Down with Dawkins!

+O biólogo Richard Dawkins, autor do clássico “O Gene Egoísta” e professor da Universidade de Oxford (Reino Unido), causou polêmica no Twitter ao escrever que acredita ser “imoral” que bebês nasçam com síndrome de Down.

A declaração não é o desfavor. Concordamos com ela. A reação histérica, como sempre, desfavor da semana.

SALLY

Hoje sacudiremos a árvore do Desfavor para que caiam as últimas frutas podres. Fechando com chave de oura a mega-faxina, vamos enfiar o dedinho na ferida e rodar. Antes de partir para meus argumentos, quero fazer aqui uma pequena compilação das frases que Richard Dawkins disse:

1) Indagado sobre o dilema de ter ou não um filho caso se descubra no começo da gestação que ele é portador de Síndrome de Down ele respondeu: “aborte e tente de novo” e “É imoral trazer ‘isso’ ao mundo se você tiver escolha.

2) Sobre os inevitáveis mimimis de mães de crianças portadoras de Síndrome de Down dizendo que amam seus filhos e que seus filhos as amam: “São fetos diagnosticados com a doença antes de terem sentimentos”

3) Sobre as acusações de ser desumano e não ter sentimentos: “Há um lugar para emoções e esse não é um deles”

4) Sobre os direitos dos portadores de Síndrome de Down, ele deixou bem claro que estas pessoas tem todos os direitos do mundo, mas que não é o caso dos fetos: “um feto sem um sistema nervoso desenvolvido não tem”

Não preciso dizer o quanto a gente concorda com ele. Mas preciso deixar consignada minha admiração por, em tempos de politicamente correto sufocante, ele ter culhões de dizer uma coisa dessas em uma rede social, mostrando a cara e o nome é louvável.

É uma escolha pessoal e cada um. Não acho que meus valores devam ser impostos a todos. Em contrapartida, não acho que os valores de terceiros devam ser impostos a mim. Quer ter um filho com Síndrome de Down? Vai fundo. Eu não quero, e eu não teria. E não é só por mim, é pela criança, que não vai encontrar um lugar ao sol, digno, nesta sociedade. Eu não tenho condições financeiras nem emocionais de cuidar de uma criança por 30, 40 anos. Dá licença? Eu não vou até grávidas dizer “Não tenha! Não tenha!”. Mas todo mundo vem até mim me chamar de monstro.

Não vou entrar no mérito legal, porque esta é uma discussão universal, de caráter ético. Pode acontecer com qualquer mulher do mundo, inclusive em países onde o aborto é legalizado. E por sinal eu jamais faria um aborto no Brasil, pois além de ser crime, é precário. Não estamos aqui discutindo lei, e sim o direito a ter ou não ter uma criança com deficiência metal.

Falemos do ponto de vista que interessa: a enorme reprovação social que emergiu em resposta às declarações de Dawkins. Uma reprovação carregada de agressividade, imbecilidades religiosas e sobretudo de burrice. As pessoas que reprovam acabam depondo contra a reprovabilidade, já que são tão ignorantes, burras, toscas e escrevem de forma tão vergonhosa.

Você tem o direito de discordar e até mesmo de não gostar, mas se você se ofendeu, é porque aquilo te incomodou de uma forma tão desmedida que diz algo sobre você. Tem algo mal resolvido. Já ouvi diversas vezes que argentinos deveriam ser exterminados, colocados em campos de concentração ou todos mortos – e ri. Ri porque não me afeta. Não me incomoda que boa parte das pessoas me queira morta, sabe porque? Porque essas pessoas não são importantes para mim, eu não dou importância para o que elas pensam. Se você dá importância para o que desconhecidos pensam, procure um psicólogo com urgência. Entre na fila, logo atrás daqueles que se ofendem com piada.

Não consigo nem começar a discutir com quem acha que um aglomerado de células é gente. Curioso que na hora do café da manhã todo mundo come ovos mexidos sem achar que aquilo ali é um pintinho. Células sem sistema nervoso de fato não tem sentimentos, como Dawkins bem pontuou. Mas as pessoas tendem a ser idiotas, atribuem sentimentos humanos inexistentes até a cães e gatos, evidente que inflacionariam de forma desmedida a importância de um aglomerado de células vindo delas. Você não é tão importante, um filho seu não faz a menor diferença para a humanidade. Isso não é amor, é vaidade. Aceita que dói menos.

Assim como Dawkins, eu acho que tendo a chance de detectar de forma precoce é sim IMORAL trazer uma criança com Síndrome de Down ao mundo, a menos que você seja rico, tenha todo o tempo do mundo para cuidar de uma eterna criança, pagar fisioterapia, fono, médicos, tratamentos, psicólogo e tudo mais que será necessário para fornecer o pleno desenvolvimento dela. E reze para não morrer antes dela, se não você, egoísta, vai deixar sozinha no mundo uma pessoa que não sabe cuidar de si mesma. Ou pior, vai onerar gente que não fez essa sua escolha com isso. Criar “do jeito que der” mas com muito amor é ES-CRO-TO. Amor não supre outras necessidades, esperneiem o quanto quiserem, é verdade.

Acha criança com Síndrome de Down um anjo de luz, um presente divino, melhor do que uma criança normal? Beleza, guarda essa baboseira para você e morre em estado de negação, que deve ser mesmo mais fácil de lidar se convencendo disso (a prova é que quando você tenta tirar esse “escudo” da pessoa, ela surta e te ataca). Mas não venha querer me obrigar a concordar com o seu pensamento nem me agredir porque eu penso diferente de você. Nem a mim nem ao Dawkins. Ninguém é obrigado a passar por isso, mas a pessoa que passa por isso parece querer que mais gente passe. Parecem querer acompanhantes para essa… jornada.

O mais curioso é como a burrice cega e faz surgir a verdade. Nas diversas vezes que abordamos temas similares as pessoas bateram ponto aqui para esculhambar dizendo que somos monstros e que os “anjos de luz” são maravilhosos e ao final, terminam com uma bela praga: Deus castiga, um dia você vai acabar tendo um filho com Síndrome de Down. Oi? Desculpa, não entendi? Seu anjo de luz não era ótimo? Porque seria um castigo ter um filho com Síndrome de Down? Alô? Burrice?

Eu não teria um filho com Síndrome de Down. Eu tenho que ter o direito de dizer isso sem ser agredida, tratada como má pessoa, desmerecida. Se eu não desmereço quem opta por tê-los (você não vai me ver indo em um blog de mamães down metendo o malho nelas, já o contrário…) não admito ser desmerecida também. Não quero. É direito meu. As leis brasileiras não são leis mundiais, me mudaria na mesma hora para um país cujas leis fossem compatíveis com minha convicção se essa realidade se apresentasse na minha vida.

Não querer ter um filho com Síndrome de Down não me faz má pessoa. Não me faz egoísta. Me faz racional. Eu tenho o dia inteiro livre para ficar de olho em uma eterna criança? NÃO TENHO. Essa é a minha realidade. Não vou deixar um ser humano que precisa de cuidados especiais com babá, com creche, com escola com sogra o dia inteiro, isso é sacanagem com todo mundo. Eu tenho o sagrado direito de pensar assim.

“Foi Deus quem escolheu assim”. Olha, eu não acredito em Deus, mas em um breve exercício argumentativo, mesmo que acreditasse, que porra de Deus sádico é esse que faz uma criatura incapaz de se defender, de se prover, de sobreviver sozinha em um mundo selvagem como o de hoje? Vai ä merda esse Deus, francamente. Sou Team Satanás toda a vida se isso for desígnio de Deus!

Ter um filho com Síndrome de Down é sim um ônus. Por mais que você ame seu filho, é inegável que essa criança terá uma série de necessidades que, no mundo de hoje, pouquíssimas pessoas estão aptas a prover. Vai te consumir muito tempo, dinheiro e disponibilidade emocional. E está ok se você não tiver tudo isso e optar por não tê-lo. Desculpa a franqueza, mas nem todo o amor do mundo compensam a falta de tempo de pais que trabalham o dia inteiro.

Basta de crucificar quem não quer ter um filho com deficiência. As pessoas tem que ter o direito de escolha. Se não vai poder prover uma vida digna, uma existência plena para essa criança, atendendo às suas necessidades especiais, é sacanagem colocá-la no mundo. AMOR não compensa a falta de todo o resto. Não me venha usar AMOR como argumento. É hora do brasileiro amadurecer, crescer, deixar de ser imbecilóide com mentalidade de novela. Ou ao menos de respeitar a opinião de quem não o é.

Desfavor presta reverência a Richard Dawkins, mais uma vez.

Para falar o que quer e ouvir o que não quer, para dizer que seu filho é normal e acima da média ou ainda para dizer que vai me processar e me ver rindo da sua cara: sally@desfavor.com

SOMIR

Como Sally foi bem didática, foi primeiro. Aproveito a desobrigação de situar o caso para me concentrar mais nesse “corporativismo da negação”, tão pervasivo em tempos de mundo conectado. Ignorância e necessidade de afirmação pessoal com certeza influenciam na histeria contra opiniões essencialmente racionais, mas me parece que há método nessa loucura.

Mais do que jogar o prazeroso jogo de apontar o dedo para quem se destaca do bando, o censor de pontos-de-vista como o expressado por Dawkins também parece tentar manter intacta uma espécie de rede de proteção da negação humana. Muitas vezes é mais fácil fingir que o problema não existe, e todos acham que ganham mantendo a opção disponível e popular.

Uma das formas de pais de crianças com síndrome de Down lidarem com as dificuldades inerentes à criação de alguém com necessidades especiais é pintar tudo com uma “tinta dourada” e chamar o intrusivo cromossomo extra de dádiva celestial. Não foi um mau resultado na loteria genética, e sim um evento cósmico tão necessário quanto inescapável. Imagino que enxergar o filho como providência divina deva mitigar um pouco as frustrações…

Difícil e desnecessário criticar quem encara esse desafio. De forma alguma eu vou desmerecer a abnegação de quem cria portadores da síndrome. Um dos melhores indicativos de sociedade evoluída é tratamento humano e decente para quem tem alguma deficiência física ou mental. Nascemos humanos, temos direitos só por isso. Excelente.

Agora, negar-se a enxergar um problema como tal dificilmente vai tratá-lo. Nasceu com síndrome de Down? Que tenha todos os direitos preservados! Mas que não nos enganamos achando a expectativa de respeito para com o deficiente anula a percepção de deficiência. Provavelmente nunca vai ser o caso, mas se fosse possível “desfazer” os resultados da síndrome numa pessoa… não seria um ato de amor dá-la o “pacote completo” da experiência humana?

O que Dawkins disse é óbvio: numa situação de escolha, é mais justo/moral/ético que a criança nasça sem o cromossomo extra. E para muitas pessoas nesse mundo já estamos vivendo uma era onde a escolha existe. Saber que o filho vai nascer com síndrome de Down, ter a possibilidade de abortar e não fazer não é gerar uma existência deficitária? Mesmo que você partilhe da ideia que a ignorância é uma bênção e a pessoa com a síndrome pode viver uma vida feliz, não tem escapatória quando o assunto é o conjunto de experiências e relacionamentos que o portador vai perder apenas por ter nascido nessa condição.

E quando a lógica bate, a negação assopra. Ao invés de admitir que acha que quem tem síndrome de Down está perdendo muita coisa, prefere posar de ser iluminado e se concentrar apenas no que acha positivo. Ao negar o problema, a mente fica presa num estado egoísta de valorização dos próprios problemas. Apoiar os mais necessitados com certeza é uma escolha louvável, mas colocá-los na condição de necessitados não.

Uma pessoa que escolhe trazer alguém com síndrome de Down para o mundo – mesmo que pretenda cuidar dele com todo o carinho e atenção possíveis – está criando o problema. Sei muito bem que a escolha não existe na maioria dos casos, seja por falta de atenção médica, seja por impedimentos legais, mas se focarmos apenas em quem pode abortar cedo por descobrir que o filho vai ter síndrome de Down, a escolha é imoral.

Em nome de uma negação que pode vir a ser útil quando problema surgirem na própria vida, muita gente prefere o discurso crítico à realidade, criando um universo paralelo onde deficiências não contam e todos somos perfeitos. Como se perfeição fosse condição para amar e/ou respeitar alguém. A criança deformada sorrindo na foto da rede social não pode apenas passar uma imagem de felicidade contra todas as probabilidades… não, ela tem que ser linda! Se não disser que ela é linda, você é um monstro. Porque para a massa de “negadores”, beleza é condição inescapável para se apreciar alguém.

A pessoa não quer respeito ou tratamento carinhoso, ela quer a ilusão de merecimento da simpatia alheia. Se você diz que pais (de sucesso) de crianças com síndrome de Down são corajosos e abnegados por lidar com um filho deficiente, eles podem ficar ofendidos pelo uso da palavra “deficiente”. Provavelmente a pessoa nem tem os subsídios necessários para compreender admiração sem uma grossa camada de elogios desmedidos. Se não negar o problema com eles, está contra eles.

Mas alguns de nós lemos nas entrelinhas. Nós percebemos a compensação, a frustração interna travestida de iluminação. É triste não só por disfarçar sentimentos humanos completamente compreensíveis, mas também por não permitir a busca de uma solução. Se é “criminoso” advogar o aborto de um portador da síndrome de Down, não se pode erradicá-la.

Problemas ignorados não são resolvidos. O direito à vida humana nunca entrou em discussão. Que tratemos com dignidade todos os que já estão entre nós, e os muitos outros que virão de pais sem escolha, mas que não deixemos isso nos confundir sobre a síndrome. Humanos com ela tem direito a existir, a síndrome não.

Para dizer que eu sou um monstro por escrever um texto mais respeitoso com você do que 99% das baboseiras que gente que não dá a mínima te diz num mural de rede social: somir@desfavor.com

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Comments (121)

  • O que as pessoas normais não enxergam é que as pessoas com qualquer tipo de deficiência genética não poderão levar uma vida normal, mas essas mesmas pessoas acham que os deficientes poderão levar uma vida normal. Eu nunca vi um defensor ferrenho de crianças com síndrome de down nas redes sociais saindo e tendo relacionamentos sérios e amorosos com os mesmos, é algo como: “Que linda e perseverante essa mulher com síndrome de down! Opa, aquela gostosa da academia me chamou pra sair, hoje tem!”
    É hipocrisia querer dizer que são lindos, que são maravilhosos, amorosos e que podem levar uma vida normal quando todos sabemos que isso não é verdade. Uma empresa não contrata como gerente uma pessoa com síndrome de down, pois ela não seria dinâmica como a empresa quer e não se adaptaria ao ritmo corrido que são as empresas.
    Não vejo pessoas com síndrome de down dirigindo ônibus.
    Não vejo pessoas com síndrome de down sendo professores.
    Não vejo pessoas com síndrome de down sendo gerentes.
    Não vejo pessoas com síndrome de down sendo eletricista.
    Não vejo pessoas com síndrome de down sendo mecânicos.
    Não vejo pessoas com síndrome de down sendo cabeleireiros.
    Não vejo pessoas com síndrome de down se relacionando com pessoas “normais”.
    Mas o que esperar de um país que pessoas não sabem nem inserir um cartão magnético na leitora de cartões?! São tantos BMs que as vezes nos desanimamos com eles e vemos que tudo tende a continuar nesta inercia de burrice e ignorância que nos faz pensar sempre em mudar para um país onde as pessoas tenham um intelecto mais evoluído. Eu sou a favor do aborto em qualquer instância, pois como foi dito e reforçado várias vezes e por várias pessoas, o ser humano com sistema nervoso central formado e capaz de processar informações tem direitos e um amontoado de células que podem a qualquer momento morrer.

    • Não seria uma boa ideia, não teria coisas muito positivas a dizer e despertaria a ira de um bando de mães negadoras…

      • Entendo sua posição… um Flertando com o Desastre até temeria repercussão negativa mas um Desfavor Explica nem tanto.

  • O problema de não ser um leitor constante é que perco informações relevantes. Por favor, alguém me explique quem é o “Fernandinho”… muito grato!

  • E agora me lembrei de um caso de uma garota com síndrome de down que fazia ginástica rítmica na mesma época e no mesmo lugar que eu fazia também. Colocaram ela na mesma turma das outras meninas normais. Não deu outra, ela não conseguia fazer nada com nada, não conseguia ter habilidade com os aparelhos(maça, fita, corda, arco e bola)… Participar de conjuntos, nem pensar! Seria um sufoco e tanto! Teve um dia, na apresentação, na qual ela apresentou sozinha. Aliás, sozinha não, teve de ter a treinadora dela acompanhando os passos dela o tempo todo! Como assim? Para se apresentar, a ginasta tem que estar apta para realizar os movimentos sozinha! Olha, eu não gostei não, pareceu forcação de barra mesmo, pra mostrar a “inclusão”. E teve um episódio interessante que aconteceu comigo – e esta mesma menina – foi aí que atestei o quanto brasileiro médio acaba fazendo merda: Estava eu treinando para uma competição quando esta menina estava treinando, como sempre, isolada das outras, pois era muito tímida. Pois bem. Reparei que ela estava repetindo os movimentos e falei isto meio na inocência mesmo, sem intenção alguma. E eis que uma outra menina falou poucas e boas comigo por causa disto. Nem liguei, já percebia como brasileiro médio se comporta, o tipo de passionalidade que têm e o pouco apreço pelo racional antes mesmo de conhecer seu blog e este carinhoso apelido(que cabe como uma luva para a grande maioria da população do Bananão) hahahaha

    Sabe, acho inclusão um papo muito lindo. Lindo mesmo. O problema é que para passar da teoria para a realidade são outros quinhentos e é preciso admitir, nem todos podem – e alguns nem devem! – ser “incluídos” simplesmente porque oferecem riscos a outras pessoas! A justiça tem que ser feita, inclusão só quando puder, se forçar a barra o efeito será exatamente contrário e completamente contraproducente. O negócio é encarar a realidade, algo muito difícil para a grande maioria dos chamados BMs que preferem continuar com aquela mentalidade de novela!

    • Eu passei pelo mesmo, mas em uma aula de dança. Atrapalhava TODO MUNDO pela falta de coordenação, por não conseguir executar a coreografia, por mil motivos. Mas ninguém tinha coragem de falar nada, todo mundo fingia achar lindo. Atrasou a turma de tal forma que eu optei por sair e me matricular em outro lugar, porque eu sabia que se falasse seria trucidada.

      • Esta inclusão vagabunda só faz estrago! Coisa de BM sem semancol!

        Custa para muitos entender que se não compreender as coisas como elas são, dificilmente se conseguirá uma solução!

        Colocar deficientes mentais junto de pessoas normais não é inclusão não, mas pra esse povo entender…

    • Inclusão nos olhos dos outros é refresco.

      Tanto eu como minha esposa já presenciamos, em nossos respectivos trabalhos, inclusões forçadas (não necessariamente devido ao Down) que resultaram desastrosas – no mínimo “atrasantes” do fluxo normal de trabalho. Mas como os arrombados do politicamente correto mandam nessa merda de acampamento que se convencionou chamar de Brasil, então ai de ti se abrir a boca pra reclamar! O mais chato são aquelas pedabestas que realmente acreditam que é possível incluir despejando os “argumentos” mais loucos pra cima da gente, tentando nos convencer… e acabamos percebendo o discursinho decorado das “eminências” em educação (queria ver Paulo Freire – ou qualquer outro desses teóricos badaladinhos aí! – interrompendo suas tiradas pseudoeruditas pra limpar rabo sujo em plena sala de aula!), a vacuidade das palavras técnicas pedantes e a programaçãozinha neurolingüística ali, bem de leve, manipulando cabecinhas ocas.

      A minha sorte é que até hoje nunca me caiu nenhum em sala de aula… sinceramente, se cair um desses, ou índio, ou caboclo ribeirinho que mal sabe falar ou algo semelhante, vou me foder porque não saberei lidar com isso! VOLTA, VESTIBULAR!

      • O mais curioso é que não pode brigar, não pode repreender, não pode NADA, porque eles são “especiais”, eles tem o direito de fazer tudo que querem! Intocáveis com uma navalha!

      • Apesar de pouco tempo de experiência como docente, tenho que concordar como Charles: educação especial é um SACO! Não só a disciplina teórica lá na graduação, mas o por em prática dela.

        • Cara Ge: se você for pedagoga, por favor não se irrite com o meu “pedabestas”… as pedabestas são as que vêem tudo bonitinho e acham que é a coisa mais linda (e fácil) do mundo incluir. Está mais do que óbvio que você não é uma, mas sempre é bom esclarecer as coisas…

          A bem da verdade, isso de inclusão é tão complexo que deveria haver alguma especialização na área de educação para isso. Uns dois, dois anos e meio de curso pesado, na prática (teoria nesses casos é furada porque não dá pra encaixar deficiências em padrões de comportamento… olha o caso do Fernandinho – sim, Sally… li e fiquei deprimidíssimo com a situação!), durante os quais estudar-se-iam diversas técnicas objetivas de como lidar com pessoas deficientes e tentar contornar, da melhor forma possível, suas óbvias, ululantes limitações, sem se desejar milagres de inclusão ou convivência social normal. E, como admissão ao curso, seria imperiosa uma análise psicológica do candidato pra detectar se é isso que ele quer pro resto da vida, pra depois não vermos pessoas sem paciência sentando o cacete nos pobres deficientes (isso eu acho sacanagem!).

          • Nota: carO
            Sou homem! hehe
            Óbvio que não vou revelar meu nome aqui, mas se se atentar para um cineastra famoso aí tu descobre rapidinho! rs (aliás, esse apelido “pegou” por causa de uma grande amiga minha que estudo com ela desde os tempos que me entendo por gente. No “prezinho”, na fase de alfabetização, tinham lá aqueles jogos com as letras, e ela ficou brincando de cortar certas letras dos nomes e fazer novos arranjos daí… daí que surgiu esse “ge”, ela começou a me chamar assim e o negócio pegou que tá até hoje! rs)

            Concordo contigo, especialização, diga-se de passagem, tem aos montes por aí. Mas não nesses moldes “práticos”. Aliás, acho que isso está longe de acontecer.

  • Outra coisa que me intriga, Sally: Você já reparou que as pessoas só enchem de elogios como “presentes de deus”, “anjos de luz” e outros clichês crianças com síndrome de down? Pois eu nunca – n u n c a – vi ninguém dizer o mesmo com crianças asmáticas, cardíacas, ou mesmo bilolares ou esquizofrênicas e outras doenças congênitas, hereditárias ou não! Nunca! Todos reconhecem que, por exemplo, esquizofrenia é uma doença séria e que tem que ter tratamento, nunca vejo esses “mimimi” bregas a respeito de crianças portadoras desta doença! Mas com síndrome de down as pessoas ficam com essa patifaria toda, já vi pais destes “anjos de luz” dizerem que os filhos são “normais e até acima da média”, uma “forcação de barra” que sinceramente me enoja, pois não é com palavreado bonitinho que se resolve um problema destes não! Síndrome de down, a depender da gravidade, tem que receber tratamento sério, e muitos destes tem que ser isolados dos demais, porque, ao contrário das criancinhas sorridentes, muitos portadores da síndrome podem sim se tornar um perigo real para os outros ao seu redor( como o tal Fernandinho que você contou). Isto só demonstra que a fuga da realidade só faz mal ao portador da síndrome e os outros à sua volta, porque não há em nada disto uma vontade real de resolver o problema, mas sim, de mascará-lo, de escondê-lo sob uma capa politicamente correta.

    • É convenção social que com certas doenças se feche os olhos. Muito incoerente, não entra na minha cabeça. Outro dia vi uma mamãe dizendo que sua filha Down não tinha uma deficiência. Olha, você pode amar muito seu filho, mas porra, ele tem limitações enormes. Fechar os olhos para isso ou achar que a criança ser afetuosa ou amável compensa a limitação intelectual é de uma burrice sem fim.

      • O que dá nos nervos é este tipo de burrice, Sally! E veja, as pessoas são tão mal informadas que se esquecem que síndrome de down não é só deficiência mental não, como o nome “síndrome” diz, é um CONJUNTO de sintomas, não apenas um só! Tem até alterações de comportamento, algumas bem graves, mas que o politicamente correto bonitinho mas medíocre esconde descaradamente e aí, quando uma desgraça maior acontece, todo mundo fica com cara de biscoito traquinas, como se fosse algo incomum. E ao me lembrar disto, me lembrei que nos comentários da história do tal Fernandinho você falou das histórias de horror que você recebia no seu e-mail, que tinha até estupro no meio – me lembro que na época em que li, fiquei horrorizada porque já sabia que o troço era pesado, mas não a este ponto!

        Pois é, está na hora de escrever a respeito do “lado negro” da síndrome e de down, para mostrar esta realidade(sugestão” )

        É preciso desmistificar a doença, tirá-la de vez desta capa politicamente correta para que uma solução para erradicá-lá seja encontrada e já!(sim, eu também creio que um dia este mal irá ser erradicado, pelo bem da humanidade!)

        • Nem me fale das alterações de comportamento que eu senti isso na pele por muito tempo com Fernandinho engatado no meu quadril!

  • Eu concordo plenamente com tudo o que o Sr. Dawkins afirmou. Hoje o maior motivo de eu não ter outro filho/filha é justamente o fantasma das deficiências. O Lucas já veio todo certinho, e quase morreu antes mesmo de nascer, já não preciso de outro.

  • Pois é…
    Quando a “coisa pega” a moral egoísta tem mesmo essa reação: livrar-se, extirpar, separar, fugir, vazar ! Na vida, na sociedade, nos casamentos…
    Repudio isso de 978 maneiras mas, pelo menos, vejo sinceridade nesse raciocínio de vcs. Muitos materialistas (no sentido filosófico, bem entendido), quando chegam a essas encruzilhadas morais “dão para trás” enchendo-se de eufemismos e explicações vagas.
    Vocês não. Muito bem.
    Vamos então ampliar: se o problema são essas “aberrações” (como disse alguém daqui), por que limitar-se aos portadores de síndrome de Down? Gente, o espectro de doenças, síndromes e males que incapacitam seres humanos é amplíssimo…
    Quem sabe um conceito mais amplo, do tipo: “bebês (fetos) imperfeitos, cuja autonomia ampla não poderá ser alcançada, deverão ser extirpados”?
    Vamos lá ! Pensem nisso. Maledizentes chamariam isso de “eugenia”, mas… E daí ? Vocês são o “top” do pensamento né ? Não precisam da aprovação de quem não concorde com vcs.(ops…)
    Que caiam as máscaras: quem tem valores fundamentados em seu próprio bem estar, deve mesmo sair do armário, tal qual esse biólogo falastrão.
    A questão da decrepitude senil fica para um outro estágio..Mais “avançado”, em que os conceitos “judaic0-cristãos-moralistas-pequenos-burgueses- ocidentais” já serão postos de lado.
    Vamos lá. Se assumam!
    Não se faz um bom e gostoso omelete sem que se quebrem algum ovinhos…
    Já há precedentes históricos, que só não vingaram por conta dessa moral carola, subdesenvolvida e burrinha, que nada tem a ver com gente como vocês…
    Que tal uma raça pura de gente perfeita e feliz?

    [será que publica um comentário assim?]

    • Publico sim, e teu comentário tá bem faixa branca. Não me espanta.

      Respondendo: o que eu defendi tanto no texto como nos comentários foi o direito dos pais de escolherem. Não acho que ninguém deva ser obrigado a abortar, mas também acho um horror que sejam obrigados abortar. O que Dawkins disse é que ELE ACHA IMORAL colocar no mundo uma criança assim. EU TAMBÉM ACHO IMORAL, mas eu não me acho dona da verdade, jamais obrigaria alguém a colocar ou deixar de colocar no mundo uma criança. EU não colocaria no mundo. Só.

  • “É uma escolha pessoal e cada um. Não acho que meus valores devam ser impostos a todos. Em contrapartida, não acho que os valores de terceiros devam ser impostos a mim. Quer ter um filho com Síndrome de Down? Vai fundo.”
    O que falta na sociedade é exatamente esse respeito pela escolha alheia. Nunca escutei alguém bradando por aí que gostaria e que preferia ter um filho deficiente, mas quando a criança nasce, começa o discurso de “sabia que eles são mais carinhosos que as crianças normais?”. É uma negação total, mas ninguém pode ir contra isso senão é crucificado!
    Provavelmente não abortaria se engravidasse e a criança tivesse algum problema, mas não crucifico quem o faz, assim como não crucifico alguém que aborta quando sabe que não vai ter condição de criar direito uma criança normal. Respeito a escolha e opinião alheia… uma pena isso não existir mais.

    • Nem as pessoas, nem o Estado respeitam, porque o Estado te OBRIGA a ter uma criança com severas deficiência criminalizando o aborto. Um horror, um atraso civilizatório viver em um país onde o Estado se mete assim em escolhas personalíssimas.

  • Quando eu vi essa notícia minha vontade foi de comprar um dos livros desse cientista e pedir um autógrafo. Sério, A-DO-REI que alguém tenha finalmente falado isso. Beijo, Richard Dawkins!
    O pessoal que acha um absurdo abortar essas aberrações da natureza devem ser os mesmos que quando veem um carneiro de 6 patas, por exemplo, querem sacrificar o bicho.
    Falando em faxina, eu não vi nada demais na semana A Esperança Perdeu. Como disseram aí que os “em direito” foram deletados, acho uma pena, deveriam simplesmente ter bloqueado os comentários. Aproveitem e bloqueem no texto da gravidez também. (ah, eu tenho que aprender a controlar essa minha curiosidade e não olhar mais aqueles comentários…)

    • Esse é outro texto que fatalmente pode acabar sendo sacrificado. Estou muito chateada em ter que ficar tirando textos, minha vontade é fechar o desfavor para poucos.

          • Não fechem, por favor. Não deletem os textos. Seria um retrocesso.

            Talvez vocês possam fechar os comentários. Vi uma pesquisa que diz que textos sem espaço para comentários geram menos polêmicas. A verdade é que poucos querem, de fato, ler. A maioria quer apenas ser lido. Querem apenas atenção. Se não tiverem voz, vão desistir de atormentar.

            Mas, se quiserem deixar os comentários abertos, os malas que vierem podem ser bloqueados. E não vão ficar por muito tempo além do tempo que durarem as polêmicas. Vocês estão protegidos. O blog está seguro e a identidade de vocês continua anônima.

            Não mudem por eles. Os incomodados é que se mudem. Logo eles vão cansar disso aqui.

            • Mas o que eu mais gosto aqui são os comentários. Não escreveria um texto se não tivesse essa troca, é a troca o que me motiva. Na hora em que eu quiser um monólogo, escrevo um livro!

  • “E reze para não morrer antes dela, se não você, egoísta, vai deixar sozinha no mundo uma pessoa que não sabe cuidar de si mesma. Ou pior, vai onerar gente que não fez essa sua escolha com isso. Criar “do jeito que der” mas com muito amor é ES-CRO-TO.”

    Esse é o argumento que mais pesa pra mim.

    Há outras patologias que precisariam de uma ação do governo de forma a impedir que os pais tenham filhos. Por economia (remédios de tratamento genético são carissimos) e tb por ser a única forma de não proliferar as sindromes genéticas. Mas a laicidade é colocada em cheque e até mesmo as pessoas se revoltam com essa possibilidade de não ter o filho.

    Excelente texto, e uma questão fica… “Até que ponto vc querer ter um filho é altruismo real ou egoismo?”

    • Se não puder prover as condições necessárias para o pleno desenvolvimento físico e intelectual da criança, eu acho egoísmo. E irresponsabilidade.

      • Acho que quando a pessoa quer ter um filho, ela devia não só levar em conta as possíveis doenças que seriam previsíveis enquanto o bebê ainda é um feto, mas as condições do local que ela vive. Eu já sou contra pessoas terem filhos a torto e direito (mesmo com condições emocionais e financeiras) pelo fato que a gente já tem 7 bilhões de pessoas no mundo. O que a gente precisa agora é de um controle de natalidade DE VERDADE em várias partes do mundo. Não sei se penalizar de alguma forma quem tem filhos resolve, mas não tenho idéia melhor.
        E mesmo levando em conta um escopo menor que o mundial, ainda é egoísmo querer sair fazendo filho em áreas densamente populadas. Exemplo (onde eu moro): São Paulo. Salvo engano, a cidade possui cerca de 14 milhões de habitantes; se levar em conta toda a região metropolitana, esse número sobe pra uns 20. Já tem regiões com falta de água e só tende a piorar, sem contar todo o resto (saúde, violência, transporte público, etc etc)…e ainda tem gente querendo botar MAIS gente aqui? Nessas horas é que eu desejo que role alguma praga ou catástrofe pra limpar uma parte da galera…

  • Uma vez dei aulas particulares para uma aluna que tinha uma irmã com Síndrome de Down. A família era muito rica, então tinham condições de contratar pessoas para cuidar dela 24h por dia. Uma vez, depois da aula, a mãe me convidou para ficar para jantar, daí fiquei fazendo companhia para essa irmã da minha aluna. Nunca tinha convivido com algum portador dessa síndrome. Começamos a jogar alguns jogos de tabuleiro, mas ela não conseguia montar um quebra-cabeças de 20 peças! Toda vez que queria ir ao banheiro, a cuidadora tinha que ir junto. Não conseguia entender muita coisa do que eu falava e vivia babando. Minha tristeza maior veio quando soube que ela tinha 25 anos (minha idade na época).

    Fiquei imaginando que não suportaria não poder levar meu filho ao teatro, museu, shows, cinema sem ele que consiga entender muita coisa. Muito menos indicar leituras interessantes ou discutir sobre política, ciências ou filosofia. Praticar um esporte ou tocar um instrumento deve ser difícil também. Aprender outros idiomas então, nem pensar!

    Sei que existe um caso de um portador que toca violino e fala 4 línguas. Mas sinto informar que é EXCEÇÃO. Um no meio de milhares! Tanto é que a notícia impressiona, pois é muito fora da realidade da maioria das pessoas (com ou sem síndrome).

    Enfim, gostaria sim de ter a OPÇÃO de não querer gerar um filho com Síndrome de Down. Não sou rica e provavelmente nunca serei. Posso relevar o fato de que meu filho não consiga aprender certas coisas, como cozinhar ou dirigir. Mas não consigo me imaginar indo no banheiro com meu filho depois de adulto. Trocar fralda de uma criança nos primeiros anos de vida já é um desfavor, mas limpar bunda de filho de 30 anos simplesmente NÃO DÁ.

    • Eu não acho condenável que pessoas tenham limitações. Eu também não quero ter que limpar a bunda de um filho adulto e não me sinto nem escrota nem egoísta por impor esse limite. Tem algo muito mal entendido e muito mal resolvido no brasileiro que acha que abnegação é lindo, glorioso. Que sofrimento dignifica. Talvez a mentalidade católica tenha influenciado.

      Não acho nobre nem bondoso ter um filho nessas condições, acho burro e cruel tanto com os pais quanto com a criança. Eu não teria e acho um absurdo me classificar ou me julgar por isso.

  • Adoro vir aqui por isso, sempre me fazem pensar em coisas que nunca passaram pela minha cabeça. Também não traria uma criança com Down para o mundo, na verdade, não traria criança com deficiência alguma, a decisão não é 100% minha, claro, mas tendo em vista que eu teria no mínimo 50% da responsabilidade a possibilidade estaria fora de cogitação.

    Não entendo porque tudo vira tabu nessa sociedade medíocre, é uma decisão óbvia, se é pra por no mundo um ser fadado ao sofrimento, ao preconceito, aos olhares maldosos, uma pessoa incapaz de se manter sozinha, eternamente dependente, melhor não por.

    Ainda me recuso a acreditar que o aborto não é legalizado no Brasil, uma pena o estado limitar a decisão individual desta forma, neste século. País que nasceu pra BM nunca agradará impopular.

    • Quem está na merda gosta de ter acompanhantes. Quem já tem filhos com Down, quem não teve a chance de escolher, parece sentir um recalque silencioso de quem pode se livrar dessa furada e atacar a pessoa que pretende fazê-lo. O resto da sociedade compra esse discurso porque querem parecer bonzinhos. Muitos dos que dizem condenar aborto de criança com Síndrome de Down o fariam de forma secreta. Hipócritas.

  • Apesar de ser daquelas pessoas que pensaria milhões de vezes antes de pensar em abortar, concordo plenamente com vocês! Eu sempre vejo pais de “anjos de luz” que ficam mostrando a Deus e o mundo que seus rebentos são “lindos”, “normais”, etc, o que é uma tremenda de uma hipocrisia! Dawkins foi tão somente sincero em seu posicionamento, bem como ele usou de uma racionalidade tremenda a respeito da situação! O que incomoda a vasta maioria das pessoas que têm filhos com a síndrome é justamente uma opinião que devasta e trucida com as ilusões e mistificações típicas de uma multidão de negadores habituais. Os textos de vocês ilustram muito bem o argumento central de Dawkins que, ao contrário do que os histéricos de plantão acham, é a respeito dos transtornos que esta síndrome causa aos portadores e suas famílias! Estas pessoas têm de admitir que síndrome de down é uma doença como qualquer outra neste mundo e pararem de mimimi! E se cientistas como Dawkins encontrarem a cura para a síndrome de down? Eles irão se opôr? Ou vão dizer “não, obrigada, meu filhinho anjo de luz já é normal e acima da média”? Ou irão dizer: “Ah tem a cura, mas vou ter o filho assim mesmo, porque é “bênção de Deus”?? Aliás, como assim, uma doença ser “benção de Deus”? Até Cristo admitiu que problemas acontecem no mundo e que doenças não são de Deus! Mas a turma que coloca Deus no meio de tudo não admite, não é!? Haja saco pra tanta hipocrisia viu… Haja!

    • É um mecanismo de defesa tão infantil pensar que uma criança com Síndrome de Down é um presente de Deus que chego a sentir pena de quem precisa disso para encarar essa realidade…

      • Também acho, Sally! Apesar de crer em Deus, dizer algo assim chega a ser uma escrotidão da porra com a criança(porque doença é sempre ruim, mesmo que o politicamente correto imbecil “proteja” esta e a coloque como “intocável”, numa valorização e mesmo glorificação estúpida de um problema mental) e com o Altíssimo(já que Deus não dá doença a ninguém, a própria doutrina da igreja deixa isso bem claro!). Fora que é muito grave que uma doença seja glorificada desta forma, pois acaba que não se procura uma solução pra ela(como Somir bem apontou no texto dele), já que seria “presente de deus’ uma criança nascer assim. Enfim, é muita incoerência junta!

        • A negação dos pais eu entendo, pois como já disse antes, eles estão presos em uma prisão sem grades que só acaba com a morte do filho. O que eu não entendo é que o resto da sociedade entre junto nessa negação.

          • Com certeza, Sally, concordo com você!

            E eu estava analisando por este lado também: Muitos pais ficam com esta negação porque apesar dos transtornos, muitos deles gostariam de um filho controlável, justamente porque são pessoas controladoras. Enquanto muitos pais gostariam que os filhos crescessem e tomassem o rumo de suas próprias vidas, existem outros que, ao contrário, querem controlar cada passo dos filhos. E é nisto que muitos se apóiam quando têm um filho com a síndrome: Um filho dependente e controlável, uma eterna criança, como você bem pontuou. Muitos não querem filhos com vontade própria, com desejos e pensamentos próprios, que um dia irão embora é cuidarão das próprias vidas como qualquer pessoa normal deste mundo, como eu e você, querem filhos marionetes, títeres e controláveis, filhos dependentes para que estes pais não fiquem sozinhos! Muitos não querem filhos no sentido do termo, querem animais de estimação humanos! Mas eu que diga isto em alguma destas redes sociais por aí, serei execrada e crucificada!

            • O filho que nunca vai abandoná-los… Lá no texto sobre lado negro da gravidez tá cheio de mulher falando que acham maravilhoso ter uma criatura dependente delas.

              • Eu acharia isso terrível! Não sei como tem gente que quer pessoas dependentes delas simplesmente para controlá-las! Prefiro filho que tome seu rumo quando chegar a idade pra isso!

                • Você é uma exceção. Eu vejo muita gente que trata filho como backup, para nunca ficar “sozinho”. Quão pau no cu uma pessoa tem que ser para precisar que outros seres humanos a cerquem em função de um vínculo de sangue?

              • E nem pra isso serve, li um artigo aqui que diz que são RAROS os portadores de síndrome de down passarem dos 40 anos – ou seja, “abandonam” os pais sim, só que morrendo. A grande maioria deles não passa sequer dos 30, como diz este trecho:

                “Aproximadamente 25% das gestações com trissomia 21 sobrevivem até o nascimento, sendo que a maioria das mortes intra-uterinas acontece no início da gravidez.

                Cerca de 25 a 30 % dos portadores de Síndrome de Down morrem com um ano de idade e 50 % antes de completarem cinco anos de idade. Cerca de 50 % atingem os 30 anos e 8 % dos pacientes sobrevivem além dos 40 anos de idade. Somente 2,6 % chegam aos 50 anos”.

                Link:

                http://www.fisioneuro.com.br/ver_pesquisa.php?id=3

                • E depois de tudo isto, ainda tem quem diga que portador da síndrome é “normal”. Pelamor, é muita cegueira! – pior ainda é querer que os outros partilhem desta cegueira e negação, haja paciência… Com tanto acesso à informação, infelizmente o mais fácil é não querer enxergar as verdades inconvenientes!

  • Achei interessante o ponto de vista do Somir quando ele coloca a Síndrome de Down como uma doença que poderia ser erradicada. Um problema recorrente da gestão em saúde pública é que a saúde da população está conectada com milhares de outros fatores sobre os quais não temos controle direto. Acho que se tivéssemos uma visão mais integrada dos problemas o país ia deixar de acumular as doenças de pobre com as doenças de país rico.
    Sobre as estratégias para erradicação de doenças genéticas, o maior mal é justamente o da generalização, especialmente numa era em que será possível sequenciar o genoma de todos os indivíduos. No futuro, será comum o médico pedir ou já ter na sua ficha médica o genoma completo (ou pelo menos os principais marcadores de predisposição à doenças). Mas há uma diferença gigantesca entre uma trissomia, um mal metabólico, câncer ou doenças neurodegenerativas, o que requer antes de mais nada entendimento profundo para que se tomem estratégias adequadas, o que inclui uma definição de cura ou tratamento possível. E isso muda com o tempo! O caso da síndrome de Down é tão extremo como o de doenças metabólicas que requerem acompanhamento nutricional a vida toda, a um custo altíssimo para a sociedade. Mas como no caso da síndrome de Down o tratamento não traz o paciente à normalidade, e a abordagem é bem mais complicada, fica difícil não defender sua prevenção. Mas qual seria a corte para dizer se um feto é aceitável ou não? Se formos pensar na incidência de outras doenças e no que os arautos da probabilidade fazem com marcadores genéticos, o futuro é bastante sombrio. Apesar dos meus receios quanto ao futuro desse debate, concordo com os argumentos do Dawkins em relação à síndrome de Down.
    É claro que para fica um sentimento contraditório, uma mistura de enfado – a impressão é de que vou ter 90 anos e a sociedade estará discutindo as mesmas coisas – e um pouco de esperança – de ver que o debate está sendo elevado alguns nanômetros pela iniciativa corajosa de poucos indivíduos. Mas honestamente, boa parte da sociedade não está preparada para discutir isso a fundo. E talvez nunca esteja. Muito provavelmente seremos atropelados pela tecnologia e por interesses econômicos. Como somos todos os dias.

  • Na atual conjuntura, é imoral TER FILHOS. Ponto. Com ou sem síndrome de Down ou qualquer outra deficiência. Inserir alguém na atual sociedade brasileira sem consentimento é uma baita sacanagem. Numa família pobre então nem se fala. Mas vai falar isso pra eles…

    • Eu concordo com você, no MEU conceito, se eu criar um filho com os valores que EU acho corretos, ele vai ser trucidado nessa sociedade de merda. Por isso não o tenho.

      • Concordo! É por isso que eu falo também: talvez possa ser egoísmo de minha parte, mas eu não gostaria de ter filho, dado que, criar e educar (ok que é uma tarefa linda, mas…) é um dispêndio danado em sentido amplo. Acho que tem que abrir mão de certas coisas da vida pra poder se dedicar aos filhos, e eu não pretendo abrir mão da minha vidinha assim tão cedo pra se dedicar a outro. Questão de prioridades…

  • Eu já tinha essa idêntica opinião décadas antes de conhecer Dawkins, ou seja, desde quando aprendi na escola sobre esses “probleminhas cromossômicos”.

    • Sim, eu também. E não por querer limpar a raça humana nem nada, mas por pensar no sofrimento que deve ser levar uma vida cheia de limitações, restrições e dependência. Eu preferiria não nascer.

  • Não sei porque tanta babaquice se o cara é biólogo e falou a coisa mais lógica do mundo, aliás eu acho que todos os médicos, biólogos e afins deveriam ser ateus. Não sei onde entra deus no funcionamento do universo que funciona sozinho. Perguntei isso pro meu médico e ele falou que não é cristão, mas crê em espíritos e não crê no deus atuante, crê em deus como energia. Já ouvi de uma amiga minha dizer deveria ser obrigatório, o próprio governo eliminar quem nasce com qualquer tipo de deficiência, pelo bem da própria pessoa que seria uma vítima. Minha mãe foi outra que se dizia católica não praticante, eu nasci ela já tava com mais de 40 anos, porque a pílula falhou e disse que morria de medo que pela idade avançada viesse filho com deficiência. Se viesse iria abortar.
    A minha vizinha tem uma filha com down, mas a família é grande e rica, sempre vai ter gente com condição de cuidar da garota. O que não pobre é classe mediana ou pobre jogar pessoa sem autonomia no mundo e ainda criticar quem fala a verdade. Mesma coisa o aborto, se nem a própria mãe quer, pra que deixar nascer um rejeitado pra sofrer na mão dos outros?

    • Não existe o direito a não querer, filho é tratado obrigatoriamente como bênção, presente divino. Não se consegue conceber uma pessoa que não queira ter um filho.

  • |OFF

    Sally, sumiu o post de lesão corporal? Estava procurando por ele (sempre tem coisa nova pra dar umas risadas) e não encontrei.

    • Sumimos com tudo relacionado à área jurídica na semana da faxina, estava atraindo BM que briga e depois vem aqui pedir conselho. Acabou essa poluição no Desfavor.

      • Olha que pelo visto funcionou. Achei que melhorou demais o nível por aqui. Nem vieram os xingadores de plantão, tô achando estranho… Ou vieram e vcs bloquearam?

            • Sim, foi necessário cortar na própria carne para que as Nem que batem na vizinha e os Manos que brigam no bar parassem de vir aqui. Talvez um dia possamos fazer um esquema fechado, onde poderemos postar tudo sem filtro e sem medo.

  • Eu tenho uma amiga que engravidou aos 35 anos, e a primeira coisa que ela fez foi o teste genético pra saber se a filha seria Down, pois abortaria se fosse. Ela tem parentes com a síndrome e não suportaria ter a única filha assim.

    Ela sempre falou abertamente sobre isso e foi a primeira pessoa que me fez pensar nisso de forma crítica. Respeito muito essa mulher!

    Não sei se eu teria coragem de tirar, mas 99% das pessoas escolheria ter um filho normal (não digo 100 por causa do casal de amigos da impopular que adotou uma criança com sd. Down)… É muita hipocrisia dizer o contrário!

  • Só não acho que o Desfavor Da Semana está cansativo porque ele reflete o comportamento cansativo da nossa sociedade. Estão sufocantes os censores da opinião alheia e seu chato politicamente; Quantos Desfavores Da Semana não foram sobre isso? Essa dinamica opinião “forte”+ Reação Desmedida? Foda, se você se cala eles vencem, se você luta contra se desgasta, ainda bem que tem o Desfavor onde podemos emitir opinião sem medo de sofrer com os inconvenientes.

  • Richard Dawkins é pra mim mais ou menos o que o Pilha é pra Sally. Muito bom! Dawkins é o Kanye West da ciência, tem um amor incondicional por si próprio, uma pose, uma ego que não cabe no planeta. Simplesmente não tem como não amar e pagar pau.

    Quanto a sua declaração, eu discordo com ele em partes. Sou a favor da legalização do aborto em qualquer situação, mas isso deve ser uma escolha da mulher e não imposição porque a “criança” foi diagnosticada com síndrome de down. Também voto em não ter e não teria, mas não vejo problema em outras pessoas optarem por ter a criança. Pessoas com síndrome de down podem levar uma vida relativamente normal e independente (não é uma Brastemp né, mas se viram qnd bem ensinados). Tem coisas infinitamente piores. Há quem defenda levar adiante uma gravidez de anencéfalo, por exemplo, isso sim eu acho idiota e inviável por motivos óbvios. Acho muito egoísmo ter uma escolha e colocar um filho no mundo com zero chances de ter uma vida plena e saudável só por ser emocionalmente ligada a ela. Amor não é só “a vida a qualquer preço”, também é fazer sacrifícios pela pessoa se for melhor pra ela.

    • Eu tenho um dom de ofender. Se ofender desse dinheiro, eu estava rica. Eu falo de uma forma meio rude, meio sem verniz que ofende pra cacete, mesmo sem dizer um palavrão. A pior ameaça que já recebi em cinco anos de Desfavor, onde a pessoa tentou de tudo e mais um pouco para me achar, foi uma mamãe de luz e tudo que eu disse para ela era que tinha pena da vida que ela levava porque era uma “prisão sem grades”. Tipo, foi uma única frase minha resposta, sem um palavrão. Aquilo fez a mulher surtar de um jeito que eu nunca vi. O “prisão sem grades” provocou um efeito tão devastador na pessoa que nunca mais usei o termo nesse contexto, não por medo, porque a criatura nunca me achou, mas porque não imaginava que fizesse tanto estrago. Em um mundo onde as pessoas se importam demais com a opinião dos outros (mesmo de desconhecidos sem face) eu tento peneirar leitor até mesmo para poupá-los da minha rudeza.

      Se um dia quiserem ofender alguém, é só me chamar. Aparentemente eu tenho um talento para isso, mesmo sem querer.

      Sobre Dawkins, tenho certeza que ele sabia o mimimi que isso ia provocar quando fez a declaração. Mas ele pode, ele está com a vida ganha.

      • Sally, quando eu disse chocada, não foi em sentido perjorativo. Quis dizer admirada, perplexa… entenda como um elogio mesmo, pela sua capacidade de ser DIRETA, sem rodeios, sem eufemismos. Isso é uma das coisas que mais gosto aqui, pois em outros locais, a pessoa aparenta “pisar em ovos” ao falar de assuntos polêmicos. Enquanto aqui, percebo que mesmo que doa, incomode, e me agrida no primeiro momento, no fim sempre leva a uma reflexão válida.

        • Olha, Jana, hoje em dia está virando obrigação social falar através de eufemismos. Quem não o faz está sendo enquadrado como mal educado ou escroto. Esse meu jeito direto é admirado por poucos, a maioria condena. Fico feliz que não te incomode.

          • Sally e Jana, aqui no Desfavor temos uma coisa incomum no mundo moderno: a liberdade de expressão. O poder de falar sem medos de incomodar. Isto faz deste canto da internet um verdadeiro oásis.

      • Querida Sally, desculpe-me pela pergunta meio fora do foco da postagem, mas o que essa “mamãe de luz” (argh!) fez de efetivo pra tentar ir atrás de ti? Fiquei curioso agora…

        Com relação ao assunto em si, concordo contigo. Eu mesmo penso que não teria bagagem psicológica suficiente pra cuidar de filho assim… foda que minha esposa não pensaria assim e isso seria, fatalmente, motivo de racha definitivo. O fato é que, conforme já disse várias vezes por aqui, BM é emotivo ao extremo (culpa da “latinidade” da etnia) e não separa sentimentos. Se eu fosse desse jeito, eu, católico, freqüentador de missa e “acreditador” de Deus (me recuso a usar as palavras “crente” ou “temente”!) jamais viria aqui ou, se viesse, seria só pra agir justamente como BM: alucinado de raiva, apaixonado (no sentido ruim da palavra) e vomitador de argumentos inconsistentes, incoerentes e malucos, facilmente desmontáveis. Basta ter a mente aberta a opiniões divergentes da sua. É tão fácil…

        Aliás, falando em argumento, achei ótimo isso que você disse sobre não ir até sites de “mamães de luz” meter o pau nelas. Então, por que é que elas vêm aqui? Dá nos nervos!

        Em tempo: a maldita rede Esgoto de TV vira e mexe bota propaganda institucional dizendo que “Síndrome de Down” não é doença. Então é o quê, caralho? Particularmente eu acho que muito da reação do BM a esse assunto na atualidade é devido a essa praga global, que, como sabemos, direciona a mentalidade do dito cujo a seu bel-prazer. Só gostaria de saber os motivos que a levam a isso…

        • Ficou me mandando e-mail sem parar, mandou denúncia ao Ministério Público (que riu da cara dela), mandou carta para advogados, juízes, programas de tv e… adivinha só? Não conseguiu nada. Sinal que todos eles devem concordar comigo.

  • Muita gente concorda que ele tá certo, mas guarda a opinião pra si, exatamente pra evitar histeria e bate boca. Acho bacana quem manda a real sem se preocupar com tiro porrada e bomba.

  • Esse fato me lembrou quando foi ao STF a interrupção da gravidez de fetos anencéfalos. Pessoas horrorizadas, bancada religiosa cuspindo argumentos sem sentindo e essa coisa toda.

    Tinha uma época na tv que uma ONG acho, fez um programa de “inclusão” de pessoas com a síndrome de down, jovens com as namoradas, felizes e enfiando na cabeça da população que eles levam uma vida “normal” e nunca estão tristes, estilo comercial de margarina. Mas será?

    Fernandinho mandou lembranças

  • A verdade é que ninguém quer um filho “defeituoso”, mas o medo de admitir publicamente ou fazer aborto é maior. Os procriadores querem crias sadias, com todos os órgãos e membros; quando o filho não é, apenas aprendem a aceitar. E depois viram reportagem como exemplo de superação, falam qualquer coisa envolvendo Deus e mi-mi-mi.
    Aposto bastante dinheiro que pais com filho(s) deficiente(s) veem crianças sadias correndo por aí e dão um suspiro.

    • E a mídia também não colabora muito a respeito da visão do aborto. Sempre colocam que é o pai que obriga a mulher a abortar, aí ela o faz e depois vai pra um canto solitário chorar as pitangas. Por favor, há sim mulheres que abortam e não se arrependem. Fazem e depois saem do consultório de boas.

      • Se recusam a enxergar que tem gente que aborta sem arrependimento. E mais facil julgar do que ver.que as pessoassao diferentes

    • Mas pode fazer um aborto sem falar nada! O problema é ser hipócrita. Conheço gente que fez aborto ou que a filha fez aborto escondido e em pública a pessoa condena com todas as forças!

  • Macacão Babacão

    Saindo um pouco do foco aqui, o que há de errado em ser egoista? Penso que como individuos, temos o direito de tomar nossas próprias decisões arcando com as consequências disso.
    Por meu turno, acho DOENTIA a postura desses pais que tentam retratar “exemplos de superação” e “anjos de luz” em seus filhos portadores da trissomia do 21.
    Se tivesse em minhas mãos escolher entre ter ou não um filho com down, eu optaria por NÃO ter. Mais vale a paz na consciência por não ter essa pesada responsabilidade do que a auto-aprovação alheia.

    • Será que é egoísmo ter ou não ter? Depende do ponto de vista. Eu acho egoísmo botar no mundo uma criatura que nunca vai conseguir ser independente só para não ter que lidar com consciência pesada.

      • Macacão Babacão

        O que quis colocar é que não há nada de errado em ser egoísta e por isso mesmo que desviei um pouco do foco da notícia em si pra tocar em um ponto específico da sua argumentação.

        Por meu turno, só vejo um problema no posicionamento do Dawkins, que é a falta de tato pra lidar com questões delicadas como essa. De qualquer forma, se fosse para mim escolher entre ter um filho com Down ou não, preferiria NÃO ter.

        Um filho já dá trabalho pra caramba. Um com Down ainda dá mais trabalho e acho que não teria ânimo pra tanto.

        Para terminar com chave de ouro, espero que você não mude de ideia quanto a NÃO ter filhos, dado que mulheres acima dos 35 anos tem mais probabilidade de gestar um Fernandinho do que mulheres abaixo dessa faixa etária.

        • Não é “já era” não, Macacão. Isso é muito, mas muito relativo mesmo. Claro que chega uma certa idade que gestação passa a ser realmente um risco para a mulher, mas em linhas gerais, os médicos já estão revendo este conceito(graças à capacidade da ciência em mudar suas concepções quando seus estudos apontam pra outra direção) justamente porque observou-se que em idades entre 35 e 45 anos, por exemplo, isto vai mais da saúde da mulher do que propriamente da idade – lembrando que a formação do filho depende de dois gametas não apenas de um, portanto a saúde do PAI da cria também conta! – e mesmo em gestações “tardias”, a maioria das crianças nasce saudável. Minha mãe me teve aos 34, vários amigos meus foram paridos por suas mães quando elas tinham 35, 39, 40, 45… Até mesmo com 50 anos! Esta história de mulher ter que parir até 35 soa mais como machismo disfarçado de ciência pra pressionar mulher a parir cedo por medo de “problemas” no filho se tiver mais tarde(vejam que este argumento começou a crescer na época na qual as mulheres passaram a ter filhos mais tarde por escolha delas) do que um argumento propriamente científico.

          Ah, e é importante lembrar que na época na qual as pessoas tinham muitos filhos, o ultimo deles, o caulina geralmente nascia quando os pais já tinham uma certa idade(mães pariam com 45, 50 anos ou mais!).

          Portanto, devagar com o andor que o santo é de barro! Ainda há esperança sim! O importante é o casal(tanto o homem quanto a mulher) serem saudáveis.

  • O Somir vai se irritar com este meu comentário, porque vou falar de sentimentos pessoais contraditórios e desprovidos de lógica e ele já escreveu, inúmeras vezes, que brasileiros médios dão importância demais para as suas opiniãozinhas, para o que gostam ou não gostam, para o que acontece nas suas pequeninas vidinhas e acham que o mundo gira em torno deles.
    Enfim, pode ser que hoje eu seja expulsa do Desfavor. Assumo as consequências. Até porque, o blog é de vocês e vocês expulsam quem vocês quiserem. Mas vamos lá: li os textos mais de uma vez. Sinto-me muito desconfortável. Não por discordar, mas por concordar.
    Sinto-me mal. De verdade.
    Sim, se é possível prever a deficiência (qualquer deficiência) é melhor não nascer. A vida já é dura o bastante para todos os que são considerados “normais”, imagina para aqueles que não são? Eles já chegam ao mundo em desvantagem e são mais vulneráveis. Serão mais facilmente devorados. Vão sofrer.
    “Evitar o sofrimento seria agir com humanidade.” – eu fico repetindo para mim mesma, na esperança inútil de me perdoar por pensar assim. Mas, como disse o Somir: “Problemas ignorados não são resolvidos.” O fato é que eu jamais escreveria isso com meu nome verdadeiro. Jamais diria isso. Sinto-me hipócrita. Sinto-me perdida, com medo de cruzar a linha e de me aproximar, perigosamente, da eugenia e do fascismo. Ao mesmo tempo, sinto-me boba por ser tão dramática. Leio o texto de vocês, tão claro e objetivo. Por que não sou assim?
    Tenho parentes com deficiência. Gosto deles, não sou a responsável por cuidar deles, nunca tive que lidar com o peso e a “felicidade” dos pais e irmãos que têm filhos ou irmãos “especiais”, mas todos dizem que eles são espíritos de luz, que vieram para trazer amor puro e incondicional para a família. Ocorre que eu já percebi, na fala dos meus parentes, a “frustração interna travestida de iluminação” de que o Somir falou e fiquei me sentindo muito mal, muito pequena, muito preconceituosa.
    Também tenho um casal de amigos que escolheu adotar uma menina com a síndrome de down. Eles não são ricos e não podem pagar para ela nada muito além do plano de saúde, mas dizem que ela é a melhor coisa que aconteceu na vida deles. Como eles ESCOLHERAM adotar, eu não teria porque duvidar disso, mas duvido. Acho que eles precisam dos confetes, dos “likes” e dos elogios que recebem por terem escolhido adotar uma criança com tantas limitações. Eu vejo a satisfação que eles ficam ao serem elogiados e admirados pela escolha e me sinto a pior pessoa do mundo: quem sou eu para julgar??????
    O que eu acho e tenho vergonha de achar é que, para essas pessoas com deficiência, inclusive meus parentes, seria melhor nem ter nascido.
    Sinto-me péssima por isso. No mundo real eu posso curtir as fotos, elogiar as crianças e me calar quanto às declarações do Dawkins. Posso, como fiz, dizer que ele é um ateu babaca sem sentimento. Posso e fiz.
    Mas o Desfavor me fez LEMBRAR. Por isso é que vocês são tão bons escritores. Vocês me obrigaram a encarar o que eu penso realmente. Vocês me forçaram a arrancar a máscara e o verniz social e a ter que encarar o que eu sou.

    Por isso eu odeio vocês.

    “Não tive filhos. Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” (Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis).

    • Jamais expulsaria alguém por pensar diferente ou se sentir de determinada forma. O pensamento e o sentimento são livres. O que a gente não tolera é falta de respeito.

      Eugenia ou fascismo seria obrigar o resto do mundo a pensar como você e abortar qualquer bebê “defeituoso”. O que a gente quer é que se possa ter a liberdade de escolha. É igualmente fascista obrigar a todas as pessoas do mundo a terem bebês “defeituosos”

      Também não acho que você deva se chicotear por não dizer abertamente o que pensa. Você acha que Somir ou eu chegamos em uma roda de trabalho, em um bar ou em uma festa e dizemos “Eu acho que Down não deveria nascer”? Jamais. Isso é luxo de quem já tem a vida ganha e não precisa mais de um networking, de trabalho, de contatos. Omitir esses pensamentos é questão de sobrevivência nesse lixo de sociedade politicamente correta. Hipócrita seria você apontar o dedo e trucidar uma mulher que fez um aborto…

      • Vendo esse desabafo, concordo com a questão da vaidade. Triste gente que quer se sentir excepcional optando por trazer um excepcional ao mundo. E ridículo gente com recursos optar por criar um down alheio só com esse propósito.

        De resto, adoro os ingleses. Dão suas opiniões na lata. Lembro de Glenn Hoddle, tecnico da Inglaterra, que, numa entrevista coletiva, disse que as crianças com deficiência vieram assim por causa do que fizeram em outras vidas.

        E também lembro que, em todos os anos em que morei no Japão, nunca vi uma criança Down na rua. Ou mesmo com a menor deficiência.. Aí falei disso com um vizinho, e ele falou que foi a melhor coisa terem legalizado o aborto, pois até então, as crianças com down (e as outras também) eram enviadas para instituições em ilhas longínquas, de onde nunca mais sairiam. Enfim, um país em que as pessoas não tem o menor problema em admitir que um filho nessas condições tornaria a vida ainda mais difícil e a consciência de não querer que esse filho sofra em um país que não dá sopa nenhuma para quem quer sobreviver nele, desde o bullying no colégio (que causa suicídios) até a vida dura no mercado de trabalho, que exige gente produtiva e fisicamente apta, disposta a trabalhar até morrer literalmente, para não ficar à margem de uma sociedade que te torna mendigo sem o menor dó se você não der conta do altíssimo custo de vida.

    • Pronto! Agora a Marina me botou pensativo também. Muito forte esse trecho em particular: “Acho que eles precisam dos confetes, dos ‘likes’ e dos elogios que recebem por terem escolhido adotar uma criança com tantas limitações. Eu vejo a satisfação que eles ficam ao serem elogiados e admirados pela escolha e me sinto a pior pessoa do mundo: quem sou eu para julgar??????”

      • Eu concordo com ela. São pessoas que querem se mostrar melhores do que as outras, superiores, querem a atenção e a simpatia de todos.

  • É muito fácil isolar uma frase “polêmica” e fazer sensacionalismo. Acontece que pouquissimas pessoas buscam estudar a noticia e analisa-la em seu contexto. A citação se torna, portanto, racional e embasada. Parabéns a ambos!

    • Mas olha, o brasileiro é tão radical e moralista que nem precisa tanto. Basta você se dizer favorável à opção do aborto que parece que as pessoas entendem que o aborto será obrigatório a todos. Eu só quero o direito de poder escolher!

  • Dois textos excelentes. O Dawkins é um herói e com toda a certeza, os populares pelo mundo afora só se mostram mais idiotizados cada dia mais. Como a Sally vive dizendo: o que a gente vê hoje vai se transformar logo logo em uma esfera Idiocracy.

    Como que pessoas (tendo filhos nascidos com Down ou não) podem ir julgar quem tem o livre direito desta escolha? Será que elas não enxergam o que de fato estão fazendo com os filhos e as pessoas ao redor – quem saiba essas ignorantes ainda mudem a mente de muita gente por ai – ? Este pré-Idiocracy me surpreende cada dia mais, hein.

    Concordo que não é tudo mundo (quase ninguém, na verdade) que quer cuidar de uma criança por 40 anos da sua vida, e os que “querem” que já são “os exemplares” com filhos “seres de luz” mal o fazem. E na maioria das vezes, quando fazem, fazem errado e de qualquer jeito por já estarem – enfezados, não é?- dos cuidados básicos repetitivos e a atenção que todos os dias esta criança deve ter. E isto são estes pais mais endinheirados, né? Num lugar onde a convivência é muito melhor… E eles impõem de qualquer forma seus pensamentos e escolhas, suas razões, para cima de outras pessoas também… É mesmo só uma forma de fazer mais pessoas passarem por esta mesma “jornada” deles, ou só por pagarem o “castigo” que é ter uma criança assim.
    Agora pensa só num lugar aqui como o Brasil, em cidades precárias por exemplo. Minha mãe é professora de escola especial (a única que é pública da cidade aqui) e ela vê todos os dias pais que não tem dinheiro nem pra colocarem comida na mesa, ficam fora trabalhando o dia todo, não podem pagar por nada nem pra dar uma vida básica para filhos normais… Vão conseguir fazer isto com os filhos com síndrome? Não, eles não conseguem de maneira alguma. A resposta é “só dar amor”? Se as vezes a única coisa que a criança come o dia todo é o lanche da escola, por favor, “pais com seres de luz” que pensam desta maneira, vão se ferrar.

    Bem, foi só um desabafo rápido. Apesar de eu ter muita mais coisa pra citar e expor o quão cruel é isto tudo, mas deixa por assim mesmo. Espero ainda ir para o Suriname com todos vocês, assim quem saiba a gente coloque uma cúpula nas extremidades para nunca mais ver uma baboseira naipe Idiocracy que os populares adoram fazer.

    • Eu não colocaria no mundo uma pessoa que vai depender de mim o resto da vida, sendo que provavelmente minha vida vai ser mais curta do que a dela. Eu acho isso cruel demais. Eu ficaria angustiada cada dia da minha existência pensando no que seria do meu filho se eu morresse. Mas as pessoas pintam como egoísmo, maldade. Muito pelo contrário, é o amor imenso e infinito que me faria sofrer cada dia temendo pelo meu filho sozinho nesse mundo. Desculpa, eu não passo por isso! Esses exemplos que você citou só reforçam minha convicção.

      Mas BM acha que sempre se “dá um jeito” para tudo, e para eles qualquer jeitinho está ótimo. Eu não sei tocar a vida no jeitinho. Para mim jeitinho não serve. Ou faz a porra bem feita ou não faz.

  • Direito de escolha deve ser respeitado. Eu acredito em certas coisas que me fariam pensar 100x antes de abortar qualquer feto, bebê e etc. Mas entendo sua opinião e a respeito, pq o que eu acredito não é o que todos acreditam e nem quero isso! Vai que um dia eu mudo de opinião?

    A maioria pessoas não estão preparadas pra 2 coisas na vida: a verdade nua e crua e a opinião das outras. Isso acaba gerando esse amontoado de gente sem oq fazer com um TABRET na mão que não sabe respeitar as escolhas alheias.
    Eu poderia contar o que já li e vi acontecer com pessoas que abortaram e o porquê isso não me faz querer cometer tal ato e se a pessoa quiser acreditar ou não são outros 500… Não vou e nem tenho saco pra ficar infernizando e julgando quem não pensa igual. Penso que esse é o melhor motivo para eu acompanhá-los ao longo dos anos. Se eu disser aqui que apesar de amar meu vo demais, mas às vezes prefiro que ele se vá por ele ter uma doença degenerativa e estar cada pior de um jeito que eu nunca o quis ver, não vão me jogar ao limbo. Já na “real life” soltei uma dessas e fui chamada de egoísta, ruim, sem paciência…

    • Erra da mesma forma, porém no sentido contrário, quem quer impor a obrigação de se ter um bebê com Síndrome de Down. Como essas pessoas se sentiriam se vivessem em uma sociedade onde a obrigação fosse ABORTAR um filho com Down? Muito mal, né? É assim que a gente se sente vivendo em uma sociedade que te impõe a obrigação de ter um bebê Down.

      Não cabe ao Estado, nem à religião nem a ninguém além dos pais tomar essa decisão. Tenha quem quer, não tenha quem não quer. Não entendo porque uma decisão de caráter tão pessoal irrita tanto a terceiros.

    • “A maioria pessoas não estão preparadas pra 2 coisas na vida: a verdade nua e crua e a opinião das outras” Adorei, bel.

      • Woj, se vc for ser você mesmo e falar tudo oq quer na vida, a sociedade vai de massacrar. Li um livro que chama Sincero que fala sobre isso. Depois vê se te interessa, o autor fez um experimento social bem legal.

  • Eu sou a favor também da ortotanásia. Provavelmente todo mundo aqui na RID é. Deixar um paciente oncológico terminal sofrer até os 45 do segundo tempo e ainda provocar uma prorrogação me soa mais como crueldade e negação da morte do que qualquer outra coisa.

    Hoje em dia, é isso que o Somir falou: a estratégia é a coletivização da negação. Vamos todos fingir que não vemos, aí o tigre desaparece! É “a roupa nova do rei” reeditada.

  • Ai ai… é sempre o mesmo problema: gente que acha que determinada opinião e/ou ponto de vista é o mais correto de todos e não aceita opinião contrária à sua. Junte a falta de amor próprio e temos mimimis baratos por aí. Fico me perguntando: onde foi que erramos, ein? Quer dizer, em tempos remotos de diálogos socráticos (em que se “supostamente” propunha uma igualdade entre os diálogos), será que era assim também? Menos pior? Onde foi parar o mínimo de bom senso em relação ao respeito às opiniões divergentes dos outros, ein?

  • Quem ficou responsável pelo tageamento dos textos do Desfavor? Seria interessante termos tags nos textos anteriores que desenvolvem a opinião de vocês favorável ao aborto (Em que situações, tempo de gestação, fatores de situação econômica) e “contrários” a Síndrome de Down.

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