Flertando com o desastre: Infância.

Ah, que saudade...Quando vejo pessoas discursando sobre como é bom ser criança e como a infância é a melhor época da vida, fico me perguntando que tipo de pessoa pensa assim. Sinceramente? Eu acho infância uma merda. Não estou falando da minha infância, estou falando do conceito geral de infância. Acho muito melhor ser adulto do que ser criança. E acho doentio quem pensa o contrário.

As pessoas adoram a infância porque nela não existe muita responsabilidade. Concordo parcialmente, porque hoje em dia crianças acabam tendo tantos compromissos quanto adultos: escola, natação, ballet, judô, inglês e sei lá mais o que. Tempo para brincar que é bom, sobra pouco. Mas, mesmo nos meus tempos de infância, onde havia menos obrigações, ser criança não compensava. É que as pessoas tem essa epilepsia mental de só ver um lado das coisas (seja ele o bom ou o ruim) e decretar uma opinião com base em um único lado.

Ok, as responsabilidades são menores. Mas qual é a conseqüência disso? O poder de tomar decisões também é menor. Sua autonomia também é menor. Sua voz vale muito pouco. Você se sujeita às normas impostas pelos adultos. Isso é uma merda completa. Fico assustada de pensar que as pessoas preferem uma época da vida onde obedecem a terceiros em troca de não ter responsabilidades. Abrir mão da liberdade só para não ter responsabilidades? Nem morta.

Fica aquele saudosismo, aquela memória utópica. Será que estas pessoas não lembram a merda que é precisar que outra pessoa te leve nos lugares quando você quer sair, depender da outra pessoa quando quer comprar alguma coisa ou ainda prevalecer a opinião da outra pessoa em caso de discordância? Talvez não. Porque talvez estas pessoas vivam esta mesma realidade hoje em dia, só que com o acréscimo do fator responsabilidade: precisam do cônjuge para ir aos lugares, para comprar coisas e sua voz não vale muito dentro de casa.

Porque é tão ruim ter responsabilidades? Porque ninguém pensa no pacote todo, na liberdade que você ganha quando vira adulto? Liberdade de fazer tudo do seu jeito, no seu tempo. Montar uma casa de acordo com o seu gosto, comer na hora que quer, o que quer e dormir quando tem vontade. Talvez porque as pessoas insistam em sair da casa dos pais para a casa do casal e sempre tenha essa liberdade limitada. Nunca experimentaram a delícia de morar sozinhos e saber que tudo pode ser do seu jeito, sem prestar satisfação a ninguém. Talvez porque mal ficam independentes fazem filho e não sabem o que é poder dormir até a hora que quiser.

Os adultos de hoje são um bando de crianças, que não cortaram o laço do cordão umbilical com os pais, apenas o transferiram ao cônjuge. O homem tem hora para chegar em casa, se não leva esporro da esposa, tal qual levaria da mamãe. A esposa não pode escolher a roupa que vai vestir porque o marido acha inadequado. O marido não pode comprar o brinquedo que quer, porque a esposa acha muito caro aquele carro novo ou aquele computador. A esposa não sai se o marido não a leva para passear e se ressente quando ele não o faz, como se ela dependesse dele para sair (é esposa ou é cachorro, que precisa que alguém leve para passear? Eu hein)

Justamente por manter estas características doentiamente infantilizadas, os adultos se ressentem de ter que cumprir obrigações. Tem obrigações mas não estão usufruindo do lado bom desta moeda, que é ter a liberdade que se ganha junto destas obrigações. Porque? Porque estabelecem um modelo de relacionamento neurótico, controlador e doentio onde o lado bom das obrigações vai sendo progressivamente suprimido. No começo todo mundo é legal, com o tempo começa a paunocuzação. Daí bate aquela saudade da infância, onde também tinha a paunocuzação, mas não tinha tanta responsabilidade.

Me diz como é que alguém pode achar boa uma época da vida onde precisavam limpar a sua bunda? Porque boa parte da infância a gente passa sem ter competência nem mesmo para limpar a bunda. Como pode ter saudades de uma época onde tinha que pedir permissão para mexer em boa parte das coisas da casa e nas comidas da cozinha? A única explicação que me vem à mente é que estas pessoas ainda cruzam com estas restrições na vida adulta, por isso não lhes faria diferença voltar à infância, não perderiam nada, já que não tem liberdade, apenas deixariam de ter responsabilidade.

Tem coisa mais medonha do que ter que pedir autorização para outra pessoa quando quer fazer determinada coisa? Quando eu era criança isso me chateava muito, me sentia ofendida em precisar pedir. Puta falta de confiança, estavam pensando o que? Que eu era débil mental e não tinha discernimento do que fazia? Mas, pelo visto, as pessoas não se incomodam tanto com isso, pois repetem o padrão nos relacionamentos. Pedem autorização para um monte de coisas. Porque existe uma diferença entre conversar sobre uma atitude com seu parceiro para verificar se isto o magoa (e ciente dos sentimentos dele, tomar a decisão que achar melhor) e pedir autorização. “Fulano(a) não deixa que eu faça tal coisa”. Essa frase me faz perder o respeito pelo autor. Eu compreendo algo como “Eu não vou fazer tal coisa porque vai magoar o Fulano e eu não quero magoá-lo” mas o “Fulano não deixa” eu acho caso de internação mesmo.

Eu sinceramente acredito que sentir falta da sua infância é um alerta para você rever sua vida hoje. Não é normal achar que era mais feliz quando criança do que agora. Nada, eu disse NADA, justifica abrir mão da sua liberdade, da sua autonomia e da sua individualidade. O dia que você negociar um deles, está assinando um contrato com a infelicidade.

Outro argumento que me tira do sério é gente dizendo que tinha tudo nas mãos quando era criança: a comida chegava prontinha na mesa, a roupa aparecia lavada, etc. É, pode ser. Mas você não escolhia QUAL comida chegava na mesa. Pelo menos EU não escolhia. Vai ver minha criação foi muito rígida para os padrões brasileiros. Se eu pedisse bife com batata frita todos os dias não era atendida. E algumas vezes tinha que comer o que não queria. Vocês tem alimentos traumáticos na memória? Aquele alimento que detestavam mas tinham que comer “porque faz bem” ou “porque tem criança passando fome no mundo” (naonde que isso é argumento?) ou simplesmente “porque eu sou sua mãe e estou mandando” (obra prima da psicologia infantil)? Eu tenho: espinafre. Eu era obrigada a comer espinafre mesmo detestando. E por causa disso eu torcia contra o Popeye, para mim ele era tipo um garoto propaganda daquela merda de espinafre. Prefiro mil vezes ter obrigações e escolher o que como e o que não como!

Acho que no fundo o que eu quero dizer é que ter responsabilidades não é bom apenas porque te dá liberdade. É bom porque te dá a dignidade de saber se virar sozinho, de se bastar. Mas quantos adultos hoje em dia podem dizer que se vira sozinhos e se bastam? Acredito que poucos. A maioria está acovardada acomodada em um relacionamento nem tão satisfatório cagada nas calças de medo de ficar sozinha. A maioria está fazendo da idade adulta sua segunda infância com normas de relacionamento que se assemelham à relação de pais com filhos, tolhendo a única coisa boa de ser adulto: ter autonomia e liberdade. Não façam isso. Não fiquem dando ordens e proibições a seus parceiros. Não é legal, não é saudável.

E gente que diz que criança é feliz porque tudo é lindo quando você é criança? “criança não tem que lidar com a maldade”. Meus amigos, se a maldade tivesse uma cara, ela seria de criança. Porque não tem raça mais má e filha da puta do que criança (pode me xingar, eu realmente não ligo). Não que seja 100% culpa deles, pois eles não tem discernimento para saber o tamanho do estrago que estão fazendo, mas fazem maldades sim. Principalmente com outras crianças.

Mundo de criança não é cor de rosa. Bullying é recente só no nome, porque maldade organizada no colégio existe desde sempre. E acredito que todos nós em algum momento passamos por isso. Pela sensação de rejeição, de humilhação. Todo mundo já foi vítima de bullying, só que tem uns e outros que por algum motivo acham que foram os únicos e justificam suas cagadas na vida por conta disso. Todos nós já passamos por bullying e foi duro, mas no final das contas superamos.

Eu acho que é pior ser vítima de bullying diariamente na escola quanto ser vítima de um chefe abusivo na vida adulta. Porque um chefe abusivo bem ou mal você pode mandar para a puta que pariu quando encontrar outro emprego. Já a escola… a criança não tem autonomia para trocar de escola quando quer. Sem contar que o adulto é mais articulado para falar, elaborar sentimentos e se defender. Grandesmerda ser criança.

Ainda tem os que argumentam que adultos tem uma série de compromissos chatos aos quais são obrigados a comparecer, enquanto que crianças não precisam passar por isso. O QUE? Criança vai onde o adulto vai, seja legal para ela ou não. Criança é forçada a ir. Criança tem que ir à igreja domingo de manhã (te amo Mãe, te amo Pai), tem que ir em restaurante, tem que ir a festa de família (te amo família em outro país), tem que ir a um monte de compromissos chatos, com o agravante de que não pode decidir a hora que chega, não pode decidir a hora que vai embora e não pode decidir faltar e dar uma desculpa qualquer.

Que necessidade é essa de ter alguém cuidando de você? Chega ao ponto de topar abrir mão da liberdade por causa disso? Não me entendam mal, ser cuidado e paparicado é uma delícia, todo mundo gosta. O problema ocorre quando isso se torna uma necessidade, a ponto da pessoa abrir mão de sua maior prerrogativa como adulto: a auto-determinação.

Resta descobrir porque tantas pessoas procuram relacionamentos onde acabam tendo que abrir mão de sua condição de adulto, para atender às ordens do seu cônjuge. Está cheio de casais assim por todos os lado. Gente que o namorado “não deixa” fazer tal coisa. Gente que leva esporro porque gastou o SEU dinheiro como quis. Gente que é cobrada por coisas que não lhes compete. Porque as pessoas insistem em retornar à condição de criança dependente nos relacionamentos? Seria isso um desejo de voltar à infância ou esse saudosismo da infância é que é determina a manutenção de relacionamentos infantilizados?

Não importa. O que importa é que ter menos responsabilidades na vida adulta fica ridículo, pega mal e é frustrante a longo prazo. Deixar escolhas de vida que deveriam ser suas nas mãos de terceiros custa caro, bem caro, no final das contas. Basta com essa ilusão que o melhor período da vida é a infância e que a gente é mais feliz quando não tem muitas responsabilidades. Só tem medo de responsabilidades quem não tem a capacidade de cumpri-las.

Será que eu sou a única que desde pequena não via a hora de crescer para poder decidir certas coisas sozinha? Só eu me irritava em receber ordens e não poder me determinar de acordo com a minha vontade? Precisar de alguém que faça suas coisas por você É UMA MERDA. Mas o povo acha que é bacana, que é bonito, que é “se dar bem”. “Me dei bem, Fulano faz tudo pra mim”. Não, se deu mal. Se deu malzão, porque agora você é escravo(a) do Fulano, quando ele for embora você está fodido e mal pago, porque além da dor do término ainda vai ter que reaprender a fazer suas coisas.

O que é melhor: ter menos responsabilidades e perder o poder de decisão sobre a sua vida ou ter mais responsabilidades mas poder decidir? Na minha opinião, quem fica com a primeira escolha tem sérios problemas.

Para me chamar de azeda e similares, para dizer que o retorno à infância é inevitável já que acabaremos sem dentes cagando em uma fralda ou ainda para dizer que não está nem aí para o que eu estou escrevendo hoje e só passou aqui para ver o Plantão feito pelo Somir: sally@desfavor.com

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Comments (25)

  • Tenho saudades de só umas poucas coisas da infância, mas às vezes eu pensava “nossa, queria crescer logo”. Muitos conhecidos meus estão se borrando de medo de ir pra faculdade e ingressar na vida adulta, estou tranquila. Já tenho minhas coordenadas para o dia em que morar sozinha.
    Hoje em dia as coisas mudaram bastante. As crianças querem bancar as adolescentezinhas enquanto os jovens adultos, formados e com emprego, ficam na barra da saia da mãe e só saem quando se casam, por medo de terem que cuidar de uma casa e de si mesmos sozinhos.

  • Passei minha vida esperando o dia em que poderia comprar minhas roupas, ter meu dinheiro, viajar.

    Nada melhor do que ir aonde quiser, quando quiser, com quem quiser. Lembro que quando era criança ficava vendo as festas, as roupas e não aguentava esperar o dia em que poderia fazer tudo aquilo. Ter autonomia, ser gente, né.

    Ah, o pior é q os grandes traumas da vida são construidos na infancia. Suas inseguranças, medos, tudo. Qual a graça disso????

    Enfim, beijos sally =***

  • saudade alguma da infancia e da adolescencia, trabalhando no japao e aqui. So ano que vem aposento meus velhos e deixarei de sustentar duas casas.

    Suellen

  • "Marciel, se quiser que a gente ofenda, trolle ou humilhe de forma pública ou persiga e pratique bullying agressivo em qualquer rede social contra qualquer dos envolvidos nessas histórias escabrosas é só dar as coordenadas que a gente faz uma visitinha."

    opá, vou querer dar o meu também. Podi? sério? já fui vítima… rs..
    vlw!

    Harison

  • Anônimo com medo de envelhecer, hoje em dia a qualidade de vida para idosos melhorou muito e em pouco tempo vai melhorar mais ainda. Para quase tudo existe tratamento, muito difícil você ser obrigado a uma vida indigna.

    Eu não sou contra eutanásia em caso de vida indigna não. Meu conselho é que você procure alguém muito amigo, de muita confiança e o faça jurar que vai te ajudar a morrer se um dia sua situação ficar indigna e irreversível. Eu já fiz esse pacto com uma pessoa da minha confiança e me senti bem mais tranquila depois disso!

  • Anônimo, eu acho que mesmo quando nossa infância é feliz, é uma merda ser criança. Obedecer é uma merda, depender dos outros é uma merda.

  • Priscila, só de poder escolher as roupas e o corte de cabelo já é um grande passo em direção à dignidade.

    Eu fui criança na década de 80. Quando vejo as minhas fotos fico me perguntando se meus pais me odiavam: corte de cabelo com mullet, bermuda de lycra fluor, gel New Wave com purpurina no cabelo e outras atrocidades…

  • Hugo, o problema é que hoje as crianças não estão aproveitando a infância porque os pais lotam a agenda deles de compromissos ou então insistem em levar criança para os lugares que apenas os pais gostam de frequentar, como shopping churrascaria e etc.

  • Marciel, se quiser que a gente ofenda, trolle ou humilhe de forma pública ou persiga e pratique bullying agressivo em qualquer rede social contra qualquer dos envolvidos nessas histórias escabrosas é só dar as coordenadas que a gente faz uma visitinha.

  • Sal, outra coisa que me apavora é ficar velho. Quais suas táticas pra lidar com a velhice? Sim, porque velho fica dependente igual quando era criança. Ainda bem que sou ateu então posso me matar a hora que eu quiser sem medo e se lerdar com a vida doida que levo, nem vou chegar aos 60.

  • Eu comemorei pra caralho meu niver de 18 anos. Assinei minha Lei Aurea!!! (claro que já trabalhava).
    O mais foda de ser criança é quando os pais são ruins ou tarados. A faxineira contou pra minha mãe, que a patroa dela fazia os filhos comerem forçado e se não aguentassem e vomitassem, fazia comer o vômito.
    Meu pai sempre foi um babaca, mas minha mãe era neurótica e me enfiava a porrada. Eu não gotava de ser criança, corpo pequeno, falta de músculos e de independência.

  • Concordo contigo, Sally. Detestava ser criança, agora tenho 18 anos, mas mesmo assim ainda não tenho toda a autonomia que eu queria, como escolher o que comer. Daí compram o que eu não gosto de comer e eu não como e ficam me dizendo que vou ficar anemica por isso isso e isso. Não tenho trabalho ainda e não adianta dizer o que eu como porque não resolve. Ah, e ainda tenho que pedir permissão pra sair, não tenho a menor confiança dos meus pais. Muito triste.

    Priscila

  • Kelly,

    Pois é… Já passei por poucas e boas na minha vida.

    Não me arrependo de nada porque não tenho do que me arrepender. Só lamento não ter me firmado na vida como gostaria.

    A cabecinha infantil que tinha na minha infância, na minha adolescência e no início da minha vida adulta não é a mesma cabeça que tenho hoje.

    Já me ferrei muito pelos outros, sendo que é justo por conta disso que estou de mãos atadas aqui, suportando a megera hipócrita da minha mãe por mera conveniência.

    E tem gente que diz que não está tão ruim assim… Minha vontade é falar pra essa gente: "Vai tomar no meio do cu".

    Comprei a casa aqui em Ribeirão Preto com o dinheiro da venda de um dos imóveis que eram do meu pai e como ela retribui?

    Juntou-se a mãe dela para tentar tirar vantagem no negócio do imóvel remanescente, fazendo com que eu morresse nas dividas que tinha feito.

    As duas megeras se juntaram contando com o meu pé na cova e queriam se apossar do pouco que consegui segurar.

    Isso sem contar o tanto que a minha mãe me paunocuzou aqui a troco de nada. Ia lavar a louça e espirrava (estava mal de saúde) e a minha mãe aproveitava a deixa para ficar aporrinhando.

    Para fechar com chave de ouro a merda, a vaca foi armando na base da miguelagem para me passar por doido e assim passar a mão no imóvel que eu comprei, provavelmente para poder ostentar com o machinho dela, um bronco mal-educado que vinha duas da madrugada direto para a cama da metida a besta.

    Diga-se de passagem que ela só foi me tratar com um mínimo de consideração depois que o manolo deu um merecido pé na bunda dela.

    Só estou aguentando a insuportável porque temo que ela se ajunte com minha vó para armar um 171 pro meu lado, use de extorsão pro meu lado ou até mesmo me mate.

    É bom lembrar que a sem-vergonha já falou na minha cara que se por acaso ela me matasse, saia pela porta da frente da delegacia porque poderia facilmente enquadrar como "legítima defesa".

  • Eu apanhei dos meus 3 anos de idade até os 14, quando fui morar com meus pais. com 17 sai de casa e com 20 já tinha minha casa própria.

    Não tenho tantas saudades da infancia, mas tambem não ficava querendo ser adulto logo.

    Acho que hoje em dia as crianças não aproveitam a infancia. Querem ser adultos logo. Acho que já que nossa sociedade inventou a infancia e adolescencia (antes não existia isso), eles tem de aproveitar essa fase, mesmo que seja mandado; que encaro como sendo preparado.

  • E quanto a mimação, acho que nem fosse porque gostassem de mim, mas porque não sabiam como lidar comigo.

    Aquela parada de amarrar o sapato (desfaz o nó, não a laçada) dava um TILT na minha cabeça, sendo que ficava tão irritado com não entender a explicação dada pelo meu pai que o jeito era empurrar a situação com a barriga.

    Hoje em dia entendo que aprendo melhor por assimilação e num ambiente que seja suficientemente tranquilo, mas naquela época não tinha ideia isso.

    Tenho uma tendência de me estressar bastante quando as coisas não dão o resultado esperado e o pessoal de casa achando que por conta disso eu era 'doido' e me levavam no neurologista, que acabava por me receitar calmantes… Aff!

    Pior… Tinha que acordar de manhãzinha para ir para a escola e se já era ruim acordar cedo, com os remédios então é que danava tudo, tanto que sempre abandonava o "tratamento" depois de alguns dias.

    E a pau no cu gostava que eu estudasse de manhã e quase sempre me forçava a ir para a escola, mesmo quando estava com a garganta ruim ou com o nariz tapado.

    Falando em nariz tapado, viviam batendo na minha mão por tirar a nhaca do nariz com a mão, mas fazia isso porque senão ia ficando cada vez pior para respirar e eu não conseguia espirrar.

    Além disso, era um saco quando se inventava de limpar a casa. Era chato pra caramba a minha mãe reclamando para não passar de um lado pro outro. Querer ajudar ficava até chato, porque nem tinha muito como (só tinha uma vassoura, um rodo, um balde, uma mangueira e olha lá).

    O jeito era sair quando ela estava com a parada de "arrumar a casa", pois era mais ajuda não atrapalhar.

  • Sally, Sally, Sally… Eu me lembrando a desgraça que era em casa quando eu era criança.

    Tá bom que num primeiro momento fui bem mimado, mas como você disse, não tinha autonomia de nada e pra nada, sendo que vivia com medo de cair e quebrar a cara.

    Quanto a comida, acho que você teve sorte de ter problema só com o espinafre, porque no meu caso o feijão era com um caldo rancento e o arroz era aquela coisa malcozida que dava ânsia de vômito.

    Pior que tinha que comer aquela merda porque senão a valentona da minha mãe vinha me espancar.

    No banheiro era um saco também. Depois de fazer o número 2, tinha aquela merda de "Papel RIB" que consegue ser uma coisa pior que papel jornal.

    O chuveiro era uma merda para esquentar, sendo que só depois de uns 5 minutos com o meu pai mexendo que a merda começava a funcionar direito.

    O pior é que nem demorava muito e vinha a valentona da minha mãe com a desculpa de que ia usar o banheiro, sendo que ela não ia usar nada e só fazia essa parada para aporrinhar.

    Era tão infernal isso que ficava uns 3 ou 4 dias sem tomar o banho quente e só não ficava por mais tempo sem isso porque ficava com o pulmão chiando e por vezes com coceira no corpo.

    E quando a Geralda Maria Pau no Cu da Silva inventava de querer ir puxar o saco da mãe dela era o mó barraco. Meu pai bancando de machão e ela com aquela parada de "você não manda em mim" toda agressiva e jogando na cara que o meu pai não sabia fazer as coisas de casa e blá-blá-blá.

    Acabava indo para a casa da minha vó mesmo não querendo porque tinha medo de acabar levando sopapo a toa se me metesse no meio da refrega.

  • Kelly, saudade de algumas coisas, tudo bem. Mas tem gente que diz que é a melhor época da vida e que queria voltar a ser criança…

  • Onde que eu disse que nunca dá para ser feliz se tiver filhos?

    Eu falei o texto todo da relação homem/mulher e de como é uma merda ser criança e não poder fazer suas escolhas porque tem sempre um adulto decidindo por você.

  • Najla, muito bom para você, a maior parte das pessoas que eu conheço só sai da casa do papai para casar, porque não sabe segurar a onda de ficar sozinha.

  • Sally, eu era igualzinha a voce.

    Não via a hora de trabalhar, paunocuzava meus pais todo o dia, primeiro, pra poder ir pra escola ( fiz todo o periodo escolar 1 ano adiantado) e depois para me deixar trabalhar. Odiava ter que obedecer ordens.

    Mas as vezes bate saudade da infância, das brincadeiras, da inocência,etc. Mas não trocaria a vida que tenho hoje pela infância e nem as responsabilidades, como voce citou.

  • Sally, os primeiros parágrafos deixam um gosto ruim na boca do leitor, dando a impressão de que a pessoa só pode ser livre (e portanto capaz de ser feliz) sendo só.

    Precisa chegar lá na quarta página pra aparecer que dá pra ser feliz junto se o relacionamento for saudável, mas mesmo assim só se for a dois, por que vindo filho caga tudo.

    De boa? Dá mais trabalho ser feliz sendo pai ou mãe, sim. Muuuito mais. Dizer o contrário é mongolice. Mas não é impossível. Dizer o contrário é sintoma de mesquinhez terminal.

    Ser só é mesmo tão bom? Você luta as suas batalhas, vence, e vai comemorar em casa com você mesmo e os móveis? Por que os amigos estão do lado de fora da casa, e quando se recebe gente se passa à condição de anfitrião. Resultado: conforto do lar e comemoração com mais alguém além da mobília viram água e óleo.

    Infância é a merda suprema, isso é incontestável. Mas a tua lista de motivos… Sei lá, mil coisas… Converse consigo mesma, algo não parece estar 100% bem.

  • Eu sempre esperei (e infelizmente espero até hoje, com 19 anos) ser independente financeiramnte para sair da casa dos meus pais. Não porque eu néao amo eles, mas eu quero minha casa, minhas regras, meu jeito de viver. Aiai, eu sonho com esse dia.

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