Desfavor Convidado: Chester Chenson

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Desfavor Convidado é a coluna onde os impopulares ganham voz aqui na República Impopular. Se você quiser também ter seu texto publicado por aqui, basta enviar para desfavor@desfavor.com.
O Somir se reserva ao direito de implicar com os textos e não publicá-los. Sally promete interceder por vocês.

Série Jornalismo Literário: Chester Chenson

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Este é o último texto do livro que será publicado na internet, para saber o restante do conteúdo, só adquirindo o material impresso (marketing é tudo né). Achei necessário fazer uma breve biografia sobre a minha pessoa, assim mostro um pouco a minha história e deixo uma prévia para os próximos textos publicados aqui pelo blog, que serão puramente ficcionais e contarão com a possível ajuda de vocês leitores (ou não).

Eu nasci em uma cidade do interior de São Paulo e toda minha família morava lá, mas como meu pai era funcionário público, a gente teve que se mudar para outras cidades do interior. Esse comportamento nômade me fez conhecer muitas pessoas e tive a oportunidade de crescer brincando na rua com os amigos do bairro. Naquela época a internet estava engatinhando, então a gente tinha que viver na prática para conhecer as coisas do mundo.

Em uma das cidades que morei fui vítima de bullying, bem no estilo desses filmes americanos, com direito a cuecão, banhos de privada e porradas no final da aula. O meu maior inimigo era um cara que tinha vindo expulso de outra escola e no início ele até simpatizava comigo e me protegia doa valentões. Porém, ele tinha um apelido do qual odiava e um dia caí na besteira de chamá-lo por esse apelido sem querer. Desse dia em diante, ele se tornou o maior incentivador das agressões contra a minha pessoa.

Naquela época o bullying não era como hoje, onde todo mundo processa por qualquer coisa e a gente tinha que aguentar as porradas, ir embora pra casa e rezar para que no dia seguinte os valentões encontrassem outro alvo. Porém , eu era tão perdedor que até os alunos da sala especial me zoavam (e olha que eles estavam bem abaixo na hierarquia da pancadaria escolar). Me lembro até hoje quando um rapaz com síndrome de down, que morava perto da minha casa e eu como bom samaritano o acompanhava para ir embora, pegou minha cabeça e fingiu que eu estava fazendo sexo oral nele na frente de toda a escola. Mais perdedor que isso, impossível.

Nessa mesma cidade meu pai sofreu um processo administrativo interno no órgão público onde trabalhava e precisamos nos mudar novamente. Fomos para outra cidade interiorana onda já havíamos morado, então acabei reencontrando muitos amigos e não precisei servir como saco de pancadas para conquistar meu lugar ao sol.

Passei minha adolescência nessa cidade e descobri os prazer das bebidas alcoólicas. Comecei a beber com certa frequência, principalmente aos finais de semana. Sem ninguém me informar, percebi que estava virando um alcoólatra com 14 anos e cheguei ao ápice de virar uma garrafa inteira de Amarula antes de uma partida de futebol marcada para as duas da tarde. Como na minha família havia casos de problemas com bebidas, percebi que eu estava indo num caminho sem volta e dei uma maneirada.

Meu primeiro contato com computador foi mais ou menos nessa época, foi quando comprei também meu primeiro CD de Rock. Antes disso eu só ouvia o que meus pais gostavam ou o que tocava nas festas que a gente ia, ou seja, pagode, axé e outras merdas. O Rock pra mim foi uma libertação crítica, o grito de um jovem que havia sido abusado e que tinha reprimido muitas emoções por causa da violência escolar. Observação: Como não tinha muita opção de escolha, claro que o primeiro CD que comprei foi do Iron Maiden.

Eu também gostava muito de ler histórias em quadrinhos e vivia fazendo desenhos e roteiros para os X-Men, que eram meus heróis favoritos. Eu colecionava tantas revistas que nem sempre tinha dinheiro para comprá-las, então cometia pequenos delitos furtando-as (algo que havia aprendido com o meu maior inimigo da cidade anterior). Continuei furtando revistas até o dia em que fui pego e passei por uma grande vergonha. Prometi a mim mesmo que nunca mais faria aquilo, promessa que acabei descumprindo algumas vezes.

Em determinado momento minha irmã precisou mudar para Campinas e pouco tempo depois o resto da família também se mudou. Essa mudança foi uma reviravolta na minha vida, pois estava acostumado com a tranquilidade das cidades pequenas e de repente me vi no meio da confusão que é a cidade grande. Meu primeiro contato com a internet, com as drogas, com sexo, com homossexuais e com todo tipo de maluco foi aqui, então tive que me adaptar em muitas coisas e rever alguns conceitos.

Foi quando percebi que o bullying do passado serviria pra alguma coisa, pois me possibilitou ter uma visão distanciada e fria das coisas novas que eu ia aprendendo. Graças a isso não tive preconceitos e sempre consegui me encaixar aonde quer que fosse, mesmo que internamente eu me sentisse um peixe fora d’água. Nesse processo experimentei algumas drogas e até tive uma experiência homossexual. Não gostei nem das drogas nem da experiência, mas isso fez parte do meu aprendizado pessoal, então não me arrependo de nenhuma das decisões que tomei.

No final da adolescência conheci minha primeira namorada, uma menina mais jovem que estudava com meu irmão. Nós éramos feito unha e carne e fazíamos tudo juntos, tínhamos os mesmos amigos e meu relacionamento com ela era muito forte, pois perdi minha virgindade com ela. Ela era uma grande amiga e conselheira e me viu passar por diversas roubadas, como quando tive que servir o Exército. Porém, é difícil uma paixão assim durar muito e acabamos nos separando pouco depois de eu entrar na faculdade de jornalismo.

A faculdade é uma espécie de fronteira final na vida de zuera para a maior parte das pessoas e comigo não foi diferente. Aproveitei muito, conheci pessoas e trabalhei em lugares onde nunca imaginaria. Entre esses lugares estão a Unicamp e o Hospital Municipal Mário Gatti. Na Unicamp trabalhei na edição de um programa jornalístico semanal e no hospital servi como estagiário na assessoria de imprensa.

Trabalhar nesses lugares, principalmente no hospital, foi de um aprendizado imenso. Se você quer ver como é o sofrimento de perto, passe um dia inteiro em um hospital público. Por um lado você vê pacientes sofrendo, por outro médicos tendo que se drogar para dar conta de trabalhar mais de 30 horas seguidas, é algo impressionante. Lá eu vi três pessoas morrerem na minha frente e lá eu senti que havia alguma energia que deixava nossos corpos quando passávamos para “o lado de lá”.

É importante frisar que minha família é católica e que fui encaminhado para ser católico. Porém, foi só terminar a primeira comunhão que naturalmente me tornei cético e um quase ateu. Só que o que presenciei naquele hospital me deixou com a pulga atrás da orelha e aos poucos fui procurando respostas para minhas dúvidas espirituais.

Essa minha busca me levou a diferentes religiões, diferentes pontos de vista sobre Deus, Diabo, Céu e Inferno, mas nenhuma delas me fazia acreditar plenamente. No fim das contas acabei entrando na Rosa Cruz, me envolvi com a Maçonaria e foi mais ou menos nessa época que conheci a Kitsune. Minha história com ela já contei anteriormente, mas vale sempre relembrar que minhas decisões me levaram a caminhos inesperados, pois nunca pensei que um dia iria me casar com uma pessoa cadeirante.

Meu primeiro emprego efetivo na área de jornalismo também foi uma série de ocorrências inesperadas, pois tudo começou com um restaurante. Eu estava desempregado e no desespero resolvi levar meu currículo em um restaurante. Só que esse restaurante era parceiro de um apresentador que na época era muito famoso aqui em Campinas, deu que ele acabou me chamando para trabalhar. Como na época eu era novato, ele me levou para uma produtora de TV e lá eu iria aprender todos os fundamentos da função de editor.

Aprendi e fiz tudo o que havíamos combinado, só que ele não me pagou um puto por isso. Então me mantive na produtora até que fui chamado para trabalhar na Unicamp, de lá fui pro hospital e do hospital pro Mato Grosso. Trabalhar no Mato Grosso foi um caso interessante, pois desde o dia em que entrei na faculdade eu tinha a convicção de que quando me formasse iria trabalhar em um lugar ermo do país. No livro haverá um capítulo exclusivo sobre esta experiência, então aguardem.

Durante o período em que trabalhei lá fiquei separado da Kitsune, não só fisicamente como no relacionamento. Depois que voltei para Campinas reatamos e estamos juntos até hoje. Após essa volta, consegui trabalho em uma conhecida produtora de cinema daqui, mas eles não pagavam bem. Fiquei lá até que um dos outros editores me indicou para trabalhar no Canal Rural, onde estou até hoje ajudando na edição de dois programas semanais.

Bem, chegamos ao fim do texto e faltou explicar uma coisa, a origem do nome Chester Chenson. Esse não é meu nome real e para não comprometer os autores do blog, manterei minha verdadeira identidade em segredo. O apelido Chester foi criado pelo Somir, pois na época havia um comercial muito famoso que perguntava se alguém já havia visto um Chester vivo antes. Como eu sou barrigudo e ando de forma desengonçada, não demorou muito pra ele me associar como o Chester vivo que o comercial tanto procurava.

Já o Chenson foi uma adição minha que tirei de uma mochila que eu tinha dessa marca, fiz isso por que na época fazíamos um pasquim na faculdade e considerei que Chester poderia se tornar um bom personagem humorístico, mas que precisava de um sobrenome. Achei que Chester Chenson era um nome bem sonoro e combinava com esse personagem que eu estava criando. Bom, é isso, essa é a minha história resumida, se alguém aí tiver real interesse em colaborar com o livro ou com algum projeto futuro, deixe seu e-mail nas mensagens que entro em contato.

Chester Chenson

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Comments (4)

  • Quando eu digo que bullying é formador de caráter …
    Ah, e legal também o fato do primeiro cd de rock que você comprou foi o Iron Maiden, porque o que eu conheço de gente que comprou o cd de Legião Urbana e se gaba por isso, meu amigo, não tá no gibi.

  • Também estou curiosa pra saber o que viu em hospital, além de médico com carga horária maior do que operário Chinês

  • Uma história bem interessante a sua Chester, embora cheia de altos e baixos, mas a vida é assim mesmo, cheia de altos e baixos, e com certeza muita coisa que você viveu outras pessoas já viveram também, eu pelo menos já vivi situações muito parecidas.

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