Ele disse, ela disse: Divina comédia.

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Semana Anta 2014: estamos no ano 64; Somirius e Saella são os escritores da combalida e endividada Companhia de Teatro “Roma Imperial do Desfavor”. Inspirados pelas lendas sobre um maluco judeu, os dois escrevem uma comédia com resultados trágicos.

Bom dia, companheiros da RID. Estamos aqui hoje para tomar uma decisão muito importante. Como sabemos, após o Grande Incêndio a população quer a cabeça de Nero. A peça que enviamos para seus assessores está sendo usada para jogar a culpa do incêndio sobre os cristãos. Precisamos decidir se falamos ou calamos… mas antes de votar, Somirius e Saella vão defender suas opiniões. Primeiro as damas:

SAELLA

É hora de admitir que as coisas saíram do controle. E quando as coisas começam a sair do controle, o melhor que alguém pode fazer para se proteger é falar a verdade e enfrentar as consequências. Adiar a verdade apenas cria um efeito cumulativo, que torna a mentira cada vez maior, cada vez mais perigosa e cada vez mais nociva. Quanto antes acabarmos com isso melhor.

Permita-me compartilhar nosso problema… Somirius e eu estamos passando por sérios problemas financeiros, e, posso assegurar-lhes, não por falta de talento. Sem falsa modéstia, somos bons escritores, mas infelizmente as verdades que escrevemos parecem não agradar o Romano Médio. Sim, o povo de roma parece apenas gostar de se iludir, de se distrair, de ouvir o que lhe convém. Um povo muito atrasado, tenho certeza que dentro de alguns séculos a humanidade evoluirá e irá rir desse atraso civlizatório.

Pois bem, graças à alienação do Romano Médio, nossos escritos não tem mercado e nossa situação econômica é deplorável. Era hora de tomar uma atitude. Decidimos escrever uma peça de teatro altamente comercial, com todos os clichês que uma boa fábula deve ter. Alienação pura, mentira descarada e tudo aquilo que as pessoas gostam de ouvir para se sentirem especiais. Seria um sucesso, não tinhamos dúvidas. E por mais nauseante que a história seja, nos divertimos bastante escrevendo-a, tamanho o ridículo do enredo. Chegamos inclusive a cogitar direcioná-la para um público infantil, dada sua simplicidade e mediocridade.

A boa mentira, como todos sabem, é aquela permeada por verdade. Contamos uma história boba, sobre o maluco da cidade onde nascemos, permeada por elementos mágicos que beiram ao deboche. A peça tinha que ser divertida, e o Romano Médio só se diverte com fantasia, com um belo distanciamento da realidade e com muita ilusão. Ok, se era isso o necessário para finalmente conseguir lucro com nossos escritos, que seja. Assim foi criada uma história fantasiosa, ofensiva até, para aqueles que tem cérebro. Era uma peça de teatro, havia licença poética para isso. Os manuscritos da peça foram devidamente entregues a nosso imperador, Nero.

Nero, caso vocês não saibam, não é uma criatura dócil. Tem temperamento difícil e quem o contraria ou o desagrada não costuma ter um bom final. Foram muitos dias de expectativa até obter uma resposta. Posso garantir que se hoje estamos vivos para escrever estas linhas, é sinal de que Nero gostou muito da nossa história. Em um surto ilusório pensamos que ali começaria nossa carreira de sucesso: finalmente alcançamos a fórmula para agradar o povo! A dose certa de ficção, de mentira descarada, de fantasia e de distorção. Estávamos orgulhosos de, após um grande esforço, ter captado as necessidades rudimentares da mente do Romano Médio.

Mas, nossa alegria durou pouco. Por motivos de força maior, Nero decidiu usar nossa história não para uma exibição teatral, e sim para salvar a si mesmo. Ele que apresentar nossos escritos como se fossem reais, fruto de espionagem obtida por agentes infiltrados. Porque? Para responsabilizar terceiros por seus erros. Fomos conduzidos mediante a mira de lanças à presença de Nero, que nos comunicou (isso mesmo, não pediu, nos comunicou) que nossos escritos não seriam encenados e sim divulgados como um documento oficial de espionagem. Mais: pagaria bem menos do que o combinado, pois não teria o lucro do público pagante que iria aos teatros.

Depois deste comunicado, formos conduzidos para nossas casas. O anúncio do “documento” obtido com espionagem já foi feito à população e agora estamos diante de um impasse: calar e deixar a história mentirosa se espalhar ou contar a verdade, desmentindo Nero, correndo risco de morte.

Sinceramente, nem é pela questão moral, mas sim por questão de bom senso, acredito que devemos falar a verdade. Por pior que seja o Romano Médio, eles não vão acreditar nessa história fantasiosa, o deboche vai se espalhar, eles ridicularizarão Nero. Nosso imperador destemperado como é, quando perceber que nossa história não foi boa o suficiente para abafar os últimos eventos, vai nos acusar de fraude, de sabotagem ou de ter plantado documentos falsos e acabaremos mortos. Nossa chance é contar toda a verdade e fugir, assim ao menos não nos será imputada a acusação de mentirosos. Temos como provar que nossos escritos nasceram para se tornar uma peça de teatro, basta usar essas provas.

Apenas para dar uma idéia do ridículo da peça, que mesmo para o Romano Médio, será intragável: uma dama engravida virgem, seu filho é concebido de forma divina e é o filho de Deus, ele anda sobre as águas, ele transforma água em vinho, ele faz paralíticos caminharem. As pessoas certamente desconfiarão e Nero vai nos punir por isso. Quando algo não sai como Nero planejou, ele primeiro diz que não viu nada, que não sabia de nada, e, quando o não ver se torna insustentável, ele destrói quem pode prejudicá-lo.

Pensem comigo: se não contarmos a verdade é certo que Nero tentará nos matar, pois seremos uma ameaça ambulante. Duas pessoas que carregam um segredo que pode ser sua ruína. Porém se contarmos logo toda a verdade, nossa morte pode se tornar suspeita, isso pode fazer com que Nero repense nosso homicídio e apenas nos desacredite publicamente, coisa que nós já conseguimos por nós mesmos após anos falando verdades inconvenientes. Falar a verdade em público e tentar fugir é a saída. Ao menos teríamos uma chance. Guardar esse segredo é andar com um alvo pintado na testa por queima de arquivo.

Calar é flertar com o desastre. Enfrentar o problema de frente e contar uma verdade que temos como provar me parece a medida mais adequada para proteger nossas vidas, e, bem, se isso não for possível, ao menos não teremos um povo inteiro enganado. Se a morte virá, que seja ao menos por uma causa nobre e não como queima de arquivo. Honestamente, não sabemos o que fazer e decidimos consultá-los. O que o grupo determinar será feito.

Para falar coisas que eu não compreendo, pois sou Saella e vivo no ano 64, não tenho ideia do que se passará nos próximos séculos, para opinar sem se posicionar em um SIM ou NÃO, inutilizando sua opinião ou ainda para dizer que esta história toda não lhe é estranha: Saella Somirius, casa 4, ao lado da amoreira.

SOMIRIUS

Caros companheiros… estamos todos juntos. Atores, costureiras, artesãos, escravos… todos que fazemos dessa companhia uma família. Porque nós somos uma família. Nós nos divertimos juntos, nós choramos juntos… nos amamos e odiamos todos os dias como uma grande família. Lembra daquela vez que o Dejarius confundiu a sala de orgia com o vomitório? Hahaha! Precisamos de três de nós para tirar aquele nobre de cima dele. Histórias divertidas à parte, só quero lembrar que na hora da dificuldade nós nos protegemos. Como uma família.

E está na hora de fazermos isso novamente. Alguém vomitou onde não devia. A peça que Saella e eu escrevemos era nossa passagem para a riqueza, mas o maldito incêndio subverteu nossa comédia em forma de acusação contra todos os seguidores do maluco da Judéia desvairada. A história que tanto nos fez rir nesses últimos meses de ensaio agora é arma nas mãos do imperador. E espero que todos aqui entendam as repercussões de tirar uma arma das mãos do imperador. Principalmente se ele for Nero.

Que culpa temos nós das ações dos poderosos? Assim como nossos escravos, nós também precisamos saber quando não temos outra opção além de ceder. Seríamos nós perseguindo os cristãos? Bom, eventualmente sim… mas não por detestarmos cristãos, e sim porque judeu é judeu seja lá o nome que se dê. Não nos coloquemos na difícil posição de querer reescrever a história, pois esse poder não nos pertence. Saella argumentou sobre as repercussões dessa pequena peça de teatro passada como verdade, mas Saella é mulher e enxerga perigos onde eles não existem.

Oras, companheiros! Imaginem só se a história sobre um demente que se diz filho do deus dos judeus vai durar mais que alguns meses! Nero vai conseguir o que queria desviando a culpa de si e antes mesmo de escrevermos nova peça a história já será vista como o que realmente é: uma divertida sátira sobre profetas judeus. O povo romano tem memória curta e como bem sabemos não costuma entender muita coisa sobre as histórias que ouve mesmo.

Alguns cristãos morrerão por causa do nosso silêncio? Sim. Mas qual a consequência histórica disso? Nenhuma. Um escravo a mais, um escravo a menos… e daí? Até os escravos concordam, certo? Vejam! Até os escravos concordam. Mandamos buscar mais entre os povos bárbaros. Temos que entender aqui o que manter o silêncio pode nos oferecer. Essa é a consequência com a qual temos de nos importar. Vamos ganhar menos do que ganharíamos colocando a peça em produção? Sim. Mas vamos ganhar alguma coisa. Júpiter sabe o quanto precisamos desse ouro!

E qual a outra alternativa? Execução em praça pública. Nobre a preocupação de Saella com nossa honra, mas honra não nos alimenta, honra não nos dá descendentes, honra não nos protege dos bárbaros! Sabemos que não começamos o incêndio, sabemos que não escrevemos a peça para eliminar os cristãos. Nós sabemos que nossas intenções eram puras e só queríamos um modo de vida honesto através da arte. Nós só queríamos fazer nossos irmãos romanos sorrirem.

E enquanto nossa família souber disso, dormiremos em paz. Melhor, dormiremos e acordaremos na manhã seguinte. Nossas vidas estão todas aqui em Roma, Nero poderia nos destruir mais rápido do que nossos cavalos nos levariam para fora do Império. Nero ainda foi generoso oferecendo recompensa financeira, lembrem-se que ele poderia ter simplesmente decidido nos matar.

A verdade é muito mais danosa para todos nós do que a mentira. Dizer que nossa peça era um registro histórico vai criar problemas bem menores do que admitir que aquilo tudo não passa de romantização cômica. E para vocês achando que seria jogar fora nossa galinha dos ovos de ouro, pensem melhor… Nero… Nero não me parece o tipo que dura muito tempo no cargo. Talvez o próximo queria sujar sua reputação e desfazer o mal entendido. Talvez consigamos nossa peça novamente, aí sim com uma publicidade impagável.

Imaginem! A comédia tão engraçada que matou milhares de cristãos! Vocês não conseguem imaginar o cartaz? Estamos apenas adiando nossa estreia. É claro que algo tão humorístico como o profeta judeu não tem chances de virar versão oficial dos acontecimentos. Ainda vão reconhecer nossa história como o que ela realmente é, e aí sim ficaremos ricos além da imaginação. Seus escravos terão escravos! Nada mais de orgias com homens e mulheres infestados, todo o vinho e todos os banquetes que vocês quiserem.

O ouro que Nero nos oferece permite que continuemos juntos até essa hora chegar. E agora sabemos que tipo de peça devemos escrever para fazer sucesso. Ouvimos histórias hilárias sobre as crenças do judeus. Tem uma sobre um barco gigante que eu tenho certeza que vai fazer qualquer um passar mal de rir. Saella e eu escrevemos uma cena sobre um casal de leões e um de coelhos que se encontram no barco… posso dizer sem medo que é uma das melhores que já fizemos. Nós podemos fazer mais peças, ainda melhores.

Nossa peça vai ser usada para limpar a barra de Nero, não tem muito o que fazer. A não ser que vocês considerem ser executado na frente da família como fazer alguma coisa. Vamos pegar esse dinheiro o quanto antes e deixar a mentirinha de Nero seguir seu curso natural. O que pode acontecer de tão ruim?

Para dizer que se seus escravos pudessem ler concordariam comigo, para falar que Roma não foi construída num dia e não precisamos ter pressa, ou mesmo para dividir mais histórias sobre o vomitório: Somirius Silvus, última casa da rua do prostíbulo (ei, construíram depois que eu me mudei).

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Comments (43)

  • Off: Sally Sally… se eu te contar da relação de amor e ódio que ando mantendo com minha operadora de internet… rs
    Possa ser que dê uma sumida, mas eu voltou viu? Eu sempre volto! xD

  • Estimada Saella, peço perdão pela demora em responder. O trabalho na Casa de Saúde e na Taberna da minha família tem me consumido as forças. Sabe como é. Na casa de Saúde precisamos colocar ordem, pois a falta de apoio de Nero tornou um lugar difícil de dar assistência. Os sábios estão trabalhando no seu limite, com falta de ervas, medicamentos e materiais. E agora para piorar estão tendo que salvar vidas de charlatões que Nero colocou dentro da Casa. Nero é safado, falou para os romanos medios que isso iria melhorar a nossa assistência. Só que esse escroque humano gerou um problema pior que infecção hospitalar.

    Sei que agora não adianta mais dar minha sugestão, mas peço que qualquer coisa me procure. E no que eu puder te manter informada manterei.

    Noite passada, ao ficar na Taberna, descobri por um dos acessores de Nero, ele estava torto de embriagado, que Nero perdeu aquele dedo dele não por acidente, nem por luta de gladiadores. Ele perdeu aquele dedo pq tinha um fetiche estranho de meter o dedo no cu do romano médio. Numa dessas ele vai ficar sem dedos, pq segundo relato de seu acessor, ele continua com esse habito estranho.

    Saudações! Se precisar só é pedir socorro.

    • Licheah, eu sempre desconfiei desse “acidente” no qual Nero perdeu um dedo, agora está explicado! Posso imaginar seu sofrimento sendo obrigada a visualizar todas essas injustiças promovidas pelo governo romano. Talvez seja graças a esse alto grau de descaso que o povo romano precise tanto de fábulas para se entreter…

  • Calígula também tem uma passagem que lembra bem os dias atuais. Ao ser contestado veementemente no Senado, mandou que cortassem a língua do opositor na sua frente, o que foi feito imediatamente. Como ele não parava de gritar, mandou depois que o matassem.

  • Depois que uma Vanessa Popozuda virou pensadora contemporânea, eu não tenho a menor ideia de aonde esse nosso brasil ira parar não.

      • Querida Saella, Vanessa Popozuda seria uma mulher muito conhecida pelo povo de Roma. É famosa por suas curvas e por seus trabalhos musicais atemporais. Ela é de uma nova safra musical por aqui. Confesso não curtir seu estilo de trabalho, mas o que posso fazer se tudo o que vem de Roma é de gosto duvidoso? Acho que Nero pode vir a gostar dessa moça.

  • Mesmo contando a verdade o Romano médio deixou Nero num pedestal tão grande, que qualquer loucura que ele fizer para justificar sua mentira será acreditada e vocês dois morrerão em vão…

  • Por que não ir para o Oriente? É um lugar muito rico e com uma cultura muito mais avançada. De lá vem muitos produtos e tecnologias cobiçados pelos romanos médios, que chegam em grande quantidade todas as horas nos portos romanos. Dizem que os chineses já rodaram o mundo todo, e, quem sabe, eles te ajudam a fundar uma nova colônia em um local mais favorável.

  • Estimada Saella

    Creio que no momento o melhor a fazer é omitir a verdade e deixar que Nero conte sua versão. Conforme os fatos se desenrolarem você e Somirius poderão tramar outras estórias que venham a calhar com a loucura do imperador e a sobrevivência de vocês, que na minha singela opinião é o mais importante.

    Enquanto isso, sugiro que vocês confeccionem desenhos dos gladiadores e das bestas, numa versão que possa ser colada em papiros criados especialmente para isso e espalhem nos burgos para comercialização. A gentalha média é estupida e gasta seu ouro com qualquer porcaria que esteja na moda. Tenho certeza que suprirá vossas necessidades monetárias.

    • Amiga Daniele, ponderarei sobre seus conselhos. Talvez seja hora de pensar em um projeto paralelo aproveitando os grandes eventos esportivos que serão sediados em Roma…

  • Não acho que deveriam contrariar o grande imperador… vamos seguir com a mentira, não vai durar, os RMs não podem acreditar nisso por muito tempo, e caso o imperador ameace vocês, chama ele de Lúcio Domício na frente dos outros, ele morre de vergonha…

  • Querida Saella,

    Estava a espera de notícias suas e de Somirius, e fico contente de ter se pronunciado. A sua carta chegou com atraso aqui em minha pequena cidade. O número de entregadores decaiu devido a uma breve manifestação para o reajuste salarial dos mesmos. Alguns foram presos, agredidos pela patrulha local a mando de Nero, que claro, não sabia do que se tratava aquilo tudo. Então, lhe peço desculpas caso esteja lhe escrevendo tarde de mais.

    A situação aqui se encontra precária. As crianças já não podem mais ser educadas em nossos pequenos grupos escolares e nosso único hospital está em péssimas condições. Esquecendo o fato dos constantes problemas com a rede elétrica e encanamento. Confesso estar preocupado com o rumo de Roma. Está a cada dia mais difícil viver por aqui, ainda mais em minha cidade, que é tão pequena.

    Nero sempre promete nos ajudar, mas de nada adiantou suas promessas. Meu povo sempre espera por sua ajuda, mas ela nunca chegou. Estamos perdendo nossos adolescentes para um novo vício e para o crime. O número de mortes e assaltos cresceu consideravelmente por aqui, e espero que ai não esteja nessas condições.

    Espero que tudo se resolva. Suas palavras me instigaram, e devo até confessar, me deixaram levemente curioso a respeito. O que lhe aconselho no momento, é mentir, até porque, as pessoas acreditam naquilo que lhes convêm acreditar. De nada adiantaria lhes dizer tamanhas verdades se seus olhos e ouvidos estão voltados a Nero e suas novas promessas para conosco.

    Fique bem. Espero uma próxima carta para confirmar seu bem estar.

    De Matheus N.

    • Uma vergonha a forma como Nero vem conduzindo Roma! Muito pão e circo e pouca educação! Pior do que isso, caro amigo Matheus, é ver que o povo o idolatra. O povo romano é muito atrasado intelectualmente, basta que o governo lhe disponibilize diversão e ele se sente grato. A repressão de Nero é sentida em todos os pontos, em todas as cidades, mas sua tirania é ofuscada por pequenas migalhas que ele dá ao povo, que o fazem parecer benevolente. O futuro é incerto, estudaremos seus conselhos para tomar nossa decisão.

      • Grato por leres minha opinião, Saella.

        Outro fator preocupante é realmente a idolatração para com Nero e seus inúmeros poderes em Roma. Um homem de conduta dúbia como ele, deveria ao menos ter suas ações questionadas, mas o povo coloca uma venda negra sobre os olhos e finge não ver, ou então são estúpidos o suficiente para acreditarem em todas as palavras vindas da boca desse homem indulgente.

        Os jogos se aproximam a cada dia mais, e parece que os Romanos acreditam no poder que isso trará a nosso país. Nero lhes tira os empregos, mas sugere que os Romanos sejam voluntários durante a preparação desse grande evento. Há também por aqui um pseudo pensante de nome Ronaudius Fenom que disse não haver jogos com hospitais. Seu absurdo falado em praça pública pareceu não ter chocado ao menos 10% da população Romana. Não vi nenhum ato de indignação para com suas palavras, e confesso, ter me sentido enojado com tal comentário.

        Para encerrar essa carta, espero, de todo o coração, que Roma não consiga realizar seu desejados jogos, afinal, eles começam em cerca de dois meses, e até hoje, as obras estão em andamento.

        Grato, Matheus N

        • Nero está coibindo qualquer ato de indignação com violência. A verdade é que se Nero usasse a quantia gasta para reformar o Coliseu com seu povo, as condições de vida seriam muito melhores. Mas não se pode criticar, não se pode sair às ruas, porque não apenas Nero, mas muito iludidos do povo também se posicionam de forma contrária a qualquer protesto. A sociedade romana está de mal a pior…

          • De fato. O povo Romano se torna insuficiente de inteligencia a cada palavra dita e a cada palavra proferida por Nero e seus companheiros de poder. Os Romanos Médios são incapazes de pensarem por si mesmos e acabam por adotarem como doutrina a “Sabedoria” de um ser desqualificado com Nero. Se ao acaso criticarmos as atitudes do homem acima do povo, seremos taxados com pessoas de mentalidade inferior.

            Uma Lobotomia coletiva parece ter sido feita em boa parte da população Romana, pois só assim seria capaz de esquecer tamanhas atrocidades cometidas por Nero e seu seguidores. Nos roubaram, nos fizeram de tolos por anos, e no fim, não foram julgados por seus atos. Enquanto eles aproveitam do bom e do melhor que Roma tem a oferecer, nos, seres de classe baixa, sofremos com a falta de escola, hospitais, empregos… Mas novamente, Nero não leva a culpa. O culpado das coisas ruins acaba por ser ‘Lúcifer’, um ser com o qual nunca tivemos contato direito, e não Nero. Vai entender a falta de capacidade pensante…

            • Nero jamais se reponsabiliza quando algo dá errado. Nero precisa sempre procurar um culpado. Isso é muito perigoso…

  • Carolinah Souzius

    Recebi a missiva de vocês ainda ontem. Fiquei preocupada e mandarei resposta curta através de minha prima para ser mais ágil. Ela deve chegar nas bigas da manhã.

    Acho melhor falar… Nero muda de ideia muito depressa e uma fofoca na taberna pode fazê-lo repensar. Ele é louco mas não é burro, sabe o potencial que essa notícia tem de destruí-lo.

    Complicado, amigos. Torço para que seus escravos não deem com a língua nos dentes antes de vocês decidirem.

    Ofereço minha casa como guarida em caso de fuga. Saella sabe onde fica.

    • Agradeço a acolhida, Amiga Carolinah. Não por falta de hospitalidade, devo recusar sua oferta. Certamente nosso último encontro foi muito agradável, desafiando as leis romanas em pequenas contravenções alimentares, mas aceitar sua proposta agora seria colocar sua vida em risco. Além disso, Danilus parece ter nos abandonado, dependo dele para entrar na cidade e ali estabelecer moradia.

      Refletiremos com prudência sobre seu conselho.

      • Saella,
        Soube, por fontes, que está a esperar uma decisão de Danilus e fiquei em dúvida de quem seria tal cidadão. Agradeceria se pudesse ser informada sobre o mesmo.
        Quanto à possível delação de algum escravo aconselho ter a mesma medida que tive. Cortar a língua de qualquer escravo que saiba ler.

        • Danilus é alguém que tem poderes para nos ajudar, pois vem encenando com sucesso peças similares às que nós apresentamos, com a difernça que ele consegue aplausos e nós apenas ovadas. Esperamos que Danilus nos abra portas.

          Cortar a língua talvez não baste, semana passada um escravo delatou um conhecido nosso atraves de desenhos. A situação é tensa.

      • Voltei revisto e melhorado. Só espero que este lance de me tornar uma pessoa melhor não interfira na minha arrogancia e prepotencia peculiares.

        Voltei disposto a rever tambem o excesso de informação e perda de tempo que a internet me trazia. Claro que o Desfavor, sendo leitura obrigatória, fica fora disso.

        Ainda estou em são paulo, assim que voltar ao sul gostaria de skypea-la (sic).

        Ps.: Não conseguiram me fazer uma lavagem cerebral e me tornar um religioso, mas estou mais espiritualizado – o que é bem diferente.

  • Amiga Saella,
    Fiquei preocupada ao receber sua carta. Entendo o seu dilema, e fico feliz em saber que a amiga pela qual tenho um grande apreço continua com o espírito imaculado. Mas devo alertá-la sobre a índole de nosso imperador.
    Há rumores de que ele carregue o sangue da morte de vários amigos e parentes, entre eles, a sua própria mãe Agripinila, seu irmão Britânico e sua esposa, e meia-irmã, Cláudia Otávia.
    Peço-vos que mantenha-se calma e que aceite, desta vez, a opinião de nosso amigo Somirius. Sua vida vale mais do que a de meros escravos e cidadãos de segunda classe.
    Creio que seu governo não dure por muito mais tempo. Ouvi dizer que há revoltas se formando por várias províncias. Acredito que ele seja louco.
    Aguardo, ansiosa, a vossa próxima visita e de Somirius, mas peça a ele que não traga o Alicatius, minhas servas e servos acabaram brigando entre si após descobrirem que ele dormira com todos e algumas acabaram esperando sua prole. O problema foi resolvido após uma boa surra que mandei dar em todos.
    Despeço-me desejando que esta carta a encontra em boa saúde.

    • Agradeço a carta de alerta. Estamos considerando com cuidado todas as suas colocações. É preciso muito cuidado quando se lida com alguém que mandou executar sua própria mãe. A família de Nero é complicada, vide tudo que seu tio Calígula aprontou.

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