Dia: 26 de abril de 2011

Corinthians? Gezuiz!Tatuagem. Já foi tão polêmica e marginalizada… ela mal sabia que esta época seria sua época de ouro, o pior ainda estava por vir quando ela ganhasse popularidade e aceitação social. Garanto que a tatuagem preferia ter ficado restrita a marinheiros e presidiários do que virar a decadência que virou nos dias de hoje. A tatuagem caminha de mãos dadas com o brega e com a falta de noção e parece que esta parceria só vai se consolidar com o passar do tempo. Já repararam como as pessoas vem fazendo mau uso da tatuagem hoje em dia? As pessoas se tatuam com a mesma seriedade e planejamento com que peidam. Um horror.

Antes de fazer a minha tatuagem eu pensei “é algo que vai me acompanhar para o resto da vida, por isso tenho que escolher uma coisa significativa, imutável e única. Tem que ser em um local que não desabe com o tempo e de preferência não muito visível para não me atrapalhar na minha profissão e algo que não seja ofensivo para a pessoa que vai estar comigo”. Fiz estas e outras ponderações. Refleti, perguntei, pesquisei. Será que alguém pensa hoje em dia antes de se tatuar? Talvez poucos. Essa nova geração, que eu apelidei carinhosamente de “Geração Ejaculação Precoce” não quer saber. Sentiu vontade vai lá e se tatua, foda-se o depois. E suas vontades costumam ser cafonas e simplórias.

Sou do tempo em que uma tatuagem era algo pessoal, cuja intenção era transmitir uma mensagem, tornar seu corpo único, transmitir uma informação relevante. Um ícone, um emblema, um símbolo com toda uma história por trás. Hoje em dia, a impressão que tenho é que as pessoas não se tatuam, elas são “legendadas”. Sim, esse é o grau de sutileza, as pessoas são LEGENDADAS. E o pior é que as legendas estão ficando padronizadas. Tatuagens obvias, padronizadas, que escancaram a intimidade e a privacidade do usuário. E feias, estão feias de doer. Faz tempo que não vejo uma tatuagem bonita.

Qual é a graça de ter uma tatuagem que todo mundo tem? Estrelinha no pulso? Atrás da orelha? E aquela maldita tatuagem ícone do mau gosto brega onde se escreve com FUCKIN´ LETRA DE CONVITE DE CASAMENTO o nome da pessoa amada no antebraço? Ou a pessoa amada, ou uma mensagem para Gezuiz. Em parte é bom, ajuda nos tempos de solteira porque se eu vejo um elemento com um “Obrigada Jesus” ou coisa do tipo no antebraço (como é horrenda essa letra de convite de casamento, puta merda) eu corro como se não houvesse amanhã e nem chego perto.

E as pessoas que decidem tatuar a fêice (vai lá nos comentários dizer que eu não sei escrever em inglês) de um bebê em alguma parte do corpo? Gente, fica HORRENDO, ok? Por mais lindo que seja o seu bebê e por melhor que seja o tatuador, FICA HORRENDO. E por mais que você não ache horrendo, pense no constrangimento de quem faz sexo com você. Já pensou ter que foder com alguém com um bebê desenhado olhando pra sua cara? Não há condições. E quando você ficar velho e pelancudo, grandes chances da cara do bebê parecer o Vampeta, devido às deformidades causadas pela pelanca.

Porque sim, tem gente que tatua lugares que deformam com o tempo. As pessoas pensam que nunca vão envelhecer. Sua tatoo na barriga tá uma gracinha hoje, mas dentro de vinte anos vai ser uma obra de arte abstrata. O mesmo vale para tatuagem no peito ou na bunda. As pessoas não pensam que é uma coisa PARA SEMPRE e não conseguem antever o que pode acontecer a longo prazo não? Pensar está se tornando um luxo para poucos. “Viver o momento” tem limite. Se vocês soubessem a dor que é tirar uma tatuagem com laser pensavam bem antes de sair se rabiscando.

Mas o pior para mim é mesmo o conteúdo. Acabou a sutileza, o senso de humor, o easter egg. Hoje neguinho tatua curto e grosso o que quer passar. Geração legendada. “Fulano amor eterno” ou “Tudo posso naquele que me fortalece”. Gente, que tal um pouco de senso de humor ou sutileza? Precisa deixar estampado na pele quão rasa é a mente de vocês? Aliás, precisa escrever o quanto gosta de alguém no seu corpo? O simples sentir, o simples gostar não basta? Precisa evadir seus sentimentos para que o porteiro, o pedreiro que foi remendar seu vaso e o atendente do Mc Donald´s saibam quem você ama ou quem você deixa de amar? Eu hein…

Minha tatuagem foi uma brincadeira pensada para me comparar a um produto que pode ser comprado. Muitos acharam de gosto duvidoso. Tudo bem que muita gente não entende, mas é uma tatuagem que desperta curiosidades e perguntas. Uma tatuagem “Fulano amor eterno” é escrachada demais. Precisa evadir a privacidade até na própria pele? Pouco interessa aos outros quem você ama e não é o tipo de informação que transeuntes, colegas de trabalho, clientes ou vizinhos tenham que saber. Banalização do amor. Depois dizem que sou EU a que não sabe amar. Eu preservo. Um dos principais segredos da longevidade do relacionamento é esse, preservar. Precisa estampar para todo mundo ver? Tem algo errado quando a pessoa sente prazer ou necessidade em tanta ostentação.

Isso sem contar com as conseqüências do término do relacionamento. Perguntem para Debora Secco, Viviane Araujo, Daniele Winits e tantas outras que fizeram a burrice da dar nome aos bois em suas tatuagens. Perguntem para a maior expoente da evasão de privacidade via tatuagem, Kelly Key, que tatuou nada mais nada menos do que a fêice do Latino na sua perna! ECAAAA! E não aprendeu. Tatuou o nome do seu atual marido na nuca. Mas tudo bem, ele merece, ele merece. Já pensou ter que comer a Kelly Key olhando para a fêice do Latino? Esse cara passou maus momentos.

As pessoas estão parecendo BLOCOS DE NOTAS COM PERNAS. Sério, a impressão que me dá é que não precisa ter a menor relevância para que algo vire uma tatuagem. Neguinho se tatua como quem cola um chiclete debaixo da mesa. Entrei pro BBB? Vou fazer uma tatuagem para isso! Entrei em um novo trabalho? Vou tatuar. Caguei um tolete maior do que o normal? Vou escrever nas costas “Homenagem ao meu toletão”. Gente, vocês estão ficando RABISCADOS e não tatuados. Vai pensando que é fácil de tirar… não é não! É demorado, dolorido e caro. Parem de tatuar coisas transitórias em seus corpos! Corpo não é bloquinho que a gente rabisca enquanto fala no telefone, ok?

Tatuar coisas obvias mostra ao mundo que você é uma pessoa obvia. Não seria mais legal mostrar ao mundo que você é uma pessoa criativa, inovadora, ousada, à frente do seu tempo, diferente e especial? Não, né? Tem que ser simplório. Tem que ser evidente. Cuidado, sua tatuagem diz muito sobre você e quem você menos espera pode estar reparando e te julgando por ela. Eu não contrataria alguém com tatuagem contendo o nome da pessoa amada de letra de convite de casamento no antebraço por melhor que fosse seu curriculum (já comentei que odeio tatuagem com letra de convite de casamento no antebraço?). Me parece uma pessoa inconseqüente, irresponsável, volúvel e sobretudo burra pacarai. PRÉconceito? Não, PÓSconceito.

Essa geração imbecilóide que acredita que tudo tem que ser rápido, tudo é descartável, tudo é digital, ainda não percebeu que tatuagem não é descartável e tem conseqüências na vida de uma pessoa. Mas não importa, né? O que importa é saciar de imediato uma vontade, um ímpeto que teve no momento. Porque essa geração não sabe esperar, não sabe ponderar, não sabe refletir. Geração Ejaculação Precoce. Não sabe se privar de nada que queira em nome de um bem maior no futuro, é incapaz de olhar três degraus acima. É tudo imediato, custe o que custar. Tatuagem não é e não deve ser tratada como coisa de momento. Pessoas assim, que acham que o que sentem HOJE é tão intenso que só pode ser uma verdade absoluta que não vai mudar, são retardados emocionais. O mundo está cheio deles. Oremos para que um dia eles amadureçam. Você VAI MUDAR, seus sentimentos VÃO MUDAR, e QUE BOM que vai mudar, porque graças a esta mudança nos tornamos pessoas melhores, mais maduras, mais competentes.

Fico me perguntando se da mesma forma que um cirurgião plástico deve dizer “não” a um procedimento que considere nocivo à pessoa, um tatuador também deveria fazê-lo. É complicado. Se eu fosse tatuadora e entrasse no meu estúdio uma menina de 18 aninhos mastigando um chiclete aos beijos com o namoradinho, dizendo que tem três meses de namoro e quer tatuar o nome dele em letra arial 47 no decote, eu me recusaria. Não sei o que fazem os tatuadores, mas eu me recusaria a ser a autora de algo que considero que vai atrapalhar a vida da pessoa, por mais que ela discorde e queira me pagar bem para fazê-lo. Eu não faria. É por essas e outras que eu nunca vou ser rica. Certo está quem faz, assim ensina uma lição a esses retardadinhos que acham que tem todas as certezas do mundo. Certezas mudam.

Até aqui, você pode discordar de mim dizendo que eu não tenho o direito de me meter na opção alheia. Bem, com certeza as pessoas tem o sagrado direito de tatuar o que querem em seus corpos, mas eu também tenho o sagrado direito de achar ridículo e externar isso no meu blog. Porém, existem casos onde nem mesmo a própria pessoa pretendia aquele resultado, mas, por tratar a tatuagem de forma leviana, ele acaba acontecendo. Nesse caso você não pode discordar de mim, pois o próprio tatuado se fode de imediato. Por exemplo, as tatuagens com erros gritantes de português. Gente, se você vai escrever uma coisa no seu corpo que vai ficar ali PARA SEMPRE, você tem que ler e reler várias vezes para se certificar que aquilo está correto.

Mas as pessoas estão cagando. As pessoas querem resultados para ontem, tem pressa, não ligam para a perfeição. Daí surgem tatuagens vexatórias como um “PISICOPATA” tatuado no antebraço (convenhamos, mesmo com a grafia correta, se apresentar à sociedade como psicopata seria bem ruim), ou um “TOMARROW NEVER KNOWS”. Tá tudo no Google, não estou inventando. Tem muita coisa grotesca: “senpre”, “desepção” e até mesmo “Corinthias”. Fala sério que a pessoa escreve uma coisa para sempre no seu corpo e não lê cuidadosamente antes do tatuador cobrir com a tinta? Neguinho não tá nem aí MESMO!

E as tatuagens em outros idiomas? Neguinho não confere. Sai do tatuador com um ideograma que acha que significa “amor” e na verdade significa “libero meu brioco por um trident mastigado”. As pessoas simplesmente não procuram saber. Elas querem é se tatuar. Elas querem se tatuar para ontem, não querem refletir, pesquisar, confirmar. Geração imediatista, vazia e descartável. Não sabem esperar. Preferem fazer uma cagada imensa e irreversível do que se aprofundar e adiar uma tatuagem para pesquisar. Medo desses animaizinhos exercendo suas profissões. “Devemos operar, Doutor?”. “Sei lá, opera, opera!”.

E gente que tatua o animal de estimação no próprio corpo? Não posso com gente que tatua animal de estimação (ou o nome do animal) no corpo. Tipo, essa era a coisa mais importante que você tinha para nos mostrar? Seu cachorrinho? Seu gatinho? Era isso a coisa mais importante que você escolheu gravar para a (sua) eternidade? Um animal de quatro patas que lambe o cu? Tua vida deve ser mesmo muito merda, vai desculpar. Ou tuas prioridades muito cagadas. Teu bicho vai morrer e em dez anos você mal vai lembrar qual era a cor dele, tenha dó! É essa a coisa marcante da sua vida que você quis estampar no seu corpo para sempre? Wat. (vai lá nos comentários dizer que eu não sei escrever em inglês).

O primeiro passo é ter consciência do que é imutável na sua vida. Tatuar qualquer coisa mutável pode te trazer problemas e pode ser necessário remover a tatuagem por uma infinidade de motivos. Não, amor não é imutável. E mesmo quando a gente escolhe algo imutável, como um filho, por exemplo, está sujeito a riscos. Conheço uma pessoa que tatuou a cara do filho de três anos no braço e a criança morreu pouco depois. A pessoa teve que remover a tatuagem pois não agüentava o sofrimento de lembrar da sua perda cada vez que olhava no espelho. Se no imutável já pode dar merda, imagina no mutável. As chances são muito maiores.

Se você for tatuar uma coisa mutável, ao menos seja sutil e faça de uma forma que seja possível minimizar os danos em um futuro. Conheço uma pessoa que tatuou o amor pela dança nas costas e depois foi parar em competição de Vale Tudo. A sorte é que ele tatuou em chinês, e hoje fala para todo mundo que significa o nome da luta que ele pratica. Parem com essa necessidade de se expor ao máximo. Isso desvaloriza. Tudo que é muito fácil, muito direto, perde o valor. O ser humano gosta de uma aura de mistério, de conquista. Parem de se legendar e deixem que paire algum mistério!

Seu namorado pode mudar, sua religião pode mudar, até mesmo SEU SIGNO pode mudar, sabia? Pense, reflita. Adianta pedir isso? Não adianta. Filhos são outra coisa irreversível, muito mais séria que uma tatuagem e neguinho decide ter na base do “foda-se”. Eu tentei.

Para não dizer que eu sou uma azeda que só fala mas dos outros, quero elogiar uma tatuagem que vi em um desconhecido que freqüenta a minha academia: ele tatuou FODA-SE em letras garrafais no antebraço. É uma tatuagem estúpida que pode ofender e limitar a pessoa profissionalmente (ainda que no futuro), mas EU RESPEITO de montão essa tatuagem, porque pelo menos não é brega, clichê e é ousada, diferente. Estranho do FODA-SE no antebraço: mandou bem.

Para dizer que minha tatuagem é a mais escrota ever e que eu não tenho o direito de falar da tatuagem de ninguém, para dizer que você quer fazer o combo estrelinha no pulso + estrelinha atrás da orelha + lacinho no Rêgo + Hello Kitty nas costas e se acha o máximo por isso ou ainda para simplesmente me mandar à merda: sally@desfavor.com