Desfavor Convidado: Sr. Sete

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Série Jornalismo Literário: Sr. Sete

IX

Olá pessoal, depois de um tempo ausente aqui do blog estou de volta. A história do livro continua e espero que em breve já tenha um protótipo formatado para a impressão. Hoje contarei sobre o homem que inspirou esse trabalho, um homem que em tese não está mais vivo, mas que se incorpora através do pai da casa de Umbanda onde frequento. Ele é um Exú e seu nome é Sr. Sete.

Quando o conheci eu estava confuso com a situação de saúde da minha amiga, como já contei para vocês em um texto passado. Eu duvidava de Deus, da fé e estava começando a duvidar de mim mesmo, se eu era um bom pai, um bom marido e se era merecedor da vida relativamente tranquila que eu levava.

Ele, tal qual um psicólogo ouviu minha angustias e me guiou para um caminho mais sereno, porém com uma série de desafios. Desde que entrei na Umbanda, minha esposa sentiu uma série de mudanças no meu comportamento, ela diz que estou mais maduro e compreensivo com relação aos desafios da vida. Porém, eu sinto que continuo a mesma pessoa, com os mesmos problemas e com o mesmo temperamento orgulhoso e confuso da juventude.

No entanto, não posso negar que tento ouvir meus guias sempre que posso, sendo que o Exú foi o que sempre tive mais afinidade. Não é a toa que considero o Sr. Sete como um grande amigo meu e guia para todas as horas. Foi ele quem me convenceu de que a fé pode vencer barreiras e foi ele quem me convenceu a ajudar cada vez mais no crescimento da Umbanda, mesmo eu sendo um cético de marca maior.

Mesmo mudando minha perspectiva com relação à fé, ainda acho que religião pode ser um grande atraso na vida das pessoas, mas cabe a cada uma delas ter o bom senso de ter um relação pacífica com pessoas de outras religiões. Porém, bom senso é o que menos se encontra por aí e a fé se torna um instrumento do ego e da vaidade, sendo que deveria ser um instrumento de crescimento interior.

Minha relação com Sr. Sete é tão forte que certo dia cheguei a sonhar com ele, onde conversamos sobre um assunto muito sério. O sonho foi tão intenso que minha esposa disse que acordou assustada, pois eu falava enquanto dormia. O relato a seguir é uma adaptação do que conversamos, já que não me lembro das palavras exatas que foram ditas, apenas a mensagem em si:

“Estávamos em uma chácara no meio do mato e lá havia uma festa. No meio da festa, o pai que recebe Sr. Sete se aproximou de mim e perguntou se eu queria incorporá-lo para sentir como era ser um cavalo. Responde que sim e ele tocou no meu peito. Senti que uma energia muito forte era transferida para mim e comecei a ouvir a voz do Sr. Sete na minha consciência.

Ele pediu que fôssemos a um campo de mato aberto perto da chácara, apontou para as estrelas e disse: As estrelas são infinitas e o Universo é infinito, mas mesmo assim um dia a fé irá preencher todo o espaço criado por Deus. As religiões e a Umbanda vivem de ciclos, sendo que o ciclo atual é o ciclo da saúde e é por isso que tantas pessoas nos procuram para que curemos suas enfermidades. Porém, o próximo ciclo será o de ressuscitar os mortos.

Digo isso pelo fato de que muitas pessoas vivas no mundo se comportam como se estivessem mortas, pois apenas perambulam pelo mundo sem sentir a verdadeira vida. Essas pessoas se entregam aos vícios, às maldades e ao materialismo, se afastando assim da fé e de Deus, que são o alimento da verdadeira vida.

No novo ciclo das religiões, será preciso extrapolar os limites dos templos e ir aonde for preciso para ressuscitar esses mortos. Esse novo ciclo ainda irá demorar um tempo para se iniciar, mas peço que você divulgue essa mensagem, pois os primeiros passos já podem ser dados para que a profecia se cumpra: O homem veio das estrelas, se refugiou na Terra e um dia voltará para as estrelas. O mesmo ocorrerá com a Umbanda, que veio da energia dos espíritos da natureza, se refugiou nos terreiros e um dia voltará para a natureza. Quando isso acontecer, saberemos que nossa missão estará cumprida”.

Fiquei um bom tempo pensando nessa mensagem e já a transmiti ao pai da casa, que também ficou muito impressionado com o que foi dito pelo Sr. Sete. Porém, algumas semanas depois recebi uma luz no que aquela entidade queria me passar. Essa luz veio no formato de um vídeo no Youtube chamado Zombie – A origem.

No vídeo eles tratam usuários de crack como zumbis, ou seja, mortos-vivos. Interpretei isso como algo relacionado ao sonho que tive com o Sr. Sete e quase saí pelas ruas tentando convencer usuários a largarem o vício das drogas. Sorte que o bom senso falou mais alto e me fez procurar pessoas com mais experiência no assunto.

Foi quando encontrei Nelson Hossri, Coordenador de Prevenção às Drogas de Campinas. Aparentemente cheguei no momento certo, pois a coordenadoria estava precisando de pessoas com conhecimento em produção de TV para um comercial que será veiculado na Bandeirantes.

Enfim, não sei se era exatamente esse o objetivo da mensagem do Sr. Sete, mas tenho quase certeza que sim. O problema com as drogas atinge não apenas os dependentes, mas toda sua família, seus amigos e às vezes até pessoas que ele não conhece. Quantas vezes vemos nos noticiários pessoas que tomaram bala perdida em um tiroteio de traficantes ou de pessoas que foram assassinadas em assaltos provocados por dependentes. Não adianta fechar os olhos para esse problema, pois ele continuará existindo mesmo que você não queira.

O último texto mostrou um pouco a realidade dos viciados e espero que cada vez mais as pessoas tomem consciência de que as drogas (incluindo tabaco e álcool) são o maior problema de saúde familiar da atualidade. Também não quero que nenhum de vocês levantem essa bandeira apenas porque eu estou escrevendo sobre o assunto.

Apenas tenham a consciência de que tudo na vida possui uma causa e um efeito. Quanto mais permitirmos que as pessoas alimentem o tráfico de drogas, mais riscos correremos de virarmos números de mortos na mão de bandidos e dependentes descontrolados pelo vício.

É chegado o momento de termos mais controle sobre nossas vidas e para isso é preciso pensar na sociedade, é preciso dar início a um novo ciclo de pensamento e é preciso começar a ressuscitar os mortos. Quem se negar a isso perceberá, mesmo que tardiamente, que é impossível conseguir a felicidade quando o mundo ao seu redor é um lugar violento, triste e deprimente.

Salve Sr. Sete, o homem que abriu meus olhos e espero que ele abra o de vocês também. Saravá!

Chester Chenson

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Comments (6)

  • Poo, legal essa história viu?

    Diria eu que tenho uma interpretação outra pra essa mensagem do seu sete: acho que ele se refere ao estado de ânimo das pessoas que sempre estão ~ mortas ~ não? Não vamos muito longe não, se tu pergunta pra alguém por aí “como está?” o que você ouve? Raramente tenho ouvido um “tudo bem graças a Deus”! E sim um “aii to mortaaa de cansaço” ou algo parecido. Ando reparando de uns tempos pra cá que as pessoas dizem isso com mais frequência, e realmente não parecem ter lá ânimo, energia para as coisas!

  • Excelente texto! Bom ver alguém que possui uma crença religiosa tendo bom senso, e assim provando que fé e racionalidade podem conviver bem em uma mesma mente.

  • Zaq (o cachorro!)

    Chester! Legal o seu texto! E coincidentemente neste fim de semana tive um papo com um exu, digo, um tio, que veio nos visitar. Ele falou um negócio muito interessante que me fez refletir no que é possível fazer e que sempre a situação pode piorar se não houver consciência e mobilização.

    Ele lembrou-se saudosamente da época em que seus filhos e os filhos dos seus vizinhos brincavam livres no meio da rua, que se deixava bicicletas jogadas na calçada e que ninguém mexia, as casas não tinham muros e a única coisa que o perturbava era um cavalo que as vezes aparecia pastando no seu jardim. Falou das sibipirunas que alinhadas em ambas as calçadas seguiam quadra a fora encontrando suas copas pelo alto tornando a rua um grande túnel verde distribuindo uma grande e generosa sombra.

    Aí aos poucos as coisas foram mudando, primeiro com a colocação de grades na frente das casas e nas janelas, depois as mesmas foram sendo substituídas por muros, instalaram-se alarmes em todas as casas, as árvores foram sendo, uma a uma, arrancadas para permitir maior claridade a noite, depois vieram os cacos de vidro sobre os muros e finalmente as cercas elétricas. Hoje a mesma rua é um grande corredorzão de concreto, estreita, dura, opressora. Aquela vizinhança não está mais ali, todos se espalharam e atualmente estão encavernados nos condomínios fechados.

    Ele fez uma conta simples, que sem rodeios transmito, se tudo o que aquela vizinhança gastou para levantar muros, instalar alarmes, cortar árvores, instalar cercas, contratar guardas noturnos e etc, fosse direcionado naquela época e nos anos seguintes diretamente desses particulares para a construção de escolas, creches ou mesmo casas para quem precisasse, talvez aquela rua continuasse bonita, vistosa e ocupada pelas mesmas famílias e o mesmo ladrão que os apavora hoje teria um outro destino. Egoístas e alienados da possibilidade da chegada de um futuro sombrio nada disso foi sequer imaginado por aquela geração. Assim, na época ele não atentou para essa situação e hoje ele tem a consciência que teria sido, inclusive, mais barato.

    Acho que ele tem muita razão.

    Será que mesmo atrasados não podemos iniciar um processo parecido?

    Evoluímos ao longo da história ao aplicarmos solidariedade nas nossas relações. E talvez hoje precisamos ser mais solidários do que em nenhum outro momento da nossa história.

    E como nada podemos esperar do não-estado proponho a criação de um estado paralelo, bloqueando qualquer participação do não-estado(políticos), que por meio da solidariedade permita a articulação necessária para redirecionar o nosso caminho.

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