Desfavor da semana: Pedras no caminho.

Sakineh Ashtiani, a iraniana condenada à morte pelo crime de adultério, conseguiu atenção internacional recentemente. Muito em parte pela campanha iniciada na internet por um grupo de ativistas, mas também pela participação… fanfarrona… das autoridades brasileiras.

Não bastava o desfavor óbvio do caso…
Desfavor da semana.

SOMIR

O mundo não é um lugar justo e isso eu já escrevi aqui não sei quantas vezes… Não é só porque algo é incrivelmente errado que vai ser impedido. Te garanto que em algum lugar do mundo, NESTE momento, alguém está morrendo por um motivo torpe.

É compreensível que não nos pautemos por estes acontecimentos na nossa vida diária: Temos pouco poder de transformação. Por mais que você que você saiba que só o que você desperdiça de comida salvaria a vida de mais de uma criança morrendo de fome na África, não existe uma forma prática de tornar isso uma realidade. (Não sem renúncias sérias…)

Essa impotência de transformar vontade de um mundo justo num mundo justo de verdade faz parte de nossa vida. Até por questão de lógica, quase todos nós seguimos um caminho de virtual apatia nesses casos: Cada um com seus problemas.

Só que de tempos em tempos temos a oportunidade de enxergar essa grande guerra pela evolução da sociedade numa escala menor, em forma de batalhas possíveis de serem vencidas. E em como toda a guerra, a confiança tem ligação direta com o sucesso.

A guerra de boa parte do povo que Sakineh representa é uma contra o atraso e a intolerância baseada numa sociedade regida pela absurda teocracia iraniana. Punida por uma lei arcaica, sem lugar numa sociedade civilizada, a “esposa infiel” foi sentenciada a ser apedrejada até a morte.

Num primeiro momento, parece impossível fazer qualquer coisa para evitar que Sakineh sofra a pena capital. Mudar as leis de um país onde a autoridade máxima do Estado é a mesma da Igreja? Até parece…

Mas o que não falta nesse mundo é gente teimosa. Um casal de brasileiros resolveu começar uma campanha pela internet, chamando a atenção do mundo para o que estava prestes a acontecer com Sakineh. A campanha ganhou fôlego, virou notícia internacional, e subitamente varreu a “apatia funcional” de muita gente por aí. Pronto! O caso dela não era apenas mais uma eventual casualidade dessa guerra, era uma batalha em aberto.

A pressão internacional começou a se intensificar. Eu já disse várias vezes o que penso de respeitar os costumes de outros povos, mas não custa repetir: Fazer parte da cultura não é sinônimo de carta branca para cometer crimes. Até por isso qualquer país com um mínimo de intenção de se juntar à civilização tem que assinar uma tonelada de tratados garantindo suas intenções de preservar os direitos humanos. Existe SIM uma melhor forma universal de se tratar um povo. O que acontece com Sakineh é errado por todos os lados que se olhe. (Até porque NADA justifica pena de morte.)

Pois bem. No momento em que Sakineh se transformou na bandeira de um movimento, ganhou uma chance de escapar do seu destino até então inexorável. E uma vitória nesse ponto dá muita força para toda a causa. Tudo bem que as mulheres vão continuar a ser tratadas feito lixo em países regidos pela lei islâmica (muito mais distorcida que o de costume…), mas UMA vitória pode ser o começo de uma virada nos rumos da guerra. Mostra o caminho.

E já que os brasileiros estavam especialmente ligados com o movimento pela liberdade da iraniana, um jornalista perguntou para o nosso presidente qual era a postura dele sobre o assunto. Reconheço que é uma pergunta complicada, mas mesmo que não quisesse comprometer a diplomacia nacional, poderia ter dito algo bem melhor do que “as leis dos países tem que ser respeitadas ou vira AVACALHAÇÃO”…

Porra! Voça Çenhoria leu ALGUM dos tratados que o país que governa se comprometeu a cumprir? Cacete, serve até a Constituição. Apedrejar uma mulher até a morte não é avacalhação por essas bandas. Não tem pena de morte aqui. Muito mais do que fazer pose de amiguinho de Teerã para ganhar visibilidade internacional, é sua obrigação pelo menos não fazer pouco do flagrante desrespeito às liberdades individuais e direitos humanos no mundo. Avacalhação é um merda de um oportunista profissional ser visto como líder de alguma coisa…

Antes eu achava o Lula um típico “esperto” brasileiro, meio desonesto, meio inconsequente, mas sempre protegido por seu carisma popular. Agora eu acho mau-caráter mesmo. Vergonha dessa política internacional que bate palmas para um regime criminoso como o do Irã. Não precisa mandar o exército pra lá, mas CUSTA não apoiar?

Percebendo que a coisa engrossou e que não dava para equilibrar sua ego-trip de conciliador internacional com um final de mandato sem polêmicas para ajudar a candidata a sua reeleição, voltou atrás. A diplomacia brasileira tentou limpar a cagada “enfiando dobrado”: Ofereceu abrigo político “de mentirinha” para Sakineh. (Sem uma proposta oficial… Só no papo mesmo.)

Como era de se esperar, o Irã não deu muita bola. Além de declarações de figuras públicas praticamente tirando sarro do Brasil, ainda começaram a considerar a possibilidade de apenas enforcar a mulher.

Últimas informações dão conta de que com o mundo inteiro apertando, é possível que os iranianos liberem Sakineh. Possível, apenas.

E se isso acontecer, caros leitores, não duvidem que ela venha para o Brasil e que nosso presidente aproveite para se promover baseado nessa “vitória da diplomacia brasileira”…

E os brasileiros que estavam no começo de tudo isso vão ser meros coadjuvantes. Ganha-se uma batalha contra o atraso iraniano, perde-se uma contra o nacional.

Para dizer que não entende porque falamos tanto do Irã, para falar alguma dessas asneiras pró pena de morte, ou mesmo para concordar que vai faltar pedra se a moda pegar no Brasil: somir@desfavor.com

SALLY

Contando assim parece piada: uma mulher condenada à morte por apedrejamento pede clemência e as autoridades mudam de idéia. Em vez de matar por apedrejamento, vai morrer enforcada. A bondade humana me fascina. Mas pior do que o vexame das autoridades estrangeiras, foi o vexame das nossas autoridades quando decidiram intervir no caso.

Sakineh Mohammadi Ashtiani, uma mulher iraniana, mãe de dois filhos, foi condenada à morte, acusada de adultério e de assassinato (seu amante teria matado seu marido). Contando assim parece piada II: a prova que se tem contra ela é um vídeo onde uma pessoa aparece com um véu preto que cobre quase todo o corpo e a imagem distorcida do rosto. A voz está encoberta por uma tradução simultânea. Parece que esta mesma mulher já recebeu 99 chibatadas por manter relações “ilícitas” (e por “ilícitas”, entendam fora do casamento – ahhh se essa moda pega!). Mesmo sem provas concretas, ela foi condenada.

É só mais uma das muitas mulheres que morrem desta forma, por estes “crimes” e com este tipo de julgamento. Mas, por alguma razão que desconheço, ESTA ficou famosa e a comunidade internacional se sensibilizou. Lógico que nosso monarca, o rei Çilva I tinha que pegar a rebarba de tanto flash e fazer mais um merchan de sua pessoa. Num rompante de direitos humanos (nem parece o mesmo Çilva I que quer deportar repórter porque o repórter afirma que ele é pé de cana) mandou o Embaixador do Brasil no Teerã oferecer asilo político à moça. O curioso é que o Irã nega que tenha recebido alguma proposta formal do Brasil. Oeeeeeee! Saia justaaaa! Çilva I falou dessa proposta de asilo abertamente, até mesmo em discursos públicos e vem o Irã e diz “Não é por nada não, mas não chegou porra nenhuma para a gente”. Vergonha alheia master. E Çilva insiste em dizer que fez uma proposta.

O Irã continua dizendo que não recebeu nada não. Climão. Daí vem o Itamaraty e já começa a mudar o discurso. Diz que não chegaram a apresentar, assim… como direi… uma proposta formal. Mas que a intenção é boa! O discurso agora é que Çilva I expressou o “oferecimento” de “recebê-la” no Brasil se isso pudesse evitar sua execução. Foi isso que o Embaixador do Brasil teria dito ao Irã, nas palavras do Itamaraty, ele “comunicou” este fato. É tipo um “passa lá em casa” que a gente fala quando encontra aquela pessoa que não vê faz muito tempo. Algo meio que “se você conseguir sair deste país ditatorial sozinha, condenada à pena de morte, eu deixo você ficar no Brasil”. Parece deboche. Se quer ajudar, compre a briga e dê infraestrutura para essa pobre criatura escapar dessa situação!

Vamos combinar que uma coisa é brigar pelos direitos humanos, peitar a soberania de outro país e tentar arrancar um ser humano que vai ser executado, usando de todos os esforços e recursos (diplomáticos e jurídicos) para salvar a sua vida. Outra coisa é oferecer o país, para, se a pessoa quiser, ser recebida. Melhor ficasse calado. Se queimou com o Irã e se queimou com o Brasil. Aliás, retiro o que disse. Çilva I nunca se queima no Brasil, nada de ruim cola nele. Ele pode ser visto currando a mãe em praça pública que todo mundo perdoa. Duda Mendonça feelings. Veja importância de um publicitário na sua vida! (mesmo que ele seja adepto de rinha de galos) e contratem o Somir para ter carta branca para fazer de tudo! ($$$)

Também quero deixar minhas lembranças carinhosas ao Ministro Celso Amorim, pela contundente luta ferrenha para salvar uma vida humana: ele SUGERIU que o Irã faça um gesto humanitário. wat. Ou ele lê muito pouco ou ele tá de sacanagem mesmo. Eu quero aproveitar e sugerir que Susana Vieira tenha semancol e que Preta Gil emagreça. Já que sugerindo o impossível a gente denota impressão de boa vontade, porque não? Falando sério agora, com sugestões e oferecimentos não se resolve nada em quando se lida com um governo como o do Irã, e todo mundo sabe muito bem disso. Mas Vossa Majestade, Çilva I e sua corja, querem viver de jeitinho até mesmo quando o que está em jogo é a vida de outra pessoa.

Çilvão ainda teve o descaramento de dizer que nem precisava de formalidades, que ele ia usar sua “amizade” com o “colega” iraninano Mahmoud Ahmadinejad para tentar conseguir que a moça viesse ao Brasil. wat. WAT. AMIGOS DE INFÂNCIA, NÉ ÇILVÃO? Chama “Mama” para uma mesa de boteco e bate um papinho com ele. É bem por aí que se faz diplomacia. Depois ele se irrita quando a imprensa diz que ele bebe…

Não é de hoje que Çilva I e cia tentam lucrar muito fazendo pouco, mas enquanto esta conduta se limitava às fronteiras do nosso país, ficava mais fácil de digerir o vexame. A partir do momento que ele acha que pode dar uma de esperto, que pode capitalizar para sua vaidade a vida de outro ser humano e que pode usar de jeitinho e malandragem em âmbito internacional, expõe o quanto somos República das Bananas e queima o nome do país internacionalmente.

Sem contar que ser (ou se dizer ser…) amigo de iraniano que manda executar uma mãe de dois filhos porque traiu um marido com o qual já não viva em matrimônio por dois anos é, no mínimo, queimação de filme. Boa, Çilvão! Como sempre, negociando com Deus e com o Diabo. Diplomacia já é eufemismo, isso é arriar as calças mesmo. Ele topa tudo para não ficar mal com ninguém. O pior? É que dá certo. As pessoas aturam as piores incoerências e as piores babaquices desde que seu interlocutor esteja disposto a agradá-las.

Existem diversos mecanismos oficiais (judiciais ou extrajudiciais) que podem ser adotados para impedir esta execução e abrigar esta mulher. Qual vai ser? Vamos fazer alguma coisa ou não vamos nos meter? Mas tem que ser oficial, nada de papinho no pé do ouvido, nada de conversa em off. É um assunto por demais delicado e divulgado para que um Governo o trate assim, nesta informalidade e ainda acredite que está dando o seu melhor fazendo isso.

Pergunta: Será que Çilva está lidando com o assunto nessa informalidade toda porque está com medo de ter que assinar algum documento? Pode ser isso, pode ser o constrangimento de ter que colocar o dedão na almofadinha de tinta para todo o mundo ver…

Para dizer que o Presidente deveria se preocupar com as milhares de mulheres que morrem todos os dias no país em função de fome, doença e violência, para dizer que se ele é mesmo tão bondoso deveria intervir em todos os casos de execução de mulheres do Irã ou ainda para passar atestado de traumatizado e dizer que mulher que trai tem mesmo que morrer: sally@desfavor.com

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