Dia: 4 de abril de 2011

Puxa meu dedo.Relacionamentos, discussões, funções corporais vexatórias… O desfavor não perde a mão (amarela) e resolve brindar o público com uma essencial disputa sobre a ética do peido alheio. Enquanto ele acha que as pessoas devem pagar pelos seus flatos, ela entende isso como parte do jogo.

Tema de hoje: Se os peidos de seu(sua) parceiro(a) estão te causando incômodo, deve-se falar com ele(ela)?

SOMIR

Sim. Uma coisa é um peido ocasional, outra completamente diferente é conviver com uma pessoa com um vazamento radioativo constante…

E é importante diferenciar. Peidos comuns, daqueles que escapam no sofá ao lado de outra pessoa, não precisam de reação. Não é agradável, mas a coisa fica bem mais simples se o peidante disfarçar e o peidado ignorar. Eu acho questão de educação se desculpar, como já escrevi em outra coluna gasosa, mas isso só em casos daqueles especialmente fedidos.

Mas hoje não nos referimos aos esporádicos, estamos discutindo o caso de duas pessoas que tem um relacionamento abalado pelos gases podres de um deles! Não é pouca coisa. Presume-se que a pessoa responsável pelos cheiros incômodos pertença a uma dessas três categorias:

– Negação: Típico caso de gente com a mentalidade Sally para assuntos de banheiro. A pessoa acha que basta ignorar a existência de suas funções corporais e tudo vai se resolver. O ser peida seguidas vezes, de forma fedida e barulhenta, mas se ninguém reclamar é como se o ar estivesse cheirando a flores. Esse tipo de auto-enganação não é saudável. Assim que essa pessoa estiver próxima de alguém que não tem nenhuma “obrigação social” de ser agradável, vai ficar sabendo o quão podre realmente é.

E esse tipo de coisa é melhor resolvida com o tato de que só quer o bem do ser peidante. Melhor uma conversa vexatória, porém num ambiente compreensivo (janelas abertas) do que uma bronca de um desconhecido que pode levar a pessoa a se fechar mais ainda. Já estamos tratando de alguém que quer fingir que só come sabonete, não faz bem incentivar a ilusão. O medo de lidar com a realidade paralisa. E convenhamos que não queremos o(a) peidorreiro(a) paralisado ao seu lado.

Ninguém em sã consciência (ou acima dos 15 anos de idade) vai considerar um relacionamento inválido só porque a outra pessoa peida mais (ou de forma mais potente) que o habitual. Principalmente se a pessoa tem consciência do problema e toma as precauções necessárias. Caros desfavores, é um gesto de amor ir até o banheiro ou o quintal para soltar aquele peido assassino. Assim como não se caga em qualquer lugar, não se peida em qualquer lugar.

– Podridão: O corpo humano é cheio de probleminhas que se manifestam de forma “cosmética”. Uma pessoa pode estar se sentindo muito bem e ter alguma condição que a faz arrebentar a boca do balão (intestinal) com mais frequência ou intensidade. Não é só quem está com uma caganeira maldita que vai produzir a versão gasosa em quantidade abundante!

Uma boa relação também é baseada em cuidado com a outra pessoa. Se você percebesse um possível sintoma de problemas com seu(sua) parceiro(a), você não avisaria na hora? Chegar num ponto onde os peidos da pessoa com quem você faz sexo te incomodam profundamente tem todo o jeito de sintoma. É mais simples fingir que não vê (ok, ouve e cheira), mas desde quando o jeito mais simples é a única solução? Normalmente é a mais ineficiente.

Diagnóstico no começo costuma facilitar muito para quem quer se curar. E nem precisa ser uma doença horrível que apodrece o cólon, pode ser o simples caso de mudar alguma coisa na dieta. Extinguir a fonte dos problemas (não, enfiar uma rolha no rabo da pessoa não conta) deixa os dois mais felizes. A não ser que a pessoa tenha algum fetiche por ter seus peidos cheirados, não deve gostar de causar incômodo.

– Sem-noção: Existem muitas pessoas nesse mundo que não dão a mínima para algo assim. Infelizmente, não estamos imunes a nos apaixonar por elas. Até porque nesses casos é preciso contato constante (morar junto) para cheirar o tamanho do problema.

A pessoa sem-noção pode achar natural ficar peidando fedido num ambiente fechado com alguém do lado, pode ter sido criada numa família porca, pode achar hilário (é engraçado, mas piada enjoa se repetir demais), ou pode mesmo ser daquele tipo horrível de ser humano que acha uma linda expressão de intimidade poder peidar ao lado do(a) parceiro(a).

Como homem eu posso dizer que achamos bacana quando uma mulher se sente à vontade para fazer um “ato de rebeldia” e rir depois de peidar alto. Mas atentem ao “ato de rebeldia”, enxergamos isso como uma molecagem que vivemos fazendo com nossos amigos. Não pode ser padrão de comportamento, tem que ser a exceção total da regra, só para dar uma sujada nessa imagem de “florzinha” que a mulherada gosta de manter.

Esse tipo de intimidade frequente carregada de gás metano e coliformes fecais tem mais a ver com o ideal de relacionamento de coprófilos. Uma pessoa sem-noção vai continuar aprontando se não for confrontada (e talvez até se confrontada). Mencionar o incômodo é a única forma de conseguir algum resultado.

E se tudo der errado e a pessoa quiser sair do relacionamento, você só perdeu alguém que achava normal ficar peidando na sua cara. Não é como se você tivesse perdido algo muito valioso.

Não viemos para esse mundo para ficar cheirando peido (quer dizer, o pessoal do Fart Brazil veio…). É uma função corporal natural, mas mijar e cagar também são. Existem regras de convivência social que tornam nossa vida mais agradável, não custa seguí-las e não é maldade conformar outras pessoas a fazer o mesmo.

A verdade só fede se você for covarde.

Para dizer que não aguenta mais colunas escatológicas, para dizer que deveria ter uma regra de convivência social que me obrigasse a postar as coisas na hora certa, ou mesmo para questionar quem peida mais fedido aqui no desfavor: somir@desfavor.com

SALLY

Se os peidos do seu parceiro(a) estão te causando algum incômodo significativo, você deve conversar com ele(a) sobre o assunto? NÃO! NÃO! MIL VEZES NÃO! Não é possível, eu estou aqui repetindo meus ensinamentos estéticos desde 2008 e vocês não aprenderam nada???

Gente, é muito constrangedor conversar com o parceiro sobre peido. Ao menos sobre os peidos dele ou sobre os seus. Você o ama? Cheire o peido dele e não baque a difícil. Amar implica em muitas renúncias e uma delas é um ar 100% puro o tempo todo. Convivência nos sujeita a essas coisas desagradáveis que eu tento esquecer que existem e dia após dia o Somir me obriga a lembrar me forçando a escrever textos sobre elas. Convivência implica em remela no olho e bafo ruim ao acordar, implica em ser visto eventualmente em momentos indignos, como por exemplo vomitando e implica em ter que cheirar um peidinho aqui, outro ali.

Depois é mulher que implica com tudo, faz tempestade em um copo de água e quer sempre conversar sobre a relação, né? É APENAS UM FUCKIN´ PEIDO, não dá para deixar quieto não? A menos que a pessoa peide ostensivamente na sua cara e fique rindo depois, não vejo porque ter uma conversa bizarra como essa. Palavra de quem já namorou usuários de albumina. Seja forte. Respire pela boca. Faça de conta que vai sair do cômodo para pegar um copo de água, sei lá, crie seus mecanismos mas sobreviva ao peido alheio sem fazer DR Escatológica!

Sejamos práticos: uma pessoa tem a opção de parar de peidar? Não. Se houvesse qualquer recurso científico para isto eu já teria me oferecido para ser cobaia dessa experiência. Peidos são coisas indignas e nojentas com as quais todos nós temos que conviver. Peidos são broxantes, são fedidos, mas todo mundo faz. Você faz. Quem você pensa que é? Petulância achar que você pode peidar e o outro não! Seu peido é mais ou menos cheiroso do que o do seu parceiro? Uma conversa sobre o assunto é improdutiva. Mesmo que a pessoa tenha a boa vontade de se levantar e se dirigir ao banheiro quando for peidar (coisa que se espera que ela faça independente de pedidos), isso não vai te impedir de ter que cheirar o peido alheio em algumas situações: pessoa dormindo, dentro do carro, dentro do avião, dentro do elevador…

Peidos são inevitáveis. Uma conversa sobre uma coisa inevitável só serve para criar climão e constrangimento. Fico imaginando se a situação for de um namorado reclamando para a namorada sobre os peidos dela! GEZUIZ. Você quer o que? Que sua namorada mande cauterizar o próprio cu? Porque deve ser essa a vontade depois de ouvir uma conversa-reclamação (quem da toque é ginecologista, essa conversa teria sim o tom de cobrança) sobre como os peidos dela fedem e incomodam. Ainda estaria chamando a coitada de mal educada por tabela! Cresçam. Uma relação adulta pressupõe cheirar uns peidinhos de tempos em tempos (eu não acredito que eu acabei de escrever isso).

E vamos combinar que eu não sou exatamente um modelo de tolerância com essas coisas. Eu não gosto nem que mijem de porta aberta! Sempre fui acusada aqui de ser excessivamente fresca com essa questão estética. Vejam, A EXCESSIVAMENTE FRESCA está dizendo que tem que tolerar alguma coisa de ordem escatológica. Isso é um diferencial e tanto. Se EU estou defendendo a tolerância, deve ser porque o troço é mesmo delicado.

Conversar com parceiros sobre seus peidos te passa de imediato um atestado de SEM NOÇÃO. Eu ficaria embasbacada me perguntando como pude escolher alguém tão sem noção de nada. Passa a idéia de pessoa sem filtro, inconveniente, que causa constrangimento. Sim, abordar o parceiro sobre seus peidos depõe contra você. Tenha SEMANCOL e cheire o peido da pessoa amada, que isso não é o fim do mundo. Vocês fazem pior, alguns de vocês até cagam enquanto o outro está no mesmo banheiro tomando banho, porque não suportar um peidinho sem ter que verbalizar um questionamento sobre o assunto?

Peidar faz parte da vida. Eu sei, cagar também faz, mas por sorte não cagamos dormindo, não cagamos quando estamos dentro do carro etc. Podemos controlar melhor a situação. Peidos em determinadas circunstâncias NÃO PODEM SER EVITADOS. “Mas Sally, e se eu conversar com ela somente sobre as circunstâncias onde os peidos podem ser evitados?”. Não é assim que a banda toca. Você conversa com a pessoa e fala que PEIDO INCOMODA. Isso cria uma paranóia na cabeça dela, um constrangimento. Dificilmente ela vai conseguir relaxar e ficar bem sabendo que só será cobrada com relação aos “peidos evitáveis” (eu não acredito que estou categorizando peidos).

Pensem na relação custo/benefício: criar sentimento de rejeição, paranóia, medo, angustia, constrangimento e vergonha ou apenas cheirar um peidinho por poucos segundos? Me poupem, se eu, a Estética Queen estou dizendo que dá para levar, pessoas normais vão tirar de letra! Um peido não faz estrago suficiente para merecer uma conversa. Nem um peido de albumina. Você, Amigo Cueca, não se sentiria um monstro em ter que chegar para sua amada e magoá-la desta forma? Você não acha que isso macularia a auto-estima da moça? Você acha realmente necessário esse tipo de constrangimento, se não para você, para ela?

Certas coisas não se conversam. Certas coisas são constrangedoras demais para se conversar. Certas coisas humilham tanto que a maior prova de amor que se pode dar é fingir que não viu, que não percebeu, que nada está acontecendo. E nunca, eu disse NUNCA, aborde o assunto como brincadeira “Mmm… tá um cheiro estranho aqui, você peidou! Hahahaha”. Eu absolveria uma pessoa que matasse eu parceiro após esta frase no Júri.

Se você quiser se aprofundar neste assunto fascinante que é o peido, Desfavor te recomenda um texto: Desfavor Explica: O peido.

Quem ama cheira calado. Lembre-se, você também tem cu e você também peida, um dia seus argumentos podem se voltar contra você. Sou a favor da tolerância com o peido, em prol do crédito para eventualmente peidar em outra ocasião.

Para dizer que eu tenho sérios problemas com intimidade, para dizer que seu namorado te mandou puxar o dedo dele e depois disso você se sente super confortável para mandar ele peidar na puta que o pariu ou ainda para parabenizar nossa criatividade pois desde o começo do blog sempre damos um jeito de trazer temas escatológicos e eles nunca se esgotam: sally@desfavor.com