de inveja…

Porém, mulheres são seres desnecessariamente complexos. Nesse caso eu concordo que surge um impasse. Mas basta pensar um pouco para perceber que contar para uma mulher que seu namorado tem jeitão de viado não serve para praticamente nada.

Mas, antes de tudo, o que faz um amigo desconfiar da verdadeira orientação sexual do parceiro de sua amiga? E atentemos ao ponto central da discussão aqui: Não é o caso de ter visto o rapaz em questão fazendo sexo com outro homem, é DESCONFIANÇA.

Eu, por exemplo, uso o termo “viado” para definir homens que agem feito mulheres e não querem admitir. Viado é um termo derrogatório, uma ofensa. Um homem que gosta de homens é simplesmente um ser humano com outra orientação sexual… Homossexuais praticamente não podem ser viados por esse ponto de vista.

Eu falo disso porque muitas coisas que eu considero viadagem não querem dizer que o homem em questão prefira fazer sexo com homens. Só querem dizer que eu acho ele um homem fraco, um arremedo de macho da espécie. Basicamente, a figura do metrossexual, ou “homem cagão que precisa baixar a cabeça para qualquer coisa que as mulheres acham que querem” é um tremendo de um viado para mim.

Sempre digo para amigas, com pouca ou nenhuma educação, que seus namorados são viados. Eu vivo falando essas coisas.

Sobre isso eu posso ter certeza. Afinal, é a minha forma de enxergar e categorizar o que eu entendo sobre um ser humano. Agora, saber se o cidadão em questão está enganando uma mulher por ser exclusivamente homossexual é praticamente impossível. Precisa de entendimento profundo (há) sobre a vida sexual do casal.

Eu não me considero um amigo lá muito fisiológico. Acho um absurdo chegar numa amiga e sair perguntando: “E aí, teu namorado tá te comendo direito? Tá metendo legal? Tá faltando alguma coisa na cama?”… É a mesma coisa que chegar e perguntar: “E aí, tá cagando legal? A bosta tá saindo durinha, molenga? Descreve aí como sua última diarréia…” Excesso de intimidade, até para amizades próximas. Não me interesso pelas funções corporais habituais das pessoas próximas de mim. Se por um acaso for do interesse da pessoa dividir isso comigo, bola pra frente. Caso não seja, eu RESPEITO a privacidade alheia.

Então, dificilmente eu vou ter esse tal conhecimento profundo sobre o funcionamento sexual desse casal. Mesmo porque é praticamente impossível saber se é tudo verdade a não ser que você fique umas duas semanas sentado do lado da cama deles fazendo anotações. (E se a mulher for mesmo uma forma de disfarçar, certeza que o cara vai fingir que gosta da fruta…)

Imaginemos as variáveis…

O cara afrescalhado pode ser simplesmente um metrossexual, ou o “viado” da minha definição. Aquele jeitinho feminino de ser nada mais é do que o jeitinho dele mesmo. E se a mulher está namorando com ele, é de se imaginar que ela perceba e goste.

O cidadão realmente gosta de sexo com homens, mas pode ser bissexual. Mesmo que você diga que VIU o cara mandar ver em outro homem, a namorada dele vai lembrar que o suposto homossexual passou a última noite virando ela do avesso com o pau e ainda te achar um mentiroso.

O “acusado” é bissexual, ela SABE disso, gosta, mas não está com saco de encarar o preconceito das pessoas e prefere manter isso entre as pessoas realmente interessadas no relacionamento. Quando as pessoas te acham preconceituoso sobre um assunto, tendem a não te falar sobre ele…

O namorado dela é um gay no armário tão reprimido que mesmo que se entregue às vezes, vai se esforçar tanto para manter as aparências ao ponto de nunca admitir ou deixar de comê-la fantasiando com seu personal trainer. Esse cara defende tanto sua mentira que pode conseguir te sujar com a sua amiga.

Você confia no bom senso da sua amiga e não quer ficar INTERFERINDO na vida dela como se fosse a única pessoa sã do universo. Não me venham com essa de “avisar por amizade”. Esse aviso é baseado num JULGAMENTO sério sobre as opções sexuais de uma pessoa que você dificilmente conhece tão bem quanto a sua amiga.

Não, eu não disfarço minha vontade de intervir na vida alheia de preocupação. Pra mim cada amigo ou amiga que tenho tem todo o direito de fazer suas escolhas e se responsabilizar por elas. Eu respeito a inteligência deles (eu tenho que respeitar a de alguém nessa vida!) e não tenho a menor vontade de impor os meus valores e preconceitos para cima de quem eu gosto.

Não, eu não aviso. Se chega ao ponto de uma pessoa alheia à vida sexual habitual do casal desconfiar da orientação de uma das partes, com certeza é algo bem óbvio para quem… veja só… faz parte do casal.

E se a amiga em questão estiver se enganando de propósito para não aceitar que é uma “barba”, você acha que vai fazer muita diferença?

Eu hein, deixa as pessoas viverem suas vidas! Amigo é quem está do seu lado, e não quem tenta entrar na sua frente.

Para dizer que sempre pergunta se seus amigos cagaram direitinho, para dizer que eu sou um péssimo amigo, ou mesmo para dizer que achou meu texto uma viadagem: somir@desfavor.com


Sua amiga começa a namorar um sujeito que tem uma pinta braba de viado. Você se cala ou você aborda o assunto com ela?

Eu abordo. Quero lembrar que para abordar o assunto não é preciso bater no ombro dela e berrar “TEU NAMORADO, HEIN? DÁ RÉ NO QUIBE, MÓ BICHONA!”. Porque tem pessoas que não sabem falar as coisas se não for nesse nível de delicadeza (Somir? Oi?). É possível tratar do assunto com cuidado, sem ofender e sem afirmar nada.

Pois é. Não se trata de afirmar que o namorado dela morde a fronha. Se trata de chamar a atenção dela para que ela fique de olho em uma possibilidade, em eventuais sinais. Mulher quando está apaixonada fica cega para muitas coisas, inclusive para estas.

Todas as vezes que eu fiquei cega para características dos meus parceiros que, se eu pudesse ver, me fariam largá-los, tive amigas que me alertaram. E todas as vezes prestei bastante atenção nos conselhos e eles acabaram se confirmando. E sou grata por eles.

Não que as pessoas tenham que acreditar cegamente nos conselhos dos amigos, longe de mim defender isso. Mas conselho serve para a gente ficar de orelha em pé, para começar a prestar atenção em algumas coisas. Não se toma decisão com base em opinião de amigo, apenas se presta atenção para alguns sinais.

Uma merda que sexualidade ainda seja tabu. Porque garanto que se fosse outra característica todo mundo falaria. Querem exemplos? Se o sujeito bebe demais e dá vexame em diversos eventos sociais, sempre vai ter quem comente. Se o sujeito se veste mal, garanto que a amiga comenta. Se a amiga tem motivos para acreditar que o sujeito usa drogas, garanto que vai dar um toque na namorada. Mas sexualidade ninguém comenta.

Claro que você não vai sair dizendo por aí que todos os namorados dos seus conhecidos e colegas de trabalho tem jeito de bichinha. Estamos falando de AMIGA. Amiga é amiga, não é colega. E justamente uma das prerrogativas que caracterizam amizade é essa ausência de formalidades. Não precisar pisar em ovos, não precisar medir palavras. A amiga sabe que o que você fala é pensando no bem dela. É uma relação consolidada, acima de qualquer picuinha, e principalmente, acima de homem. Porque homem vai e vem, mas amizade é para sempre.

Quando você diz a uma amiga que PODE SER QUE o namorado dela seja meio delicado demais, você não está afirmando categoricamente que ele dá o rabo até descolar a última prega. Você está dizendo que você, amiga, pessoa que está vendo as coisas de fora, com imparcialidade, detectou ALGO. Com isso, você está alertando-a a prestar atenção. Ela não está obrigada a tachar o sujeito de viado nem a terminar com ele. É apenas uma luz vermelha, um aviso que ela deve ter em mente.

E ainda que a Fanta seja uva e sua amiga não queira ver, porque mulher apaixonada fica burra, pouco importa. O papel da amiga é alertar e não convencer. Você fez o seu papel dando um alerta. Se um dia ela flagrar o namorado com o porteiro engatados na escada, não vai poder dizer “Porque você não me avisou?”.

Eu gostaria de ser avisada. Até porque, uma coisa dessa proporção, todo mundo vai comentar. Prefiro mil vezes que minha amiga me chame para um canto e me conte do que todo mundo falando nas minhas costas, (talvez até mesmo ela), especulando sobre a sexualidade do meu namorado. Uma amiga não deixa a outra passar por uma situação dessas de virar centro de fofoca sem saber. O dia que eu cair na boca do povo, quero saber, até mesmo para poder me defender ou me afastar de quem está falando da minha vida.

Muitas vezes não lemos as placas de “Pare” durante um relacionamento. Ouvimos o que queremos ouvir, vemos o que queremos ver. Uma visão de fora, sem o retardamento da paixão é não apenas muito bem vinda, como também necessária. E é na hora de ouvir as coisas ruins que a gente descobre quem são os amigos: aqueles que tem culhões, aqueles que tem coragem de eventualmente provocar a sua ira em nome do seu bem estar. Gosto de gente que se compromete.

Porque lavara as mãos e dizer “Isso é problema dela, eu não me meto” é MUITO FÁCIL. Sim, é problema dela, mas se ela está sendo enganada, se está se colocando em uma situação horrorosa, humilhante e que vai trazer sofrimento, é meu papel advertir. Se você se importa com a pessoa, se mete SIM. Ou por acaso você deixaria uma amiga sua levar um golpe de um sujeito que só está interessado no dinheiro dela? Ou deixaria ela ficar com um bandido?

Vejam bem, não estou dizendo que homossexual não presta. Quem me conhece sabe que eu AMO de coração todos os gays. Estou dizendo que um gay não presta para ser NAMORADO de uma amiga minha. E isso acontece. Alguns homossexuais arrumam namoradinhas para prestar contas para a família, ficam em um namorinho falso e em paralelo tem relacionamento com outros homens. Isso é enganar, tanto quanto casar por dinheiro, tanto quanto trair. Isso eu não quero para uma amiga minha.

Lavar as mãos e não se meter com certeza é muito mais fácil. Mas eu não gosto. Odeio gente que não se compromete. Isso não é amizade. Odeio pessoas mosca-morta, meros espectadores, que só servem para sair e zoar. Isso não é amigo, isso é colega. O amigo tá lá te alertando quando percebe que tem um risco de você se foder e sofrer.

“Mas Sally, vai que eu vou alertar e ela ainda por cima fica puta comigo?”. Então, Meu Bem, vai desculpar, mas não era sua amiga porra nenhuma. Deixa ir.

Para dizer que eu sou uma fofoqueira invasiva que se mete na vida das amigas, para perguntar quem eu penso que sou para fazer esse discurso tendo namorado um sujeito de Campinas e para dizer que lavar as mãos e ficar na sua é mais fácil: sally@desfavor.com