Somir Surtado: Relativo.

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Tudo é relativo. Ou não. Independentemente disso, eu tenho uma teoria: Quase todos os mistérios e desavenças dessa vida estão diretamente relacionados à pouca compreensão desse conceito de relativo. Não existem certezas absolutas ou provas irrefutáveis, são todas construções da mente humana e sempre vão ser. Ou não. E sim, o texto vai continuar assim por mais algumas páginas… Boa sorte para quem clicar em continuar lendo.

O primeiro parágrafo foi intencionalmente confuso, para definir o tom “epifânia de maconheiro” que normalmente acompanha ideias desse tipo. Mesmo me esforçando para não soar como um pretensioso filósofo de internet, é meio que inevitável quando se trata de conceitos tão abstratos. Então, permitam-me essa indulgência intelectualóide.

Este texto se presta a falar sobre a seguinte ideia: Não é nem um pouco surpreendente que de tempos em tempos cheguemos a conclusão que é impossível saber se algo é verdadeiro ou correto. Se nos aprofundarmos em qualquer assunto, eventualmente chegaremos numa dúvida sem resposta. Isso vale desde a existência de um ser mágico que nos vigia dos céus até mesmo se você realmente está encostando na cadeira onde está sentado.

Como cada ser humano é basicamente um universo paralelo, com seus próprios sentidos e interpretações deles, estamos todos “presos” em realidades próprias, dependendo de alguns elementos comuns para conseguir alguma forma de comunicação. Ao nosso redor, uma infinidade de acontecimentos e possibilidades aparentemente aleatórios.

O cérebro humano não é equipado para lidar com essa torrente absurda de informação, então ele usa diversos truques para tornar toda essa experiência de existência consciente mais tolerável. Para piorar, uma pessoa ao seu lado tem a sua disposição um ponto de vista diferente disso tudo, e boa parte do que se entende por interação social depende do seu cérebro tentar simular esses outros pontos de vista. É muita coisa.

Gastar algum tempo de sua vida pensando em coisas desse tipo não é o desperdício que tanta gente costuma acreditar, todo o pensamento humano pode ser regredido de volta para dúvidas primordiais do tipo “o que é real?”. Encravada em qualquer linha de argumentação ou estudo do que nossos sentidos e imaginações conseguem conceber, está a incerteza. Papinho brabo, né? Mas tem algo de muito prático aqui:

Não é mesmo para você ter certeza absoluta sobre nada. Chegar num ponto onde respostas não são mais possíveis não é a porta de entrada para um estado de consciência elevado ou mesmo uma indicação de algo sobrenatural: É o esgotamento de suas possibilidades atuais. E cada pessoa pode bater nessa barreira de sua própria forma, de acordo com seu conhecimento. A mente humana tem essa habilidade de tirar respostas do chapéu sem nenhuma obrigação formal de obedecer leis físicas ou mesmo imaginárias.

Entender que a certeza não existe não equivale a não poder ter uma opinião. Diante dessa maluquice de realidade relativa, só nos resta criar alguns parâmetros básicos para não desperdiçarmos o nosso potencial e nossa curiosidade diante de um desafio aparentemente impossível de entender o universo que nos cerca.

Como muita gente não está preparada para lidar com essa relatividade, ou a evita desesperadamente, ou se rende subserviente. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: Sem definir algumas premissas básicas sobre o que é real e o que é correto (não num conceito moralista, mais num 2+2=4, se é que vocês me entendem…), não há a possibilidade de aprimoramento. É aquela merda que eu sempre critico em quem diz que “não se pode saber nada” quando acuado numa discussão. Isso não é a realização da dúvida fundamental, isso é medo de lidar com as próprias escolhas ou insegurança sobre sua visão das coisas.

Assim também como é limitante ignorar essa relatividade e passar a lidar apenas com conceitos absolutos, renegando visões diferentes apenas por não partirem das mesmas premissas. Nessa categoria se encontram religiosos fanáticos e céticos exagerados da mesma forma. Até mesmo boa parte das pessoas teimosas que todos nós acabamos conhecendo em nossas vidas.

Neste exato momento estou lutando contra a ideia de que este texto nada mais é do que perfumar uma merda pra lá de óbvia, que todo mundo já entendeu isso faz tempo e só eu acho que é alguma novidade mencionar. Essa é a minha premissa em relação a pensar sobre esses conceitos mais abstratos: Pouca gente se interessa porque no final das contas é tudo muito banal. E que quando eu falo sobre isso e tratam como algo complexo, na verdade as pessoas estão apenas sendo educadas com alguém falando de algo não muito mais profundo do que como está o clima… Pessoas menos polidas não fazem a menor menção de entreter essa linha de pensamento.

Mas pode ser que essa seja apenas uma visão “umbiguista” de quem acha que esse assunto é realmente banal. Banal no bom sentido, de uma forma relativista. Por isso o risco de colocar o texto no mundo. Vai que eu estou errado… vai que tem mais alguma alma nesse mundo que precisa apenas de um incentivo para “encaixar” essa ideia e se livrar desse conceito enlouquecedor de que porque tudo é relativo nada faz sentido?

Sinto muita falta dessa “segunda voz” nas mentes alheias, não uma que te diga para queimar coisas, mas uma que consiga te lembrar de outros pontos de vista para balancear sua concepção do que é existir em paralelo com tantas outras mentes. Não uma voz de repreensão ou insegurança, uma voz de relatividade. Tem tanta gente nesse mundo confundindo discussão de premissas com discussão de realidade… Realidade é um conceito terrível para lidar, ele só concebe uma resposta possível, e como todas as pessoas tem sua própria visão do que é a realidade, o mundo se torna efetivamente uma conversa de maluco em larga escala.

Suas ideias, opiniões e crenças estão fundamentadas em premissas criadas para te livrar de dúvidas insolúveis, não na realidade. A realidade é relativa. Quando duas pessoas comparam e/ou disputam baseadas nas premissas, é muito mais fácil conseguir um consenso, premissas mais bem fundamentadas ou mais bem adaptadas ao convívio humano tendem a ganhar mais destaque. Quando o mesmo acontece baseado em realidades, costuma sair intolerância, abusos e guerras. Só as premissas podem coexistir, só elas podem construir algo maior.

Tudo o que eu escrevo agora não é realidade. Estou expondo a opinião e a premissa na qual ela se apoia. A minha segunda voz ainda está em dúvida se o que eu percebi como uma exposição relativamente clara foi minimamente eficiente como forma de comunicação. E para complementar o experimento, vou pedir algo para quem aguentou o texto até agora na forma de um comentário respondendo uma pergunta:

Te parece que eu abordei algum assunto em específico hoje?

Se quiser responder em uma palavra ou em vinte parágrafos, à vontade.

Para ser educado e não comentar que o texto foi banal, para dizer que eu só fiquei com preguiça de escrever mais, ou mesmo para dizer que a partir de agora nenhuma opinião minha vale: somir@desfavor.com

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Comments (17)

  • O Universo é complexo, a vida é magnífica. Nada faz sentido, tudo é uma merda. Merda é relativa. Angústia existencial. Fui

  • Há fatos tão luminosos: visíveis, palpápeis, prováveis, que podem não ser relativos. Mas interpretações acerca deles podem ser sim.

  • Sim, me parece que abordou um assunto hoje sim. Só pra responder a pergunta k. Eu já passei muito tempo questionando todas as visões de vida que eu tinha porque sempre que eu tinha certeza de algo, aparecia alguém com um novo argumento que também fazia perfeito sentido. Chegou uma hora que eu não consiguia mais definir qual visão era a certa ou a errada. E isso de relativizar tudo é um inferno que continua eternamente se você continuar pensando. Bom saber que não se é pra ter certeza de nada.

  • “É aquela merda que eu sempre critico em quem diz que “não se pode saber nada” quando acuado numa discussão. Isso não é a realização da dúvida fundamental, isso é medo de lidar com as próprias escolhas ou insegurança sobre sua visão das coisas.”

    Olha… discordo um pouco dessa parte! Não acho que a pessoa que não toma partido de um dos lados esteja com medo de lidar com a situação. Pelo contrário, por vezes até acho que o não escolher um dos lados e deixar em aberto é uma atitude até crítica e irônica. Uma forma de dizer que escolhe, em partes, todos os lados. Enfim, o ponto é: acho que em certo sentido a realidade é muito pesada pra ser tratada sob uma simples dualidade, um simples binômio a ser escolhido “este” ou “aquele”. É a chance de escolhas que nos permite viver!

    • Ge, contanto que isso não atrapalhe o “caminhar” da humanidade, ok. Mas em algumas situações não são apenas discussões teóricas que estão em jogo e, nesses casos, relativizar demais pode atrasar ou inviabilizar uma ação.

      Eu tenho essa tendência (postei ali embaixo como anônimo) mas eu sinto que isso, às vezes, me atrapalha…

      • É, concordo contigo! Ser relativo na teoria tudo bem. Mas na prática, há que se tomar partido de um dos lados! Mesmo que doa…

  • Dizer que “Tudo é relativo” é em si uma contradição, pois trata de um absolutismo.

    Also, deixa um pouquinho do beck pra mim, se possível(ou não).

  • Tenho um colega de trabalho que tem tatuado no braço: “a cada uno su verdad”. Concordo com a frase e entendo seu sentido. Partindo dessa premissa me admira muito que o mundo não esteja ainda mais fudido.

  • Jamorreuenemsabe

    Esses dias estava pensando justamente nisso. Acho que Filosofia demais atrapalha sabe…

    Essa história de que não temos certeza de nada é Filosofia demais e é um truque para ganhar discussões.

    Sério que eu não tenho certeza que respiro uma coisa que chamamos de Ar? Sério que eu não tenho certeza que estamos em um planeta que gira em torno de uma estrela?

    São muitas as certezas. A quem chame de fortes convicções. Nem toda realidade é relativa.

    • “Esses dias estava pensando justamente nisso. Acho que Filosofia demais atrapalha sabe…”
      Já ouvi (mais de uma vez) que “meu problema” é que eu “penso demais”… Me perco em filosofias desse tipo e ainda não sei se é bom ou ruim (é relativo, depende do meu estado de espírito e do objeto de “filosofização”).

      Até essas “realidades” que vc citou são relativas, mas acho que isso não impede argumentos numa discussão, senão não vamos “pra frente” nunca. Remédios funcionam “relativamente” dependendo de uma série de fatores, mas isso não deve impedir ninguém de desenvolvê-los…

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