Hoje temos um tema bacana que vai te deixar pensando só em coisas boas. Sally e Somir decidem como querem deixar esta existência. Os impopulares contemplam a própria finitude.

Tema de hoje: Qual seria a melhor forma de morrer?

SOMIR

Numa grande explosão dentro de um foguete, em pleno espaço sideral! Embora eu desconfie que nosso público não seja tão besta a ponto de não entender que seja uma alegoria, seguro morreu de velho: concordar comigo hoje não significa concordar com a situação exata descrita, mas com o conceito que a define.

Já que vai morrer, que se morra numa aposta altíssima. Dado o poder de escolha total, evidente que eu escolheria não morrer. Mas a morte é condição inescapável não só do tema como também da nossa vida. Morrer é certeza, mas o resto ainda está em jogo.

Se te facilita imaginar o que estou dizendo, um outro exemplo bacana seria já bem velho, fazendo sexo com uma mulher com algumas décadas a menos de vida. Escolho a explosão ao invés do suspiro, por assim dizer. Gostaria de deixar claro que não acho minimamente aceitável arriscar outras pessoas nisso: não estou procurando minhas 72 virgens.

Não estou dizendo que não entendo o apelo de uma morte pacífica, numa cama confortável, próximo de pessoas queridas… Claro, é um cenário que traz algum alento e que inclusivo desejo para outras pessoas. Que todos os impopulares morram com todo o conforto que desejarem. Agora, eu? Paz é bacana e tudo mais, mas paz foi uma coisa que eu já fiz. E nem tenho tanta dificuldade de replicar se quiser.

Morrer como se estivesse indo dormir é basicamente como… dormir. Ganha de goleada de uma morte por assassinato, mas não tem o monopólio de melhor jeito de partir dessa para uma melhor. Imagine se sua última ação nessa vida fosse realizar um grande sonho (perigoso)? Mesmo que o resultado seja uma grande bola de fogo, sonhos costumam ser mais divertidos na parte de tentar no que propriamente de conseguir.

Quando você chega lá, normalmente bate uma sensação estranha de realinhamento de propósitos. Conseguiu essa, a mente já quer traçar o plano da próxima. Por exemplo: é muito bom finalmente conseguir conquistar aquela mulher que não te dava bola, mas há uma graça no momento onde você percebe que finalmente virou o jogo ao seu favor, momento que nunca mais se repete. A vitória é linda, mas perceber que vai ganhar é sublime!

Não estou maluco, tem um propósito nisso: acho que nunca escondi aqui que deixaria tudo para trás por uma chance de sair da Terra. Não (só) por problemas com a vizinhança, mas também porque acho fascinante a ideia de estar fora do planeta e explorar o espaço. Quando eu digo que escolheria morrer num foguete explodindo fora da órbita terrestre, estou dizendo que já que NÃO existe a opção de continuar vivo, que eu vá embora com aquela sensação inigualável de percepção de vitória. De estar fazendo algo grandioso, ainda com a expectativa de colher os frutos.

Sim, estou trocando uma morte indolor por uma catastrófica explosão seguida de ‘enterro’ no gélido vácuo espacial, mas… essa coisa de toda de sofrer antes de morrer é feita mais dramática do que realmente é. O terrível é sofrer em vida. Jamais aceitaria uma morte oriunda de horas de tortura, mas ir com um impacto forte e uma dor violenta durando frações de segundo? Se tem uma coisa boa na morte, é que o sofrimento acaba.

Claro que não fujo da convenção social de consolar outros com a noção que o recém-falecido não deve ter sofrido, mas… no quadro geral das coisas o fato de ter morrido ainda é o mais importante. Mesmo que haja um sofrimento nos momentos anteriores, essa não foi o maior dos problemas. A pessoa morreu, oras! E até por isso, mesmo que tenha sofrido, já passou.

O corpo humano tem suas defesas e fraquezas nessa hora. E como morrer é a única opção aqui, todas elas jogam ao seu favor: desde o disparo de substâncias químicas como a adrenalina até mesmo perda de consciência em situações extremas. Se houver tempo para sofrer alguma coisa com as condições que defino no meu exemplo, também não vai ser um terror por tanto tempo assim.

Dor e medo fazem parte de nossa vida desde o começo. Evidente que tentamos evitar ambos, mas não é como se morrer numa situação ‘explosiva’ fosse criar um fato absolutamente novo para a condição humana. Sem contar que com uma morte na sequência, o remédio mais infalível para ambas as coisas será administrado!

E sim, eu entendo que para quem fica e gosta da gente é muito mais agonizante lidar com algo tão violento e abrupto, mas… há de se entender aqui que a morte é o grande equalizador. Com tudo contabilizado, é o fato de morrer que mais dói em quem te queria por perto. Pode haver um pequeno conforto em saber que a pessoa morreu em paz, mas você se sentiria melhor por alguém que morreu fazendo o que gostava ou por alguém que morreu só porque seu corpo parou?

Pense nisso. Pense na notícia da minha morte, contada pela Sally, por exemplo: se ela dissesse que eu morri num quarto, vitimado por uma doença incurável, não teria muita graça nem para quem não ia com a minha cara. Agora… imagine ela narrando como eu explodi com um foguete após escapar da órbita terrestre. Provavelmente tirando minhas frases fora de contexto e me atribuindo pérolas como “é impossível isso dar errado!”.

Até para quem fica essa forma de morte gera uma memória mais agradável. Eu sei que ninguém gosta de sofrer, mas o que eu proponho aqui é uma troca valiosa de grandes momentos gloriosos por curtos de pânico e dor. Morrer todo mundo vai.

Mas o ‘vai’ pode ser melhor.

Para dizer que não gosta de foguetes, para dizer que entre morte no foguete e morte na cama prefere a cama, ou mesmo para dizer que se eu não tivesse dito que tinha que ser no foguete você até concordaria comigo: somir@desfavor.com

SALLY

Normalmente este é um tema que eu descartaria no nosso controle de qualidade. Quando mandei a sugestão de temas do mês para o Somir (“qual seria a melhor forma de morrer?”) e ele respondeu que divergia de mim dizendo que a melhor forma de morrer seria “explodindo em um foguete no espaço”, pensei: leitor não é obrigado a ser exposto à insanidade do Somir.

Mas, no final das contas, só por curiosidade, resolvemos levar o tema adiante. Confesso que não tenho a menor ideia do que ele vai argumentar, mas seja lá qual for o argumento maluco/nerd/insano, não afeta meu ponto de vista.

Minha proposta, bem mais humilde e pacata, é morrer dormindo. Se eu pudesse escolher uma morte para mim ou para as pessoas que eu amo, seria a morte durante o sono. Como eu nunca morri (ao menos não que me lembre), tudo que vou falar é mera especulação, mas a morte no sono me parece algo mais tranquilo, indolor e imperceptível.

Eu nunca morri, mas eu quase morri. Quem já vivenciou uma EQM (Experiência de Quase Morte) vai entender meu argumento: você sabe que você vai morrer, você sente que está morrendo. É bem difícil de explicar, mas o corpo vai se desligando aos poucos, você vai perdendo a consciência de uma forma estranha e progressiva, em estágios e do nada sente uma imensa sensação de bem estar. Sua vida passa diante dos seus olhos como um filme e as luzes vão se apagando.

Sim, creio eu que morrer seja agradável, uma série de substâncias são liberadas pelo organismo e geram bem estar. Bom para quem está em agonia, mas desesperador para quem não quer morrer. E quase ninguém quer morrer. Lembro de não entender bem o que estava acontecendo até que do nada em um último rompante de consciência pensei “puta que pariu, estou morrendo”. Você SABE que está morrendo. E o desespero que isso te dá é bem desagradável se você não quiser morrer, porque quando a hora chega, não tem como lutar contra a morte.

Tudo isso para chegar a meu argumento principal: acredito eu que em uma morte durante o sono não se passe por isso. Você está dormindo, supõe-se que não vai tomar consciência da sua morte. Logo, se poupa desse desespero, dessa sensação terrível de ver sua vida se esvair, de sentir você mesmo deixar de existir.

Talvez em uma sociedade mais bem resolvida, que lide com a morte com mais naturalidade, essa “passagem” (que para mim é só de ida) seja encarada com mais serenidade. A pessoa sabe que vai morrer, que está morrendo e aceita com tranquilidade o fim da sua jornada. Mas nós ocidentais somos arrogantes demais para isso. Como assim um mundo sem mim? Como assim eu vou deixar de existir? Não! Não pode! Isso vai ser terrível!

Por mais que pessoas esclarecidas tentem rever essa forma babaca de encarar a morte, isso está incrustrado. Somos criados para ver a morte como tragédia, como injustiça, como sofrimento desde pequenos. Tememos a morte. Difícil ter paz e tranquilidade quando algo que você temeu a vida toda se apresenta gradativamente e de forma progressiva na sua frente. Por isso, talvez, a melhor forma seja nem ter a consciência de que ela se aproxima. Morrer dormindo é como levar um chifre e nunca descobrir.

Qualquer outra morte, especialmente aquelas em decorrência de acidentes violentos como a proposta pelo Somir, apresentam um sério risco, nem que seja alguns segundos, de dor e medo. Desculpa, prefiro não ver, não saber. Morrer explodindo? Tô fora, guarda isso para religioso fundamentalista. Eu quero uma morte serena, indolor e, se possível, imperceptível.

Não quero nem saber as consequências da minha morte, eu não vou estar mais aqui para ver. Não faço questão de uma morte heroica nem memorável. Eu quero é que o momento seja o mais tranquilo possível para mim, afinal, isso também conforta os entes queridos que ficam. E certamente uma explosão deve ser tudo menos tranquila. Imagina a angústia, para quem fica, de saber que a pessoa amada explodiu!

O que você prefere, que tirem sua carteira da sua bolsa na rua sem que você perceba (furto) ou que te assaltem de forma violenta e você tome consciência que seus pertences estão sendo roubados? Bem, acredito que quando não há nada que possamos fazer para mudar a realidade (e quem acha que pode lutar contra a morte e ganhar, é um arrogante), é melhor nem saber.

Morrer dormindo é morrer sem ter que vivenciar a morte. É simplesmente ir dormir e não acordar mais. Para quem passa pela experiência, não deve ser morte e sim um “sono eterno”. Eu me sentiria mais reconfortada se as pessoas que eu amo morressem sem ter essa vivência de perceber a própria morte, pois me parece menos assustador, ou menos desesperador, no caso da pessoa não se conformar e não querer morrer.

Acho que posso dizer hoje que não tenho mais medo da morte, pois já sei mais ou menos do que se trata. Também não tenho medo do que venha depois, porque não acredito que venha nada depois. Então, nem é uma questão de morrer dormindo por ter medo de morrer e sim de não precisar lidar com os segundos de desespero de uma imposição da mãe natureza contra a minha vontade. Já me basta ter aturado a vida toda a bizarrice que é a vontade de cagar, chega de sujeição à vontade da natureza.

Mesmo que você não tenha medo de morrer, vai por mim, deve ser mais tranquilo quando o processo se dá durante o sono e nem é percebido. O desconhecido é de alguma forma desconfortável ou assustador mesmo para os mais bem resolvidos. Melhor encerrar sua vida de forma serena, no sono, de preferência sonhando com alguma coisa boa.

Para dizer que eu deveria mesmo ter vetado esse tema de hoje, para dizer que gostaria de morrer fazendo sexo ou ainda para dizer que gostaria de morrer a bordo de um avião que caísse sobre o Palácio da Alvorada: sally@desfavor.com

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Comments (38)

  • Morrer dentro dum foguete em explosão seria ótimo para quem tem o sonho igual ao do Somir. Morrer dormindo é uma idéia interessante para a maioria, mas eu prefiro morrer fazendo algo que gosto muito, morrer feliz, já que será meu último dia.

      • Só vai bater o arrependimento quando a pessoa não estiver decidida. Eu sempre digo que quando eu estiver velha e feia eu me mato. E se alguém me matar estará me fazendo um favor.

  • Morrer rápido e de preferência dormindo, baseada na experiência que tive com parentes que tiveram AVC e ficaram anos presos a uma cama, perdendo todos os movimentos, até não conseguir mais falar, se mover ou sequer esboçar uma reação que indique se aquela pessoa que você ama está lúcida, entendendo o que se passa, sofrendo, etc.

    Um dos meus maiores medos é a agonia da possibilidade de ficar presa em meu corpo e consciente do fato. Uma morte rápida me pouparia desse sofrimento. Dormindo, então, melhor ainda.

    (Só eu li o título da postagem e levei um susto, achando que alguém deixaria o blog? Perai que vou pra uma sessão extra de terapia falar desse medo do abandono)

  • Ah! sem dúvidas, se eu pudesse escolher, escolheria morrer de “morte morrida” do que de “morte matada”, e de preferência dormindo sem sentir, absolutamente, nada.

  • Tema que sempre temi!

    Sempre pensei em 2 possibilidades: Dormindo, ou um tiro certeiro no coração, que me apagasse na hora!

  • Uma vez conversei sobre isso com alguém, eu queria que minha morte fosse heróica.
    Pensei em protegendo uma criança com meu corpo no meio de um tiroteiro, em que eu recebesse trocentas balas mas nenhuma atingisse a criança porque meu corpo segurou. Ou sendo atropelado por um ônibus ao proteger uma criança.

    Essas coisas com crianças agradam o público, né?

    Outra forma interessante seria através de um tumor no cérebro… Que me permitisse viver bem seis meses e sem hospital, sem degradação do meu corpo… Só após o prazo de validade eu pudesse morrer. Assim eu iria ter seis meses pra poder fazer toda a merda que eu não faço com receio de ter de lidar com ela pra sempre!

    A última envolveria um assalto em um banco estilo a cena de Matrix, depois uma perseguição e eu morreria correndo em direção à polícia em uma manobra kamikaze.

    (Bem, eu assisto muitos filmes!!)

      • Fiz a mesma pergunta quando li o texto do Somir. Quer dizer… ser lembrado pelas futuras gerações no decorrer da história de algo que tu realmente fez de bom e contribuiu para o desenvolvimento da humanidade, até vai mas… difícil seria conseguir isso, mesmo que a opção mais original fosse em entrar em um foguete em direção a sabe lá o que. Pensando nisso, fico com a Sally: uma morte silenciosa, no sono, é bem melhor que as outras opções.

          • Sim, eu tenho um ego imenso!
            Por algum segundo antes de morrer pensar “Todos vão sempre lembrar de mim”, me deixaria feliz.

            Não tenho culpa de ser assim.

            Eu tenho muito medo de ser esquecido, ser uma daquelas lápides no cemitério que ninguém faz nem ideia de quem seja…

            Mas queria um túmulo visitado por várias pessoas ao longo das décadas.

            Inclusive sempre disse querer ser cremado por isso também, pra não ser um túmulo esquecido no cemitério. Deprimente.

            • Ok, mas para ser lembrado não precisa de um ato heroico, se te serve de consolo você SEMPRE vai ser lembrado por mim e por muitos dos que estão aqui sem ter se jogado na frente de balas para salvar uma criança. Para mim, você fez coisa muito mais importante do que isso: me divertiu quando eu estava de cama, sem poder levantar, com muita dor, por muitos meses.

  • Pra mim, o melhor seria uma morte rápida, digna e indolor, enquanto eu estivesse dormindo. Sem medos, sem arrependimentos, sem sofrimentos atrozes diante do inevitável e sem a terrível sensação de perceber a vida escapando de mim aos poucos. Pena que isso a gente não pode escolher, né? E eu prefiro partir de forma bem tranqüila em vez de espetacularmente. Pra mim não faria sentido uma morte espetacular depois de ter buscado viver serenamente a vida toda. E quando digo “viver serenamente” não quero dizer passividade. Quero dizer viver sem ter que passar por grandes preocupações até com o básico para sobreviver, sem “miserê” mas também sem ostentação, sem estresse desnecessário – na medida do possível – e sem ficar carregando como bagagem no espírito nada além do estritamente essencial…

  • Olha no meu caso, se não for para morrer de velhice, que seja uma morte que não seja em vão. E toda a minha família já está devidamente avisada que não quero ser enterrado.

  • Bem a cara do Somir esses lances de foguete etc, bem Ozon.
    Eu já preferia nem saber que morri, dormindo seria uma boa. Ah, eu tenho medo da morte.

  • Aqui, caso saiba como e quando morrerei, por conta de doenças degenerativas que ocorrem aqui e ali na família, aí sim prefereria uma morte espetacular enquanto houver saúde a perder paulatinamente a dignidade para, no fim, ser sacrificada como um animal em uma clínica veterinária, na melhor das hipóteses. Talvez escalar o Everest e, no meio do caminho, jogar-me a 7.000 metros de altura em algum buraco ou abismo, deixando uma mensagem para não perderem tempo me procurando.

    Mas, por outro lado, por mais que morrer dormindo e, quem sabe, acordar do outro lado em um novo lugar seja desejável, ainda me é algo improvável…Assim, caso houvesse possibilidade de aceitarem uma idosa com saúde de ferro, embarcaria em uma viagem para Marte. Sempre imaginei como seria replicar hoje a incerteza que navegantes tiveram ao descobrir novos continentes, cientes de que as chances de sobrevivência eram pequenas.

    Enfim, a ideia romântica de desaparecer, não de morrer, e evitar aos que ficarem todo o trabalho e a hipocrisia que esse processo envolve. O túmulo seria o porta-retratos.

  • Sempre achei que fosse preferir morrer dormindo, e tinha por base argumentos bem parecidos com o da Sally pra justificar essa preferência. Mas o texto do Somir me fez rever isso, realmente parece uma boa ideia abandonar essa existência realizando um feito grandioso. Entre morrer tranquila, sem percepção da própria e morrer fazendo algo tão incrível quanto uma viagem espacial, prefiro a segunda.

  • A melhor forma me parece ser a overdose de um opioide (morfina, heroína, etc.). Creio que anule o pânico de perceber estar morrendo e você simplesmente apaga depois de um barato. Isso, claro, falando no modus operandi e não no contexto… Porque a melhor morte, conceitualmente falando, é a de quem viveu plenamente, buscando o que achava importante, seguindo seus valores e sua consciência. Aí não faz diferença morrer dormindo ou num duelo. O importante é morrer á vista, porque morrer em prestações, definhando em uma doença degenerativa, é uma merda.

  • Eu sou mais a morte durante o sono.

    Esse negócio de morte é meio assustador. Pode ser um sofrimento de poucos segundos, mas há o problema da relatividade: poucos segundos para quem sofre pode parecer “uma eternidade”. Prefiro o estilo vaso-ruim que tem imperado na família: “nunca” morre e quando morre é numa sonequinha depois de comer.

  • O tema de hoje é bem sombrio e desconfortável.

    Concordo com a Sally: a melhor forma de morrer é dormindo e sem sentir dor. Tenho muito medo da morte. Mesmo. Muito. Maior do que o meu medo de deixar de existir, só o medo de sentir dor, de ser torturada.

    Até alguns bichos sabem que vão morrer. Dizem que os elefantes se isolam e os cachorros se despedem. Nunca quase morri, nem quero passar por isso. Mas um dia vou ter que passar. Já que não tem saída, que seja sem dor, que seja sem tormentos, que seja sem consciência, que seja dormindo.

    Se eu fosse menos estúpida, teria uma religião e me beneficiaria da prazerosa ilusão de ser imortal. Viveria sem angústia, sem tristeza, me sentindo amparada por anjos que olham por mim, só por mim. Deve ser muito bom se sentir importante assim. 7 bilhões de humanos se reproduzindo feito praga, mas Jesus me amaria e traçaria um destino todo especial só pra mim. Porque eu seria especial, única, infinita…

    Deus é a negação da morte. Se Deus existe, nós não vamos morrer Por mais cruel que seja o Deus da Bíblia, por mais que ele condene os rebeldes ao inferno ou ao Nosso Lar, ele não condena ninguém à morte. Até os maus têm alma imortal.

    Entretanto, observando os religiosos de perto, o desespero está lá. Disfarçado entre rezas e dízimos, dissimulado entre os julgamentos da vida sexual alheia, mascarado na arrogância dos caridosos humildes que exigem gratidão dos pobres que “ajudam” (fora da caridade não há salvação!), oculto entre as pedras jogadas, escondido nas musiquinhas bregas dos padres, nos rituais malas e nos gritos de “Aleluia, Senhor!”. O desespero está lá. O desespero nunca se cala.

    O medo da morte, ao menos nos ocidentais, não é aplacado pela fé. Eles sofrem não apenas com a morte dos parentes, mas com o pavor do inferno e o sentimento de injustiça por algo ruim ter acontecido justamente com eles, que pagam dízimo, oram e não são gays. Mas no fundo eles sabem. Por isso ficam berrando que são especiais pra ver se convencem a si mesmos.

    “A esperança não existe. A esperança é o caralho.”

  • Outro dia li na traseira de um caminhão:
    ¨Quero morrer dormindo como o meu avô
    e não gritando, como os passageiros
    do ônibus que ele dirigia¨

  • Hoje em dia pra morrer. Basta deletar a conta da rede social.

    Mas vou ler com calma pois a sugestão do Somir é deveras interessante.

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