A função dos pais.

Para que servem os pais hoje? Parece uma pergunta boba, clichê ou até mesmo sem sentido, mas se fizermos uma breve análise histórica veremos que as principais funções dos pais de décadas atrás talvez não tenham a mesma relevância nos dias de hoje. Uma nova paternidade se desenha, ainda sem classificação, sem organização, sem forma. E a sociedade parece não estar sabendo lidar com isso.

Quando penso em pais até a década de 80, penso antes de mais nada em provedores de informação. Seus pais eram aqueles que mais detinham informação dentro do núcleo familiar, independente do grau de escolaridade, por conta dos anos vividos. Quem não escutava um conselho dos pais nessa época tinha grandes chances de quebrar a cara.

Mesmo quem não teve pais presentes, encontrava em alguém (um professor ou um irmão mais velho, por exemplo) ou alguma referência de informação e vivência. Quando um filho tinha dúvidas ou não sabia alguma coisa, perguntava a seus pais. Assim, a visão de mundo e formação de opinião era passada de pais para filhos. A experiência era transmitida.

Hoje quando um filho de uma idade razoável não sabe alguma coisa, grandes chances dele consultar o Google em vez dos pais. O Google está sempre disponível, essa nova geração dificilmente espera os pais retornarem do trabalho para tirar uma dúvida que está ao alcance de um clique. Assim, muitas vezes a imbecilidade é transmitida em vez da experiência, já que nunca se tem certeza de quem está falando do lado de lá.

Mesmo para assuntos mais pessoais, a internet continua um recurso. Basta um passeio rápido em qualquer site desses de perguntas e respostas no estilo “Yahoo respostas” para ver todo tipo de pedido de conselho pessoal, que no meu entender, deveria ser direcionado aos pais. Alias, nem precisa ir tão longe, tem deles aqui no Desfavor também, apesar de ser um blog considerado hostil.

Pais não são mais provedores de informação, ao menos não a fonte primária. Na era da abundância de informação, pais atuam, quando muito, como peneira para esta informação. Mesmo assim, de forma duvidosa, já que nem todos os pais da atualidade nasceram sob o manto da internet. Às vezes, muitas vezes, por sinal, os pais são as maiores vítimas dessa abundância de informações falsas clicando em “veja o link das nossas fotos” e deixando entrar um vírus no computador. Não raro vemos filhos com mais domínio de internet e eletrônicos que seus pais.

Pais também eram fonte de lazer para seus filhos. Rotinas de brincadeiras com os pais eram comuns: seja uma noite de jogos quando os pais chegam do trabalho, seja um final de semana soltando pipa ou passeios. Hoje isso não me parece mais uma rotina. Crianças se distraem sozinhas com vídeos, videogames e televisão.

Fico me perguntando se os pais brincavam com seus filhos por prazer ou o faziam por não haver outra fonte de lazer para a criança. “Cansar” a criança para que ela lhes dê um descanso ou prazer em dividir uma atividade juntos? Ao que tudo indica, a primeira opção, pois assim que surgiram formas de lazer e distração que não dependem deles, os pais jogaram os filhos na frente do tablet.

Pais eram guardiões da rotina das crianças: você ficava acordado até mais tarde SE os seus pais permitissem. Você comia doce antes do jantar SE os seus pais abrissem uma exceção. Você poderia ver o filme tal SE os seus pais autorizassem. Hoje pais dificilmente estão presentes em todos os momentos disciplinares da vida dos filhos, em função da excessiva carga horária de trabalho que o mercado moderno impõe.

Muitos pais não gostariam que seu filho veja o filme tal, mas se seu filho tiver dois reais no bolso, pode ir até uma Lan House ver. Mesmo sem um real no bolso, basta ir a um shopping com internet wi-fi ou um cyber café e acessar, que seja do seu celular, o pior dos filmes. Qual pai hoje em dia tem exata ciência dos horários e hábitos dos seus filhos? O advento da internet y outras cositas más tornou impossível controlar tudo que seu filho faz ou vê. Pais não são mais nem guardiões de informação nem da rotina.

Pais costumavam ser referência de autoridade. Tinha a clássica ameaça “Vou chamar seu pai”. Hoje os filhos não se intimidam com esse chamado. A fonte de autoridade foi diluída. Periga uma criança ter mais temor e respeito por um estranho do que por seus pais. É difícil castigar uma criança nos dias de hoje, difícil e trabalhoso.

Até pouco tempo havia o vergonhoso recurso da chantagem: “se fizer tal coisa, fica sem computador por uma semana”, mas nem isso é possível. Tem computador na escola, em cyber café, em qualquer esquina. Não há mais com que chantagear. Escolas públicas não podem mais reprovar alunos e em qualquer escola professores vivem com medo de repreender um aluno energicamente e serem processados. Onde está a fonte de autoridade dos filhos hoje em dia? Não sei responder. Mas nos pais dificilmente está, vide crianças cuspindo e xingando pais a rodo nas ruas.

Pais eram referência cultural para seus filhos: nos tempos onde uma casa tinha uma vitrola todos escutavam as músicas que os pais escolhiam. Hoje, com computador e smartphone, cada um leva consigo uma tv, um aparelho de som, um GPS e um livro, além do telefone em si. Filhos podem ter sua tv, seus livros, suas músicas, sem qualquer referência dos gostos paternos.

Pais também eram os responsáveis por registrar os momentos familiares: fotos de eventos que mereciam ser lembrados estavam a seu cargo. Hoje todo mundo tira dezenas de fotos por dia, a maioria ególatra, vazia e de mau gosto. Virou notícia: mais de 90% dos brasileiros tiram selfies. Gente que passa fome (porque desculpa, mas mais de 10% da população não tem o que comer) tira selfie.

O resultado é que crianças sem maturidade decidem sozinhas os momentos da sua vida que querem documentar e imortalizar e o resultado disso vemos todos os dias em fotos de meninas nuas que explodem nas suas caras e nas redes sociais. Bons tempos quando os pais eram os guardiões da fotografia. Hoje pais não são mais os responsáveis nem por fotos, nem por gravações de vídeo, de áudio ou de qualquer espécie.

Eu poderia continua por dez, vinte páginas, citando com nostalgia as funções perdidas pelos pais, mas não acho necessário. Vocês entenderam meu ponto e são capazes de pensar em todas elas sozinhos. Prefiro dedicar esta última página a refletir como essa “crise nas funções” afeta a paternidade/maternidade moderna. Os pais de hoje sabem exatamente qual é sua função como pais?

Quando os papéis eram claramente estabelecidos pela sociedade, as chances de termos péssimos pais era menor, pois a regra era clara, todo mundo sabia o que deveria fazer. Mas, a partir do momento em que entra o subjetivismo, entra junto uma necessidade de bom senso para nortear a conduta dos pais. Adoro subjetivismo, amarras são empobrecedoras, mas se tem uma coisa que aprendi ao longo dos anos de Brasil é que quando se dá liberdade de escolha para o Brasileiro Médio, ele faz merda. Liberdade é ótima, para quem tem subsídios para usufruí-la.

Infelizmente é um povo que precisa de algum grau de reprovação social para perceber que não é bacana dar cerveja para seu filho de cinco anos. Gente que precisa de um termômetro social para saber o que fazer e o que não fazer, pois seu bom-senso veio atrofiado. Ao soltar essas amarras perderam os limites e nem mesmo sabem se comportar como pais.

Hoje temos todo tipo de conduta e/ou omissão bizarra envolvendo paternidade. Em vez de utilizar a falta de amarras sociais para aprimorar a função de pais, inovar e acrescer, os espertões usaram para tirar parte do peso de suas costas.

Deixa que a Galinha Pintadinha ou a Peppa se encarregam do lazer, a escola de dar educação e modos e o Google de responder dúvidas sexuais. Tá SERTO, com S mesmo. Sobrou para os pais a função de dar o jantar, se tanto e levar até a escola, se tanto novamente. Assim até eu sou mãe de dez. Os pais hoje executam apenas as funções que gostam, que toleram. A parte ruim não é feita, é delegada. Nem que seja para a televisão ou para a Ritalina.

Não há uma resposta fechada para este texto. Quais são as funções dos pais? Não sei, quem sou eu para dizer. Nem é essa a intenção. A intenção é que você se pergunte, PARA VOCÊ, na sua opinião, quais são as funções dos pais e, ato contínuo, se pergunte se as vem cumprindo de forma decente. Uma boa olhadinha para dentro pode ser dolorosa, mas também valiosa.

Debatamos no comentários: quais são as funções dos pais nos dias de hoje?

Para dizer que a função dos pais é fornecer os gametas, para dizer que não sabe quais as funções dos pais mas do Paes certamente é destruir o Rio de Janeiro ou ainda para perguntar onde está a nossa punição por atrasar texto na semana passada: sally@desfavor.com

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Comments (39)

  • Sally, eu sei que você gosta de meter o pau em BM e no quanto a sociedade brasileira é embosteada (eu concordo), essa “perda” de funções que os pais estão tendo não é só aqui. Tem filho mimado em todo lugar do mundo, e se não me engano, na Finlândia (ou algum outro país nórdico, não lembro exatamente qual), tem toda uma geração de crianças mal educadas e egoístas porque os pais e a sociedade relaxaram demais na questão de punições e educação.

  • Eu e minha esposa somos pais a moda antiga, o nosso filho solta pipa, joga bola e anda de bicicleta…

    E aos sábados, o nosso jogo de batalha naval é sagrado, seja onde estivermos.

    O PC que a avó dele deu para ele virou uma bela colônia de aranhas.
    Até agora está dando bem certo.

  • Antigamente as pessoas seguiam os conselhos da família por falta de opção, porque não era socialmente aceito ser um ponto fora da curva. As pessoas carregavam a imagem da família que pertenciam e eram medidas por esse único parâmetro. A função dos pais era ser o modelo. Os pais e a família deixaram de ser o único modelo dentro de uma mudança rápida de papéis. Antes tava tudo definido, agora nada é definitivo, tudo muda o tempo todo com muita rapidez.

    Na minha opinião o papel dos pais continua ser educar e criar os filhos. Só que agora não são mais os únicos modelos. Muitas vezes a internet toma o lugar dos pais porque os filhos procuram um espaço onde eles podem ser eles mesmos, um espaço em que eles recebam orientações mais condizentes com a realidade e voltadas para a realização pessoal e menos direcionadas as pressões e expectativas familiares, livres da idealização dos filhos perfeitos.

    Deixo vcs desfavorados com um pedaço dessa música do Bob Dylan (The times they are a changing)

    “Venham mães e pais de toda a terra
    E não critiquem o que não podem entender
    Seus filhos e filhas estão além de seu comando
    Sua velha estrada está rapidamente envelhecendo
    Por favor saiam da nova estrada se não puderem dar uma mãozinha
    Pois os tempos estão mudando”

    • Concordo orgulhosamente !

      Essa geração “Z” é “selfie” mesmo (até a TV aberta e G1 que o digam, nesse sentido “aceitaram” fácil demais…) mas até que não são tão poucos os lugares que a internet só subiu os parâmetros (ou diminuiu a queda), rede mundial é isso aí…

    • Fazendo coro ao que outros já comentaram, a função dos pais hoje é a mesma de antes: preparar os filhos para enfrentar este mundo onde lobo devora lobo (e vice-versa) e protegê-los enquanto não têm essa capacidade. A função não mudou, o que mudou são as dificuldades em cumpri-la, que aumentaram. Como a Aline bem disse:
      A realidade dos filhos sempre foi diferente das dos pais, (…), mas os pais sempre foram considerados antiquados, quadrados, por fora…
      De qualquer modo, a solução pra isso existe: ATUALIZE-SE, INFELIZ! Sério, eu fico impressionado como as pessoas são capazes de acompanhar a evolução tecnológica para não ficarem para trás no mercado de trabalho, mas não o fazem quando se trata de cuidar dos filhos.
      Pensem comigo: seu filho pode acessar qualquer informação no Google? Você também pode. Só que com um grau de discernimento e poder de escolha que ele ainda não tem. Então antecipe-se, saiba quais são as dúvidas mais comuns à idade, ESCUTE SEU FILHO, e procure informar-se.
      Não dá pra controlar o que o rebento vê/ouve/produz o dia todo? Não adianta tirar o smartphone dele, já que tem acesso a inúmeros outros dispositivos ao longo do dia? Então experimente passar mais tempo junto com ele. Tempo de qualidade. Escolha bom conteúdo para apreciarem juntos. E, claro, não apenas imponha seus gostos, procure conhecer os gostos da criança/adolescente, e aproveite isso para ver como isso pode ser direcionado para algo bom, produtivo.
      Enfim, coloquei esses dois exemplos apenas para mostrar que é possível, sim, cumprir a função clássica que os pais tinham nos anos 80, no século XVII, na pré-história…
      O problema não é que os papel dos pais tenha mudado, mas que a maioria, simplesmente, não o cumpre.

  • Penso que os pais da atualidade deveriam fazer uma imersão no universo “online” atual. Eles poderiam ter acesso ao que os filhos estão vendo e tomar suas decisões como pais a partir disso.

    Como a Aline disse, a função é a mesma, apenas está sendo mais difícil cumpri-la.

    Para ser pai e mãe hoje em dia, além de ter uma vida financeira muito BOA, deve-se ter um psicológico muito equilibrado e ser quase nada egoísta, pois essa escolha muda TUDO. Sua primeira preocupação é seu filho, depois você e depois o resto.

  • Vamos para o extremo oposto do enfoque do texto: pais que se envolvem demais com os filhos.

    Para ficamos em um aspecto desse envolvimento excessivo: na questão da vida profissional, os pais de hoje tendem a possuir uma experiência profissional suficiente para ajudar os filhos a evitar erros desnecessários na carreira. Percebo ultimamente que os filhos no geral perguntam a seus pais para ajuda-los no networking bem como conselhos se devem ou não aceitar uma proposta específica.

    (O que contrasta com gente mais velha como eu, prestes a conseguir o metrô de graça, pois meus pais nem chegaram perto de ter formação superior e, assim, jamais trabalharam em multinacionais nem passaram em concursos públicos de ponta. Logo, não podia contar com eles para saber no que minhas escolhas de carreira tinham de bom ou de ruim. Tive que me virar sozinha. Para meus pais, pior ainda, os pais deles nem falavam português e viveram na roça a vida toda…)

    Ou seja, os jovens de hoje olham para seus pais como fontes valiosas de conselhos e dicas para se dar bem na vida. Até aí, nada contra.

    Só que os pais de hoje, em vez de promover diálogo, acabam meio que, pra ficar naquela palavra nefasta da moda, fazendo coaching na carreira profissional dos seus filhos.

    E, pra quem lida com gente começando a vida profissional, vira uma merda, porque conheço gente de RH de empresas que percebe o quanto essas crianças acabam prejudicadas por se deixaram levar pela intromissão indevida dos pais na sua vida profissional. Para ficarmos em alguns aspectos, além de dar pitacos na hora da entrevista para uma vaga, decidem conjuntamente se o filho deve pegar a vaga, e, caso essa vaga atenda aos altos padrões impostos por eles, acabam dando sugestões para que o (a) filho (a) repasse ao chefe, muitas das quais o (a) coitado (a) não tem o menor embasamento para sugerir por conta própria. Pior ainda se o chefe for um amigo da família, que cometeu a burrice de pegar o filho de amigos/conhecidos. Capaz do pai ligar pro gerente questionando o filho não ter sido promovido. Enfim, parte daquela coisa da “Generation Me” de se achar boa demais para se sujeitar a qualquer trabalho vem desse tipo de orientação.

    E, pelo que me contam, isso prejudica (sem volta, para alguns) quem começa uma carreira a construir uma identidade ocupacional, impedindo o efetivo aprendizado de experiências benéficas ao processo de escolha profissional, dentre as quais administrar conflitos e ansiedades relativas ao futuro.

    • Tenho minhas dúvidas se os jovens olham para os pais como fonte valiosa de conselho. Vejo muitos pais que ainda acham que um concurso para ser caixa do Banco do Brasil ou a vida militar são as melhores escolhas e os filhos reviram os olhos ao ouvir.

  • Hoje em dia arrisco a dizer que os pais nem se preocupam, nem ligam.
    Antigamente se o filho queria fazer alguma coisa devia passar pelo filtro da mãe, e se passasse por esse (mais fácil) ainda tinha que passar pelo do pai, autoridade máxima.
    Hoje em dia nem pai nem mãe estão nem ai, só querem saber de aprovação social.
    ~~

    Principalmente nesses tempos em que, eu não sei se já escreveram algo sobre pnl, mas as palavras NÃO e PROIBIDO vão dominar o mundo.

    • Tenho muita vontade de escrever um texto sobre PNL, ainda estou estudando o assunto e não me sinto preparada, mas uma hora esse texto vem.

      • Gostaria muito de ler um texto seu sobre esse assunto. Em geral, as pessoas que escrevem e falam sobre PNL viajam muito e confundem com o poder do pensamento (estilo O Segredo).

        Tenho certeza de que você nos traria uma visão interessante desse tema!

        • Tem uns “cursos” caríssimos sobre isso que deixariam Gridler, Bandler e cia Ltda de cabelos em pé. Tem cada caso que zzuise…

          • outras sugestões de assuntos:

            -dieta páleo.
            -testosterona, tudo sobre – como fazer o nível subir naturalmente, etc.
            -acho que tinha outro assunto mas não to lembrando no momento.

  • Hj em dia eles não tomam conta nem de si mesmos, qto mais de filhos! A geração pau de selfie, reproduz por descuido e não tem moral.

  • Faltou falar dos pais que terceirizam a criação dos filhos, casos em que a babá ocupa o lugar da mãe.
    Reparem em aeroportos, condomínios de veraneio e shoppings em final de semana, pra mim os locais em que isso mais fica evidente, pois estão fora da casa e do parquinho: a babá se encarrega dos pimpolhos enquanto os pais se ocupam deles mesmos.
    Ter filho não é pra qualquer um, mas as pessoas não se conformam com isso.

    • Isso de ”terceirizar” a criação do filho me lembrou certa vez em que eu estava na sala de espera de um consultório, e vi uma médica se despedindo do paciente (que devia ter uns 4 anos) e claro, da babá que o levou, os pais não se dignaram a acompanhar o filho pequeno na consulta.

      Antes de fechar a porta, a médica alertou a babá que o menino não tinha problema de saúde nenhum, mas não recebia nenhum estímulo, e por isso ainda não havia aprendido a falar. Quatro anos e os pais não encorajavam a criança a aprender a falar!!!

      A função dos pais, pelo menos do meu ponto de vista é isso. É estar presente, é estimular, educar e fornecer à criança o filtro necessário para quando ela atingir a vida adulta, ser capaz de buscar informação com suas próprias pernas e saber absorver o que é melhor para ela e para o mundo, utilizar todas as ferramentas disponíveis com responsabilidade e sabedoria.

  • Prover casa, comida, roupa lavada e Internet Wi-Fi (de preferencia com uma velocidae suficiente para assistir videos no Youtube sem esperar carregar)

    Quando eu era menor, escutava muito o que minha mãe me aconselhava. Hoje, devido a ter diversas linhas de pensamento diferente dela (religião por exemplo: sou ateu e ela espirita) quem acaba aconselhando as vezes sou eu, não ela.

    Não acredito que isso seja um “poste mijando no cachorro”. Ainda vale muito para mim a opinião da minha mãe, porem busco uma segunda opinião na Internet. Acredito que não tenha nada errado nisso.

    • Hoje, que você é capaz de formular uma opinião sozinho sim. Mas e no caso de crianças pequenas que ainda não tem essa capacidade?

  • Informação é diferente de educação.
    Informação, é impessoal. Toda informação disponível pode ser acessada por uma tela.
    Educação, só acontece com interação. É necessário um ser humano para educar a outro.

    • Sim, e hoje em dia os pais delegam educação à babá, à sogra, à escola… porque para educar, é preciso uma dose massiva de convivência para perceber os erros, corrigir certas posturas, etc. é IMPOSSÍVEL passar poucas horas por dia com um filho e educá-lo. IMPOSSÍVEL.

  • já me culpo demais achando que sou um péssimo pai, que deveria ter mais tempo com meus filhos e coisa e tal…. porém, ao ver outros pais por aí, percebo também que me cobro demais….
    quando estou com minha pequena, faço questão de acompanhá-la em tudo, por mais infantil que seja a atividade…. eu sempre fui meio crianção mesmo, hoje utilizo isso ao meu favor (e como desculpa para entrar nos brinquedos com ela)….
    como exemplo dou o ultimo aniversario que fomos…. pais sentados em suas mesas, enquanto as crianças brincando em uma área reservada com brinquedos…. meus cunhados também estavam lá e não tiraram a bunda da cadeira para ver se seus filhos estavam bem em momento algum, preferiram ficar bebendo com seus amigos…
    não sou de ficar julgando, mas com minha filha sou como uma águia vendo ela de longe cada passo dado, não sossego nem por um instante… até que minha intuição me chamou a atenção e fui analisar todos os riscos da area de brinquedos e vi que um dos portões que dava direto para a rua estava aberto….
    mesmo com monitores, mesmo com 50 adultos presentes na festa, eu já vi filmes demais de crianças sumindo, sendo sequestradas, atropeladas e etc por culpa de detalhes assim…. pode não acontecer nada, mas quando acontece fica se procurando os culpados por descuido e negligência… enfim, 50 malditas pessoas que preferiram ficar conversando do que ver se o portão estava aberto… eu vi e fui fechá-lo….
    acho que a função dos pais hoje em dia é essa, prestar atenção nos mínimos detalhes… você pode estar do lado do seu filho na brincadeira ou não…. você pode navegar na internet com ele ou não…. ensiná-lo técnicas de fotografia e conceito de vida privada/vida pública…. não precisa ser técnico, qualquer coisinha mais lúdica já fica gravada na mente da criança…. elas são mais espertas do que eu jamais imaginei…. o resultado do trabalho só virá no futuro….
    eu preferi não ter sossego…. preferi ficar cansado e com olheiras para cuidar dos pequenos… nem sempre consigo e qualquer acidente vira um martírio de peso na consciência…. porém tento prever todas as possibilidades e sei que qualquer instante de descuido pode ser trágico… criança que sai correndo para brincar longe dos olhos dos pais pode nunca mais voltar, sorte que não acontece com frequência, mas acontece….
    seu filho pode ter a liberdade que quiser, mas os pais precisam sempre estar presentes…. precisam ser radares de problemas…. é o que falo pros meus amigos, ter filho não é tão difícil como eu imaginava…. as noites sem dormir a gente se acostuma…. o difícil é cuidar, educar e testar a criança a todo momento para ver ela aprendendo a caminhar com as próprias pernas….
    posso não ser o melhor pai do mundo, mas nem por isso entregarei os pontos e deixarei meus filhos nas mãos do mundo…. já conheço esse planeta bem demais para saber que daqui só sai merda, cabe aos pais servirem de tratamento de esgoto (que analogia idiota rsrsrs)….

    • Deixa eu te contar um segredo: TODOS OS PAIS E MÃES modernos se culpam por achar que passam tempo de menos com os filhos e geralmente sentir essa culpa é um bom sinal, um sinal de que você é um bom pai. Os pais que realmente passam tempo de menos com seus filhos sequer o percebem e se acham ótimos pais.

    • Chester,
      Compreendo a sua angústia e o seu espanto diante do comportamento dos pais na festa de aniversário. O que se passa na cabeça desses adultos que bebem e conversam despreocupadamente, enquanto as crianças estão soltas num mundo perigoso como esse?

      Já trabalhei com crianças e era um horror quando tinha alguma excursão, porque eu não conseguia diminuir a tensão nem por um segundo por medo de algo acontecer com uma delas. É um stress sem fim. Mas, para a minha surpresa, os pais não agem assim! Em restaurantes e hotéis com playground é comum ver crianças absolutamente sozinhas! Os pais querem ter filhos, mas querem continuar agindo como se não tivessem.

      Já viu esses vídeos?
      https://www.youtube.com/watch?v=Y92kQmU7hWA
      https://www.youtube.com/watch?v=zGsT3NerXJo

      Um ator se aproxima de crianças sozinhas em um shopping e dá a elas um pirulito. Os pais, depois, se espantam, porque não viram o pirulito ser entregue. Junto com o doce, tinha uma mensagem: “Basta um segundo para atrair seu filho para longe. Fique de olhos atentos antes que seja tarde demais”.

  • O seu texto faz uma ótima síntese das mudanças frenéticas que ocorreram nas últimas décadas. Como você não encontrou respostas fechadas para o assunto e abriu as portas dos comentários para discussões, vamos lá:

    Como a maior (e a mais incrível e bela!) habilidade humana é ADAPTAÇÃO AO NOVO, só nos resta buscar alternativas para enfrentar os novos tempos sem ressentimos e saudosismo. O que passou, passou. Enquanto lamentamos e perdemos tempo buscando culpados, as soluções não aparecem.

    Os novos pais devem, em primeiro lugar, proteger as crianças do mundo. Sério. Hoje temos conhecimento de muitos e muitos horrores que estavam nos bastidores da desinformação de nossos avós. Hoje sabemos que há pedófilos em todas as esquinas, que os padres não são anjos de luz, que há tráfico de crianças, que não prestar atenção nelas por poucos minutos pode custar uma vida de arrependimentos.

    Os pais precisam parar com a palhaçada de querer ter filhos porque os amiguinhos estão na fase de ter filhos. Porra! A água está acabando! Não dá pra colocar gente no mundo sem ter consciência da responsabilidade que isso gera. Os pais precisam ter muita vontade, consciência e dedicação. Precisam abrir mão de boa parte da vida social nos primeiros anos SIM, porque criança dá trabalho, dá preocupação e não pode ser largada com qualquer estranho nos primeiros anos. Simplesmente não pode.

    Já trabalhei com crianças, Sally. Elas obviamente não são puras no sentido de não terem maldade. Carregam o prenúncio de crueldade de toda a humanidade. Não negam a raça. São manipuladoras, sim, mas não possuem experiência de vida para enganarem adultos. São inocentes no sentido de serem facilmente enganadas. Elas possuem a fé sem questionamento em qualquer coisa que conquiste a confiança delas. Tendem a acreditar em amigos imaginários, fadas e duendes. São bobinhas. É fácil conquistá-las e manipulá-las.
    Mas elas também são infinitamente mais sensíveis e se magoam com maior profundidade. Até os 12 anos, humanos são completamente indefesos. Não por serem bonzinhos, mas por não terem o desenvolvimento cognitivo necessário para perceberem onde há perigo. São filhotes.

    Não acho que pais devem ensinar os filhos a serem educadinhos com todos. Não. Não devem respeitar os mais velhos só por serem velhos. Em geral, pedófilos e sequestradores são mais velhos. Não se deve respeitar um professor tirano, um diretor abusivo, um colega mais velho, mais popular, mais rico. Crianças com o comportamento bovino, obedientes demais e precipitadamente medicadas com ritalina nunca estarão preparadas para enfrentarem o mundo. Nunca.

    Eu sei que parece, mas esse tipo de educação não forma crianças tiranas e desobedientes. Pelo contrário. As crianças precisam de limites justamente para compreenderem que o mundo nos limita o tempo todo. Mas limites sem violência. Não é por capricho que não podem comer chocolate todo dia: é por saúde. Não é por obrigação que se deve ser um bom aluno, mas porque essa é uma oportunidade rara de abrir horizontes, aprender a ler o mundo de outras formas, ficar mais esperto, ter uma profissão. As crianças devem saber que estudar é um privilégio que muitas não possuem.

    Cada caso é um caso e os pais devem dar o exemplo, resolvendo seus conflitos com diálogo e sem gritaria ou violência. Porque crianças não escutam o que adultos falam, elas os imitam. E vão ser, na maioria esmagadora das vezes, espelhos dos pais, ainda que pareçam o seu oposto.

    Talvez seja esse o caminho: pais, esqueçam os discursos e as mentiras sociais. Sejam exatamente como querem que seus filhos sejam e aguardem os surpreendentes resultados.

    • Marina, também pensei nesse mesmo aspecto enquanto lia o texto: ok que nostalgia é bom as vezes, mas passou passou. Acredito que, de certa maneira, respeito existe independentemente da época, ou antes, das mudanças que novas épocas trazem. Há sim – embora com muito dispêndio de trabalho – como educar um filho nesse mundinho de hoje com google aí e todas as respostas prontas, tecnologia à disposição, etc.

      Agora, quanto a pergunta do texto… Complexo, eu diria. Pais têm muitas funções, não só de educar, transmitir moral, conhecimento e prover proteção, mas… Prepará-los para enfrentar o mundo também!

      • É, Ge. Nem sabemos enfrentar o mundo direito, como é que podemos preparar alguém? Não é fácil. Essa é uma das razões pelas quais eu decidi não ter filhos.

        “Não tive filhos. Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” (Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis)

    • Acho que é equivocado não respeitar “professor tirano” ou “diretor abusivo”. Temer que a criança tenha um comportamento bovino é inócuo, cedo ou tarde acabamos na mão dos ‘pastores’: médicos, políticos, policiais, dentre outros que vão nos ‘tocar’ para algum canto à nossa revelia…

      Justamente o que falta é a concepção de hierarquia. Se falta isto, não tem vivência em sociedade…

      • O respeito à hierarquia tem que existir, sim. Mas não pode ser cego. E se o professor for um pedófilo? E se o diretor for um sádico? E se um superior hierárquico mandar fazer algo imoral/ilegal/contrário aos princípios da criança ou do adolescente? Questionar, refletir, duvidar e não confiar são características essenciais para sobreviver em um mundo em que o homem é o lobo do homem.

  • Não tenho filhos, então é muito fácil falar, mas acho que a função dos pais ainda é a mesma, só está mais difícil cumpri-la.
    Hoje em dia os pais tem que educar pelo exemplo, ou seja tem que fazer o que quer que o filho faça, por ex quer que o filho leia e estude, porem não “perde tempo” lendo para ele desde pequeno, ou manda o filho estudar e fica vendo videos idiotas na internet.
    Quer que o filho pratique esporte, mas não “perde tempo” indo jogar bola com a criança.

    • O problema é: como dar exemplos quando a realidade que seu filho vive está tão mudada e discrepante da sua, sem o menor espelhamento? Filhos passam por situações, dilemas e questões que os pais nunca passaram.

      • Mas não foi sempre assim ? A realidade dos filhos sempre foi diferente das dos pais, sei que as mudanças nos ultimos tempos foram mais rápidas do que antigamente, mas os pais sempre foram considerados antiquados, quadrados, por fora… Se você ensina o seu filho a te respeitar desde pequeno, quando ele crescer esse respeito continua. E tem que estar aberto para ouvir e tentar entender o filho…

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