O conceito de “maldade” mudou. Talvez você não tenha parado para pensar nisso, talvez você discorde, mas no meu sentir, o conceito de “maldade” mudou tão radicalmente que eu não consigo concordar ou me adequar a ele. Vamos pensar no que é considerado “maldade” hoje em dia? Sim, porque o conceito que predomina para definir “maldade” não é nem o meu, nem o seu. É aquele aceito pela maioria.

Maldade. Faz o mal, causar o mal. O que é fazer uma maldade para você? Para o Brasileiro Médio, uma maldade é aquilo que a massa diz ser uma maldade. Uma maldade pode ser um texto contando o lado negro da gravidez, que “estraga” o “sonho” de muitas mulheres de uma gestação toda cor de rosa. Ou seja, chegamos em um ponto que falar qualquer coisa desagradável, por mais verdadeira que seja, é maldade. Se causa sofrimento a alguém, justificado ou não, com intenção ou não, é uma maldade.

A doadora de leite se ofendeu com a piada? É maldade. Neguinho se ofende por ser chamado de neguinho? É maldade. Você riu de uma pessoa que tropeçou e caiu na rua? Maldade. A intenção não conta mais, o que conta é a reação que se provoca em terceiros. E reações desmedidas, irracionais e histéricas estão sendo amplamente validadas. Agora quem dita o que é bom ou mau é quem se sente prejudicado. Se houve prejuízo ou sofrimento, paira uma presunção de dolo, de ato propositado e dificilmente isso será revertido.

Some-se a isso a hipocrisia, pois os mesmos que com facilidade te acusam de “maldade” fazem coisa tão “más”, se não piores. Porém se você tem uma postura social aceita, se proclama sua fé, se faz uma caridade, se doa uma cesta básica, se manda rezar uma missa, pode escrotizar à vontade. Ganha o direito de não respeitar a lei, de passar por cima dos sentimentos dos outros, de ser ingrato e de se beneficiar financeiramente de terceiros de forma indevida. O importante é aparentar ser bom, e não ser bom na essência.

E com isso, pessoas que apenas aparentam serem boas estão começando a acreditar sinceramente que são boas, pois a sociedade lhes manda essa mensagem. Hoje é bom quem aparenta bondade. Infelizmente a realidade é esta. Em breve, as próximas gerações não serão nem capazes de fazer essa distinção entre a bondade real e a bondade “para inglês ver”.

Nesse contexto, estou na pior posição possível, pois eu me tenho certeza como uma pessoa boa, mas “transpareço” ser uma pessoa má aos olhos dessa sociedade meio míope. Tenho o ônus de sacrifícios para ser uma boa pessoa somado ao ônus de cobrança e reprovação que pairam sobre uma má pessoa. Sensacional a combinação. Certeza que muitos de vocês se encontram na mesma situação que eu. Você é uma boa pessoa na essência mas é tratado socialmente como alguém que faz maldades, pela simples recusa em ter uma religião, fé, em fingir bondade ou em fazer um joguinho social.

Eu sou do tempo que maldade se aferia em atos, não em palavras. Mas hoje parece que, tanto maldade como bondade, estão umbilicalmente ligados aos discurso, ainda que os atos contradigam esse discurso. Isso porque a maior parte dos brasileiros é incapaz de fazer esse link, de refletir, de olhar para dentro e perceber que seu discurso não é compatível com seus atos. Sequer se dão conta que pregam uma coisa que não fazem ou condenam uma coisa que fazem. Isso se chama hipocrisia.

As pessoas se convencem que são boas com uma facilidade enorme. Fecham os olhos para seus deslizes morais e éticos, para sua ingratidão, para seu desamor e egoísmo e parecem iluminar seus pequenos feitos, como se quisessem subornar algum Deus em troca de que coisas boas aconteçam em suas vidas. O conceito de bondade está sendo engessado em um combo de puxa-saquismo, religiosidade e politicamente correto. E se você não adere, você é uma má pessoa. E tudo que acontece de errado com você decorre disso. E todo mundo acha bem feito. As pessoas torcem contra você, porque as pessoas geralmente preferem estar certas a ver uma pessoa querida se dando bem.

Sinto, estando certa ou errada, que aos poucos, sem que possamos identificar o exato momento da transformação, a verdade está virando sinônimo de maldade. E a hipocrisia, antes algo feio e condenável, está virando uma obrigação social, uma coisa boa, quase que necessária. Quem não se presta à hipocrisia apanha, é socialmente inapto. “Tem que fazer, todo mundo faz”, eles dizem.

O hipócrita é sempre bom, pois sempre prega a bondade e condena a maldade, apesar de praticá-la. Mas os atos não importam, importa o discurso. Estamos desaprendendo a questionar o discurso. Se Fulano diz tal coisa, é porque ele faz tal coisa, é porque ele é bom. Isso basta. Parecer bom basta. E se parecer bom basta, parecer mau também basta – para te condenar.

Questionar está virando defeito. Questionar está tão fora de moda que virou uma coisa “chata”, uma coisa que “enche o saco”. Senti um enorme alívio quando vi o Murilo Gun (que para mim, passa muito perto de um gênio) contando que todo mundo acha que sua esposa deve ter uma vida muito divertida ao seu lado, pois ele é comediante, faz piadas engraçadas, mas que na verdade a esposa dele “sofre” porque para conseguir construir essas piadas inteligentes ele está sempre questionando tudo, sempre querendo saber o porque de tudo. Pois é, pensar tem seu ônus. E as pessoas estão se poupando disso. Como consequência, acreditam em apenas um discurso de bondade.

Se falar uma verdade que magoa é maldade, melhor seria falar uma mentira que agrade e deixar a pessoa chafurdar eternamente na lama onde se encontra, sem alertá-la para sua condição? Aparentemente sim. Isso nunca vai entrar na minha cabeça. Eu gostaria de ser advertida se estivesse chafurdando na lama e de forma alguma me ofenderia ou me sentiria atacada por quem o faz. Me sentiria cuidada, isso sim. Mas os medíocres preferem seu ego em um pedestal, intocado, do que ouvir críticas. Críticas derrubam pessoas inseguras, os aleijados emocionais vão ao chão. E chamam isso de maldade. Reclame com seus pais, que não lhe deram autoestima. Quem se ofende com crítica tem que fazer terapia cinco vezes por semana.

Hoje, uma “boa pessoa” não fala uma verdade que magoa. Uma boa pessoa é aquela “alto astral” que está sempre feliz, que não questiona, que não problematiza. Essa gente “energia positiva”, essa gente “ousadia e alegria” que vê o meio copo cheio de otimismo é um retrocesso evolutivo, pois só ao identificarmos um problema podemos saná-lo e melhorá-lo. Mas são pessoas agradáveis de se ter ao seu lado, quando você não é uma pessoa inteira e segura, porque estão sempre falando coisas boas. Ótimo para quem não tem muita estrutura emocional. Universo Umbigo: se o que a pessoa falou ME faz mal, então é porque ELA É MÁ PESSOA.

Não importa, bacana é estar sempre elogiando, sempre fazendo a manutenção do ego alheio, sempre com “pensamento positivo”. Criticar é maldade, esses egos frágeis que só sabem seu valor perante os reconhecimento de terceiros entendem crítica como maldade. O politicamente correto e a egolatria de rede social estão transformando discordância e crítica em maldade/sofrimento. A massa se junta contra você, porque afinal, se você critica uma pessoa hoje, pode muito bem “se voltar contra” qualquer um deles amanhã. Não, não, críticas devem sempre ser silenciadas, preferencialmente com uma postura ofendida, que é para aprender a não fazer nunca mais.

Ao silenciar as críticas alegando que elas geram sofrimento e são maldade, nos desencorajam a criticar, a questionar, a pensar. Não o faça, ou você será taxado de chato, mau, depressivo. O pior é que de fato o comando VOCÊ É MAU gera auto-censura em muita gente. Ninguém quer ser mau, ninguém quer ir para o inferno, ninguém quer não ser aceito pelo grupo, ninguém quer que coisas ruins aconteçam em sua vida em retribuição à sua “maldade”.

E nessa, muita gente para de exercer seu senso crítico, por engolir que, de alguma forma, isso é maldade. Pois hoje eu queria te dizer uma coisa: NÃO É MALDADE. Liberte-se dessa escravidão intelectual onde questionar tudo é chato e criticar incomoda. O medíocre é não questionar tudo. É o conformismo do “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Se você chegou até esta terceira página de um texto propositadamente enorme, você é melhor do que isso.

Resultado prática dessa palhaçada instituída: cada vez menos gente pensando, questionando, criticando, com medo de serem considerados “maus”, chatos, amargos, com medo de rejeição social e de alguma coisa horrível acontecer em suas vidas como punição por conta dessa suposta maldade. É um “manga com leite faz mal” moderno. Uma minoria à qual convém não ser criticada começou disseminando que criticar é ofensivo e mau e o resto comprou. Hoje, a situação está irreversível e você tem que escolher se “compra o barulho” de ser considerado mau (mesmo não sendo) ou se engole as críticas e em troca recebe um afago social como boa pessoa que você será. Nem preciso dizer qual foi a minha escolha, né?

Hoje, quem critica, seja o parceiro no relacionamento, seja o status quo, seja as convenções sociais, é tido como “polêmico”, como amargo, como mau. Algo que é normal e até mesmo sinônimo de inteligência e respeito em países evoluídos, virou chatice e maldade no Brasil. Bonito é ter pensamento positivo, fé, alegria e ser politicamente correto, coisas que convém muito a quem não quer que o povo pense. Isso é bondade hoje em dia no Brasil. Porque gente com pensamento positivo e fé não reclama, se fode sempre vendo o lado bonito da vida. Não, obrigada.

Para mim, pensamento positivo e fé como obrigação social são entraves à evolução. Não à toa que os países mais evoluídos e com melhores sistemas educacionais e menor índice de criminalidade são os países com maior índice de ateísmo. Lá as pessoas não precisam de fé. Não à toa que os países com sistema educacional que premia críticas e questionamentos estão no topo da qualidade de vida e IDH. Mas, como sempre, Brasilzão remando contra a maré e quase ninguém percebendo.

O problema não está em quem critica, e sim em quem se chateia por ser criticado. O problema está na cabecinha pequena de quem escuta crítica como ataque, como ofensa. Mas é o tipo de coisa que eu jamais perderia meu tempo dizendo “no mundo real”, porque são pessoas fora do alcance da minha mão. Só dá para dizer esse tipo de coisa por aqui mesmo. Em um mundo onde “The Secret” é bestseller e as pessoas acreditam que você “atrai” coisas boas com bons pensamentos não há diálogo possível.

Curioso que estas mesmas pessoas que se julgam boas (e ao meu ver, não o são), se fodem inúmeras vezes e parecem não contabilizar essa fodeção. Gente que teve uma vida desgraçada, que sofreu abusos sistemáticos, que passou por muita merda, se achando super abençoados por um determinado feito na vida. Fechar os olhos para o fato de que ser essa “boa pessoa” não gera o retorno esperado é tendência. Não importa o quanto a pessoa se fodeu, ela sempre se acha “abençoada”. Mas para perceber a fodeção alheia, essas mesmas pessoas são de uma perspicácia incrível.

Hoje, a maldade é imputada à crítica, ao questionamento, porque é o que convém. Amanhã ou depois, será imputada a outra conduta que seja inconveniente aos interesses vigentes. Prestem atenção ao mecanismo, e não às consequências dele, porque este mecanismo deu muito certo e vai se repetir. Não se deixem atribuir uma suposta maldade por algo que está incomodando a terceiros. Nunca.

O fato de te imputarem uma suposta maldade (ou qualquer outra coisa) não quer dizer que você o seja. Não tome para você tudo que te imputam. A verdade é que as pessoas sempre vão te julgar, independente do que você faça, então, faça o que quiser, porque as pedradas virão do mesmo jeito. Não aceite que sua maldade ou bondade seja determinada pelo olhar de terceiros, nem acredite em pessoas “boas” ou “más”, porque a bondade e maldade estão dentro de todos nós e, como bem disse o Somir no texto de sexta-feira passada, é tudo uma questão de ponto de vista.

Repense sobre o atual conceito de maldade, assim como repensamos juntos sobre o atual conceito de burrice e ignorância. Pode ser que atualmente você seja considerado uma pessoa má e isso pode ter uma série de reflexos na sua vida que até então você não compreendia de onde vinham. Não que você seja obrigado a mudar ou se adequar, mas compreender é sempre bom.

Para os bonzinhos cheios de fé de plantão: coisas boas e ruins acontecem com todos nós todos os dias. O mundo é injusto e aleatório, sinto muito se isso te tira o chão e você precisa, para se sentir seguro, encontrar relação causa/efeito em tudo. O que você encontra é o que você QUER ver: um holofote enorme apontado para quando um “mau” se fode ou um holofote enorme apontado para quando um “bom” se dá bem. Mas a verdade é que todos nos fodemos e nos damos bem na vida. Aceita que dói menos.

Para me chamar de má, para perceber que é visto como mau socialmente ou ainda para se ofender: sally@desfavor.com

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Comments (59)

  • Nossa! Muito interessante tudo que foi colocado, mas se tem algo que não gosto é de pessoa que adora criticar tudo a sua volta principalmente no trabalho pra tirar o foco de si, pois o que mais crítica é o que menos solução dá pra resolução dos problemas… E o mais legal é o quanto se acha fodastico!!!!

  • Eu morro com os argumentos do texto da gravidez “Tu não pode falar nada porque não tem filho pra saber”. Se a gente for seguir essa lógica não devia existir ginecologistas homens, já que os mesmos não tem xota pra saber como é que é.

      • Esse tipo de argumento que desqualifica o que o outro fala por mero julgamento de que se vc não viveu ou não pode falar… Ja vi muito na época da faculdade. Como vc pode ajudar alguém a superar sua dor se vc não passou pela experiência igual?

        Surreal!

        • Imagina só se essas pessoas que pregam esse discurso se furtam de aconselhar alguém por esse motivo? Nunca. Só vale para terceiros.

  • Hahaha…Desfavor é uma viagem! Voce resolve comentar logo apos a leitura do post, antes de ler os demais comentarios e descobre, em seguida (nos comentarios), que é fanatico e acredita numa lei babaca.

    Bom, vou rever tal conceito espiritrualista e ver se realmente tem apoio cientifico.

    Mas foi engracado…

  • So discordei do trecho onde diz que crer que, nutrindo bons pensamentos, voce atrai coisas boas é analogo a encarar The Secret como bestseller. O primeiro é lei natural. O segundo, sim, pode revelar algo sobre a sociedade.

    Sally, voce é uma menina má, por ser franca, autentica e por ferir o conceito distorcido e manipulado dos valores. Prefiro ter uma colega que ser sabe ser má, do que ter dez amigas que invertem conceitos de coisas, que, na verdade, nem existem. Bem e mal sao relativos ao ponto de vista de cada um. Jeova era um deus manero para os hebreus; mas para os cananeus, era o diabo. Matava ate criancinhas. Parafrasenado o maluco beleza, ‘O bem e o mal continuarao de maos dadas num romance astral.’

    “Se falar uma verdade que
    magoa é maldade, melhor
    seria falar uma mentira que
    agrade e deixar a pessoa
    chafurdar eternamente na
    lama onde se encontra, sem
    alertá-la para sua condição?” E posso acrescentar que tais criaturas geralmente sao meio malucas, pois elas se dirigem a voce, toda suja de lama e lhe acusam: “Boa amiga, voce…Podia ter me avisado.” Vai entender.

    • Certamente. Não há como ganhar com essas pessoas. Se você fala, é má, atrai coisa negativa ou tem inveja. Se não fala, te cobram que tenha falado. Um cu.

  • SOMBRA 3D BUCETA PISCANDO

    por isso redes sociais fazem tanto sucesso, todo mundo é bonzinho e todo mundo me diz que sou bonzinho tbm

  • Quando eu li muitos textos sobre Psicopatia, parei para refletir e cheguei à conclusão: ser ‘mau’ significa ser ‘bom’.

    Para mim cada pessoa que tenta sempre entrar nessa de não criticar e ser ‘positivo’ é um psicopata em potencial / em treinamento. Para mim, cada pessoa que é o reflexo puro deste padrão de sempre ser positivo, ‘espiritualista’ (ou religioso mesmo), ver o lado bom das coisas, é um perfeito psicopata.

    O conflito faz parte da vivência entre indivíduos. Se não há conflito, que pode existir mesmo em unanimidades construídas, há a hegemonia. E hegemonia é outra palavra bonita para manipulação – do resto, por uma parte. Nada me espanta de um povo imperialista no sentido literal da palavra, de um povo que exige uma hierarquia forte, que ‘alguém’ resolva os problemas (até os deles mesmos), que esta hegemonia venha com tanta força.

    Eu me espanto mais quando eu leio destas coisas acontecendo na Inglaterra ou na Suécia, por exemplo, do que por aqui. Isso aqui é um arremedo de gente/cultura/povo, e a hegemonia agora é tentar PROVAR que não são nada disso, que somos uma ‘grande’ gente/cultura/povo.

    E impressiona apenas como a revolução digital foi um catalisador fudido para esta hegemonia…

    • Se eu entendi bem, você está defendendo que uma pessoa que, diante de uma realidade tão cagada consegue vestir essa máscara de otimismo, alegria full time e pensamento positivo é um psicopata, pois só a falta de sentimentos te torna capaz disso.

      Se foi isso mesmo que você quis dizer, CONCORDO MUITO. Obrigada pelo comentário, colocou as coisas em outra perspectiva para mim.

      • Foi isso mesmo…

        Ver este debate até o final e ver a Sally concordando comigo foi hors-concours…

        Mas é ao mesmo tempo aterrador – faz a gente perceber que a nossa ‘percepção’ é viciada para lidar com esta perspectiva. Não diria que é um paradoxo, porque dá pra visualizar mais linearmente esta questão.

        O problema é detectar isto sem virar paranóico – e desenvolver qualquer coisa metal depois…

      • Na época em que o “Segredo” estava bombando, eu questionei algumas pessoas sobre a situação das crianças morrendo (literalmente!) de fome na África e nos países mais pobres do mundo.

        “-Quando tenho fome, penso em comida o tempo todo. Imagino que quem está morrendo de fome também pensa em comida o tempo todo. Por que o poder do pensamento não faz com que a comida chegue até os famintos?”

        As respostas foram horríveis. Disseram que as crianças famintas pensam em sua própria miséria e não em fartura. Pensam na fome e não em comida. Pensam em morte e não em vida.

        “-Então a culpa é delas???”

        Fui chamada de chata, de “do contra”, de “sem-fé”, de pessimista e até de ignorante.

        Mas não acho que essas pessoas sejam psicopatas, porque elas não parecem ter noção da própria crueldade. O psicopata sente prazer em ser mau e essa gente acredita sinceramente que é “do bem”. Acho que o pessoal da autoajuda e do pensamento positivo sofre de burrice extrema, de estupidez profunda mesmo. São egocêntricos demais para perceber que o universo não gira ao redor deles. Burrice extrema talvez seja ainda pior do que a maldade pura. Porque os psicopatas são a minoria. E são discretos. Os burros, não. Eles são a maioria. Eles gritam suas teorias malucas sem vergonha nenhuma. Eles exibem livros como “O Segredo” como um troféu. Eles venceram. O mundo é deles.

  • Maldade e bondade sempre foram relativos e determinados pela cultura da época. Assim como normal e anormal, humano e desumano, etc. São conceitos humanos, e o homem é indissociável de sua cultura e história.

    Todo mundo tem um lado ruim. Eu gosto de apagar a luz do banheiro quando tem alguém na casinha obrando. Às vezes até dá pra ouvir um “ô” antes de sair. Aí eu volto, acendo a luz por 2 segundos, e apago de novo.

  • Você tocou em um ponto interessante: Não é só uma questão de ser um hipócrita filho da puta por querer, é muito mais que isso. As pessoas acreditam de verdade que são boas. Elas não percebem que têm atitudes escrotas. Parece que, de tanto repetirem seu discurso do bem, convencem a si mesmas de que são boas.

    Uma faxineira me contou que uma senhora para quem ela faz faxina uma vez por semana dá a ela alimentos vencidos além do pagamento. E o faz com sorriso nos lábios, porque acha SINCERAMENTE que está fazendo uma boa ação. Como a senhora parecia ter boa intenção toda vez que dava os alimentos vencidos, a faxineira resolveu avisar que estavam vencidos, pois achou que ela não tinha notado. Para sua surpresa, a mulher se ofendeu e ainda disse que os pobres de hoje em dia são mimados e ingratos. Disse que é melhor comer alimento vencido do que passar fome, mas os pobres de hoje em dia não sabem nem o que é fome, estão todos gordos e preguiçosos, mas mesmo assim ela ia continuar ajudando, porque ela gosta muito de ajudar e suporta até a ingratidão. ACREDITA???

    • Acredito. E acredito também que ela vá na missa, que ela ache que Deus a ama, que ela critique ateus por serem maus e que fique indignada se alguém falar que ela não é uma pessoa boa.

  • Concordo com o que você disse no texto.
    Contudo, há um outro aspecto que acho mais nefasto ainda que rotularem tudo como maldade: a falta de entendimento do brasimédio do que realmente é maldade.
    Para os brasileiros, certas violências que ao meu ver são maldade, vingança, eles rotulam como justiça, tal qual na idade média.
    Muitos se regojizam com histórias de estupradores torturados e mortos nas prisões, porque pra esse povo tá ok fazer isso. Linchamentos e agressões por qualquer motivo fútil são aceitos como justiça, enfim, uma série de barbáries acontecem diariamente, até nas redes sociais, que são estimuladas e aplaudidas por esse povo doente e sociopata. Sentem prazer com a infelicidade, cometem as piores atrocidades baseados no seu censo de justiça, que na verdade é a mais pura maldade.
    Enfim, tá tudo cagado!

  • Essa lei de “pensar/falar atrai” é um clássico entre os mais fanáticos. Isso não tem fundamento nenhum!
    “Pelamordedeus, não fala em câncer não. Credo!” (e fazendo vários sinais-da-cruz).
    O pior é quando você se dá mal em alguma coisa, ficam apontando “Não falei?” e dizendo que as coisas ruins que acontecem com as pessoas é falta de Gezuiz no coração.
    E como levar a sério um país cuja própria presidente fala que as mazelas do Brasil é culpa do pessimismo?

  • Mais um texto libertador. Por anos, principalmente pela internet, minhas críticas sempre “esmagaram” o calo de alguém. Não conto as vezes em que quase algumas pessoas pararam de falar comigo. O que me machucou mais foi perceber que pessoas que eu considerava amigas têm essa postura escrota e, ao menos pra mim, elas eram inteligentes antes disso. Perceber o quão medíocres algumas eram me deixou meio pra baixo.
    Sei que depois de anos de encheção de saco pela língua solta e de ser vista como “alguém que quer ser melhor que os outros” (e o pior, pelas costas. Essas “boas pessoas” além de não serem boas pessoas realmente ainda são covardes, porque NUNCA vão dizer o que pensam de você na sua frente), acabei parando de falar certas coisas simplesmente pra ter um pouco de sossego. Resultado: agora é tremendamente difícil pra mim fazer certas críticas se eu não conheço a pessoa e sei como ela vai reagir. Geralmente só o faço com amigos mais íntimos ou parentes que eu conheço bem. Por isso adorei esse texto. Preciso ligar o foda-se pra isso também. Vai ser até bom pra filtrar amizades, tem umas que já quero me livrar a muito tempo mesmo, vai ser duplamente bom.

    • Michele, você tocou em um ponto importante que eu esqueci de falar no texto: quando se critica algo ou alguém paira automaticamente uma presunção de arrogância para quem faz a crítica. “Você se acha melhor do que os outros”. NÃO. Criticar não é diminuir ninguém, nem humilhar, nem menosprezar. Tá errado, tá errado esse entendimento de gente com pouca autoestima!

      • Aulas da faculdade de certos temas, principalmente de avaliação institucional (fiz pedagogia, mas acho que falei nos comentários de outro post) era um show de absurdos. Era um danado de “mimimi crítica construtiva”, “mimimi tomar cuidado com a forma de falar” e tudo o mais. Porra nenhuma, a crítica que realmente muda é a que incomoda, que te leva a refletir, que te faz pensar em que você pode melhorar.
        Não um ataque pessoal (aí já é demais. “Tá um lixo” em minha humilde opinião não ajuda tanto quanto um elogio vazio no estilo “tá ótimo”), mas sim uma crítica bem feita. Mesmo quando não feita com palavras “amenas”, o que vale é o conteúdo. Quem fala “crítica construtiva”, muitas vezes só quer confete e elogio travestido de crítica. Mas nesse país de egos frágeis, basta você dizer “legal, mas não concordo” que a pessoa vira seu inimigo pessoal.
        Situação de merda.

  • Lendo o texto entendi um pouco a visão que as pessoas tem ao meu respeito. Não me faço de vítima, pareço arrogante, critico qualquer um e se pedir minha opinião vai escutar e me dou muito bem assim. Critico quem quer que for independente do amor e afeto que tenho por essa pessoa. Fez merda, fez merda! Fez certo, fez certo.
    Abaixo um link que vi há uns meses atrás de um cara no youtube que se intitula “The Amazing Atheist”. Esse vídeo que me refiro é sobre a questão das pessoas no mundo atual se ofenderem com qualquer coisa.
    Seu texto (na verdade sua forma de pensar e a minha) se encaixam perfeitamente.

    https://www.youtube.com/watch?v=zwoqzb5R6vw&list=UUjNxszyFPasDdRoD9J6X-sw

    • Provavelmente as pessoas te percebem como sendo arrogante e com um grau de maldade. Não que você tenha que mudar, mas é bom saber onde está pisando e que essa é a imagem que as pessoas tem de você.

  • Questionar é maravilhoso, mas tem hora que dá preguiça, pq geralmente as pessoas te ignoram e te rotulam.

    Aprendi bastante com o Desfavor a procurar mais fontes do mesmo assunto e não acreditar em tudo que vejo/leio por ai. Virei uma consumidora mais consciente. OBRIGADA SALLY E SOMIR!

    Tenho muita preguiça de debater com gente mente fechada e não sei se estou fazendo mal a mim mesma por não questionar tanto, principalmente no trabalho, onde eu deveria ser mais critica.

  • Bixiga de Bode

    Dos últimos 5 posts da Sally, 3 são reclamações sobre como a sociedade não está como você gosta, sempre girando no mesmo vilão, o maldoso “politicamente correto”. Dos últimos 10, 7 são assim. Sem mencionar que toda semana o politicamente correto é o culpado pelo Desfavor da Semana (até o reencontro do Polegar a Sally deu jeito de colocar na conta dele).

    Pra quem costumava se orgulhar de falar de tudo e reclamava da TV monotemática no Brasil, você está se esforçando muito pra validar aquela frase do filme do Batman: “Ou a gente morre como herói, ou vive o suficiente para se tornar o vilão”.

  • Ah, mas hoje eu mudei. Estou passando por um curso de reciclagem de como me portar nas redes sociais.

    Ontem postei foto do que preparei e comi e disse que comentarem, compartilharem e que seus likes eram muito importantes pra mim.

    Hoje foi isso:

    “Frase do dia: “Política é um jogo de putas. E as grandes empresas são os cafetões.”
    Esqueçam isso, eu quis dizer: “O dia esta lindo hoje, sexta está chegando. Vem ‘ni mim sua linda!”

    Estou melhorando, na foto da comida nem coloquei a hashtag #chupaafrica

  • Bem, concordo com muito do que disse; alguns acho exagerado, mas concordo com a maior parte.

    Hoje em dia, além de se ofenderem com o que qualquer pessoa, por mais insignificante que seja diga, ainda tem sempre alguém ganhando com isso…

    Abaixo um post meu da semana passada em que consegui um número expressivo de comentários e quase perdi 2 amizades.

    “Quando eu vi o debate da Record e as insanidades que o Levy falou, pensei de primeira: “O Brasil está mesmo com uma democracia firme e consolidada; a ponto de deixar um imbecil desses falar e podermos todos ignorar solenemente.”

    Mas me enganei quanto a segunda parte. As tochas já estão acesas e Levy vai ser enforcado em praça pública.

    Mas sério que algum gay realmente ficou ofendidinho com as asneiras ditas por alguém que até repudiam e não tem a mínima chance de conseguir algum cargo político? Esse pessoal está precisando de terapia, e não de defesa.

    O cara falou besteiras, não cometeu crimes. Se for assim, por que a corajosa OAB não foi pra cima do Lula quando disse que Pelotas era exportadora de viados? Por que não emitiu uma notinha qualquer quando a Dilma propôs dialogar com terroristas? Se falar besteiras agora é crime que prendam todos!

    Esse estelionato politico que fazem da causa gay um trampolim eleitoral, é tão nojento quanto as agressões que eles possam vir a sofrer.”

    Ps.: Gostei dos desfavores relacionados. Agora os ‘semi-off’s foram eliminados! rs

      • Mas nem sempre temos essa escolha. Muitas vezes familiares e até mesmo chefes são assim.
        Como lidar?

        Já que parecer é mais importante do que ser, talvez seria mais inteligente de nossa parte “aprender a parecer.”

    • Eu já nem tenho mais paciência com o balofo. Esses dias ele repetiu novamente aquele discurso de “elite branca”.

    • Eu acho que é ainda pior do que isso, Hugo. Eles PRECISAM ser ofendidos. QUEREM. Quanto mais eles forem ofendidos, mais vítimas eles vão ser e mais vão ganhar com isso. Claro que eu não estou falando dos gays, mas dos militantes.

      Você acha que o Jean Wyllys, que acionou o TSE contra o Levy, se ofendeu de verdade com as bobagens que ele disse? Eu acho é que ele vibrou. Sério. Jean é um homem inteligente, culto, com grande bagagem de leitura e esperto o bastante para se manter em evidência na semana das eleições. Prevejo que ele será reeleito com uma votação expressiva. Jean não se ofendeu. Ele sabe que não é a fala de idiotas como Levy que causam a violência contra gays. Mas ele sabe também que, quanto mais seu grupo for visto como vítima, mais ele terá a ganhar com isso. O Jean aprendeu, desde que ganhou o BBB, que se fazer de vítima e convencer é o caminho não apenas para ganhar um milhão de reais, mas é também a chave para abrir todas as portas. Quanto mais os Levys se parecerem com vilões, mais os Jeans vão se parecer com heróis. E, como sabemos, parecer é ser. Parecer é tudo.

      • O Lula é outro exemplo. Faz décadas que ele não é mais pobre, mas continua repetindo e repetindo o mesmo velho discurso de como a elite o odeia. Puta que pariu, a elite é ELE! Ele é que é o podre de rico! E todo mundo ignora o fato de ele ser um cara rico, porque ele fala como um pobre, ele entende os pobres, ele parece ser pobre. Fim.

      • Eu sempre digo que se de um dia para o outro a homofobia acabasse no Brasil, quem mais ia perder era o Jean Wyllys.

        É tão óbvio ele tentar enfiar homofobia em tudo. Pois ele precisa alimentar isso.

        Mas todo mundo prefere ver ele como herói mesmo.

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