Se alguém te perguntar hoje “O que você é?”, como você responde? A maior parte das pessoas se define com sua profissão, função ou ofício. O que você é? Você é advogado, professor, deputado ou pastor? Isso é o que vem em primeiro lugar socialmente falando, nos dias de hoje, quando pensamos no que a pessoa é.

Uma pessoa é tão mais do que sua profissão… Mas não no Brasil. No Brasil você é definido por um falso status dado à profissão. Pode ser um merda, esculhambado pelo chefe, que só faz corta-cola e trabalho braçal de carregar processo, mas é ADVOGADO. Ostenta um terno e uma posição social que gera respeito e admiração. Uma presunção de algo pomposo ou poderoso que em nada reflete à realidade. Mas quem se importa… nesse mundinho de imagens, de ostentação virtual, o que importa não é o ser e sim o parecer ser.

Em países civilizados, qualquer trabalho é trabalho e qualquer trabalho é digno. Filhos das maiores fortunas do país lavam louça ou cortam a grama do vizinho, porque lá, não é vergonha trabalhar. Mas aqui, o país do complexo de vira-lata, apenas alguns trabalhos são “bons o bastante”. O resto é demérito, é vergonha. Tem muito taxista ganhando o dobro de um advogado, mas as pessoas preferem continuar se fodendo com a conta bancaria no vermelho, sendo humilhados, vivendo em um ambiente de trabalho hostil, do que se “rebaixar” a trabalhar em outra coisa menos “prestigiada”.

Esse preconceito está, em diferentes graus, em todos nós. Afeta até a vida afetiva! Quando você vai a uma festa e está conhecendo alguém, uma das primeiras perguntas que é trocada (depois do “onde você mora?”, para o sujeito saber se, pela distância, vale a pena pagar o preço de te deixar em casa) é “o que você faz da vida?”. Pode ser um merda, um fodido, mas se tiver uma profissão socialmente prestigiada, ganhará respeito e pontos com o interlocutor. Ao mesmo tempo, se tiver uma ocupação fora do rol socialmente valorizado, perde pontos e já parte de uma presunção negativa.

Esse julgamento é tão fútil e escroto como se aproximar de alguém pelo seu dinheiro. Interesse nem sempre é econômico. Igualmente errado e prostituído é o interesse por status social. Quem cola em outra pessoa por interesse em sua profissão prestigiada também é nojento.

E entendam que não me refiro necessariamente à questão intelectual. Por exemplo, jogador de futebol é uma profissão prestigiada socialmente pelo brasileiro médio e até um bonobo chuta uma bola (Ministério Público tentando me achar em 3… 2…). Os critérios para que uma profissão seja socialmente valorizada são estranhos e flutuantes, mas geralmente giram em torno de uma suposta remuneração boa e algum poder que a função gere.

A grande questão para a qual quero chamar a atenção neste texto: uma pessoa é muito mais do que aquela função que ela desempenha. Definir uma pessoa pela sua profissão é de uma burrice enorme, e infelizmente, como toda burrice praticada em larga escala, está nos contaminando em maior ou menor grau. Leia, reflita e policie-se para não cair nessa armadilha.

E quando eu falo em “definir”, me refiro a coisas boas ou ruins. Nem sempre um médico é uma pessoa de respeito, vide os diversos casos de médicos que estupram pacientes anestesiadas, abusam sexualmente de crianças e tantas outras barbaridades. Nem sempre um advogado é poderoso, inteligente e bem sucedido, aliás, a maioria não o é. Nem sempre a pessoa se enquadra no estereotipo que você tem para aquela profissão, ofício ou trabalho que ela exerce. Pessoas deveriam ser classificadas por suas escolhas de vida, por seus atos, por seu caráter.

Mas, infelizmente estamos em um contexto social onde o ser humanos anda muito solitário. Isso faz surgir a necessidade de entrar em “grupinhos” para não se sentir tão só ou inseguro: sou católico, sou petista, sou médico, sou vascaíno, sou vegetariano, sou o caralho a quatro, desde que exista um grupinho no qual eu possa me escorar para me sentir menos solitário e para, eventualmente, fazer uma covardia contra quem ousar me afrontar.

Ahhh os grupinhos… lembro como se fosse hoje.. enquanto ainda estava no colégio eu não via a hora de crescer logo para acabar com aquela palhaçada de grupinhos doentios competindo, excluindo, ditando regras. Boba eu, que não sabia que o mesmo se repete na vida adulta quando você mora em um país subdesenvolvido. E o grupinho principal no momento, o determinante para te definir, é o da sua profissão.

Talvez por isso assim que abriram as porteiras a pobralhada foi toda virar “Dotô” na faculdade de direito, sucateando minha profissão a um ponto de eu não querer mais exercê-la. Querem status sem mérito. Pagam uma Estácio de Sá, onde até um analfabeto foi aprovado, para serem “Dotô”, porque de alguma forma percebem que no Brasil, basta o título para gerar uma presunção absoluta favorável.

Daí jogam no mercado Leôncios e Leôncias de todas as profissões mais “valorizadas”. O que vocês acham que vai acontecer? Meu palpite é que em algumas décadas veremos a orkutização das profissões hoje tidas como nobres. Não se espante se, em trinta anos, ser advogado for significado de ser ralé. Onde o brasileiro médio invade, estraga, já vimos esse filme antes. A realidade da vida é essa: vivemos em um país onde trabalhar só é mérito, só é respeitado, se o que você faz é valorizado pelo interlocutor.

Você pode estar se perguntando se o Desfavor não seria um grupinho. Sim, somos um grupo, mas não movidos por status social (tanto é que escondemos nossas identidades), muito menos por solidão e menos ainda para ganhar forças contra alguém. Jamais saímos daqui para hostilizar ninguém, muito pelo contrário, outros vem de fora na nossa casa nos hostilizar. Trocamos ideias, conversamos, expomos opiniões, mas não nos unimos para fazer covardia. O grupo enquanto escudo covarde não se encaixa aqui. Nem tampouco o julgamento de acordo com a profissão. Alguém aqui sabe a profissão de algum leitor? Só quando foi pertinente ao tema discutido. Ninguém usa sua profissão como cartão de apresentação, como carteirada.

Eu não sou e nunca fui o meu trabalho. E você? Espero que também não. Mas o preço que se paga por isso é alto. O preço que se paga por correr longe da manada sempre é alto… Se você não faz do seu trabalho o que você é, a prioridade da sua vida, o que te define, não vive e respira isso 24h por dia, não o coloca na frente da vida afetiva e até mesmo da sua saúde, você é um babaca sem ambição. No caso, eu sou uma babaca sem ambição.

Grandes chances de um parceiro brasileiro médio não te respeitar se você o colocar em primeiro lugar, na frente do seu trabalho. Percebam a contradição: você está priorizando aquela pessoa em detrimento de um trabalho e a reação da pessoa é pensar MENOS de você por causa disso. O que essa pessoa está te dizendo indiretamente é: “que escolha burra que você fez, eu não valho tanto assim”. Pois é, Amigos, cabeça de vira-lata é muito complicada. Lidar com ofendidos é uma arte para poucos.

Se você quer ser forte, vencedor, respeitado, tem que ser o seu trabalho. Tem que colocar seu trabalho na frente de tudo. Nada contra quem o faz, não critico, mas tudo contra quem acha que essa é a única verdade. Respeito quem o faz, mas quem o faz dificilmente vai me respeitar. Pior: quem o faz não percebe a armadilha na qual se mete, pois se você quer bancar o preço de SER o seu trabalho e colocá-lo como prioridade absoluta, tem que saber que vai ter que fazer sacrifícios para isso, como por exemplo, não ter filhos, porque quem coloca trabalho como prioridade em detrimento de filhos está cometendo uma enorme sacanagem.

É, pois é, o ser humano não dá conta de ser tudo que ele quer ser. É preciso fazer escolhas, para não acabar sofrendo o “efeito-pato”. O pato é a única ave que corre, nada e voa. Porém o pato não faz nenhuma dessas coisas direito. Adianta? Não seria melhor ser uma águia, que não corre, mas voa muito bem? Ou um avestruz, que não voa, mas é exímio corredor? A resposta imediata do brasileiro médio é: não. Sabe porque? Porque apesar de sempre se foder todo, ele continua tendo a arrogância de achar que pode fazer tudo que quer lindamente. Não pode. Sinto muito. Ninguém pode.

Somos seres humanos, com histórico familiar, afetivo, experiências de vida, grandes tragédias, grandes alegrias, sonhos e habilidades a desenvolver. O que você é em nada se confunde com o trabalho que você está desempenhando no momento. Você não é o seu trabalho, e é ok que não seja. Errado é pensar o contrário. Permita-se não ser o seu trabalho sem deixar que as eventuais presunções negativas que isso gera te abalem.

Termino refazendo a pergunta que fiz no começo do texto: O QUE VOCÊ É?

Sua resposta mudou?

Para dizer que o que você é é beneficiário do bolsa-família e isso nada tem a ver com trabalho, para dizer que não quer ser, apenas ter ou ainda para dizer que trabalho não te define e o que te define é seu carro e seu celular: sally@desfavor.com

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Comments (84)

  • Fala, desfavor!Poxa cara,você salvou minha vida,sou doméstica tenho somente o ensino médio,e definitivamente não sou meu trabalho,adoro cultura,adoro ler e amo teatro,infelizmente tenho me sentido deprimida em um ambiente que frequento para ter aulas de yoga,é um bairro de rico gente na maioria podre e pobre de alma. Até hoje tenho ocultado meu trabalho por medo de ser rejeitada,mas apartir de hoje isso acabou,eles vão ter que me engolir,afinal meu salário é ótimo,e pago minha mensalidade em dia,coisa que muitos daqueles”bacanas” não faz.Agradecida!

  • Socorro, mas você DESCREVEU meu pai, simplesmente. Não que ele seja o trabalho dele, mas ele quer que eu seja o meu. Não me leve a mal, mas sou desempregada, vou fazer 20 anos amanhã (me socorre eu não quero -n) e a única coisa com a qual realmente quero trabalhar é com meus livros. (Sim, eu escrevo, desde os 14 anos, mas não me considero escritora.)
    E a única coisa que meu pai quer é que eu arrume “um trabalho decente”. Preciso nem te falar a pressa que ele estava quando comecei a trabalhar em um supermercado, não? Trabalhei lá 3 meses, e durante os 3 ele repetia que eu tinha que arranjar um trabalho decente logo pra sair daquele “buraco”. E, embora eu tenha terminado 4 dos 11 livros da minha série e esteja com mais três na metade, ele sequer pensa nisso, e tenho medo, as vezes, de saber a opinião dele sobre “ser escritora”.

    É foda, viu… AMEI esta postagem. Sério, demais. Obrigada, e parabéns<3

    • Você É ESCRITORA.

      Releve o pensamento do seu pai, outra cabeça, outros tempos. Saiba do seu valor, confie na sua escrita, invista nela sem medo da reprovação inicial que ele vai ter. Acredite em você, conquiste seu espaço e, com tempo, ele vai te respeitar.

  • Quando me perguntam a minha profissão e digo MANICURE, vejo caras e bocas…..hehehehehe

    Mas tô POUCO me fodendo pra essa gente….Oportunidade eu tive de fazer faculdade e ser o que eu bem entendesse, mas eu NÃOOO QUIS! rá

    • Certamente você ganha mais do que muitas dessas “caras e bocas”

      ACABOU o tempo onde quem tinha diploma universitário necessariamente ganhava bem e quem não tinha necessariamente ganhava mal. Hoje o importante não é estudo, é o social, contatos, criatividade e dinamismo

  • Sempre fui de dois ou tres amigos. Desde a adolescencia, ate ahoje nao me adapto à “panelinhas”.

    Olha, Sally, seu post foi bem oportuno. Vou fazer vestibular para Direito. Meu sonho é entrar na Promotoria, mas depois de conversar com algumas pessoas do ramo e refletir sobre sua acertada opiniao sobre o Juridico, decidi mudar de curso. Considerando que a grande maioria de suas predicoes se cumpriram, eu nao quero fazer parte de um setor em decadencia.

    Quando alguem me pergunta quem sou ou o que eu sou, costumo pensar antes em resumir meus vicios e virtudes, mas acabo falando sobre minha profissao, apenas para nao ter que responder duas vezes.

    A sociedade prioriza o ser (profissional) e negligencia o ser (moral). Daí pra pior…

  • Se eu fizesse direito não ia ser advogada. Eu faria direito pra ser delegada (apesar de estar satisfeita com o meu curso, no fundo é o que eu sempre quis). O problema é que até fazer o concurso e passar (se passar), ser chamada e tal… É uma coisa muito incerta. Mesmo não fazendo o que sempre sonhei, ainda vou investir muito na minha profissão. E nem é por achar que vou ser isso, mas sim pelo dinheiro. Eu nasci pra ser rica e cansei de viver numa realidade sem dinheiro que não faz jus a minha pessoa rs

  • Bom… não cheguei a ler todos os comentários, mas todos devem conhecer a clássica piada involuntária:

    “- O que você faz?
    – Sou professor (não importa o nível: se de educação infantil ou em programa de pós-graduação strictu sensu).
    – Ah, que legal! E você também trabalha?”

    Nessas horas dá vontade de responder: “sim, sou garoto de programa. Aliás, minha cliente mais assídua ainda não ligou hoje… não me lembro do nome dela… qual é o nome da sua mãe mesmo?”

    Haja saco!

  • Conheci uma pessoa que se formou em engenharia, mas virou taxista pois como engenheiro ele não conseguia pagar o estudo dos dois filhos (um fez engenharia e a outra fez medicina, ambos em faculdades extremamente caras). Sendo funcionário em uma empresa, muitas vezes se trabalha além da conta (mas o salário continua o mesmo), além de ter uma rotina desgastante pegando ônibus lotado, trânsito e lidando com chefe chato, e quando menos se espera a empresa pode te dispensar como se nada.

    Pensando nisso e observando a vida de muita gente, resolvi ter qualidade de vida. Faço o meu horário, trabalho onde e quando quero e minha renda é proporcional ao tanto que trabalho. E ainda gosto do que faço! Muito prazer, sou professora particular de matemática, física, química e biologia. E assim como o taxista que conheci, consigo ganhar mais do que atuando como engenheira.

    Muita gente não compreende (inclusive meus pais) o porquê de eu não querer seguir carreira em uma grande empresa. E eu não entendo o porquê dessas pessoas quererem que eu seja explorada pra ganhar merreca. Quer dizer, não entendia até agora, pois seu texto explica perfeitamente, Sally.

  • Olha, essa coisa de “orgulho” profissional também é uma praga no Japão. Sujeito passa 40, 50 anos da vida trabalhando na mesma empresa e, mesmo aposentado, ainda apresenta-se como “O Gerente de Projetos da Toyota, fulano de tal”. Todo mundo que se preza tem um cartão de visita e ai de você se não pegar esse pedacinho ridículo de papelão com as duas mãos e agradecer em reverência…

    E o pior que essa cultura idiota de saber onde estudou, o que tem, o que ganha e o que faz permanece com a colônia aqui…

  • Algumas vantagens do meio cientifico é que voce em tese faz o que gosta, estuda o que quer, e as pessoas não se importam tanto com o seu jeito. O fueda é o investimento, pelo menos 20 anos de estudo puxado pra começar a pensar em ter chance de ser alguma coisa na área. Antigamente eu brincava com as pessoas quando me perguntavam o que eu era, eu respondia que era cientista, aí nego achava graça por que eu não sou um velho de avental bizarro com a língua de fora. Hoje eu falo que sou biólogo mesmo, aí já pensam que sou bicho-grilo e ninguém nem sonha em me pedir dinheiro emprestado.

    • Engraçado, durante um tempo eu apresentava minha profissão como cientista. Ai um dia me perguntaram se isso era profissão mesmo. A pessoa que perguntou tinha razão, não é profissão. Prostituta é profissão, cientista não. Hoje eu já introduzo minha profissão como “ser curioso, ganho a vida assim”. Não é profissão, mas percebo que as pessoas compreendem mais do que falar “sou cientista”. Maravilhoso mundo do Brasil

  • Sally, aqui onde moro ‘adevogado’ não tem essa aura de boa profissão não. Desgastaram a profissão com tantos acéfalos formados, fora que ganhamos muito mal!
    Tanto que vou mudar de profissão, mas na área do Direito ainda…

  • Essa questão de julgar a pessoa pela profissão é bem condizente aos BMs. Não me surpreende, é bem mais facil de ‘julgar’ e ‘entender’. A colega falou ai nos comentário que é faxineira, trabalha 6 horas e faz o proprio horário. Certeza que não precisou de um diplona de “Doto” pra viver bem e ter tudo que quer, mas certeza que a julgam-a coitada apenas pela profissão.

    O que mais me espanta é essa questão de ter vergonha de trabalhar, porra. Vergonha de trabalhar? Por isso somos o pais da “ostentação”.

    Um dia desses ouvi essa história abaixo de um colega de trabalho.

    “Filho de médico, condição boa e tal, morava num condominio. Quando precisava de dinheiro, ao inves de pedir ao pai, lava os carros dos vizinhos, show, né!?
    Até o pai descobrir, ficar puto, proibir a atividade e fornecer uma mesada.”

    Quando ele finalizou a história fiquei feliz que o pai não o tranformou em um vagabundo.

  • No Brasil até um jovem universitário que trabalha em meio-período como garçom ou balconista, por exemplo, é mal-visto. No geral pensam que a pessoa terminou o EM e não se interessou em ir pra faculdade, ou repetiu n vezes no vestibular, ou é pai/mãe por acidente. Ou os três. Enfim, que é uma pessoa derrotada.
    Para um povo que em maioria vive em função de aparências, isso acaba desestimulando alguns a acharem um emprego de meio-período (nunca me importei quando trabalhei durante algumas semanas, mas conheço pessoas assim). Brasil, onde trabalhar honestamente é uma vergonha.

    • Um dos criadores do Google não tem diploma universitário e tenho a impressão de que ele deve ganhar um salário um pouquinho maior do que o de um médico ou advogado. Em países civilizados se a pessoa for inteligente e capaz ela sobe só com seu trabalho, independente de pompa ou profissao…

  • sacola família

    Falando em Estácio, telemarketing e orkutizacao de profissões. Eu tenho um amigo atendente do SAC da Estácio e ele me conta cada coisa que ele ouve de antas que ligam pra lá. É um tal de nego não entender o que ta escrito no site, explicar várias vezes até o burro entender. Num futuro próximo serão os merdicos e advocagados brasiloides. A coisa tá tão feia que eu acho um absurdo alguém botar filho no mundo neste país.

  • Profissão x Carreira….assunto difícil, tenho um emprego…serve? Minha profissão é desgraçada de ruim, mas é minha única fonte de renda. Quando me perguntam qual é sou evasiva, mas se tenho que formalizar daí num tem jeito.
    Já perceberam que há um tipo muito comum de “intocável” que é o dito trabalhador? Este que pode tudo, aporrinhar a vida dos outros, encher a cara de drogas e bebidas, meter a mão nos filhos/esposas, ser um completo babaca, mas é TRABALHADOR!!! Pode fazer qualquer merda pq é TRABALHADÔ (válido para o sexo feminino também)
    Entendo que o tópico é sobre profissões, mas o assunto está intrinsecamente ligado ao labor (grau de dificuldade, demanda de tempo p/ a execução do trabalho, etc) e assisti um programa (Café Filosófico dia 26/10) que apesar de abordar a questão do ócio e preguiça, falou muito sobre o trabalho, e logo, o status do trabalho (inclusive quando isto virou uma virtude indiscutível) e profissão, algumas das menções do programa:

    “…um homem que não tem 2/3 do seu tempo livre, seja ele um jurista, um sacerdote, um cientista ou exerça qualquer função, é um escravo” (algo assim…)
    Assim falou Zaratustra – Nietzsche
    E
    ”são os ociosos que transformam o mundo porque os outros não têm tempo algum.”
    Albert Camus

    Fique refletindo sobre estas questões e o texto meio que complementou…

  • Mafalda, qualquer puta de rua ganha mais do que eu. Certeza!

    Se eu tivesse vocação, embarcaria nessa onda de putas que escrevem blog, estilo Gabriela Benvenutti. A garota já comprou seu apartamento em São Paulo e tem o livro na lista dos mais vendidos.

      • Verdade! Nem precisa ser puta real, basta ter as manha pra engabelar os BM que vende livro. Curioso que geral não curte estudar mas basta uma piriguete escrever que vai la vira best seller.
        Sal, tu que tem imaginação e escreve bem pacarai, que tal inventar um perfil fale de puta tipo a Kelly do Orkut pra faturar milhões e me dar uma comissão porque eu dei a ideia hahaha

  • E quando o status social fala mais alto e a pessoa rebusca a sua profissão. Por isso vemos por aí os ” Promotores de Vendas ” e não “Vendedores”. Definir pelo que parece ser e não pelo ser.

      • Tmb acho divertidíssimo… e outros tipos tmb. Agora pouco estava rindo ao ver o anúncio de um escort hobby 1995 SEMINOVO.

        • Também adoro esses eufemismos. Há poucos minutos, achei esta listinha :

          -Coordenador de Fluxo de Artigos Esportivos (Gandula)

          – Especialista em Marketing Impresso (Boy que tira xerox)

          – Supervisor-Geral de Bem-Estar, Higiene e Saúde (Faxineiro)

          -Oficial Coordenador de Movimentação Interna (Porteiro)

          -Oficial Coordenador de Movimentação Noturna (Vigia)

          – Distribuidor de Recursos Humanos (Motorista de ônibus)

          – Distribuidor de Recursos Humanos VIP (Motorista de táxi)

          – Distribuidor Interno de Recursos Humanos (Ascensorista)

          – Especialista em Logística de Energia Combustível (Frentista)

          – Auxiliar de Serviços de Engenharia Civil (Peão de obra)

          – Especialista em Logística de Documentos (Office-boy)

          – Técnico de Marketing Direcionado (Distribuidor de santinhos/ Panfleteiro)

          – Especialista em Logística de Alimentos (Garçom)

          – Distribuidor de Produtos Alternativos de Alta Rotatividade (Camelô)

      • A moda agora é “terapeuta capilar” (= cabeleireiro). Vai ver cansaram de ser chamados de cabeleleiros, cabelereiros, e por aí vai…

  • Adorei o texto. E também sempre detestei pertencer a “grupinhos” disso e daquilo. Pra mim sempre foi tão sacal… Nas poucas vezes na vida em que cheguei a participar de algum tipo de turma, sempre foi mais por afinidades de sentimento e de pensamento do que por querer ter “um grupinho no qual eu possa me escorar para me sentir menos solitário”. Aliás, pra maioria dos BMs eu devo ser mesmo uma aberração. Entre si, os BMs devem cochichar sobre mim coisas como: “Como é que pode? Ele não estufa o peito pra falar da profissão, não tem o mesmo comportamento padrão – dentro e fora do trabalho – que os outros caras com a mesma profissão que dele têm… Não exibe carro, casa nem roupa. E ainda pior: adora ficar sozinho! Onde já se viu?”

    Sabe, a vida fica tão mais leve, mais fácil – e melhor – quando a gente percebe aquilo que realmente nos é importante e deixamos de carregar certos “fardos” desnecessários. Questão de apertar o botão do “foda-se” mesmo… É tão bom não ter essa necessidade de seguir uma manada. É tão bom poder “cagar e andar” pra símbolos tolos de status pelos quais os outros quase chegam a matar e morrer. É tão bom não ter que se preocupar com o que não existe. É tão bom poder pensar apenas em cumprir suas tarefas serenamente, em silêncio e de forma ao menos minimamente competente. É tão bom não dar bola para o que pensam ou deixam de pensar a nosso respeito…

    Claro que é importante ter uma profissão – em vez de ter apenas empregos ou bicos – pra ter um rumo na vida e ser capaz de se sustentar usando suas aptidõess fazendo algo de útil para si e para a sociedade. Mas uma profissão, a bem da verdade, é – ou deveria ser – apenas um meio para um fim: ganhar dinheiro para se manter e, se possível, se permitir certos prazeres. A gente deve trabalhar para vier e não viver para trabalhar. Também sempre achei ridículo quem diz que “se mata” de trabalhar. Se a pessoa “se mata” de trabalhar, está fazendo tudo errado. Trabalhar pode até não ser o maior prazer do mundo – não são todos que têm a sorte de conseguir ganhar a vida seguindo a verdadeira vocação ou fazendo algo de que gostam – , mas também não deve ser o maior suplício do mundo.

    E concordo quanto aos BMs quererem exibir um status de “Dotô” nem que seja na base de um diplominha safado de uma Estácio de Sá da vida. Vezes sem conta ouvi conversas em ônibus – BM que é BM não sabe conversar num tom de voz mais discreto – em que um diz pro outro: “A minha filha tá fazendo Administração na (insira aqui o nome da faculdade fuleira caça-níqueis de sua preferência)… Não é como o filho da Beltrana, que é office-boy, ou da Ciclana, que mexe com ‘tóchico’…”. E, na faculdade de jornalismo, nunca esqueci do dia em que tivemos nossa primeira aula prática de TV. Teve menina que foi de tailleur, com a cara cheia de maquiagem, cabelo arrumado, perfume forte; já se achando uma Ana Paula Padrão… Mal consegui segurar o riso. Era só a primeira aula prática de TV e muitas dessas meninas nem chegaram a concluir o curso.

  • Meu trabalho é professora pública, ed infantil.
    Só isso já basta para até as pedras saberem que ganho muito mal.
    Meu ofício é ser professora.
    O que eu sou:?
    E com certeza sou muito mais do que as limitações do meu trabalho.

  • Essa de profissão dar status social eu já senti na pele. Há alguns meses, fui a um médico mais ou menos famoso aqui da cidade (o que não é muita coisa, a cidade é pequena rs) acompanhando meu pai e, como os dois se conhecem há um tempão, logo eles começaram a conversar um pouco sobre a vida antes da consulta. Meu pai, num dado momento, falou que estava super feliz por eu ter me formado no fim do ano passado e ele se virou pra me perguntar no quê. Quando falei “pedagogia” o sorriso do cara se transformou uma expressão de pena “minha filha, profissão de verdade é fazer medicina, advocacia, engenharia. Pedagogia não vale a pena não”. Apenas sorri e ignorei, porque tenho essa mesma opinião de vocês e nunca me deixei (nem deixarei) que profissão me definisse.
    Mas é bem impressionante que um país em que as pessoas cobram altas taxas de qualidade na educação, profissões relacionadas a ela sejam tão desvalorizadas. Não atuo na área (pretendo me embrenhar pela pedagogia empresarial) mais por falta de vocação pra lidar com crianças mesmo, mas é absurdo e desmotivador. Várias pessoas da minha família (tanto por parte de pai quanto de mãe, principalmente do lado da mãe rs) são professores e professoras e sempre me relataram a mesma coisa, mesmo quando não estavam ali por gosto: experimente dizer que é médica, advogada, engenheira, arquiteta, e todos vão te parabenizar. Agora diga que é professora e todo mundo vai te olhar com uma cara de pena e cortar relações lenta e discretamente com medo de você pedir dinheiro emprestado. Melhor rir do que chorar.
    E a sacada do “Para dizer que o que você é é beneficiário do bolsa-família e isso nada tem a ver com trabalho” me fez rir alto de novo. Parabéns pelo texto :)

    • Não entendo como ser advogado ainda é valorizado. Um bando de fodidos que ganham merda e trabalham muito. Os ricos e poderosos são exceção

      • “Um bando de fodidos que ganham merda e trabalham muito”. Um bando de fodidos que ganham merda, trabalham muito, mas que carregam valises e andam de terno. E em alguns lugares, basta estar de gravata pra ser tratado com um pouco mais de deferência e ser chamado de “dotô”…

    • Isso de ser professor eu já nem ligo mais, taco o foda-se logo e… A coisa piora um pouco quando tu diz que quer seguir carreira acadêmica, mestrado e doutorado. Daí as pessoas dizem “nossa, mas pra que ficar estudando tanto tempo e tal?” ¬¬

    • Já ouvi “parabéns” quando perguntaram minha profissão e eu respondi sem entender “hã? mas… pq?”. Lendo esse texto entendi. Que bosta.

  • Sally , uma vez eu estava fazendo estágio em uma farmácia de manipulação e vi o gerente reclamando que uma das manipuladoras saía sempre p-o-n-t-u-a-l-m-e-n-t-e.
    Se ele tivesse reclamado que ela não cumpre horário, saia mais cedo, chegava atrasada, estourava pausas de almoço e café até entenderia, mas porra… reclamar pq a mulher cumpria horário?
    Detalhe: ela precisava sair no horário porque ainda tinha aula. E elas (manipuladoras) levam um tempo para tirar a paramentação (jaleco, touca, luvas…).
    Ele justificou dizendo que muitas vezes passa do horário porque fica dando atenção para os clientes e que em todos os lugares é assim.
    Não sei se pela falta de empregos, mas tenho a impressão que as empresas se julgam donas dos funcionários. Ficam falando que têm que vestir a camisa, sendo que muitas vezes esse termo é usado para obrigar funcionário a ficar depois do horário, fazer atividades pela qual não é pago, etc etc.
    Parece que é bonito dizer que se vive para trabalhar e não o contrário.

    • É isso que acontece quando temos esse “exercito de reserva”. Se nao topar esse esquema exploratorio, vai ter trinta que toparão

      • No escritório onde trabalhei sair no horário era sinônimo de “corpo mole”, várias vezes fiquei a mais, enrolando, sem muito o que fazer para não ficar com a pecha de preguiçosa

  • Adorei o tema de hoje, Sallyta, me fez até sentir melhor. Esses dias mesmo eu estava nessa neurose de fazer tudo certo em todos os aspectos da vida. É uma cobrança que vem de fora e de dentro e não tem fim! Um saco…

    Pior é que você estuda feito um condenado, tenta aprimorar seu nível cultural e vem um ”dotô” sem eira nem beira conquistando tudo na esperteza. Phoda!

    • Uma vez um advogado quis me dar carteirada, moro perto de um tribunal. Parou na frente da garagem e eu fui lá xingar quando o vi voltando. Ele respondeu perguntando se eu sabia com quem estava falando. Respondi que não. “Eu sou ADVOGAAAADO!!” E eu respondi “Coitado! Quem mandou não estudar?”. A cara dele foi impagável.
      obs: Um amigo meu respondeu isso para um PM e levou um tabefe bem servido na cara. Cuidado pra quem for usar essa frase pronta.

  • Sally eu sou “fui Né” professora formada, mas desisti não aguentei, e comecei a fazer faxina “acredite se quizer, estou mais tranquila do que quando eu dava aulas pra “aborrecentes” marmanjos fedorentos e sem vontade de estudar.Hoje eu faço meu horario, trabalho 4 dias por semana,6 horas por dia.Tenho 3 filhos formados,cada um trabalhando na sua aréa.Tenho meu apzinho, meu carrinho,e quando me perguntam ,Qual sua profissão eu digo com orgulho sou faxineira, melhor do que ser uma professora mal paga, cheia de estress.

  • Eu sou um conjunto de matéria, energia e informação codificada.

    “E o que você faz?”

    Cafuné, pipoca e piadas questionáveis.

    “Sério, como você ganha a vida?”

    Eu ganhei a vida quando um espermatozoide encontrou um óvulo.

    “Porra, quanto você ganha?????”

  • Eu NÃO respondo porque sou Telemarketing e tenho vergonha de ganhar mal.
    Prefiro que imaginem coisas. A 1 coisa que pensam de quem não responde é que é puya. Puta ganha mais que Telemarketing.

      • Inclusive conheço atendente de telemarketing que tira 3000 dilmas só de comissão…Inclusive eu estou na terceira categoria, bibliotecário não é nem “prestigiado” nem “vergonhoso” ele simplesmente não existe; tenta ouvir de um fudido que pagou a alma num diploma de direito da estacio que é ridículo fazer faculdade pra aprender a por livro na estante…

    • Isso é controverso. Já vi putas disfarçarem dizendo que trabalhavam com telemarketing. Tudo depende do contexto.

    • Mafalda, qualquer puta de rua ganha mais do que eu, tenho certeza.

      Se eu tivesse vocação, embarcaria nessa onda de novas putas que escrevem blog, estilo Lola Benvenutti e Bruna Surfistinha.

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