Um mago sem destino. (10)

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Desfavor Convidado: Um mago sem destino

Capítulo 4 – Cafa Samaghi Parte 3
FINAL DE TEMPORADA

Com os ânimos acalmados, o velho MacFadden disse apontando para Raul:

_Bem, antes de mais nada, precisamos trazer alguma roupa para este rapaz.

_É mesmo, tinha até esquecido que eu estava nu. – respondeu Raul, cobrindo com as mãos suas partes íntimas.

_Rapaz, já estamos acostumados. Todos nós chegamos pelados nesse mundo, não é mesmo? – confortou Chester, trazendo ceroulas, uma camisa e suspensórios que cheiravam a naftalina.

_Está parecendo um velho. – comentou Paulo, após Raul se vestir.

_Ei, estas roupas são minhas! – reclamou Somir.

_Somir, não vamos começar. – advertiu MacFadden, que depois se voltou para Paulo. _Você veio vestido, interessante.

_Vim por outro caminho, não precisei passar pelos lagos e nem pela escadaria maluca. Vocês podem não se lembrar, mas eu já estive aqui antes. – respondeu Paulo.

_Entendo. Bem, vamos fazer um circulo e tudo será explicado.

Os cinco homens se fecharam em um circulo ao centro do salão e MacFadden iniciou a explicação:

_Nosso Universo é dividido em diversas realidades, como vocês mesmos já puderam comprovar. Porém, todas essas realidades possuem um ponto em comum que chamamos de Realidade 0.

_Essa realidade se chama assim por influenciar e sofrer influências de todas as outras realidades. Realidades acima de 0 chamamos de positivas, realidades abaixo chamamos de negativas. – continuou Chester.

_Na Realidade 0, as realidades positivas são consideradas como eventos paranormais, enquanto que realidades negativas são chamadas de pesamento criativo. – emendou Somir.

MACFADDEN: Realidades negativas e positivas acabam interagindo de vez em quando, mas todas obrigatoriamente passam pela Realidade 0, por isso, pode-se considerar essa realidade como a mais “real” possível.

CHESTER: A influência da Realidade 0 é tanta que as realidade positivas acabaram se adaptando a ela, sendo assim, o que a Realidade 0 considera como sobrenatural nada mais é do que as realidades positivas entrando em contato com ela.

SOMIR: Fantasmas, demônios, alienígenas e até mesmo deuses fazem parte de realidades positivas e vão se modificando conforme a evolução da Realidade 0. Atualmente, a realidade positiva mais vibrante está em Javé, o Deus mais sem graça que a Realidade 0 já gerou.

MACFADDEN: Em compensação, as realidades negativas são lapsos criativos gerados na Realidade 0 e que acabam se tornando universos imaginários.

CHESTER: Na Realidade 0 esses Universos precisam ser representados de alguma maneira para ganharem força, normalmente são livros, filmes, músicas, teatros, jogos, história em quadrinhos, etc.

SOMIR: São sempre criados por um autor que acabam ganhando adeptos, que acabam criando teorias, cultos e todo tipo de análise maluca em cima daquela criação. E então BIG BANG! Temos mais uma realidade para nos aporrinhar.

Os velhos ficaram em silêncio olhando para Raul, que perguntou:

_Onde entra o Buraco Negro nisso tudo?

_Achei que nunca fosse perguntar. – respondeu MacFadden. _ O Buraco Negro é uma analogia para a destruição dos universos negativos e positivos.

_Os magos da Realidade 0 descobriram que podiam destruir as outras realidades, principalmente as negativas. – disse Chester.

_Para isso, basta colocarem um fim à realidade. Porém, nem sempre as pessoas aceitam o fim daquela realidade e criam apócrifos para continuar sua história. – continuou Somir.

_Gerando assim um fluxo de energia que apelidamos de Buraco Negro, ou seja, um evento de sucção imaginária que destrói um universo apenas para recriá-lo em outro lugar. – completou MacFadden. _Se bem que na Realidade 0 nem sempre isso é bem visto e acaba gerando processos por causa de plágio.

Os velhos ficaram em silêncio novamente, aguardando:

_Em qual Universo estamos? – perguntou Raul.

_Com certeza não é a 0. – respondeu Somir, rindo.

_Então eu vou morrer? – perguntou Raul, desolado.

_Todos nós vamos morrer um dia, rapaz. – disse Somir, ainda rindo.

_Somir, não seja insensível. – repreendeu Chester.

Os velhos se calaram e o círculo se desfez, cada um indo para um canto do salão. Apenas Raul continuou parado no mesmo lugar e foi amparado por Paulo:

_Cara, não fique assim. Eu te falei que você ia morrer e você descobriu que nós magos somos filhos da tragédia, mas isso não significa nada. Pode ser que essa história dure ainda por muitos anos, tudo depende de nosso autor…

_Você não entende, eu não posso morrer. Não antes de rever minha irmã e me vingar de Mister Crowley por ter fodido com minha cabeça.

Do outro lado do salão, Somir arregalou os olhos:

_Você disse vingança? Eu adoro uma vingança e posso te ajudar.

_Somir, não. – disse Chester.

_Fique quieto, velho babão, pois agora eu quero ver essa história se estender, assim como você fez com o hacker. Todos nós sabemos que a história dele era pra ter parado no primeiro filme, mas não, você nos influenciou para mais duas continuações de merda.

_Por isso mesmo, naquela história aprendi que tudo que tem um começo, precisa ter um fim. Você também deveria ter aprendido, já que o final da ilha maluca foi culpa sua.

_Não coloque a ilha nessa discussão, eu era jovem e inconsequente quando coloquei aquela história em prática.

_Inconsequência é mostrar todos mortos no final e deixar um monte de perguntas sem respostas.

_Coisa que você também fez na história do hacker.

_Isso não vez ao caso…

Velho MacFadden se aproximou de Paulo e Raul, dizendo:

_Segurem as minhas mãos.

Raul segurou uma mão, Paulo segurou a outra e em questão de segundos os três sumiram.

_Ei, eles nos deixaram aqui. – disse Chester, surpreso.

_A culpa é sua. – respondeu Somir.

Enquanto Chester e Somir continuavam discutindo, Raul, Paulo e MacFadden se materializavam em algum lugar do Universo. Faltavam palavras na cabeça de Raul para descrever o que via, já que diversas miniaturas de galáxias giravam ao redor de um pequeno ponto luminoso:

_Cafa Samaghi. – disse o velho MacFadden.

_Como? – perguntou Raul.

_Essa é a palavra que está procurando: Cafa Samaghi.

_ E o que significa?

_Na verdade é um erro de tradução para Savikalpa samādhi e significa que você vê coisas conforme seus olhos, enquanto experimenta emocionalmente e visceralmente, como um êxtase um senso total de união e unicidade. É também o último estágio da Ioga.

Raul olhou para aqueles bilhares de planetinhas e se sentiu como um Deus, imaginando cada sonho, cada decepção, cada milagre e cada desgraça que estariam ocorrendo em cada um deles.

_Se vocês querem derrotar Mister Crowley nesta realidade, terão que se fortalecer e há apenas uma maneira de se conseguir isso: indo para realidades mais negativas do que esta.

_E o que devemos fazer então? – perguntou Raul.

_Em cada uma dessas realidade vocês vão viver a saga do herói e irão conquistar armas mágicas para vencer seus inimigos.

_Armas mágicas?

_Sim, são cinco no total. O Pantáculo é um objeto de valor que pode ser qualquer coisa de valor, como uma moeda ou um anel. O Bastão, que pode ser uma bengala ou uma varinha. A taça, que pode ser uma vasilha, um copo ou qualquer recipiente em que se possa beber. Uma adaga, que pode ser também uma espada ou um sabre. E finalmente o grimório, que pode ser um manual, um diário ou um guia utilizado pelo mago. Com essas armas em mãos, vocês terão poder suficiente para vencer Msiter Crowley, mesmo que ele esteja em seu terreno de poder.

Raul continuou olhando par as galáxias e perguntou:

_Mas isso salvaria a nossa realidade da aniquilação total?

_Nenhuma realidade negativa sobrevive por muito tempo, já que a maioria acaba sendo esquecida pelo tempo. Mesmo que sua realidade sobreviva, em pouco tempo ela sofreria influências de pessoas na Realidade 0. Isso, inclusive, já aconteceu na realidade de vocês.

_Como? – perguntou Paulo.

_Algumas pessoas de sua realidade são, na verdade, cópias de pessoas que existem na Realidade 0. Inclusive você Raul, que na Realidade 0 era um roqueiro famoso, ou você Paulo, que era o melhor amigo dele naquela realidade.

Raul soltou a mão de MacFadden e caiu com um baque no chão do salão em que estavam Chester e Somir.

_E então rapaz, caiu na “real”? – perguntou Somir.

Raul se levantou esfregando a parte dolorida no cóccix e respondeu:

_Sim e vou aceitar o desafio.

Com aterrissagem bem mais tranquila, MacFadden e Paulo se materializaram na sala.

_É assim que se fala, rapaz. – disse Somir, jogando um objeto para Raul. Era um livro, mas estava em branco. _Se quiser ir junto, sugiro que também segure o livro. – falou, indicando Paulo com a cabeça.

Assim que Paulo segurou o livro, os três velhos se colocaram ao redor dos dois, formando um triângulo imaginário.

_Assim que conseguirem a arma e destruírem o mal desta realidade negativa, vocês irão voltar para este salão e prosseguirão para a próxima realidade, entendido? – perguntou MacFadden.

_Sim. – responderam juntos os dois jovens que seguravam o livro.

Então os três velhos começaram a crescer, a ficarem gigantes e seus olhos brilhavam. O ambiente foi tomado pela luz e voltou ao normal, mas Paulo e Raul já não estavam mais ali.

_Deu certo. – disse Chester.

_Claro que deu certo, sempre dá certo. – respondeu Somir. _Só espero que eles não caiam na versão filme desta obra, já que o ator principal mais parece um bebê chorão.

Enquanto isso…

Quando Raul acordou, ele se sentia estranho, como se fosse outra pessoa. Olhou ao redor e percebeu que estava no meio de uma floresta, rodeado por pessoas que não conhecia. Uma dessas pessoas se aproximou e disse:

_Ainda bem que acordou, eu estava me sentindo meio perdido aqui.

_Paulo? – perguntou Raul, ainda desnorteado.

_Eu mesmo, mas aqui eles me chamam por outro nome. Além disso, não entendo uma palavra do que eles dizem, mas tenho certeza que tudo está relacionado a um anel ou algo que o valha.

Os outros homens perceberam que ele havia acordado e se aproximaram. O mais velho deles, um homem vestido com farrapos cinza e andando com o apoio de uma bengala, se adiantou dizendo:

_Agora que vocês estão aqui, não terá mais volta. Vocês virão comigo até reencontrarmos o portador do anel.

Outro homem, tão velho quanto o primeiro, mas de aspecto bem mais jovem, perguntou:

_Gandalf, tem certeza que são eles?

_Tenho sim Elrond, esses dois vieram de um lugar muito distante e vão nos ajudar contra as ameaças malignas que enfrentamos aqui.

_Se você diz, nós apoiamos. Não queremos cometer mais erros, então vamos colocar esses dois hobbits sob nosso cuidado.

Então Elrond fez uma reverência para Raul e depois colocou-o em um pequeno cavalo, depois fez o mesmo com Paulo. Foi quando Raul percebeu que era menor do que costumava ser e quase teve um surto ao ver que seu pé estava peludo.

_Paulo, o que aconteceu com a gente? Aonde nós estamos? Que anel é esse? E que diabos são hobbits?

Fim da 1ª Temporada

Chester Chenson

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