Dia: 12 de abril de 2010

Hahaha...

Sally ama dançar. Somir não dança. Sally chama Somir de preconceituoso, Somir chama Sally de dramática.

A discussão antiga entre os dois finalmente estampa as páginas do desfavor, na expectativa que seus textos finalmente façam o lado oposto dançar, mesmo que figurativamente. Os leitores estão convidados a entrar no ritmo e comentarem.

Tema de hoje: Homem que não dança é preconceituoso?

A não ser que você tenha nascido “ultraplégico” e nunca tenha mexido um músculo do seu corpo além dos necessários para continuar vivo, já dançou. Em algum momento, com platéia, companhia ou mesmo sozinho(a), você já se rendeu ao ritmo de uma melodia e mexeu seu corpo de acordo. Dançar, pelo menos nesse conceito genérico, não é uma sequência pré-determinada de movimentos, é uma reação mais ou menos instintiva para um ser humano. Por esse motivo, é impossível que alguém possa ter PRÉ conceito sobre dança.

Quem gosta de dançar já dançou. Quem não gosta de dançar já dançou.

Game, set and match. Até a próxima, minha CARA!

Mas é claro que não estamos analisando a lógica do argumento aqui. Estamos brincando de guerra dos sexos mais uma vez, e o que eu escrevo aqui não faz a menor diferença para quem está lendo, faz? O importante é escolher o argumento mais comum entre seres humanos com uma genitália parecida com a sua e tentar angariar simpatia dos outros seres humanos cuja genitália te interessa. Viva! A vida é simples! Pensar é para otários!

Mas dessa vez eu estou sem saco para jogar esse jogo. A dança é um acessório na discussão sobre o preconceito. Como é complicado conhecer uma pessoa sem muita convivência com ela, utilizamos vários rótulos para facilitar a categorização. Rótulos generalizam e simplificam traços de personalidade. É compreensível que usemos essa forma de preconceito para conviver com outros seres humanos no nosso cada vez mais corrido cotidiano.

É compreensível, mas é um dos caminhos mais rápidos para fazer presunções erradas sobre outras pessoas que existem. Afinal, conhecimento que não é baseado em evidências tende mesmo a ser mais frágil. Eu sempre considerei que o verdadeiro perigo do preconceito é quando a pessoa que o propaga não percebe isso. Uma pessoa inteligente é capaz de ter um preconceito em sua cabeça e modificá-lo de acordo com a realidade percebida. Pois bem, argumento aqui que o simples fato de querer definir a atitude de um homem de não dançar como um preconceito específico oriundo de insegurança é de um simplismo tão evidente que acaba sendo, por si só, o maior preconceito aplicado ao caso.

Achou complicado? Azar. Releia ou ignore.

Eu, como um dos seres humanos que aceita e externa o rótulo de “homem que não dança”, tenho meus motivos específicos. Talvez você não concorde, talvez você veja as coisas de forma diferente, mas entenda que tratar atitudes discordantes das suas como preconceito é uma simples forma de reforçar o que você acredita ser correto sem o esforço de ter que pensar sobre o assunto.

Quando eu digo para uma mulher que não danço, espero que ela entenda o ponto central da idéia: Eu não compartilho do seu prazer pela dança. Não estou dizendo que te odeio ou tenho medo de “virar” homossexual, estou dizendo que por mais que na sua cabecinha seja possível que toda a humanidade sinta prazer com uma atividade específica, isso não torna a idéia verdadeira.

As pessoas não precisam de desculpas para pensar de forma diferente de você. Faz parte de viver numa sociedade com outros animais racionais.

Quando criança eu não deixava de brincar de boneca por medo de gostar, eu simplesmente achava aquilo chato pra caralho. Não cabia na minha mente infantil como aquelas porcarias sem armas e tanques de plástico acompanhando poderiam entreter alguém. Mas você começa a perceber que meninas gostam de outras coisas. Você começa a perceber as diferenças.

E as diferenças acabariam tornando essas meninas o objeto do meu interesse alguns anos mais tarde.

Antes que perguntem se eu estou dizendo que dança é coisa de “menina” e todo mundo que dança é “mulherzinha”, já adianto que essa é a simplificação que eu faço para quem eu rotulo como incapaz de entender o cerne da questão. Seja por falta de capacidade intelectual (oi, histéricas!), seja por PRECONCEITO (oi, Sally!).

Por mais que o mundo esteja caminhando para a igualdade entre os sexos, isso ainda não significa que compartilhamos dos mesmos gostos, interesses e pensamentos. Homens são diferentes de mulheres. Um ser humano é diferente do outro.

Isso vindo de uma pessoa que adora chamar religiões e crenças de outras pessoas de coisas estúpidas é no mínimo irônico, não? Mas eu sempre digo que por mais que reconheçamos as diferenças, não quer dizer que precisemos aprová-las. Advogo justamente o direito de pensar e se expressar de forma livre.

Aposto que Sally deve ter belos argumentos sobre as benesses da dança, mas isso de nada vale se o próprio ato de dançar for algo desagradável para um homem. A discussão tende a polarizar entre mulheres que querem seus homens dançando e homens que não querem dançar. Por mais que a dança não seja por si só um sinal direto das preferências sexuais de um ser humano, é observável sim que existe uma disparidade entre os sexos.

É impossível que os homens que não dançam simplesmente achem que dançar é uma coisa chata pra caralho… É impossível que outros seres humanos estejam fazendo ESCOLHAS diferentes das suas, não? Afinal, se cair a ficha que o seu gosto não é universal, pode ser que bata aquela insegurança sobre o futuro. Melhor imaginar que as outras pessoas só não são como você porque não tem coragem de seguir o seu caminho. Claro…

Ah sim… Por que EU não danço? Porque eu não gosto dos ambientes onde se dança normalmente (aglomeração me irrita), não gosto de obedecer e de conformismo (coreografias), e não gosto de 99,99% das músicas que tocam em ambientes onde se dança socialmente (aliás, eu GOSTO de música, diferentemente de quem dança…). E sim, isso quer dizer que em ocasiões ideais, eu dançaria. Como já fiz algumas vezes. Mas é por isso que eu digo que eu não gosto de dançar: O fato de estar seguindo uma melodia com movimentos do corpo não é o suficiente para que eu ignore todo o DESFAVOR que vem junto habitualmente.

Homem que não dança provavelmente acha dançar uma coisa chata. Cada um por seu motivo, mas essa baboseira de que é sempre medo de alguma coisa é desculpinha de mulher para fazer o que mais gosta: Mudar homem.

E pra fechar… Homem que SÓ dança para pegar mais mulher é justamente aquele que SÓ consegue fazendo isso. Macho que é macho faz o que quer, inclusive rebolar que nem uma louca ao som da voz de algum semi-analfabeto incapaz de rimas mais complexas que “chão” e “batidão”. Pelo menos assume o que gosta de fazer e para com essa desculpinha babaca que faz tudo para agradar as mulheres, porque é justamente isso que te faz parecer um cagão carente que vive em função da aceitação alheia. Depois fica gente (Sally) achando que chamam homem que dança de viado só porque rebola…

Para dizer que por mais que aceite a opção alheia, também acha homem rebolando uma coisa GROTESCA e sem sentido, para reclamar que não aceita que eu ache algo que você goste chato, ou mesmo para dizer que é tudo enveja minha porque homem que dança pega mais mulher: somir@desfavor.com


Homem que não dança é preconceituoso? Depende. Se não dança porque não gosta, claro que não. Mas se não dança porque tem medo daquilo que os outros vão pensar ou porque acha que de alguma forma fere a sua masculinidade, sim. O problema não é a recusa em si, e sim sua motivação.

O tema é polêmico. Outra postagem minha tratando sobre o assunto gerou comentários bastante ofensivos em uma comunidade do Orkut. Como eu sei? Somir pode rastrear de onde vem os comentários e acabou chegando neles. Nem me dei ao trabalho de responder.

A questão em si transcende a dança. Poderia ser aplicada a qualquer outra atividade: Se recusar a fazer _________ coisa é preconceito? Complete o espaço em branco com a atividade que desejar: pescar, jogar futebol, trocar fralda do filho, cozinhar, etc. Se a pessoa não gosta ou não se sente bem com isso, não seria preconceito, mas não é o que acontece na maior parte dos casos.

Dificilmente eu pergunto a um homem se ele dança e ele responde “Não, não me atrai a idéia de dançar, prefiro outras atividades”. Vocês sabem que esta NÃO É a resposta padrão. A resposta mais comum de homens que não dançam é “Eu não! Isso é coisa de viado!” ou ainda “Eu não! Ficar rebolando a bunda por aí? O que os outros vão pensar!”. Sim, estes são preconceituosos.

Qualquer resposta que saia da esfera do gosto pessoal do inquirido para adentrar na esfera de esculhambar a dança ou o homem que dança é preconceituosa. Entendo quem diz que não gosta de dançar, mesmo que nunca tenha dançado, mas não entendo quem diz que não dança por fatores externos ao seu querer, envolvendo julgamento social ou sexualidade.

E acho que muitos homens que não dançam tem uma vontade oculta de dançar, nem que seja para pegar mulher. Porque lamento, Amigos, mas homem que dança pega muita mulher. Qualquer dança, do forró ao tango, do axé ao funk, homem que dança é um diferencial. E não apenas no momento da dança, se é que vocês me entendem. Como não tem coragem de dançar e percebem que perdem para homens que dançam, acabam por mecanismo de defesa desvalorizando estes homens que dançam.

Para aqueles que justificam não levar jeito para a coisa, eu nem atribuo a preconceito, apenas a covardia mesmo. Porque eu não levo jeito para um monte de coisas na minha vida (como dirigir, por exemplo), no entanto, me esforço para melhorar cada vez mais, me esforço para aprender e me superar, em vez de sentar e dizer “Não sei, não quero aprender”.

“Mas Sally, uma pessoa precisa dirigir, mas não precisa dançar. Porque um homem iria querer aprender a dançar?”. Claro, se isso não lhe fizer falta, não há a menor necessidade de que ele aprenda a dançar. Mas, salvo raras exceções, as namoradas/peguetes/esposas e todos os demais estados civis desses homens provavelmente dançam e gostam de dançar. Sendo uma atividade que sua amada gosta e da qual, de certa forma, depende de você para fazer, não custa muito tentar aprender. Não tem coisa mais chata do que sair com o respectivo e ele ficar sentado na mesa a noite toda se recusando a dançar. Vocês, homens, gostariam de nos levar para um jogo de futebol e que a gente sente DE COSTAS para o gramado e se recuse a ver o jogo? Não, né? Antipático, né? Os outros torcedores achariam estranho, né? Pois é.

“Mas Sally, se a mulher não gosta de futebol basta ela não ir ao estádio!”. Tudo bem, mas situações onde a dança se faz presente não são tão setorizadas como um jogo de futebol. Estão no nosso dia a dia: festas, churrascos, eventos, shows, aniversários, casamentos, etc, etc. Muito chato ir acompanhada por uma criatura que se recusa a participar de uma atividade da qual nós gostamos tanto. Muito chato nos obrigar a ficar dividindo a atenção entre a pista e o parceiro, ou pior, a passar o evento todo longe de um dos dois, pista ou namorado, porque ele não pisa na pista de dança nem com uma arma na cabeça.

Ninguém nasce sabendo dançar, mas se aprende. E, confiem em mim, como professora de dança eu posso afirmar que QUALQUER UM pode aprender a dançar, ainda que ensinado por um leigo (o sindicato vai me expulsar). Se a pessoa odeia mesmo de coração, tudo bem, não se pode cobrar que o faça, mas se a pessoa não o faz por medo da opinião dos outros, é um preconceituoso.

Mulher se desdobra para agradar homem. Não raro passa a torcer para o time do imbecilóide só para vê-lo feliz quando o time ganha. Algumas adotam o hobbie do animalzinho só para poder passar mais tempo com ele. Muitas aderem a programas e hábitos com os quais não tem tanta afinidade para fortalecer o vínculo e os elos. Mas dificilmente um cueca faz isso em retorno. Custa aprender o basicão para de vez em quando não abandonar sua parceira na pista sozinha a noite toda?

Quem me conhece sabe que eu não peço a homem que me acompanhe ao salão, ao ballet, à manicure, à depiladora, etc. Eventos femininos na essência não devem ter a participação coagida de homem. É sacanagem. Mas em um evento esporádico que é SOCIAL, que demanda a participação do outro, eu gostaria de poder contar com o auxílio, porque infelizmente em dança se precisa de um parceiro para a maior parte dos ritmos.

“Mas Sally, se o seu homem não dança, dança com outro”. Convido você a frequentar a night carioca e dançar forró com outros parceiros que se encontrem no local. Nem sempre termina bem. Sem contar o excesso de contato físico que pode aborrecer inclusive o seu homem que está criando raízes na cadeira.

Se homem PRECISASSE da gente para fazer alguma coisa que eles gostam, como ir ao estádio ver jogo de futebol, garanto que nos chamariam de preconceituosas se a gente se negasse dizendo “Ah não! Não vamos não, o que os vizinhos vão falar se me vissem no estádio?”

Muito estranho um homem TER MEDO de ser chamado de viado se ele estiver convicto que não o é. Muito estranho mesmo. Pensem nisso.

Para perguntar se o Somir dançava para me acompanhar, para perguntar se o Somir é viado e para reafirmar que homem que dança é tudo viado: sally@desfavor.com