Justiça para tolos.

+A desconfiança diante das instituições públicas do país faz com que 81% dos brasileiros concordem com a afirmação de que é “fácil” desobedecer às leis. O mesmo porcentual de pessoas também tem a percepção de que, sempre que possível, os brasileiros escolhem “dar um jeitinho” no lugar de seguir as leis.

Não tem jeitinho não, é desfavor da semana mesmo.

SALLY

Uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas deixa exposta uma ferida aberta sobre um assunto antigo para quem é leitor do Desfavor: a esculhambação e descrédito do atual Judiciário.

Os números não são exatamente novidade, mas confirmam que estamos batendo na tecla certa antes mesmo disso virar o assunto do momento. O Judiciário brasileiro faliu. FALIU. Não dá certo. Não funciona. Não obtém nada próximo do efeito esperado. Muito pelo contrário.

Como pessoas inteligentes e esclarecidas bem sabem, não é a crueldade de uma pena que coíbe o crime. Temos uma prova concreta disso na pesquisa. Mesmo sabendo que prisão no Brasil é sinônimo de inferno, de tortura, de estupro, de perda da dignidade, de condições desumanas, 81% dos brasileiros acha fácil desobedecer as leis do país. Se não cumprem a lei que pior castigo oferece, que é a criminal, quem dirá o resto.

Outro dado que chama a atenção: as pessoas confiam mais na POLÍCIA do que no Judiciário, NA POLÍCIA, sabe? Temos uma das polícias mais corruptas e violentas do mundo e, ainda assim, a população confia mais na polícia do que no Judiciário. O que isso nos diz sobre o Judiciário?

Brasil é um dos países do MUNDO com maior índice de reincidência de criminosos. Países que tratam seus detentos com dignidade são recordistas em ressocialização e tem índices de reincidência inferiores a 10%. Brasil é um dos países que mais tem população carcerária quando analisado proporcionalmente à população do país e, ainda assim, tem índices de criminalidade muito maiores do que países que prendem menos. Será possível que as pessoas não percebam que no caminho que estamos, não conseguimos bons resultados?

Não se trata de dar “benefícios” (como se um tratamento digno fosse um benefício) a bandido. A ótica está errada. Se trata de fazer o que for melhor para a sociedade. Já falei sobre isso tantas centenas de milhões de vezes nos tempos em que ainda acreditava na minha profissão que me permito não me aprofundar nesse ponto. Quem é leitor sabe de cor meus argumentos (e quem não é que corra atrás, tá tudo aqui, para ser lido).

As pessoas acham fácil desobedecer às leis do país. Ou seja, não há prevenção de crime, não há fiscalização para coibir a prática de crime e também não há punição eficiente para quem o comete. Se falha antes, durante e depois. Em vez de mexer na qualidade, os Brasileiros Médios imbecilóides insistem em achar que é na quantidade que se deve mudar: as penas devem ficar MAIORES, PIORES, seguir no mesmo caminho que nos levou para o buraco onde estamos. Em resumo, estão tentando potencializar o que já estava ruim, de modo a deixa-lo péssimo.

É como se você estivesse em um caminho errado, mas em vez de fazer o retorno e tomar o caminho certo, pisasse o pé no acelerador, cada vez mais, como se isso fosse mudar seu destino final. MAIS PENAS, MAIS CRUELDADE, MAIS PRISÃO. Não há esperança para o Brasil, se ainda não perceberam que quanto mais pioram a situação para o condenado, mais piora a situação para a sociedade. Não há esperança. A ponto de começarem a achar compreensível linchamento, tamanho o descrédito no Judiciário.

E mesmo saindo da esfera criminal, o Judiciário como um todo está cagado. Juízes se achando Deus (e conquistando esse direito por decisão judicial), processos atrasador, morosidade que mata, recompensa a ofendidos histéricos, uma massa de adEvogados desqualificados que fazem petição da base do corta-cola, uma máquina ineficiente e cara e, para completar, totalmente corrupta e contaminada pela política.

Quando o Judiciário de um país não vai bem, o país escaralha. Isto porque no sistema de divisão de Poderes, um fiscaliza o outro mas o Judiciário é o que mais tem poder de coibir e obrigar os outros dois Poderes. Não é coincidência que o grande escaralhamento tenha começado quando o Sem Dedo achou democrático abarrotar o STF, a corte máxima brasileira, com gente sua. Desde que o Governo tem maioria no STF na base da “amizade” a coisa vem piorando significativamente, até porque o PT se cerca de gente burra e gente burra emburaca qualquer instituição. Perguntem à Petrobrás.

Mercenários desqualificados e sem alma povoam os tribunais brasileiros. Incompetentes, a ponto de ruir com toda uma estrutura social para beneficiar a si mesmos e a seus benfeitores. Burros, burocratas e pau mandados detonaram um belo sistema Judicial que funcionaria lindamente em qualquer lugar do mundo onde existissem pessoas competentes e comprometidas. A escória, repito, A ESCÓRIA da sociedade está no Judiciário. Não mais na polícia, NO JUDICIÁRIO.

Todo o esforço que vem sendo feito para combater injustiça, criminalidade e tentar restaurar a paz social está saindo pela culatra nos últimos 12 anos. Nunca tivemos um Judiciário tão moroso, incompetente e corrupto. Basta ter paciência e dar uma lida nos dois últimos anos de TOP DES para ver que toda semana tem pelo menos meia dúzia de notícias revoltantes que desacreditam o Judiciário. Merdou. Merdou de um jeito que não tem mais volta. Cada componente visou tão egoisticamente seu objetivo que conseguiram, tal qual uma célula cancerosa, cagar todo o organismo.

Tá tudo errado, as pessoas SABEM que está tudo errado (quem já precisou do Judiciário sabe) e ainda assim não se dão conta que as coisas estão no caminho errado. Para passar a perna no colega de trabalho o brasileiro é espertão, mas para pensamento macro é burro que dói. É isso que décadas de egoísmo geram: atrofiamento do pensamento de coletividade. E quando não pensamos macro, pensamos pequeno e involuímos. O resultado? TODO MUNDO PERDE, e perde muito, até mesmo aqueles que teoricamente “se deram bem” com esse estilo egoísta de ser. Isto porque quando se pensa egoísta, no final das contas, no macro, o saldo SEMPRE é negativo.

Parabéns por pegar uma bela Constituição e emerdalhá-la de forma irreparável. Parabéns mesmo. Prefiro vender churros na pracinha da esquina do que voltar para o direito. Eu avisei que isso ia acontecer.

Para limpar a bunda com sua carteira da OAB, para não se importar porque você continua achando que está se dando bem ou ainda para pouco se foder para o que eu disse e continuar querendo passar em um concurso para mamar nas tetas contaminadas do Governo e compactuar com essa merda toda: sally@desfavor.com

SOMIR

O judiciário é ruim porque os brasileiros não respeitam as leis ou os brasileiros não respeitam as leis porque o judiciário é ruim? A ‘Pergunta Tostines” com a qual abro o meu texto é difícil de responder. Por um lado temos uma população que não confia em quem aplica as leis, mas por outro parece que isso nem faria diferença, afinal, o famoso jeitinho ainda é o método do brasileiro para resolver seus problemas.

Proponho que seja um misto das duas coisas. Como neuroses que se alimentam uma da outra. Historicamente, o Estado tupiniquim nunca foi algo para ser levado muito a sério. Começou como uma colônia com o claro objetivo de pilhar as riquezas regionais, depois serviu como esconderijo para uma monarquia medrosa, o brinquedo de imperadores entediados e finalmente uma república com imensa dificuldade de fazer valer os valores democráticos.

Isso aqui nunca foi muito sério como uma instituição de poder. Temos governo porque convencionou-se que um era necessário. No final das contas, o brasileiro sempre se sentiu um estranho para o conceito de organização social. Mais de 500 anos de bandalheira tendem a deixar o papel do Estado meio confuso para a sua população.

Seria o Estado apenas uma forma de conquistar vantagens momentâneas? O objetivo dele ainda é retirar o máximo de riquezas dessa terra? Não é de se estranhar que o brasileiro enxergue o seu jeitinho como o melhor meio de conseguir o que quer: a sociedade parece baseada no egoísmo. E com uma base dessas, quaisquer poderes que se mencione parecem subordinados à conquista de vantagens pessoais.

O Executivo corrompido, o Legislativo corrompido, o Judiciário… corrompido! Quem paga mais leva mais, simples assim. Considerando uma população majoritariamente pobre, faz sentido não acreditar que eles trabalhem em prol do povo. O sistema quebrado gera cidadãos quebrados. Não estou eximindo o brasileiro médio da culpa de aceitar e perpetuar esse sistema, mas estou reconhecendo que não é exatamente um problema de índole, e sim de caminho mais fácil.

É fácil não acreditar no Estado e agir de acordo. Ser honesto e respeitar todas as leis no Brasil dá muito mais trabalho do que deveria… chega a ser frustrante para os que tentam. Acredito que qualquer organização popular deva primar por facilitar as boas escolhas de seus membros. Quando ela falha nisso, a via do menor esforço sempre vai estragar o sistema como um todo. A humanidade se baseia nisso de encontrar o menor caminho entre dois pontos, e isso nos trouxe avanços incríveis e nos tirou das cavernas. Não é a ideia de fazer o mais fácil que é o problema, é o que isso significa se a opção mais justa e nobre for dificultada sem necessidade.

Agora, como resolver um problema com duas frentes igualmente responsáveis pelos maus rumos do país? Oras, não tentemos reinventar a roda: vamos pela via do menor esforço também. De um lado temos centenas de milhares de pessoas responsáveis pela falência do sistema Judiciário, de outro temos centenas de milhões responsáveis pelo descrédito do cidadão nas instituições. Resolvendo um desses lados, o outro acaba melhorando também.

O que te parece mais racional na hora de resolver o problema? Conscientizar milhões ou fiscalizar milhares? O Judiciário não é responsável por todos os problemas da percepção brasileira de justiça, mas paga o pato por ser de longe o mais fácil de lidar. Se ele for levado a sério em todas suas etapas, teremos pelo menos uma parte do Estado na qual os brasileiros poderão confiar. E essa confiança vai fazer muito bem para a população.

Acreditar na justiça muda a forma como enxergamos o mundo. Não só pelo viés da certeza da punição por algo que se faz de errado, mas também pelo senso de propósito que proporciona: saber que está ajudando a manter um lugar limpo e arrumado faz bem para a maioria das pessoas. Gostamos de ser parte da solução. O cidadão participa mais do processo se sabe que vai entrar num sistema que funciona.

Sally já listou vários dos problemas do Judiciário em seu texto, eu não tenho nem o que somar. Se o nosso foco fosse lidar com eles, mesmo o processo de limpeza já seria o suficiente para derrubar a sensação de impunidade e distância da justiça do cidadão comum. Colocar gente mais preparada num sistema menos corrupto é a única solução factível para combater os nossos problemas atuais.

Poderíamos tentar convencer o brasileiro que vingança e justiça são duas coisas separadas, poderíamos tentar fazê-los entender que o Estado são eles mesmos e estão reclamando da própria sombra… Poderíamos sim, mas sem ver nenhum fruto de seu esforço recompensado por uma Justiça mais célere e eficiente seria apenas desperdiçar trabalho.

O Judiciário está à plena vista, a impunidade também. Ou se conserta o mais visível, ou a sensação sempre vai ser a de que tudo está quebrado.

Inclusive nós.

Para dizer que é fácil falar, para dizer que é rico e acha o Brasil muito justo, ou mesmo para dizer que não leu os textos mais vai concordar: somir@desfavor.com

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Comments (15)

  • “Desde que o Governo tem maioria no
    STF na base da “amizade” a coisa vem
    piorando significativamente, até
    porque o PT se cerca de gente burra e
    gente burra emburaca qualquer
    instituição.”

    Isto não traz certa “esperança”? Pois, apesar de tudo, a hegemonia do PT um dia irá ruir…

    A ideia, apresentada pelo Somir, de que justica não é vingança e intessante. Mas ser que um dia o Barril vai compreender algo tão simples?

  • Vou continuar querendo passar em um concurso para mamar nas tetas contaminadas do Governo e compactuar com essa merda toda?

    Sim.

  • “Poderíamos tentar convencer o brasileiro que vingança e justiça são duas coisas separadas, poderíamos tentar fazê-los entender que o Estado são eles mesmos e estão reclamando da própria sombra…”

    Foda. Todo mundo coloca o Estado como um vilão poderoso e distante, mas ninguém encara o espelho…

  • “As leis são como as teias de aranha que apanham os pequenos insetos e são rasgadas pelos grandes.”

    Não sei de quem é a frase, mas é perfeita. PERFEITA.

    Todo brasileiro sabe disso. E as consequências são terríveis: em vez de concentrarmos esforços em sermos cidadãos melhores, nós aprendemos desde crianças que a única saída é nos transformarmos em insetos cada vez maiores, para poder rasgar a teia de aranha da justiça. Porque a realidade é essa. Ganha o jogo quem joga melhor, mesmo que as regras sejam injustas.

    Enquanto as cadeias da Suécia são fechadas por falta de gente, as nossas sempre serão lotadas de insetos pequenos. Sempre.

    • Talvez venha do Martín Fierro, um poema argentino do século 19.

      1091
      Dende que elige a su gusto,
      lo más espinoso elige;
      pero esto poco me aflige
      y le contesto a mi modo:
      la ley se hace para todos,
      mas sólo al pobre le rige.

      1092
      La ley es tela de araña
      en mi inorancia lo esplico:
      no la tema el hombre rico;
      nunca la tema el que mande;
      pues la ruempe el bicho grande
      y sólo enrieda a los chicos.

      1093
      Es la ley como la lluvia:
      nunca puede ser pareja;
      el que la aguanta se queja,
      pero el asunto es sencillo:
      la ley es como el cuchillo,
      no ofende a quien lo maneja.

      1094
      Le suelen llamar espada
      y el nombre le viene bien;
      los que la gobiernan ven
      a dónde han de dar el tajo:
      le cai al que se halla abajo
      y corta sin ver a quién.

      1095
      Hay muchos que son dotores,
      y de su cencia no dudo;
      mas yo soy un negro rudo
      y aunque de esto poco entiendo,
      estoy diariamente viendo
      que aplican la del embudo.

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