Dia: 20 de março de 2011

D'OH!Desfavor da semana com uma dose (radioativa) de “Ele disse, ela disse”. Embora Sally e Somir concordem que houve um desfavor mundial após o terremoto japonês, não o fazem exatamente pelo mesmo motivo.

E foda-se o Obama.

SOMIR

Eu não sou muito fã da humanidade. E nem digo isso de uma perspectiva afastada, ignorando que também sou parte do problema. Tanto potencial desperdiçado em comportamentos irracionais…

Ser humano é estar num quilométrico congestionamento de Ferraris.

O poder de dividir o átomo não é pouca coisa não. O que ocorre no interior dos reatores das usinas nucleares não ocorre nem dentro das estrelas! Para um bando de macacos pelados, é um feito incrível. Só que eu fico com a sensação que para muita gente, isso já está de bom tamanho.

Não a fissão nuclear, aposto que a maioria da população nem se importa com isso, e sim a idéia de que somos macacos pelados. E não é o tipo da coisa que pode ficar por isso mesmo. Quem tem esse tipo de poder nas mãos não deveria se prender por ignorância, medo ou ganância. A humanidade precisa merecer seus grandes feitos, ou eles se voltam contra nós.

Discordo veementemente de quem tenta fazer o incidente nuclear em Fukushima parece algo totalmente fora de controle, Chernobyl foi muito pior e não transformou a Europa toda numa zona morta. Quando o sensacionalismo parar de render tanto, o mundo e a mídia vão se voltar para a próxima bola da vez.

Mas não ignoro que foi muito mais risco do que o necessário. Uma combinação perigosa de incompetência e passividade é a verdadeira responsável pela situação. Confesso que nutria um certo respeito pelos japoneses por causa de sua disciplina (a gente admira qualidades que não possui…) e fui um duro golpe perceber que isso em grande parte não passava de comodismo.

A organização nipônica não foi exatamente um avanço para os macacos pelados, foi condicionamento localizado. Se é na hora do aperto que vemos quem é quem, está aí quem somos: Macacos pelados, por todos os lados.

Os que estavam no olho do furacão (não tinha sido terremoto?) reagiram de forma muito menos intensa do que o desejável. Os que estavam de fora entraram numa onde de pânico sensacionalista infundado. O que lhes escreve ficou surpreso com isso. Como sempre, faltou usar a massa cinzenta.

A reação instintiva do macaco pelado é atacar a fonte de perigo mais próxima, ao invés da mais séria. Escrevi um texto inteiro reclamando da tendência natural das pessoas de questionar a função da energia nuclear a cada vez que ocorre um acidente, e não mudei de idéia. Muito mais fácil do que bater no comportamento errado de nossa espécie em relação à tecnologia é bater na própria tecnologia.

Afinal, pega até mal dizer que a humanidade tem que ser menos humana para poder colher os benefícios da nossa engenhosidade. Ao invés de manter uma usina nuclear ultrapassada em funcionamento por comodidade, deveria-se admitir que cada geração cria tecnologias mais inteligentes e que os “upgrades” tem que estar previstos nos custos de qualquer projeto de larga escala.

Essa história de “construído para durar” é coisa de outro milênio. Quem vive numa era de avanços exponenciais de conhecimento não pode mais ter essa mentalidade. Os reatores da usina de Fukushima foram construídos na década de 60 e inaugurados nos anos 70! A questão aqui não é se os reatores funcionam ou não, e sim que parece que estamos achando que energia nuclear é um conceito banal do qual já temos completo domínio.

Se 90% da estrutura da tecnologia serve apenas para controlar efeitos indesejados (superaquecimento e liberação de radiação), isso quer dizer que o que não falta é espaço para evolução. Não é o bastante se contentar com um reator construído numa época onde não se colocava nem cintos de segurança nos carros. Não é o bastante não ter uma solução séria para o armazenamento de lixo nuclear.

Os macacos pelados deveriam estar mordidos com esse desafio, mas não estão. Meia dúzia deles pensam em como resolver os problemas, mas só conseguem fazer alguma dessas possíveis soluções ter alguma função se alguém enfiá-la goela abaixo do grande público.

É a velha mania de só tratar os sintomas, nunca a causa. Tecnologia utilizada de forma irresponsável não é problema isolado, é uma questão intrinsecamente humana. Se ainda não merecemos o poder de partir o átomo, temos que fazer por onde.

E não é esse comodismo intelectual que vai nos ajudar. Renegue seu macaco pelado pelo bem dos outros macacos pelados.

Para dizer que o termo politicamente correto é símio-naturista-brasileiro, para sair berrando que vamos todos morrer, ou mesmo para perguntar quanto eu estou recebendo do lobby da energia nuclear: somir@desfavor.com

SALLY

Esta semana foi podre, viu? Maria Bethânia sugando 1,3 milhões do Governo para criar um blog (e a gente aqui fazendo um blog COM CONTEÚDO e DE GRAÇA, putaquepariucaralho), a coisa pegando fogo na Líbia e muitas outros desfavores. Porém, um deles afeta a todos nós, em escala mundial, então, não dá para deixar passar.

O grande desfavor da semana é a forma como se estão construindo mitos em torno do desastre no Japão: o Japão é ótimo, teve comportamento exemplar, os japoneses também. O desastre foi uma fatalidade inevitável que nem foi tão grave. Nada precisa ser modificado. O Japão nos ensinou uma lição de comportamento e vida. PORRA, sem trocadilhos, ABRAM OS OLHOS, CACETE! Não comprem esse discurso não! TÁ TUDO ERRADO! E não é porque o Japão está na merda que eu vou deixar de falar: ESTÁ TUDO ERRADO. Com o Japão e com o mundo!

Vocês percebem o que aconteceu? A natureza jogando na nossa cara que mais uma vez ela venceu. Não somos nada, estamos totalmente vulneráveis aos caprichos da mãe natureza e todos nossos anos de evolução tecnológica não bastaram para evitar que fenômenos naturais nos dizimem. Porque? Porque somos burros e arrogantes! Polegar opositor para que, se neguinho usa para construir usina nuclear em um lugar onde existe junção de placas tectônicas? Grandes merda que não caiu nenhum prédio residencial ou comercial com o terremoto se a principal estrutura que deveria estar intacta não está: a porra da usina nuclear. Mas o mundo é romântico, daí todo mundo parabeniza os japoneses porque não caiu nenhum prédio (alou? Urânio e Plutônio vazando? Parabéns meu ovo!). Todo mundo elogia como eles são civilizados e organizados. CAGUEI para a organização deles, eles quase mataram a todos nós!

Apesar do Governo Japonês ter mentido inúmeras vezes sobre a real situação e reais conseqüências do desastre, ontem quando disseram que a situação na usina estava melhorando, todo mundo acreditou. É sempre assim, se a gente contar uma mentira que o interlocutor QUER acreditar já tem meio caminho andado para que ele realmente acredite. Nossa mente é traiçoeira, engolimos as maiores merdas quando queremos acreditar. Eu não confio em mais nada do que o Governo Japonês diga, mas as pessoas continuam acreditando! PORQUE? Não duvido nada que amanhã ou depois de amanhã metade do Japão exploda pelos ares. Não que eu deseje isto, de forma alguma, mas infelizmente o bichinho da coerência me mordeu e após sucessivas mentiras eu realmente não consigo mais dar credibilidade a quem me enganou. Detalhe: só ontem o Governo admitiu que não é um desastre de grau 4 e sim 5. Vão tomar no cu que isso é, pelo menos, um FUCKIN´ SEIS. Só eu que fico revoltada quando sou tratada como uma idiota?

Estamos brincando com a sorte. Não falo apenas da energia nuclear. Existem diversas situações criadas ou agravadas pelo homem que podem, de um dia para o outro, foder com a vida da humanidade. Alguém se importa? NÃO. As pessoas parecem gostar de protestar por coisas que só acontecerão dentro de 50, 100 anos. Vai faltar água no planeta dentro de 50 anos? LOSER. Se o Big One acontecer nos próximos anos, NÃO VAI TER NINGUÉM para beber água dentro de 50 anos no planeta. Foda-se o mico leão dourado, foda-se o efeito estufa, que tal mirar o foco para coisas que podem, em questão de segundos (e não de décadas) dizimar o ser humano? Não, né? Não dá ibope. Vamos salvar os golfinhos que eles são super fofos.

Não é irônico pensar que, se estivéssemos fazendo fogueira com pauzinhos e houvesse um terremoto terrível, estilo Big One, seria mais fácil que o mundo não acabasse? No final das contas, o que vai nos matar é a nossa própria tecnologia. Ou melhor, nossa burrice ao empregar a nossa própria tecnologia, porque se neguinho instalasse usina nuclear em locais mais seguros, não teria tanto problema. O ser humano é uma máquina de fazer merda, por isso, é uma questão de tempo até que nossas próprias criações nos exterminem: laboratórios que guardam vírus letais, radioatividade, armas de destruição em massa… qualquer que seja a modalidade, um dia a nossa estupidez vai fazer com que a gente se enforque com o cadarço do próprio tênis. Morte vexaminosa. Morte por incompetência. Vamos morrer sufocados por nosso próprio vômito.

Se este risco todo que corremos fosse o preço inerente a viver em uma civilização evoluída, com antibióticos e ar condicionado, eu seria a primeira a bater no peito e dizer que vale a pena. Eu adoro um conforto. Mas não é. Poderíamos ter a mesma tecnologia e benefícios com muito mais segurança e planejamento. O grande problema não é a evolução e sim a ganância. Seria uma bela lição para o ser humano escaralhar o planeta de tal forma, por ganância, que gerasse um retrocesso onde dinheiro não valesse absolutamente nada. Onde achar uma banana valesse mais do que achar uma nota de cem dólares. Tomem cuidado, Deus quando resolve bancar o troll é mais cruel que qualquer um de nós.

Se esta merda toda que está acontecendo no Japão parar por aqui, não duvido nada que em dois ou três meses o assunto tenha saído de pauta e só se fale nele novamente em dezembro, na forma de dez minutos de uma retrospectiva do ano de 2011 – ou seja, não aprendemos com os nossos erros. Não estamos ouvindo os avisos.

Não quero que o mundo viva sem energia elétrica em uma choupana sem conforto, só peço bom senso de não construir nada radioativo em um local onde dia sim dia não a terra treme. Outros países em áreas de risco como os EUA poderiam aproveitar a oportunidade e refletir sobre o barril de pólvora sobre o qual estão sentados, porque sinceramente, FATALIDADE MEU OVO, o que aconteceu no Japão foi descaso. Não se constrói usina nuclear por cima de encontro de placas tectônicas. Fazendo isso se coloca em risco O MUNDO TODO e nenhuma nação tem esse direito.

No meio de tantas cabecinhas geniais japonesas, ninguém pensou em parar de pesquisar como fazer um celular ainda menor ou como criar um cão robô para tentar achar soluções para problemas mais importantes ou mais urgentes? Provavelmente não. Nos vídeos caseiros deste último terremoto vi pais largando seus filhos e pegando uma câmera para filmar o tremor. Durante um terremoto, você abraçaria e protegeria seu filho ou correria para pegar uma filmadora e filmar tudo? Parem de endeusar os japoneses, pois isso só mostra o complexo de vira-lata que nós brasileiros temos. Eles tem seu mérito por serem disciplinados, adestrados e controlados, mas porra, eles também tem uma penca de defeitos (bem graves, por sinal) e se comportaram por diversas vezes de forma reprovável durante este desastre. Se você não pode ver isso de cara, bem, tente novamente. E vamos perder o medo de falar mal de quem morreu ou se fudeu, que isso é hipocrisia, ok? CORAGEM faz bem.

Repito o que já disse aqui durante a semana: quão merda tem que ser um país que depende de energia nuclear para sobreviver e constrói uma usina MENOS SEGURA do que Angra 1, projetada para um país que não tem tremores? ERRARAM. Os japoneses, sempre tão perfeitos e com tudo sob controle, ERRARAM SIM. E a conta pode vir alta, inclusive para nós que estamos do outro lado do mundo.

Para dizer que desde as Video-Cassetadas você já tinha percebido que japoneses são sádicos pois em vez de amparar seus filhos quando eles caem eles ficam filmando, para dizer que eu tenho ENVEJA do Japão ou ainda para dizer que agora fudeu, esse povo de olho puxado vai vir todo para São Paulo roubar nossos empregos e vagas no vestibular: sally@desfavor.com