E a série filhos hipotéticos continua: aproveitando a data que se aproxima, Sally e Somir discutem sobre os positivos e negativos da segunda maior mentira natalina. Os impopulares nos presenteiam com sua opinião.

Tema de hoje: Conta para seu filho que Papai Noel não existe?

SOMIR

Não, deixa o pirralho chegar nessa conclusão sozinho. Das mentiras que contamos nessa vida, o bom velhinho é uma das mais ‘seguras’ para se colocar na cabeça de uma criança. Entendo a opção de abrir o jogo de uma vez, mas acredito que exista um plano de ação mais eficiente.

Mentimos. Mentimos muito. Desde as mais simples até as mais elaboradas, as mentiras servem como uma espécie de graxa que faz as engrenagens da humanidade funcionarem minimamente bem. Muito bonito o discurso de que só devemos falar a verdade, mas sabemos que na prática é complicado demais. Sou a favor de um mundo mais honesto, claro, mas ignorar como a sociedade funciona não vai ajudar ninguém.

Mentimos tanto que algumas delas saem completamente de controle. Neste exato momento a maior parte da população mundial acredita num ser mágico que nos observa dos céus e nos pune ou recompensa de acordo com nossas ações! Papai Noel muda de nome quando crescemos. Eu entendo sim que existem paralelos demais entre as divindades mais famosas e o velho gordo do Pólo Norte, mas mesmo assim acredito que o problema não é uma criança acreditar no Papai Noel… o problema é quando os adultos o fazem.

E os religiosos que me perdoem, mas eu seria um fracasso retumbante como pai se meu filho chegasse na vida adulta com a capacidade de compreensão da realidade de uma criança. Não temeria a possibilidade dessa mentira se perpetuar. Enquanto criança pode acreditar em qualquer bobagem, desde que vá se livrando delas durante a vida.

Acredito que algumas coisas nessa vida se aprende melhor na prática. Lidar com mentiras é uma delas. Uma coisa é criar seu filho fazendo ele saber que Papai Noel não existe, outra é deixá-lo ligar os pontos e fazer seus neurônios chegarem nessa conclusão sozinho. Contar a verdade é privar a criança de um exercício intelectual precioso, é dar o peixe ao invés de ensinar a pescar.

Não estou dizendo aqui que é para deixar a criança descobrir que mexer com panela é perigoso na prática, estou apenas dizendo que a mentira do Papai Noel permite um dos poucos ambientes ideais para treinar uma criança a lidar e derrubar mentiras. Ela VAI ter que lidar com elas durante a vida, nada melhor do que começar cedo.

Descobrir que Papai Noel não existe pode ser doloroso (para mim não foi, eu fiquei me sentindo o máximo por ‘quebrar o código’ dos adultos), mas existem formas de diminuir o baque: se os adultos próximos reagirem bem, como se a criança acabasse de passar num teste importante, ela vai entender que vai continuar ganhando os presentes e ainda se sentir mais inteligente. Defendo a mentira do Papai Noel porque não vai traumatizar ninguém e ainda vai ensinar algo valioso.

E nessa de descobrir que os adultos estão dando os presente vem mais uma lição bacana: que as coisas não surgem do nada. Os presentes tem que vir de algum lugar. Criança muitas vezes não entende que os pais não podem dar tudo para ela porque nem entende o conceito de transferência de valor, de que as coisas tem origem e cada um pode prover até certo ponto. É tedioso para ele aprender isso sem uma história bacana para acompanhar.

Sim, existe a escrotice de fazer a criança achar que alguém a está observando, mas caso você já tenha esquecido: crianças se preocupam com qualquer coisa por no máximo uns dez minutos. O foco de atenção minúsculo e falta de capacidade de pensar de forma muito complexa são o motivo da mentira colar e também a garantia que ela não vá sofrer. Que criança se preocupa com o Papai Noel fora do Natal?

Deve-se criar um filho prezando pela honestidade, mas uma mentirinha ou outra são bons treinamentos para a vida adulta. Pais muito eficientes nessa coisa de falar a verdade podem criar filhos com dificuldades de filtrar informações antes de reagir a elas. Alguém que não espera mentiras vindas dos outros.

E muito se engana quem acha que acreditar em Papai Noel fere sua capacidade de pensar de forma crítica no futuro. Eu acreditei nele, no Coelhinho da Páscoa e até no deus cristão quando era criança, hoje sou provavelmente a pessoa mais cética daqui. A capacidade de evitar as armadilhas do pensamento fantasioso devem ser treinadas constantemente sob o risco de você ceder à tentação na primeira dúvida. Tornei-me ateu mais ou menos da mesma forma que deixei de acreditar no Papai Noel: “Peraí, isso não está fazendo muito sentido…”

Um pouco de fantasia na vida não faz mal: temos cérebros muito capazes disso e seria até um desperdício não fugir um pouco da realidade para exercitá-lo. O risco é deixar a fantasia ditar suas ações na vida real, mas basta ter bem exercitada a capacidade de separar as coisas para minimizá-lo.

Não faz mal que a criança acredite no Papai Noel, desde que os adultos ao seu redor saibam que aquilo é apenas uma fase. Há de se respeitar a inteligência do pequeno quando ele começa a fazer as perguntas certas. E quando a criança perguntar porque você mentiu, diga a verdade: para te testar. Parabéns, você passou!

Como diria a campanha de sabão em pó: criança tem que se sujar um pouco. Pegar alguns anticorpos. Contar a mentira do Papai Noel é que nem deixar ela brincar na lama, não como soltá-la num lixão do jeito que a Sally vai tentar te convencer. É uma mentira leve que ensina coisas valiosas assim que é descoberta.

E ainda ajuda a sacanear os cristãos, roubando o significado da festa deles!

Para dizer que não esperava isso de mim, para dizer que esperava justamente que eu fosse defender a mentira, ou mesmo para dizer que ainda acredita no Papai Noel: somir@desfavor.com

SALLY

Contar para seu filho que Papai Noel não existe ou educa-lo dento da mentira padrão? Contar. Mil vezes contar. Sou contra qualquer mentira de cunho místico que iluda alguém, por uma questão de coerência, sempre vou defender contar.

Uma criança fica feliz com a imagem ilusória de Papai Noel? Talvez. Ainda assim, não é a única fonte de felicidade possível. Estimular felicidade e esperança com base em um ser imaginário nos levou ao catolicismo. Não, obrigada. Jogar limpo com os filhos me parece um dos principais caminhos para se criar um ser humano decente.

Sim, é uma mentira com prazo de validade curto, fatalmente a criança descobre que Papai Noel não existe, mas não acho que isso traga nada de bom. Gera desconfiança das figuras nas quais a criança mais confia: dos próprios pais. O que se aprende com isso? Que não dá para confiar em ninguém? Que uma fonte de alegria é mentira? Que quando se confia se faz papel de otário? Que para ter esperanças é preciso acreditar em mentira?

A própria figura do Papai Noel me parece nefasta. SE você se comportar bem, ganha presente, se não, não. Só que no final das contas, tudo não passa de um blefe escroto, pois toda criança cuja família tem um mínimo de condições acaba ganhando um presente de natal. Pior: crianças que se comportam bem de famílias sem condições acabam por não ganhar presente. Não me admira que a roupa dele seja vermelha: só os riscos são recompensados por ele, não importa o que façam. Só faltou a estrela.

Tem também o lado amargo da criança descobrindo que foi enganada, que fez papel de otária, geralmente pela boca de outro colega. Não é possível que alguém ache isso bom. Deve ser bem frustrante. Pais que passam uma vida dizendo que não se deve mentir deixam este belo exemplo: mentem por anos seguidos. Contraditório. Quer dizer, quando for com “boa intenção” pode mentir? Péssimo.

Fora o ridículo da mentira: um velho que vive no meio da neve, sobre em um trenó que voa, com renas e em uma noite dá presentes para todo mundo. Oi? As crianças de hoje não são mais espertas do que isso não? Acho ofensivo com a inteligência de uma criança moderna contar essa ladainha. É quase que um desestímulo ao raciocínio: os pais se aproveitam da confiança que o filho tem neles e empurram uma mentira que atrofia a capacidade de questionar.

Há quem diga que a criança precisa acreditar na magia como parte necessária de sua formação. Desculpa, não parece estar dando certo. Ao menos no Brasil. O povo parece crescer e continuar acreditando em um senhor barbado que vai lhes dar presentes sem qualquer mérito. Essa ideia da conquista dada de cima para baixo me causa revolta. A conquista boa é a que vem de baixo para cima, a que você batalha e consegue.

Sei lá, tenho sérias ressalvas com esses seres imaginários no geral: Papai Noel, Deus, Gnomos… tudo no mesmo saco para mim. Todos nocivos, cada um a seu jeito. Todos um desfavor, um desserviço, servindo de muletas para as mais diversas carências humanas.Nos levam a crer que podemos conseguir coisas na vida sem nosso esforço pessoal.

Outra coisa que me incomoda: os pais não estimulam a crença em Papai Noel para incentivar a fantasia e imaginação das crianças. Na real, eles USAM Papai Noel para fazer o que eles, pais, não conseguiram: educar uma criança ou chantageá-la. “Se não fizer tal coisa Papai Noel não vai deixar um presente para você”. “Papai Noel não dá presente para criança que não come brócolis” e daí para frente. Feio. Feio demais não ter moral suficiente com o próprio filho e usar uma figura imaginária para manipular uma criança.

Mesmo a decepção que gera quando o mito cai não é das mais saudáveis. Gera a vontade de procurar um novo mito. A criança que conversava, pedia ou se apoiava na figura do Papai Noel cai para outra armadilha, tipo Deus. Sempre pulando de muleta em muleta emocional. O ideal é jamais estimular essa muleta, para que a criança cresça forte, suficiente, bastante sem ela.

Optar por não mentir e explicar isso para a criança gera admiração dos filhos por seus pais e constrói pessoas mais fortes e independentes. Um pacto com a verdade, só para variar, seria algo a se considerar em um mundo que cada vez mais valoriza imagem, aparências, parecer ser. Mostrar ao filho um mundo talvez menos colorido porém mais realista forma adultos mais preparados.

Mentira é sempre um problema. Mentira desnecessária sempre deve ser evitada. Fato: algumas mentiras são necessárias e infelizmente temos que lidar com elas. Estas já bastam. Se dar ao luxo de inserir em sua vida mentiras desnecessárias é algo que eu realmente não consigo entender.

Papai Noel é uma figura incoerente, ultrapassada e que não ensina nada de bom a ninguém. Usar um mito para conseguir obediência do seu filho é canalhice e falta de pulso firme. Usar de um ser imaginário para arrancar do se filho coisas que ele deveria fazer por respeito a você é de uma falta de moral avassaladora. E mentir apenas por mentir, para ver seu filho feliz, é burrice. Passou da hora de ensinar às crianças a serem felizes com as verdades que temos.

Para defender o Papai Noel, como se fosse ele o atacado, para aproveitar, desabafar e falar tudo que pensa do natal ou ainda para cantar “Papai Noel, filho da puta”: sally@desfavor.com

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Comments (31)

  • Eziquiel Rodrigues

    Fazer crianças acreditarem em papais noéis forma adultos imaturos, que mais tarde vão eleger papai noel e mamãe noel pra presidente do Brasil

  • Concordo totalmente com as suas colocações Sally.
    ”Seja bonzinho senão papai noel não vai dar presente, o bicho papão vai te pegar, a bruxa sei la o que vai te amaldiçoar” etc etc.. ouvi durante anos minhas tias falando isso para meus primos e sempre achei deprimente.
    Porque as pessoas tem tanta dificuldade de simplesmente conversar com as crianças e explicar que na vida existem regras e limites? preguiça? medo?
    Tenho uma filha (ainda bebê) e pretendo educá-la falando como o mundo realmente é. Odeio mentiras e ilusões.
    E por fim, eu confesso: fiquei com nojinho da minha mãe, quando descobri a verdade sobre o papai noel. Quando descobri a verdade sobre Deus então nem se fala rs.

  • De fato, Sally, as crianças de hoje sao menos ingenuas. A pergunta do meu já veio embutida com a resposta subliminar. Ele me perguntou justamente isto na semana passada:

    “Papai, Papai Noel existe?”

    “Nao. É um homem vestido como um velhinho”, foi a minha resposta.

  • Oooooooo povo amargado sem infância…
    Tudo traumatizado por que o papai noel não existe!! Affff…..

    Vamos acabar logo com todos os contos de fadas, o coelho da páscoa, a velha do dente, o homem do saco… Vamos viver só a pura e crua realidade sem sonhos!!

    Que mundo chato, horrível e cruel se tornaria!! Eu que nao queria ser filhos de vcs!! :P

    • Uma coisa não se diz da outra. Isso se chama reductio ad absurdum e nem merece resposta por ser uma falácia das mais ralé

      • Ué… é assim…

        Não existe papai noel, cinderela, coelho da pascoa, chapeuzinho vermelho, os tres porquinhos… vamos acabar com tudo que é encantado. Vamso criar crianças amargadas e cheias até a tampa de pura realidade, vivendo um mundo sem mentiras e sem imaginação, sem contos e sem histórias… Infância pra que né???!! Tem que saber a verdade!! O mundo é cruel, cheio de sangue… Mercenário!! Natal, Dias dos Pais, Dia das Mães, Dia do namorados… pra que essa merda toda??!!! Vamso acabar com tudo!!! Com todo o mercado capitalista!! Vamos viver a realidade nua, crua e sombria… sem cores…

        Afffff…… tem dó né!!

        • Vc não vê diferença entre Papai Noel e Cinderela ou Chapeuzinho Vermelho?
          O problena é mebtir que existe, pode contar como lenda e folclore.
          O errado é acreditar em mitologia, deus e etc… Deus é o amigo imaginário de adultos que te cobra 10% do salário e não paga nem na mão dele, paga pra ricos donos de templos!

          • Te dou uma vida para que você pague com a língua… :)

            Anda… fala com o imaginário que não existe sem medo, peça a Ele uma demonstração de que Ele existe. Coloque-o a prova… Faça isso… Não vai acontecer nada mesmo não é verdade??!! O que vc tem a perder?

  • A história do papai noel é como os conto de fadas onde a princesa é sempre uma moça morta/sonsa/coitada/sofredora/amaldiçoada/presa no castelo/ indefesa esperando que um homem num cavalo branco apareça pra salvá-la e fazê-la feliz para sempre?
    huuum…. não, obrigada! Prefiro não ensinar isso a criança nenhuma… sabe como é, né? Depois crescem adultos que leem 50 tons de cinza e afins…

  • rena viado noel

    Interessante a maneira do Somir pensar. Talvez seja mesmo um exercício mental util fazer os pirralhos ligarem os pontos.

  • Eu não incentivaria acreditar nem no papai noel nem no coelho da páscoa, é uma besteira, perda de tempo. Não ia querer me dar ao trabalho de desmentir. O problema é que os outros parentes, a escola, a televisão, vão acabar fazendo isso. Talvez a criança ache que os pais que estão mentido, afinal todos estarão dizendo que ele existe.
    Eu não acredito que uma criança com mais de 7 anos vá crer neles. E crianças muito pequenas, menos de 3 anos, também não, elas não tem muita noção, tanto que não temos memórias desta época. 5 minutos para uma criança devem parecer uns 20.

    “Tem também o lado amargo da criança descobrindo que foi enganada, que fez papel de otária, geralmente pela boca de outro colega. Não é possível que alguém ache isso bom.” Lembrei do meu professor de ciências na 6a série dizendo que não podia contar para o filho que o papai noel não existia para ele não fazer isso, estragar para as outras crianças.

    curiosidade: com qual idade Somir deixou de acreditar no papai noel? Estou achando que foi a Sally que contou para as outras crianças da escola dela que ele não existe.

  • Se fosse eu ensinaria a criança a ser cética e questionadora. O Papai Noel não passa de uma figura marqueteira na suposta data de nascimento de um suposto Zé Ruela. Viver acreditando em fantasias vai pode causar um efeito colateral nos anos seguintes. Sério isso? Dizer pro filho que precisa ser bonzinho só pra ganhar coisas em troca? Que diabos de valores são esses que os pais andam ensinando?
    Sem falar nessa história bem e mal, como se todas as crianças que ganham presentes são purinhas e educadinhas o ano todo. Essa história de uma pessoa 100% boa ou 100% malvada é lógica de novela mexicana.

  • Seis ou sete anos e a criançada já sabe muito bem que Papai Noel não existe e é aos pais/avós/tios/whatever a quem eles devem chantagear pra ganhar o brinquedinho eletrônico da vez. Pra eles “pedir pro Papai Noel” é só dançar conforma a música.

  • Não esqueço os olhos marejados da minha sobrinha de 4 anos quando minha mãe contou, semana passada, que o “véi” Noel não existe… Quem disse que avó é só doçura? Hahahaha

    • Lembro ate hoje de um colega meu chorando quando soube na escola que o veio Noel não existia. Na moral, não ha necessidade desse sofrimento. Depois cresce feito bundao crendo em qualquer merda e vai votar em merdapra geral se foder.

  • Papai Noel é um mito desnecessário e cruel com as crianças pobres. Já fui voluntária em entrega de presentes para crianças carentes no Natal (NÃO SOU MAIS!!!!) e há duas situações horríveis que sempre se repetem:

    1) Crianças reclamando que o papai Noel não entendeu a cartinha, pois não pediram nem boneca nem bola, nem carrinho-porcaria de plástico, mas sim um celular, um game ou algo bem caro.

    2)Adultos extremamente vaidosos (geralmente de alguma religião) orgulhosos de seus bons corações e das sopas de gosto duvidoso que prepararam. Saem da entrega com o peito inflado de tanto orgulho da própria bondade. É um pesadelo.

    “Como é que papai Noel/não se esquece de ninguém/seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem”

    • “(…) há duas situações horríveis que sempre se repetem:

      1) Crianças reclamando que o papai Noel não entendeu a cartinha, pois não pediram nem boneca nem bola, nem carrinho-porcaria de plástico, mas sim um celular, um game ou algo bem caro.

      2)Adultos extremamente vaidosos (geralmente de alguma religião) orgulhosos de seus bons corações e das sopas de gosto duvidoso que prepararam. Saem da entrega com o peito inflado de tanto orgulho da própria bondade. É um pesadelo.”

      É por saber disso que eu não me voluntario pra nada, Marina…

  • Concordo com a Sally.

    Jamais terei filhos, mas se os tivesse eles não acreditariam nesse mito deprimente.

    Este ano eu levei minha única priminha criança ao shopping e pedi a ela que escolhesse um presente. Ela perguntou se eu ia contar a escolha dela ao papai Noel para ela ganhar no dia do Natal e eu disse que não.

    “- Eu vou te dar. Eu vou pagar. O seu presente custa um dinheiro que a prima trabalha pra ganhar. Não é de graça. Ninguém dá nada de graça pra gente. Eu não vou dar presente para as outras crianças. Eu não sou boazinha. Vou dar pra você porque você é minha prima e eu te vi nascer e a sua mãe é a tia mais incrível que eu tenho. Você entende que ninguém é bonzinho de graça?”

    Ela tem 4 anos, acredita em Papai Noel, mas achou o máximo ganhar um presente antes do dia 25 e saiu toda feliz carregando a horrenda Pepa Pig. Ela não me questionou. Não sentiu falta do Noel. Ganhou o presente. É o presente que importa.

    Espero que ela cresça com a sementinha da desconfiança: “There is no free lunch.” Porque não há. O mundo é um lugar caro, injusto e perigoso. E não poupa criancinhas.

    Não se deve acreditar em velhos bonzinhos que te dão presente em troca de “nada”. Nunca. Porque, se algo der errado e o velho for um maldito pedófilo, nenhum herói, anjo, ou deus bonzinho vai te salvar por mais inocente que você seja.

    Crianças tem sim que aprender a mentir, porque o mundo é dos espertos. Logo elas descobrem que o papai só consegue ser educado se mentir que o macarrão da vovó está uma delícia. Se ele cuspir e disser que prefere a morte lenta a chegar perto daquele macarrão de novo ele será grosso e enfrentará as consequências negativas da fúria ou da tristeza da vovó.

    Mas as crianças não precisam aprender a ser enganadas. O mundo se encarregará de enganá-las, mas as que aprenderem a questionar tudo mais cedo, terão mais chances de sobreviver de forma mais digna.

  • Nunca me disseram que PN existia. Minha mãe não queria pagar de mentirosa pra mim. A única baboseira que me contavam foi a biblia, mas isso minha família pensava que era verdade.
    Também não mentiria pra filhos. Isso fode a confiança nos pais.

  • Nem sempre as coisas precisam ser verde ou amarelo. Também podem ser verde claro ou amarelo escuro… quero dizer que mentir não é legal, mas deixar que a criança tenha suas fantasias, seus sonhos e alimentar a imaginação faz parte dos contos de fadas de toda vida desde que o mundo é mundo.

    A maturidade já se encarregará de trazer a realidade e a verdade a tona. Porém o mais importante em a manter o máximo possível, é que na vida adulta as pessoas não percam esse toque de magia pelo sonhos e consequentemente pela vida.

    Sally a vida não tem que ser tão radicalmente quadrada!! Como 8 ou 80!! A imaginação também traz equilíbrio…

  • Fico com a argumentação da Sally. É interessante a questão de treinar o pensamento lógico, mas dá pra fazer isso sem mentir. Nem toda criança vai descobrir sozinha, várias serão informadas por colegas da escola antes de conseguirem “quebrar o código”. E se essas crianças perguntarem aos pais o motivo da mentira? Não da para dizer que “era um teste e você não passou “.

    E mesmo se ele descobrir e mesmo se aceitar essa resposta, pode haver uma quebra de confiança nos pais e no que eles dizem.

    Acho que explicar a história do papai nível de verdade, dizendo que virou um mito e que é impossível que ele exista porque blá-blá-blá já é suficiente para a criança começar a pensar de forma lógica. Nada é melhor que um bom exemplo.

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