Dia: 1 de outubro de 2011

herp“Na última segunda-feira (26), em cerimônia realizada no Lincoln Center, em Nova York, o Jornal Nacional recebeu o prêmio International Emmy Awards 2011, na categoria Notícia pela cobertura da invasão do Complexo do Alemão, ocorrida em novembro de 2010.”

Jornal Nacional ganhando prêmio? Pela cobertura da “invasão” do Complexo do Alemão? Que Emmy, que nada… o prêmio merecido é desfavor da semana.

SOMIR

Deve ter sido engraçado quando chamaram Willian “Bonner” numa premiação ocorrida nos Estados Unidos. E considerando o alarde feito pelo editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional após o recebimento, sorte nossa que ele costuma ficar atrás de uma bancada.

Vamos esclarecer uma coisa: O Emmy está para o Oscar assim como o Emmy Internacional está para o Oscar de filme estrangeiro. É basicamente um tapinha nas costas concedido pelos americanos. Política de boa vizinhança… Até porque a Globo vai ter muito poder na transmissão da Copa do Mundo de 2014, e principalmente nas Olimpíadas de 2016. É bom fazer uma média com a vênus platinada, afinal, as credenciais não se entregam sozinhas.

Bacana que a última vez que a Globo venceu o prêmio “Deve ser difícil não ser americano” foi com a novela “Caminho das Índias”. Nada mais natural que seguir a longa tradição de prêmios em ficção e papar mais uma estatueta com a mini-série “Invasão do Alemão”. Se pararmos para pensar, a Globo merece. Mobilizar o governo carioca, a polícia, o exército e inúmeros traficantes para encenar tudo aquilo foi um feito incrível. E aquela cena antológica dos fogueteiros correndo morro acima enquanto os verdadeiros líderes do tráfico estavam rindo em outra favela? Brilhante! Ficção da mais alta qualidade.

Mas nem tudo são flores. Talvez por alguma barreira linguística, os americanos resolveram dar o prêmio da categoria jornalismo. Bom, sem querer ser preconceituoso, mas já sendo… americano tende a achar que a nossa capital é Buenos Aires mesmo. Não dava para esperar muita atenção nesse quesito. Até entendo como ocorreu a confusão, parecia tão real, não? Bom, Bonner e Cia. parecem não ter se importado tanto. Cavalo dado não se olha os dentes, já dizia o ditado.

Nós que moramos aqui sabemos melhor. Jornal Nacional é apenas mais um exemplo da nossa rica tradição de dramaturgia televisiva. Jornalismo é um bicho completamente diferente. Não dá para fazer jornalismo sério guiado por interesses políticos e financeiros (se bem que aqui no Brasil político e financeiro andam de mãos dadas…). Só mesmo o pessoal do Emmy para achar que um jornal que ignora descaradamente notícias danosas à imagem de protegidos da emissora vale como exercer jornalismo.

O brasileiro já se acostumou a sua dose diária do anestésico global. Até poderia mudar de canal, mas seriam apenas outras moscas. O Casal Nacional faz seu papel de poupar o cidadão médio de informações que ele não precisa ficar sabendo para continuar a ser um cidadão médio. É o poder do hábito. Se queria ficar bem informado, que não nascesse pobre e tivesse acesso apenas à TV aberta, não?

E é impressionante como essa novela jornalística influencia a cabeça do povão. Talvez isso tenha sido considerado no Emmy. Foi o Jornal Nacional que tirou o Collor do poder. Claro, ele também o colocou lá, mas dependendo de como você enxerga a situação, isso é duas vezes mais impressionante. A Rede Globo consegue a façanha de ser eterna “situação”, independentemente de quem está no governo. Afinal, a condição necessária para ser “oposição” não interesse nem um pouco aos líderes do nosso quinto poder.

Vejam bem, não estou dizendo que o Jornal Nacional é uma espécie de vilão caricatural que quer destruir nossa nação, seria uma infantilidade. Como todas as figuras que desfrutam de muito poder, sua ideia principal é manter o “status quo”. Uma sensação de normalidade e conformismo média extremamente necessária para assegurar que quem manda continue mandando, mas principalmente para que quem obedece continue obedecendo.

A “reportagem” premiada é um exemplo flagrante disso. A Globo não tem o MENOR interesse em bater de frente com o poder político vigente. Toda a história da invasão do Complexo do Alemão parecia estranha desde o começo, mas mesmo com centenas de cabeças pensantes analisando o assunto, não vimos sequer um questionamento sobre as inconsistências durante a ação. O desfavor, com os plantões de Sally, fez uma cobertura completamente diferente, dando até a impressão de que as imagens da Globo se referiam a outro lugar que não o Rio de Janeiro.

Não estou sendo inocente, sei que qualquer jornalismo é tendencioso, querendo ou não. Mas eu sempre imaginei que a grande qualidade de uma reportagem é o quanto de investigação e elementos surpreendentes estavam inseridos na pauta final. Premiar aquela palhaçada não é problemático só porque a Globo continua tomando apenas o seu partido em qualquer questão, é também uma falta de respeito com quem vai atrás de notícia, ao invés de apenas fazer a transmissão ao vivo de uma patética armação entre Estado e criminosos para fazer o povo acreditar que não está sendo ignorado.

Esse Emmy deve ser mesmo o ápice da qualidade global de jornalismo. Quando Willian Bonner exibe seu troféu orgulhoso, também diz que é assim que a banda toca por aqui. Só acho uma injustiça que os traficantes cariocas não tenham sequer disputado o prêmio de atores coadjuvantes.

Para me chamar de reaça comunista de meia tigela (wat), para reclamar que bater na Globo é tão “década passada”, ou mesmo para dizer que Tropa de Elite 1 e 2 que mereciam prêmio de jornalismo: somir@desfavor.com

SALLY

Faz muito tempo que não vejo o Jornal Nacional do começo ao fim. Me irrita. Não tem nada a ver com questões ideológicas muito menos com política. Desisti de política faz tempo. Das últimas vezes que tive a infelicidade de ver o Jornal Nacional fiquei espantada como notícias de extrema importância envolvendo política internacional, corrupção e outros temas de interesse coletivo eram tratados com superficialidade e logo depois emendavam matérias idiotas como o nascimento de um filhote de panda não sei onde e outras coisas irrelevantes que não são pauta decente para o principal jornal do principal canal de televisão de um país.

Eu sei que ele é tentador, porque é um convite ao relaxamento cerebral: não tem que pensar, não tem que fazer força para compreender. É só sentar e deixar o casal anestesiar sua cabeça com futilidades e uma gota de jornalismo. Mas não é para isso que jornalismo serve. Para esse tipo de sensação boa de cerebro em modo de espera existem programas de humor, seriados e tantos outros recursos. Jornalismo é para instruir e informar. Mas, falemos especificamente do Jornal Nacional.

É um jornal onde o apresentador e redator certa vez verbalizou que é feito pensando em um telespectador com QI similar ao Homer Simpson. Eu não tenho mentalidade do Homer Simpson, você tem? Eu não vejo, não me acrescenta nada, muito pelo contrário. E não é aquele papo hippie de que a Globo vai comer seu cérebro. Não sou disso. É o Jornal Nacional que é uma BOSTA GIGANTE mesmo. É uma bosta para pessoas com cérebro, justamente porque não foi pensado para pessoas com cérebro. Para achar o Jornal Nacional uma bosta não é necessário ter motivação política, viu gente? Ele é uma bosta por si só. E por falar em bosta, Bonner continua insistindo naquele bronzeamento artificial carregado e continua parecendo um cocô de peruca. Além de fútil, idiota e mentiroso, o Jornal Nacional também fere meu senso de estética.

O curioso é que, mesmo que o próprio sujeito que é apresentador e redator diga com todas as letras que é jornalismo pensado para pessoas com o nível intelectual de HOMER FUCKIN’ SIMPSON, a porra do Jornal ganha um prêmio Emmy (importante o suficiente para ser chamado de “o Oscar da televisão”, ou seja, grandesmerda para a gente, mas muita coisa para o resto). Daí Bonner Simpson, todo pimpão, dá entrevista dizendo que faz o melhor jornalismo do mundo. Ele, que recentemente deixou um furo no meio da apresentação do Jornal Nacional (esqueceu que era sua vez de falar) porque estava “tuitando” ao vivo. As coisas estão tão equivocadas que nem dá vontade de começar a falar sobre o assunto. A única coisa que eu repudio mais do que o Jornal Nacional é Bonner Simpson evadindo sua privacidade no Twitter.

Como se não fosse ruim o bastante dar um prêmio internacional para um jornalismo que, quem faz assume ser superficial, fútil e simplista, ainda teve a cereja do sundae. Repararam que sempre tem a cereja do sundae? Quando Deus decide debochar da gente, o faz com requintes de crueldade. O Jornal Nacional ganhou o Emmy com a cobertura da “invasão” do Complexo do Alemão!

Se você não é leitor antigo do blog, procure uma série de postagens que eu fiz chamadas “Plantão Hell de Janeiro” onde a gente cobriu a “invasão” ao Complexo do Alemão, digamos, com outro enfoque. O resumo geral é: um jornalismo de merda, que se assume de merda, ganhou um prêmio famoso cobrindo uma farsa, ajudando a enganar o povo. Farsa sim senhor, meses depois (e até hoje) uma série de denúncias corroboram com a nossa versão dos fatos. Enganar o povo dá prêmio? Dá um Emmy para o Maluf, minha gente!

Olha, tô puta. O Desfavor fez uma cobertura melhor do que a do Jornal Nacional do episódio no Complexo do Alemão. A Globo só tem uma coisa: tecnologia. E ainda por cima a usa para o mal. E nem grandes merda é! Essa tecnologia toda que eles dizem ter é grandes bosta se comparada com a de outros países, fazem transmissão da Globo parecer um grande episódio do Chaves. O mérito da Globo é ter olho em terra de cego.

Daí você pode começar a nos paunocuzar dizendo que todo mundo gosta então é evidente que é bom e eu te lembro que o Tiririca foi eleito com uma quantidade expressiva de votos. Você também pode dizer que se a gente não gosta, basta não assistir e eu te lembro que o emburrecimento que se promove na população respinga diariamente em pessoas como eu e você que temos nível intelectual acima do Homer Simpson. Realiza se isto se desse em outra área. Realiza se um autor escrevesse um livro falasse para a imprensa que o livro foi pensado para pessoas com mentalidade do Homer Simpson. Não causaria estranheza de ganhasse algum prêmio literário? É como se o Somir ganhasse um Nobel da Humildade.

Mas ninguém pareceu se importar. O Jornal Nacional atende às necessidades da maioria dos brasileiros: salpica umas gotinhas de atualidades mastigadas e distorcidas permeadas por notícias bobinhas envolvendo animais, natureza, futilidades, comportamento e beleza, para não cansar o cérebro do telespectador. Isso basta para a maior parte das pessoas. As pessoas fazem apenas o necessário. Ok, a pessoa tem o direito de ser medíocre, o que não pode é premiar a mediocridade com um Emmy.

Além disso, mesmo depois de uma infinidade de calças arriadas como gravações que comprovam o envolvimento direto do chefe da polícia responsável pela operação do Alemão com traficantes, depoimento de moradores e outras constatações empíricas como a bala comendo solta e o tráfico correndo solto por lá, ninguém parece se importar em questionar se aquela palhaçada que aconteceu foi realmente verdadeira. Se o casamento da subcelebridade A com a subcelebridade B é de verdade ou não todo mundo discute, né? Enquanto isso Sergio Alcoolatra Que Mata Blogueiro Cabral deita e rola na fama falsa de pacificador. Tô esperando até agora a invasão da Rocinha, a qual eu disse que ele jamais faria dentro dos seis meses que haviam sido prometidos. De fato não fez. E não vai fazer tão cedo. Tão pensando o que? Custa caro comprar os direitos de simular uma invasão, os bandidos vendem caro o espetáculo.

Uma pena que o jornalismo mais visto do país não aproveite a oportunidade para informar algumas verdades para o povo. Bota aquela merda nas nossas mãos para você ver o que acontece. Levo porrete e tudo, numa vibe meio D’Alborga (grande mestre). Onde o resto do país vai encontrar uma fonte de informação fiel à realidade, já que o povo do Complexo do Alemão não tem voz? E as pessoas do Rio que tem voz estão mais preocupadas com outras coisas, como ficar com um corpo sarado para o versão ou protestar para poder fumar sua maconha em paz. Para quem está no topo da pirâmide está tudo ótimo, e por mais que lamentem quem está por baixo, o medo de que uma mudança mexa com seu status econômico e social impede que saiam da inércia.

Obrigada, Jornal Nacional, por alienar milhões de pessoas todos os dias e incutir mentiras na cabeça das pessoas. Incutir mentira na cabeça do povão é covardia, é como um elefante batendo em uma formiguinha. Espero que um karma muito ruim esteja reservado para todos os que colaboram diariamente para manter o povo nesta condição de ignorância disfarçada de telejornalismo. Espero que algo de bom venha do uso abusivo da internet: tomara que com o tempo as pessoas busquem diversas fontes de informação.

Ah, sim… Agora eu quero um Nobel e Literatura.

Para dizer que eu sou comunista mesmo tendo me chamado de direitista na postagem sobre Che Guevara, para dizer que gostaria de ver Somir e eu na bancada de um jornal narrando e comentando as notícias ou ainda para atribuir tudo que foi dito a posicionamento político e inveja: sally@desfavor.com