Beija-flor da Guiné Equatorial.

Ontem uma escola de samba do Rio de Janeiro se consagrou campeã com um enredo que homenageou uma sangrenta ditadura na Guiné Equatorial. Até aí, você deve saber, afinal, repercutiu em tudo quanto é rede social. Mas, para não repetir feito um papagaio o discurso dos outros, vamos te dar uma visão detalhada e mastigada do grande desfavor que foi esta premiação.

A escola de samba foi a Beija-Flor, conhecida desde sempre, como quase todas, por fazer um carnaval com dinheiro sujo oriundo do crime. Parece que a escola decidiu expandir seus horizontes e angariar dinheiro sujo de sangue além das fronteiras nacionais. Cada paetê foi financiado pelo ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que se encontra no poder há mais de 35 na Guiné Equatorial, um precário país africano que vive às custas do petróleo.

Oficialmente ele patrocinou a escola com mais de dez milhões de reais, mas extraoficialmente deve ter sido uma quantia muito mais vultuosa, até porque tudo está custando muito caro no Rio, um jurado deve estar pela hora da morte.

E por falar em morte, vamos dar uma pinceladinha da vida e obra do nosso amigo Teodoro? É acusado por todas as organizações em prol dos direitos humanos, como por exemplo a Anistia Internacional, de todo tipo de violação, dentre elas assassinatos e tortura. Há vasta documentação comprovando seus abusos, boa parte dela fornecida pelo próprio ditador.

Apesar da Guiné Equatorial ser um dos países mais pobres do mundo, ele foi eleito pela revista Forbes o oitavo governante mais rico do mundo. Chegou ao poder depondo seu próprio tio em um golpe de estado sangrento que culminou em muitas mortes, inclusive a de seu próprio tio. Foi “eleito” Presidente sucessivas vezes em eleições reconhecidamente fraudadas, onde era candidato único. Motivo: morte dos adversário.

Seu regime é classificado, e vou abrir aspas, porque vou transcrever tal qual as principais revistas mundiais relatam, como “um dos mais corruptos, etno-cêntricos, opressivos e não democráticos do mundo”. Foi escolhido como o pior ditador da África por jornalistas renomados. Isso não é pouca coisa em um continente cheio de atrocidades. Chupa Zimbábue, o pior tirano é Obiang!

Dos cem parlamentares do país, noventa e nove são do seu partido ou aliados a ele. Estima-se que 90% dos políticos de oposição estejam exilados e os outros mortos, em uma série de assassinatos descarados que começou em 1979 e perdura até hoje. Obiang discursa dizendo barbaridades como “estar em permanente contato com Deus” e que por isso ele teria o “poder de decidir matar sem ter que prestar contas por isso nem ir ao inferno”.

Guiné Equatorial é um país com índice de analfabetismo superior a 50%. A pena de morte é aplicada indiscriminadamente, sem direito a um julgamento justo, basta um comando do Presidente para que alguém seja morto. A imprensa também é controlada por ele e recentemente, “para evitar a corrupção”, ele decidiu se apoderar do tesouro público, passando todo o dinheiro do país para uma conta pessoal sua, assim os funcionários públicos não “cairão em tentação” de roubar nada.

Os salários são baixíssimos na Guiné Equatorial. Para vocês terem uma ideia, o filho de Obiang, que é Vice-Presidente, ganha cerca de cinco mil dólares por mês. Não que isso o tenha impedido de comprar uma casa de 30 milhões de dólares em Malibu. Ele deve ter economizado bastante, cerca de seis mil anos, pelas minhas contas. Vou poupá-los das descrições das torturas praticadas e dos detalhes sórdidos envolvendo crianças, idosos e famílias inocentes. A intenção do texto não é revirar as tripas de ninguém nem causar mal estar. Acho que deu para sentir o nível do elemento, né?

Pois bem, este elemento ofereceu uma quantia vultuosa para a escola Beija-Flor e para outras pessoas ligadas à prefeitura e ao carnaval. Egocêntrico, desejava uma homenagem de repercussão mundial. E quem melhor que o Brasil para se prestar a esse papel ridículo de divulgar uma homenagem a um ditador, torturador sanguinário?

Como uma cambada de favelado de Nilópolis teve acesso a um ditador africano? Através da rainha de bateria da escola, que é amante do sujeito. Uma história feia, suja e cheia de podres, que infelizmente não posso detalhar sob pena de comprometer minhas fontes.

Enquanto seu país passa fome, pessoas morrem por falta de atendimento médico e quem ousa reclamar é fuzilado, Obiang veio ao Brasil assistir a “homenagem comprada” com uma comitiva de mais de 40 “autoridades”. Reservaram andares inteiros do hotel Copacabana Palace, um dos mais caros do Rio de Janeiro. É apenas uma cereja no bolo de baixarias do carnaval carioca, financiado por dinheiro sujo do tráfico, do crime e da contravenção.

Eu já esperava que o povão permanecesse alheio a isso tudo, sambando feliz e alienado. Mas muito me espantou famosos desfilarem sorridentes, prestigiando um show de horrores como esse. Claudia Raia, brilhando da cabeça aos pés, reverenciando um ditador sanguinário? A mesma que depois faz campanhas a favor de causas humanitárias? Muito nojo. Decorem os nomes dos famosos que prestigiaram a ditadura, a morte e a tortura em forma de carnaval, são pessoas, no mínimo, incoerentes.

Sobre o Brasil, bem, eu não esperava coisa diferente. Não é a primeira vez que lambem a bunda de um ditador. Sequer é a primeira vez que lambem a bunda desse ditador. Para citar um exemplo, o BNDES financiou 63 milhões de dólares em obras para a Guiné Equatorial em 2013. Dilma quer Comissão da Verdade para apurar ditadura e tortura só de quem a torturou, mas parece adorar dar dinheiro para torturadores pelo mundo. Muita vergonha do Brasil. Cada vez mais. Desgosto profundo deste país e do seu povo, que reelegeu esta mulher e canta em verso e prosa um assassino torturador.

A coisa foi tão acintosa que até mesmo jornalistas globais, devidamente adestrados para não polemizarem em público, se manifestaram de forma combativa. Leilane Neubarth, por exemplo, disse em público que não torceria pela Beija-Flor por ela ter recebido “dinheiro sujo de sangue de um ditador africano”. Quão feio foi o ocorrido que os chapa-branca globais estão soltando o verbo em rede social?

Com um desfile mais ou menos, a Beija-Flor comprou sua vitória com o mesmo dinheiro sujo de sangue que comprou todo seu carnaval. Alheio a tudo, o povo samba. Acha bonita a Beija-Flor: “muito brilho”. Os mesmos que criticam a ditadura como ente genérico, não a identificam quando ela se personifica à sua frente e aplaudem, como focas adestradas.

Pessoas que torcem para outras escolas enchem a boca para criticar o carnaval financiado com dinheiro sujo, esquecendo que todas, TODAS as escolas são financiadas por dinheiro do crime e/ou dinheiro público com finalidade desviada. Incoerência mandou lembranças.

Não há carnaval honesto, não há futebol honesto, não há nenhum espetáculo para o grande público que seja honesto no Brasil. Basicamente, se você torce por alguma escola, você faz parte do pacote e não pode abrir a boca para criticar ninguém. Quem tem vergonha na cara e um pingo de ética sente o estômago revirar com esse esquema sórdido. No aguardo do ano que vem, quando a Beija-Flor deve homenagear o Estado Islâmico ou a Venezuela.

O ditador ganhou a homenagem de repercussão mundial que tanto queria, aclamado pelos macaquitos brasileiros que aplaudem tudo que brilha. Parabéns Brasil, por mais essa.

Para se sentir traído por ter uma postagem sobre carnaval depois da overdose de ziriguidum enfiada goela abaixo, para se orgulhar de não ter visto uma única escola de samba ou ainda para perguntar se agora que está rico Neguinho da Beija-Flor vai cortar essa porra desse cabelo: sally@desfavor.com

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