Ele disse, ela disse: Custo orgânico.

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Desta vez o assunto faz parte de cada um de nós. O comércio de órgãos humanos é proibido em virtualmente qualquer lugar deste mundo onde existam leis, mas mesmo assim Sally e Somir organizam uma discussão. Os impopulares trazem suas opiniões de dentro.

Tema de hoje: Deveria ser permitido que uma pessoa venda um órgão seu se quiser?

SOMIR

Sim. Evidente que a posição não soa nem um pouco agradável para quem ao menos se julga humanista, mas eu garanto que misantropia não é uma das minhas motivações aqui. Defendo o que defendo hoje por coerência com princípios básicos de liberdade pessoal e uso consciente das ferramentas de controle do Estado.

Achou complicado? Azar o seu. Não tenho pretensão de fazer um argumento palatável. Seria um contrassenso com a ideia principal que quero passar aqui: Compreensão é muito mais importante do que concordância. Se o ser humano não tem liberdade e as responsabilidades decorrentes dela, jamais vai aprender o que fazer com essa liberdade. Mas vamos construir essa ideia melhor…
Coerência. Eu não posso ser favorável à eutanásia e ao aborto ao mesmo tempo que refuto o direito de um cidadão de ter liberdade sobre o próprio corpo, ou mesmo partes dele. Se o órgão te pertence, você tem TODO o direito de fazer o que bem entender com ele. Inclusive comercializá-lo. Oras, a não ser que vivamos sob uma ditadura comunista e ninguém me avisou, o mercado ainda é livre.

Da mesma forma como você pode se dispor do estado de conservação de seus órgãos em forma de trabalho excessivo e estressante, você poderia também cortar o intermediário e se livrar dele por uma compensação financeira. A nossa sociedade até entende que alguns trabalhos são tão nocivos para a saúde que já vem com benefícios extras como aposentadoria antecipada.

Se é para enriquecer ainda mais as pessoas que detém o poder e os recursos, você pode foder completamente com seus órgãos; mas AI de quem não quiser pagar o pedágio, não? É bom entender que esse tipo de proibição não existe para proteger o povo, e sim para contê-lo. “Taí mais uma liberdade que você não vai ter… vamos fingir que te achamos burros o suficiente para não poder se cuidar, mas na verdade queremos que vocês não enxerguem valor algum na sua existência sem fazer parte do sistema. Sistema criado para te manter feito gado até sua morte.”

Mas ei, pode até colocar essa na conta da paranoia! Talvez essa aqui não seja a plateia interessada nessa brilhante e torpe estratégia de controle. Vamos ser mais práticos: Permitir a venda de orgãos seria regulamentar o que JÁ se faz de forma clandestina. Era previsível o nascimento de um mercado paralelo assim que o transplante de órgãos se tornou uma realidade. Já tem muita gente pagando um rim por aí.

Novamente, coerência: Se argumento sobre aborto e eutanásia sob a ótica que regulamentação e legalidade diminuiriam os problemas de falta de padrões mínimos de qualidade para os necessitados, não posso fugir dessa ideia sobre a venda de órgãos. Se cidadão VAI vender, que venda num ambiente seguro e que tenha a cobertura do sistema legal caso algo de errado aconteça.

Isso sim é usar o Estado ao seu favor: Ao invés de limitar liberdades pessoais do cidadão, regula e fiscaliza o MERCADO. Tudo bem que o Brasil é uma bagunça desonesta em geral, mas algum controle é muito melhor do que controle algum. Um mercado 100% clandestino só obedece ao lucro, seja lá as ferramentas necessárias para tal.

Muita inocência achar que abusos como coação de doadores ou “criação de orgãos” começariam a existir depois que a prática fosse legalizada. Gente fazendo coisas desse tipo claramente não levam a legislação vigente em consideração. Quando você joga luz nessas áreas previamente escondidas da visão do povo, a tendência é que quem quer que estivesse se escondendo lá acabe fugindo ou adaptando-se às novas condições.

Ilegalidade atrai mais ilegalidade. O que é um acordo com o crime organizado para quem já vende órgãos humanos? Quando não há para onde correr além das margens do sistema, evidente que o crime deixa de ser fator limitante. Um negócio de venda de órgãos de acordo com a lei teria muito mais poder de convencimento para clientes potenciais do que um onde as operações são feitas com facas de cozinha!

E preste atenção na parte final pergunta de hoje: “venda um órgão seu se quiser?”. Isso significa que vender órgãos de outros sem consentimento expresso ainda seria crime. E por tabela, nenhum deles oriundos de menores de idade poderia ser comercializado. Eles não podem consentir! A parte realmente podre da coisa continuaria na mesma situação que é hoje. Espero que Sally esteja acima dessa tática sensacionalista, mas ela é competitiva… então vamos reforçar: Não seria legalizada a venda de órgãos de quem não quer vender seus órgãos ou não pode fazer essa decisão (o que inclui todo mundo com menos de 18 anos). Não estou criando condições extras, estou só respeitando o enunciado do tema.

E caso achem que só os ricos se beneficiariam disso, pensem de novo. Evidente que os preços seriam proibitivos para os mais pobre no começo, mas a lei da oferta e da procura vale ouro aqui: Todo mundo tem os órgãos que podem ser doados em vida, MUITO menos gente tem a necessidade deles. Em pouco tempo os preços se tornariam bem mais amenos.

Ah sim: Morto pode vender alguma coisa? Não pode, né? Todos os que provém de mortes cerebrais continuariam a ser doados. Então pode esquecer a possibilidade de comprar coração. E se você acha que as pessoas venderiam os órgãos em vida “em caso de”, eu tenho uma torre linda de ferro fundido para te vender lá em Paris. Seria o negócio mais burro do mundo. E se você acha que as pessoas se matariam para vender os órgãos e deixar o dinheiro para a família, não entender como funciona o corpo humano. Morte cerebral passa longe de ser uma certeza mesmo controlando as condições da morte (e nenhum hospital poderia fazer isso de propósito). Quer mais? Vamos considerar que seja possível gerar morte cerebral fácil assim… esses órgãos não iriam para doação de qualquer jeito, a morte foi “arranjada”.

Ah! E o caso de doação em vida? As pessoas não prefiririam vender? CLARO QUE NÃO! Doações são feitas para pessoas que importam para o doador. Ou alguém entra casualmente num hospital para doar um rim para qualquer um que estiver precisando? Entre doar o órgão para seu filho doente ou vendê-lo para um estranho… sério que há alguma dúvida para quem iria?

Liberar a venda de órgãos aumentaria a disponibilidade deles sem comprometer o sistema que já existe. Colocaria regulamentação num mercado paralelo sem criar brechas legais para abuso de outros seres humanos. E, porra, os seus órgãos são de quem?

Para dizer que vai discordar só pelo costume, para reclamar que seria maldade com quem não cuidou dos próprios, ou mesmo para dizer que se interessou naquela torre lá em Paris: somir@desfavor.com

SALLY

Algumas restrições que a lei faz tem como objetivo manter a ordem, a paz social e sacrificam pessoas civilizadas em detrimento de alguns animais que habitam nosso país. Porém outras são para o próprio bem do cidadão. A restrição que impede a comercialização de órgãos humanos se encaixa nesse segundo caso. A única razão pela qual a lei brasileira proíbe a comercialização de órgão é porque se ela fosse permitida, todo pobre teria apenas um rim. É para proteção.

Eu sei que soa estranho uma proibição como uma medida protetiva. Estamos acostumados a associar proibições a coisas ruins, a cerceamento de direitos, a restrições prejudiciais. Mas neste caso, e neste país, essa proibição tem sim caráter protetivo. Um país com uma desigualdade social galopante e um povo sem acesso a educação e oportunidades dignas de trabalho se tornaria facilmente um exportador de órgãos para países desenvolvidos caso sua venda fosse permitida. O brasileiro médio não sabe o que faz, certas coisas tem sim que ser proibidas. Não duvido nada que vendessem os órgãos dos filhos quando os deles acabassem.

Claro que pensando em você como referencial, existe espaço para argumentar de forma favorável à venda de órgãos. Mas sabemos muito bem que o brasileiro médio não é você. Estamos falando de uma lei que regeria todo o país. O brasileiro médio não sabe nem beber sem se matar ou matar terceiros, imaginem o que pode acontecer se for permitido que vendam partes do seu corpo. É muito triste dizer isso, mas o brasileiro médio não tem discernimento suficiente para que lhe seja permitida uma decisão tão grave e irreversível. Se com pequenas decisões irreversíveis, tipo uma tatuagem com nome do namorado, as pessoas já fazem muita merda, imagina se puderem dispor de seus órgãos.

O mercado negro existe? Sim, infelizmente existe. O fato da lei proibir não impede que pessoas vendam seus órgãos, mas dificulta bastante. E dificultar uma coisa dessas já é algo. Não é porque a lei é burlada que ela é totalmente ineficiente e podemos abrir mão dela. Mesmo que não 100%, ela coíbe, ainda quem parte, o comércio de órgãos. Para ser bem sincera, não consigo pensar em uma única lei brasileira que seja totalmente cumprida. Triste verdade: a lei brasileira não é feita para ser cumprida, é feita para ser comprida.

Levemos em conta o aspecto social. Se fosse possível vender um órgão, quantos brasileiros vocês acham que doariam seus órgãos? Quantas pessoas vocês conhecem que, podendo vender algo, optam por dar de graça? Provavelmente poucas. Se a doação de órgãos hoje já é um problema, já tem gente morrendo na fila de espera porque muita gente se recusa a doar (na hora de receber todo mundo quer), imagina o quanto essa situação pioraria se houvesse a possibilidade de venda. Só receberia um órgão quem pudesse pagar (caro) por ele.

O desdobramento social disso seria que apenas ricos conseguiriam fazer transplantes quando precisassem, pois órgãos gratuitos virariam uma raridade. E provavelmente pobres precisariam de mais transplantes do que ricos, já que teriam vendido seus órgãos duplos. Isso soa um bom panorama para vocês? Se esse povo faz filho só para ganhar uma merreca de bolsa-esmola, imagina a pobralhada fazendo filho para ter rim e fígado a mais para vender!

Façam as contas, por alto, de quantos órgãos temos no nosso corpo. Agora coloquem um preço alto em cada um deles e imaginem quanto uma família não lucraria com a morte de alguém. Um morto renderia uma pequena fortuna para seus herdeiros, sendo os órgãos seu patrimônio. Permitir a venda de órgãos seria estimular que pessoas, no mínimo, desejem a morte de parentes que os cercam para poder embolsar uma boa quantia em dinheiro. Eu sei que você provavelmente não desejaria isso, mas, repito, estamos falando do brasileiro médio. Não demoraria a acontecer de negligenciarem a saúde daquele parente idoso para poder comprar uma TV de um zilhão de polegadas ou um iphone.

Infelizmente, permitir a venda de órgãos afetaria não apenas a pessoa que voluntariamente se dispõe a abrir mão de parte do seu corpo. Deixaria expostos milhões de vulneráveis que acabariam sendo vítimas da cobiça. Isso sem contar uma nova modalidade criminosa, o roubo de órgãos. Não sou inocente de pensar que ele não existe hoje, existe sim, mas em pequena escala por ser ilegal. O que se tem a perder é muito: se o médico for flagrado fazendo, pode perder a licença para exercer a profissão. O risco é enorme. Porém, se não fosse crime vender órgãos, levar um órgão para casa seria tão comum quanto levar uma atadura do hospital.

A partir do momento que um ser humano tiver um valor tabelado expresso em dinheiro e este valor for suficiente para despertar a cobiça em outros seres humanos, teríamos sérios problemas sociais, já que o Estado não fiscaliza porra nenhuma. Todos nós seriamos sequestráveis, pois todos nós teríamos o potencial de render um bom dinheiro a alguém, até mesmo pela dificuldade em controlar de onde veio esse órgão. Se o seu carro é roubado existem formas de provar que aquele carro era seu. Órgãos não tem documentação. Seria extremamente fácil justificar seu desaparecimento ou atribui-los a outra pessoa.

Olha, se como está, com a proibição, já está ruim e já temos atrocidades sendo cometidas, não é difícil de imaginar que a coisa só pioraria se a venda fosse permitida em um país que não fiscaliza nada. Venda de órgãos, além de ser ilegal, é imoral. Não concordo que um Estado encoraje uma mutilação que reduz a qualidade de vida da pessoa, principalmente quando é notório que esse Estado não vai conseguir fiscalizar se isso vai ser tratado com a devida seriedade. O Poder Público não consegue nem fiscalizar quem dirige bêbado, vai fiscalizar comércio de órgãos de uma forma rígida e organizada?

Hoje, salvo engano, só se permite a venda de órgãos no Irã, e as estatísticas são deprimentes: 80% dos “doadores” (são chamados doadores, mas são remunerados) se arrependeram. Gente não é mercadoria. Parte de gente também não é mercadoria. E, honestamente, acho que nem precisava ter argumentado nestas duas páginas, a simples noção de vender partes do corpo é repulsiva para quem tem um perfil mais sensível e humano.

Para dizer que ter dois rins é um desperdício, para dizer que acredita no poder de fiscalização do Governo brasileiro e em Papai Noel ou ainda para se espantar com o quanto o Somir é frio e mercenário: sally@desfavor.com

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Comments (41)

  • É… Somir apresentando o argumento da liberdade e Sally apresentando o argumento do controle social… acho que o argumento da Sally neste caso tem mais peso viu?

  • Eu tenho meus receios com relação a venda de órgãos pelos motivos que a Sally expôs. Entretanto, aqui no Brasil acho que não dá pra comercializar nada desse tipo de coisa… eu tive que guardar meus óvulos antes de iniciar quimioterapia e os gastos já foram imensos antes disso porque fiz a coleta numa clínica de fertilização EXTREMAMENTE anti-ética que se aproveita do desespero de pacientes que estão tentando engravidar ou se descobriram doentes e precisam urgentemente iniciar um tratamento, o que foi o meu caso, por ser jovem e nunca ter tido filhos. Além disso cobram uma penca por semestre e logo logo, por alguns motivos familiares, essa conta vai ficar na minha mão e eu não vou dar conta de pagar, até porque voltei a menstruar e tudo mais. E como minha situação financeira vai ficar difícil, eu queria muito vender… mas se não tiver jeito mesmo, coisa que eu acredito, vou doar. Melhor do que descartar…

  • Dessa vez, concordo plenamente com o Somir. Acho que a venda, conforme os moldes que ele citou, deveriam ser permitidas.

  • Já me peguei pensando neste tema e admito que não consegui chegar numa conclusão. Se por um lado eu concordo que posso fazer o que quiser com meu corpo, por outro lado penso que eu poderia ser morta apenas para retirada de órgãos (embora eu ache que isso já ocorra no mercado negro). Até consigo raciocinar sobre o tema, mas no fim começo a criar uma lei: várias condições para que a venda ocorra, várias situações de morte legítimas e ilegítimas, variação de preços…
    O Somir citou a eutanásia e o aborto.. Não sei se dá pra colocar a venda de órgãos ao lado daqueles.. Falta alguma coisa.
    Outra coisa. E se o desenvolvimento de órgãos em laboratório avançasse? Não sei em que pé anda (na verdade eu estou chutando isso), mas seria uma ótima ideia ter um banco de órgãos “criados”, não?

  • Num país ideal, onde as pessoas fossem seres pensantes e tivessem coerência, seria possível fazer o que o Somir falou, talvez. No Brasil é inviável, nossa realidade não permite esperar tanto discernimento assim de BM. Existem projetos extremos que podemos nos dar ao luxo de testar pra ver se dá certo (acredito que voto facultativo seja um desses casos) mas venda de órgãos não dá pra levar na onda do “vai que cola”. Muita gente ia morrer antes do sistema se auto regular. É de fato uma medida de proteção, e é necessária.

    • Pode ser que ainda restem alguns BMs por aqui….lembra do texto sobre frio ou calor e você disse que talvez fosse hora de fazer uma limpa….

      Sobre o texto, eu gostei dos argumentos do Somir. Compreendo o que a Sally disse, não tinha nenhuma novidade.
      Eu acho essa questão da doação de órgãos complicada, colocar Doador na identidade eu não acho bom, pode ser que aproveitem para não dar todo o tratamento possível. As famílias que recusam, está certo que o indivíduo está morto e não vai usar mais, mas deve ser por não saber se o falecido gostaria e também por motivos religiosos. Eu não acho justo, por exemplo, alguém que bebe e fica com cirrose e depois vai querer um fígado novo. Tem mais é que comprar, já que possuía um e destruiu.
      Para transplantar devem ser feitos exames para verificar a compatibilidade. Além disso o órgão não dura muito fora do corpo e teria que estar saudável. Assim, acho que seria impossível a pessoa que tem uma dívida e vai vender um órgão, como se estivesse empenhando um objeto. Teria que ter uma lista prévia de quem quer vender, como tem de quem está esperando.

      PS: cadê o texto de hoje?

      • Eu gosto de pensar que foi gente com pressa, em um dia ruim ou que não entendeu porque a gente não se expressou direito. Em todo caso, todos nós temos momentos de burrice.

  • Se forem os PRÓPRIOS órgãos, cada um deveria ter a liberdade de fazer o que bem entender, inclusive vender. Não é liberar geral pra família vender órgãos dos filhos, nem deixar o idoso morrer sem assistência pra vender os do falecido. Um adulto que tome essa decisão, ninguém deveria ter nada com isso.

  • Eu acho que liberando a comercialização de órgãos se abre muita margem para o caos. Imagina a confusão. Gente vendendo, gente querendo comprar. Ficar horas procurando um órgão que não tem no estoque. Gente matando uns aos outros porque precisa de órgãos.
    Caos total!

    Vamos liberar! Assim só os fortes sobrevivem.

  • Zaq (o cahorro!)

    Sabe aquele papo justificando o habito de dar o brioco? “Ué se o cu é dele(a) que faça o que bem entenda!”

    É a sabedoria popular dando a resposta a essa questão!! Sem regulação nenhuma do estado. A coisa é combinada apenas entre as partes e ainda é feita sob o princípio do pacta sunt servanda!! Combinou? Tá de acordo? Então, ferro!!

    Imagina colocar o cu de um veado ou de uma “curiosa” sob as ordens de um burocrata governamental?
    Na hora da coisa alguém fala, “péra, vamos ligar para o tele-cu da receita.”

    Feita a ligação um sujeito do outro lado com uma voz cansada atenderia,

    “Boa noite, central do coito anal, pois não!”

    “Viu, moço, minha namorada quer falar.”

    “Olha gostaria de pedir uma autorização para dar a minha bunda.”

    “Sim, a senhora já tem cadastro?”

    “Não, precisa de cadastro?”

    “Sem dúvida, a senhora acha que ficar dando a bunda por aí sem autorização é correto? Vai virar uma festa, uma bagunça!! Tipo a festa no céu da cachorrada”

    “Bom… Então o que eu tenho que fazer?”

    “Primeiro, suspenda o ato. Segundo, siga imediatamente a uma agência dos correios ou à receita, recolha a taxa e espere a chegada da sua carteirinha.”

    “Carteirinha!!?”

    “Isso, a partir daí a senhora poderá ligar novamente a cada coito para solicitar a autorização e quando da renovação da sua CNH virá escrito nela, doadora de cu!”

    “Ah legal, quando o guarda me multar vai também saber que eu dou o meu cu!!”

    “Ué, nada mais normal…. O guarda ao te multar, ele está pondo no seu cu, não está? Assim ele sabe que vc curte, hehehe”

    “Engraçadinho….”

    Desliga o telefone e vira para o namorado, “Esses funcionários públicos são uns folgados né? Filho da puta!!!”

    Foda né?!

      • Ligar pra alguém pra perguntar se pode dar o cu foi muito cruel.
        Imagina quando se está na baladae quer dar uma rapidinha, com a música alta tocando?
        “Alô! Eu gostaria de uma autorização pra dar o cu.”
        “Você poderia baixar o volume da música, não consigo entender o que você está falando.”

        =/

        • Zaq (o cachorro!)

          Seria ótima essa continuação Edley!
          Chegará a hora em que o(a) “doador(a)” estará berrando, altíssimo, Eu quero dar a bunda, caralho!!!!” Só que a música tem aquelas paradinhas, tipo funk, e o grito sai bem na hora que a música pára!! Todo mundo olhando…. Até o dj… Segundos depois, timidamente, alguns começam a levantar seus indicadores, passando a mensagem, “Conte comigo, viu!”, ou, “Tamos aí, hein!”

  • “Se o órgão te pertence, você tem TODO o direito de fazer o que bem entender com ele. Inclusive comercializá-lo”.

    Concordo, mas deveria haver uma contrapartida a quem o tenha comercializado: se a pessoa for internada pelo SUS por alguma doença comprovadamente decorrente da falta deste órgão vendido, ela terá que arcar com parte (pessoalmente, a integralidade) dos custos desta internação.

    (E, independentemente da questão, essa vedação do SUS deveria abarcar também o caso teórico extremo de um escroto ter tido um filho atrás do outro para dispor dos órgãos deles, construindo um valioso portfólio. O Estado não vedaria a internação da criança em questão, mas entraria com uma ação de regresso pelos custos da internação, sem prejuízo das demais providências legais).

    “Liberar a venda de órgãos aumentaria a disponibilidade deles sem comprometer o sistema que já existe”.

    Sim, pois há a venda futura como alternativa. Uma vez li sobre um tatuador que recebera adiantado por sua pele tatuada por inteiro, a ser entregue quando da sua morte. Por que não comercializar a pele nessas condições?

    “Não concordo que um Estado encoraje uma mutilação que reduz a qualidade de vida da pessoa (…) O Poder Público não consegue nem fiscalizar quem dirige bêbado, vai fiscalizar comércio de órgãos de uma forma rígida e organizada?”

    Fico pensando em como um comércio legalizado por aqui levaria ao incentivo de países com grandes populações (carcerárias) como a China a nos exportar órgãos dos quais não saberíamos a menor procedência.

    À propósito, a China recentemente parou com a prática de se utilizar dos órgãos de presos executados para transplantes. Mas, por outro lado, já que vão continuar com a pena de morte, isso não seria um desperdício?

    • O Brasil é um país corrupto e sem fiscalização. Esse esquema de pagar adiantado e pegar quando a pessoa morrer falharia aqui assim que uma filha de Senador precisasse de um órgão imediatamente e um potencial doador estivesse vivo. Amanheceria morto no dia seguinte. Você não acha?

      • Sem dúvida. País corrupto e sem fiscalização inviabilizaria qualquer alternativa factível à disposição, e a morte desse potencial doador ocorreria de qualquer forma, com ou sem sistema montado.

      • É baseado no livro de Kazuo Ishiguro, sobre pessoas criadas com o único propósito de servirem para reposição de órgãos, tão logo cheguem à idade adulta.
        Mas, o foco do filme, na minha opinião, acaba sendo a relação de três amigos, a inocência, o medo, a juventude etc. Eu achei bem bonitinho e sensível.

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