Vidas encharcadas.

Talvez eu deva começar a beber. Não bebo pelo simples motivo de não gostar. O gosto não me atrai, a sensação não me atrai. Enfim, não bebo por escolha pessoal independente de família, religião, culpa ou proibição. Simplesmente não bebo.

Mas, por um grande azar, cresci em um país onde beber é status. É regra, é rotina. E como tudo que se torna regra, gera desdobramentos. Uma teoria que venho amadurecendo faz tempo: O fato da bebida e da bebedeira serem vangloriados no Brasil afeta diretamente a forma como as relações humanas se constroem nos momentos de lazer.

Deixa eu explicar melhor. Acho que o fato de ser socialmente aceitável e até mesmo socialmente estimulado beber em qualquer evento como forma de mostrar alegria, disposição e entrosamento fez com que o brasileiro emerdifique o conteúdo da sua vida social.

Pense comigo: você faria todos os programas que faz (festas, churrascos, shows e etc) se tivesse que encarar o evento sóbrio? Provavelmente não. Como foi que chegamos a este ponto? Bem, se uma festa, reunião ou evento fosse pautada na boa conversa entre os presentes, as pessoas teriam uma cobrança maior para serem agradáveis, educadas e bem informadas. Mas não. É pautado na bebida, desde sempre. Logo as pessoas podem se permitir uma mediocridade intelectual, que será suprida pelo torpor do álcool.

O foco do programa, qualquer que seja o evento, não costuma ser as pessoas. Mesmo que seja o aniversário de alguém, normalmente o foco não é o aniversariante (como está sua vida, como ele está se sentindo, o que deseja para seu futuro ou celebrações de suas conquistas). O foco é beber. Talvez dançar ou paquerar, mas tudo isso tem um carro-chefe: a bebida. Quando uma pessoa bebe, invariavelmente seu controle de qualidade cai. Para tudo. Lugares que uma mente sóbria, e, portanto, mais exigente, achariam desconfortável, enfadonho ou até insuportável, uma mente entorpecida tolera e abstrai.

Assim, décadas de entorpecimento vinculado com a vida social tornaram as pessoas insensíveis para detectar a insuportabilidade de certos programas, grupos ou eventos. Frequentar estes lugares e pessoas de forma reiterada criou um hábito e este hábito, por sua vez, criou a obrigação social de fazer deste um programa padrão. Por ser um padrão, as pessoas se sentem compelidas a ir, e para suportá-lo, bebem. É preciso sair para conhecer gente, ninguém bate na porta da sua casa aleatoriamente. E nessa a pessoa se vê compelida a sair e beber pois o lugar para conhecer gente é insuportável.

Será que alguém atura o carnaval de Salvador, pulando de abadá no meio daquela gente suada sem uma gota de álcool? Será que alguém sustenta horas de conversa jogada fora em uma mesa de bar sem bebida? Será que alguém banca uma noitada em uma boate sem beber nada? Eu acredito que as pessoas que frequentem estes lugares e se divirtam igualmente, bebendo ou não, sejam uma minoria, muito minoria mesmo.

Antigamente eu achava que as pessoas bebiam para conseguir se divertir. Hoje tendo a achar que bebem para poder suportar o programa. O que não me entra na cabeça é: se precisa beber para suportar o programa, porque vai? Porque não fica em casa, lendo um livro, vendo um seriado ou não procura outro tipo de lazer que atenda melhor? Geralmente vão para conhecer pessoas, mas porra, conhecer uma pessoa que frequenta um ambiente que se detesta é furada. Essas pessoas devem gostar muito pouco de si mesmas para se colocar nessa situação, ou talvez não percebam o mecanismo, sei lá.

O fato é que bebendo para de alguma forma anestesiar os sentidos e tolerar pessoas, lugares e situações chatas a sociedade brasileira merdificou as relações pois o controle de qualidade caiu. Todo mundo parece mais legal quando o interlocutor está bêbado. Joinha. Com isso ficou fácil se divertir em baladas e festas. O grande problema é que não dá para passar a vida todo bêbado, em algum momento a realidade bate à porta. E aí começam os conflitos entre o mundo real e o mundo entorpecido da noite anterior.

Quem aqui não tem “amigos de balada” que são muito divertidos para badalar mas que são intragáveis em uma conversa sóbria de dez minutos? Eu não tenho, mas a maior parte das pessoas tem. Quem aqui nunca saiu com uma pessoa e no dia seguinte, sem a generosidade que o álcool acarreta, a achou insuportável? O fato de estarem sempre, invariavelmente, bebendo em ocasiões sociais nivela por baixo as escolhas, sejam de lugar, sejam de pessoas. Qualquer chatonilto fica tolerável. Depois ninguém banca essa escolha no período de sobriedade, e em vez de perceber a armadilha em que se colocou, reclama que as pessoas andam um saco, que dá azar, que só tem maluco no mundo.

Ora, se seu anti-virus está desligado, não venha reclamar que o computador foi infectado. Temos um discernimento próprio, composto dos nossos valores, escolhas de vida e personalidade que nos ajudam a peneirar quem queremos em nosso convívio e quem não. Se você entorpece esse sistema de segurança e ele deixa passar elementos que não atendem ao controle de qualidade, de quem é a culpa?

As pessoas não estão nos dando o que tem de melhor, não estão se esforçando para serem cultas, agradáveis e elegantes, porque o álcool faz um desempenho abaixo da média ser aceitável e tolerável. E, meus queridos, não se enganem, independente do que você ou eu pensemos, o grande filtro do comportamento humano é a sociedade. Quando a sociedade não reprimia, até no meio da rua se cagava. Então, enquanto a sociedade entender como aceitável se entorpecer em eventos de lazer, neguinho não vai se esforçar para mostrar o seu melhor, pois o seu mais ou menos já pode ser aprovado por uma mente alcoolizada.

Não quero de forma alguma defender proibição de álcool, por favor. Só acho que sua obrigatoriedade em tudo quanto é evento de lazer está, como qualquer exagero, trazendo prejuízos sociais. Talvez se as pessoas bebessem menos, ou ao menos não bebessem sempre que saem de casa a lazer em grupo, tivessem um filtro melhor e não atraíssem para si a quantidade de dejetos humanos que atraem. Pense nisso. Talvez a culpa não seja do azar, do karma, da macumba. Talvez seja sua, por entorpecer seu controle de qualidade quando está interagindo e conhecendo pessoas.

Não compreendo o ponto de ter apenas essa interação entorpecida como fonte de contato social. Saiu: tem que beber. Sinal que tem alguma coisa muito errada. Vale uma reflexão. Quem nunca viu uma pessoa que teve que tomar um antibiótico, consequentemente parar de beber (poucos realmente param, mas enfim…) e por isso desanimou de sair? Sem bebida a pessoa não aguenta o programa, os acompanhantes, o lugar. Percebem o sinal de alerta piscando?

Reparem que pessoas que não bebem costumam ser menos propensas à badalação. É que realmente fica difícil, nos padrões do Brasil, tolerar uma badalação sem beber. É tudo realmente muito chato, muito medíocre, vazio e sem sentido. Grávidas que tem a decência de não beber dificilmente acham graça em repetir os programas que faziam até bem pouco tempo. Maturidade em função da gestação? Não creio, falta o álcool para minar seu controle de qualidade e aumentar sua tolerância.

O grande problema é: o que nós, pessoas que não bebem por opção, podemos fazer diante de um quadro desses? A vontade é de isolamento. Um pijama, um seriado, um pote de sorvete ou um balde de pipoca e pronto. Mas o ser humano é um ser social, em algum ponto, mesmo que demore, sentimos falta de contato humano. Devemos beber, para que também nos seja suportável o insuportável e assim minar nosso controle de qualidade em nome da necessidade social? A resposta fácil é dizer que não. O difícil é manter esse não de pé.

É um “não” que mina relacionamentos, amizades e até mesmo as chances de conhecer alguém caso a pessoa esteja solteira. É praticamente fechar as portas da sua vida social. Talvez a resposta seja a internet, uma fonte que, em um primeiro momento foi secundária mas hoje está se tornando a principal responsável pelo nosso lazer e, porque não, por nossa vida social. Não me parece a melhor das escolhas, ainda vejo algo de patético em ter internet como fonte primária de relacionamento e lazer, mas certamente é melhor do que frequentar lugares que te exigem entorpecer seus sentidos para arrancar algo de prazer ou sequer aturá-los.

Nada vai mudar, pois ninguém vai refletir sobre a grande contradição que é precisar entorpecer os sentidos para suportar algo que não é uma imposição e sim uma opção. Mas em um mundo ideal as pessoas poderiam romper com esse círculo vicioso e elevar o nível social. Em uma sociedade que valorize o contato sóbrio, a conversa, a troca de ideias, as pessoas seriam obrigadas a ser um pouco mais educadas e instruídas. Quem sabe um dia.

Para pinçar uma frase fora de contexto e se ater a ela nos comentários, para mostrar seu analfabetismo funcional e dizer que é um texto contra o álcool ou ainda para responder com uma piada sem graça por estar bêbado: sally@desfavor.com

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Comments (54)

  • Seu texto me ajudou a ver as coisas de uma perspectiva diferente. Eu nunca tinha entendido essa glorificação do álcool, nunca entendi porque as pessoas precisavam encher a cara pra se divertir.

    Desde adolescente eu sempre preferi ficar em casa jogando do que sair pra balada. Eu era o único que preferia isso e nunca tive muito assunto pra conversar com ninguém na época, mesmo com o pessoal com o qual eu andava na escola. Por que diabos então eu iria pra um lugar com música ruim (e às vezes alta demais), com gente que eu não tinha assunto pra conversar e ficar no meio de um monte de desconhecidos bêbados? Meu negocio sempre foi games, animes, nerdices em geral (e é até hoje, com 25 anos nas costas), e eu só fui encontrar gente parecida comigo na faculdade.

  • Estou neste momento em uma festa cercada de gente por todos os lados. Já bebi o suficiente pra não achar ninguém chato. Poderia estar fazendo qualquer coisa mais saudável, mas estou no celular acessando o Desfavor. O que é deprimente. O que significa que tenho que me afastar do blog ou do álcool. Vícios…

  • O problema é que, quando acaba tudo, apenas começa o vazio.

    Comecei a beber depois do casamento e, mesmo separado, continuo bebendo muito. Nao fico bebado, pois adoro cerveja. Mas este post me fez refletir sobre os motivos do ando fazendo…De fato, é um circulo vicioso, nao tem graça sem bebida. Mas porque nao reinventar formas de encontrar graça? Sera mesmo que conseguiremos mudar esta “cultura”?

  • A minha experiência com baladas e álcool pode ser resumida por este pensamento: experimentei, vi como era e decidi virar as costas. Não tem muito que se aproveite.

    Explicando melhor:
    Foi na faculdade que fui descobrir o que era esse negócio de balada e beber até cair. Já nesse tempo eu questionava qual era a graça de ficar numa boate bebendo e ouvindo música altíssima, só para voltar cambaleando para casa. (Nota: se você vai para um lugar desses querendo bater papo com gente, você é um idiota.)

    Digo que experimentei porque não fazia ideia de como era esse ambiente; fui indo mais para “me soltar” e acompanhar meus amigos, que apesar de serem pessoas educadas e cultas, partilhavam do defeito de acharem que diversão é indissociável de bebida.

    Mas depois que fui abrindo os olhos para o quão aborrecidas eram as baladas, mesmo com amigos, fui deixando de ir, até que abandonei completamente.
    Posso contar nos dedos de uma mão as vezes que fiquei bêbado em três anos de universidade, e até acho que ficam sobrando. Desde aquele tempo, álcool só quando CONHECIDOS me oferecem e é MUITO de vez em quando.
    Baladas e povaréu? Quero distância. Não tem nada nem ninguém que preste ali.

    Dá para você se divertir estando sóbrio. Pena é que o povo parece não dar a mínima pra isso.

    P.S: A cerveja brasileira é fraca. Nego pode tomar 10 latas que não embebeda.

    • Eu também! E olha que nunca usei drogas ilícitas.

      Se temos que beber/usar drogas, tomar remédios controlados, comer compulsivamente ou qualquer outra coisa do tipo para tolerar as pessoas, o problema está em nós.

      Mas, se essa sensação de estranheza e esse incômodo é mais comum do que nos parece, Sally tem razão. Quem criar uma nova forma de diversão que todos suportem (e até gostem!) sóbrios ficará muito rico.

        • Releia o texto da Sally.

          realmente ir e ficar sóbrio não é normal. Poucos ali suportariam o ambiente e parte das pessoas se não estivessem tentando se embriagar.

          O ideal é vc achar programas que não sejam pautados na bebida.

          Vc irá em menos eventos, mas eles serão melhores.

          Ps.: Sally, adorei este texto.

            • Existem vários outros textos que gostei, me ajudaram, vieram de encontro ao que pensava ou mesmo que mudaram minha percepção; só que faz parte do meu charme só lembrar de escrever quando vejo os que não concordo.

              ;)

              Mas gostei mesmo do texto. Serviu até de base para minha última partilha. Claro, ocultei os créditos e falei como se fossem percepções exclusivamente minhas.

              Obrigado de novo.

              :)

    • Descobri diverso eventos que não é preciso beber para se divertir.

      E vários outros que agora ficaram chatos, por serem baseados em bebidas ao invés de pessoas.

      • Eu gosto de boliche. Dá para interagir socialmente com as pessoas do trabalho, ao mesmo tempo que vc pode se manter mais ou menos longe dos chatos, e não é necessária a bebida.

        A parte ruim é que acaba com a unha…

        Estou aceitando mais sugestões desse tipo…

        • Esportes;
          Trilha;
          Jantares;
          Clubes;
          Cinema;

          e de repente:

          Reunião informal com testemunhas de Jeová;
          Bingos da 3º idade;
          Alcólicos Anônimos;
          ;)

          • Pensei em bazar, bocha, vôlei de inclusão ( todo mundo de joelho) e peteca, mas suas sugestões são melhores :)

          • Estava indo bem até o “Bingos da 3º idade”.

            Comecei a namorar alguém bacana que é do Rio de Janeiro, sou de São Paulo, ela tem vindo quase que todo final de semana, vou quando consigo. Mas bem, semana passada ela pediu pra eu levar pra fazer algo que eu costumava fazer. Só conhecia lugar pra beber.
            Isso diz muito sobre como era minha vida.

            Mas fomos em uma pizzaria, foi bom. Depois filme em casa no sofá e nos curtimos (trepar ótimo lazer)

            E reuniões do Narcóticos Anônimos são tão legais, ontem foi “reunião de serviço” e o Hugo deve saber como é uns loucos querendo organizar algo…

              • Tenho amigos testemunhas de Jeová.

                O pior é que é um dos caras mais inteligentes que eu conheço.

                E ele diz que a religião dele é a lógica.

                Eu digo que não sou ateu porque até pra isso precisaria ter muita fé. Mas que não preciso de religião.

                Isso rende altos debates.

                • Qual a lógica ele vê em preferir morrer a aceitar doação de sangue? Ou abandonar o filho porque ele recebeu doação de sangue?

                  Hugo, eu me considero tolerante. Mas não em relação a religiões em geral. Eu acho que a maioria tenta se impôr. Então, a minha estratégia é mentir. Eu digo sempre que não tenho religião, mas estou aberta a tudo e respeito muito a religião da pessoa.

                  A verdade é que nunca acreditei em deuses. Em nenhum deles. Mas me recuso a discutir. Me recuso a debater. Mentindo, evito confronto e evito ouvir a outra parte. Não me interessa ouvi-los de verdade. E essa é a intolerância maior que existe neste mundo. É desprezo disfarçado. Indiferença não explícita.

                  • Tivemos um debate (acalorado) sobre transfusão semana passada mesmo.

                    Ele alegou que não é necessário se misturar o sangue. Resumidamente, pode se usar outras substancias para manter a circulação e o sangue se reporá em poucos dias.

                    Que a transfusão também tem riscos, que haviam estudos, etc…

                    Continuei descrente. Mas hoje (por coincidência), no site do gizmodo me saiu esta noticia publicada na Nature.

                    http://gizmodo.uol.com.br/transfusao-de-sangue-e-mais-usada-do-que-deveria-na-medicina/

                    http://www.nature.com/news/evidence-based-medicine-save-blood-save-lives-1.17224

                    Gosto dele. Apesar de religioso, o cara é extremamente inteligente.

                    E justamente por ter pontos de vista tão diferentes do meu é que me acrescenta tanto. Mesmo que eu continue discordando…

                  • Curioso, Hugo e Marina, voces falarem deste assunto. Fui TJ durante quase dez anos. Nao me arrependo, pois fazia o que acreditava ser certo. Porem, nao desejo voltar pra esta empresa grafica. Nossa, o que tenho para falar sobre este povo(Inteligentes, sim. Informados, sim. Priorizam a leitura e o estudo…apenas do que eles escrevem. O resto é de Satanas), daria pra encher tres paginas ou mais. Mas, por ora, posso garantir que o problema nao é apenas a deturpação da lei biblica sobre o sangue. É provavel que voces nao tenham ideia de quantos ‘podres’ existem por tras desta seita americana. Bem, isto so acontece quando voce desobedece a Jeová e lê outras coisas que nao estejam no pacote que eles publicam. Agir assim é o mesmo que comer do fruto proibido e receber da serpente o conhecimento do que é “bom” e do que é “mau”.

            • Na última reunião de serviço quase saiu briga.

              2 pessoas falaram a favor das partilhas com ficha (sorteio), outras 2 a favor do ‘gatilho’. Teve votação 5 a favor, 4 contra e 3 abstenções.

              O cara que era contra, partilha a 3 semanas sobre isso, dizendo sobre o quanto é injusto.
              Fora quando ele não chega faltando 20 minutos para acabar a reunião e fica sem ficha e já usa isso para quebrar o bem estar do grupo.

              E eu sou secretário. Teve um dia que perdi a paciência e acabei dando um ‘retorno’: “A recuperação e as reuniões não são apenas para egoistamente, falar. Ouvir também é muito importante.”

              Mas no geral nosso grupo funciona bem. Ele é bem forte.

            • Ah…Faça mais programas em que a bebida não precise ser o cerne do momento.

              Vc acaba se acostumando, e depois se acostuma.

              E olha que não conheço muita gente que era mais fã da noite (e tudo o que se podia encontrar nela) do que eu.

              Não digo que não foi bacana; que não fiz coisas fodas e tal. Foi legal. mas foi uma fase que naõ preciso mais.

  • Sally, eu acho que vc tá reclamando à toa. A pressão pra encher os cornos é toda em cima dos homens e não das mulheres. Homem que não bebe fica deslocado e até fica sem companhia. Meus colegas saem só pra ficar bêbados, numa vibe bem Alicate+Jão+Beto. Eu detesto cerveja, o gosto amargo e nunca fiquei bêbado. Alguns vinhos e espumantes eu até curto, mas mesmo assim nunca faria do objetivo da saída a bebida. Mulher que não bebe é aceitável, homem é viado, babaca e por aí vai…

  • pau nos bebum!

    Eles bebem pra kct, fazem merda,dirigem chapados e não morrem por que? Parece que “deus” protege esse tipo de pnc. Eu prefiro ver meus filmes em casa do que ir pra churrasco de Fds com bebum. Tá na hora de mudar essa mentalidade de achar bonito quem chega na segunda falando que bebeu muuuitooo. Pra mim é tudo mane.

  • Eu gosto de algumas bebidas e na verdade elas não tornam os eventos mencionados menos desagradáveis, a não ser que você beba até vomitar as tripas. Beber um pouquinho tira inibições dos que são tímidos. O problema é que nem todo mundo consegue administrar a frequência e a dose. Porém, o cara que pode beber é aquele que não precisaria disso para conseguir fazer algo, mas simplesmente extrai algum prazer do sabor e da embriaguez moderada.

    Meu problema não é gostar de beber, é gostar de comer alimentos saborosos em quantidades superiores a um dedal (não me venha alguém dizer que basta colocar umas ervas no peito de frango).

  • Eu tenho ‘amigos de piadas’: amigos que eu nem consigo chamar de amigos, mas gente com a qual eu rio e comento eventos banais. Mas esse tipo de papo eu só tenho esporadicamente, e nem é numa mesa de bar e nem numa balada. Já neguei tantas vezes um convite pra esses eventos com essas mesmas pessoas que hoje nem me convidam mais. Sei que vai ser uma porcaria, não vou ouvir coisas que gosto e muito menos serei compreendida se falar algo um pouquinho mais intelectual.

    Prefiro não ter amigos do que dizer que tenho.
    Amigo, pra mim, é outra coisa, e não uma pessoa com a qual eu precise beber pra poder me divertir.

  • Sempre pensei exatamente a mesma coisa que você, Sally. Já na minha adolescência me questionava sobre micaretas, baladas, etc. Eu detestava, todo mundo ia e ninguém entendia porque eu não gostava. Minha resposta era só essa: “Um lugar que você não consegue suportar se estiver sóbrio não deve ser um bom lugar”.

    E depois de anos em uma vida meio anti social, vivendo com meus livros e séries, finalmente me achei num grupo de dança. Pessoas bem instruídas, acadêmicas de boas universidades e bem educadas. Há pouquíssimos religiosos, então o pessoal não bebe e não fuma por opção mesmo. Quando saímos para dançar, ninguém bebe nada alcoólico porque senão a técnica da dança fica comprometida. Inclusive o dono da casa noturna que sempre vamos gosta do estilo “careta” do local, pois não há confusão, baixaria, nem barracos.

    Até quando vamos a restaurantes, bares, botecos, churrascos e outras festas, praticamente não bebemos. Os poucos que bebem é porque gostam mesmo, mas nunca os vi bêbados.

    Por isso, Sally, resista. Eu achei um oásis de pessoas interessantes no meio desse bando de BM. Deve haver mais. Você mesma já escreveu que fez grandes amigos aqui no Desfavor. Sei que é um processo difícil, mas vejo mais vantagens que desvantagens. Também já cogitei em fazer coisas que todo mundo faz para me socializar. Mas valeu a pena esperar.

    • Certamente. Não me sujeito mais à violência que é um programa que eu não goste. Me faltam nerds para fazer amizade no RJ, aqui não é a minha tribo…

      • Eu era nerd e atualmente sou meio que “CDF de cabeça aberta” mesmo : ainda bem longe do ideal, mesmo para minha idade, mas me considero à disposição… =)

        Agora essa coisa de ser um grupo assim é complicada mesmo. :S

  • Esse texto doeu.

    Porque é exatamente por isso que eu não consigo parar de beber de vez. Não que eu beba sempre. Evito. Fico meses sem álcool. Nunca bebo sozinha. Mas, se há uma festa insuportável da qual não dá pra fugir, com pessoas insuportáveis das quais preciso para sobreviver, eu preciso beber para tolerar e abstrair. Não beber para ficar bêbada, mas beber pelo menos uma taça cheia de vinho para o sorriso aparecer e as exigências e angústias desaparecerem.

    É doentio? Sim.

    Porque eu acho quase tudo insuportável: casamentos, Natal, formaturas, batizados, festas da empresa. Me forço a suportar até onde dá sem beber, mas nem sempre dá. Admiro você, Sally, por ter passado pelo Direito e ter convivido com o que há de mais podre na Justiça e ainda conviver com essa gente podre sem beber para esquecer que estamos sempre correndo o risco de apodrecer também (Não que seja o seu caso: mas é o meu!)

    E parentes? Meu Deus! Os parentes!!!!!!!!!!! Eu nem uso a palavra “família”, porque não dá. São parentes mesmo. É tudo superficial demais. O que importa é a foto que depois será publicada nas redes sociais. E o sorriso. Mais nada.

    Mas quando estou com amigos verdadeiros, não preciso beber. É tão bom poder passar madrugadas inteiras sem máscara… Isso é interação verdadeira. É comunicação verdadeira. Só na amizade há vida plena, comunicação plena. É quando somos inteiros, com nossas sombras e com a nossa luz. O resto é solidão acompanhada, solidão socialmente aceitável, solidão disfarçada de encontro social.

    Acho que é por isso que fico longe das drogas ilícitas. Eu jamais conseguiria usar de forma recreativa, porque não sou do time que buscaria drogas para ter prazer ou fugir da realidade. Eu nem consigo compreender a realidade. Como fugiria dela? Quem busca drogas para aplacar a dor de não conseguir suportar a vida como ela é, de não conseguir se adaptar (o maior talento que um ser humano pode ter é conseguir se adaptar!) tem grandes chances de se tornar viciado. O mundo é um lugar para gente que se adapta. Não é um mundo para sensíveis. Sobreviver exige entorpecer os sentidos, naturalmente. Quem não consegue, acaba recorrendo à farmácias oficais ou não.

    Num mundo ideal as pessoas poderiam romper com o ciclo vicioso. No mundo real, entretanto, precisamos ser aceitos e, dificilmente, suportamos ser considerados “os chatos que odeiam sair”.

    Sally, não está fácil. Talvez eu não esteja bebendo o suficiente.

    • Mas será que não existe outra forma de lidar com esses eventos insuportáveis? Porque ir e beber é perpetrá-los. Além disso é uma violência para com você mesma, não pode beber e sim por mascarar um sofrimento.

      Esta semana conversei com muitas pessoas a respeito e, para minha surpresa, quase ninguém gosta dos lugares para onde voluntariamente sai. Quase todos bebem por não gostar dos lugares onde vão. Gente, se está ruim para quase todo mundo, vamos mudar nossa realidade em vez de beber para suportá-la?

      Acho que não caiu a ficha de que quase todo mundo bebe por não gostar do seu lazer. A hora em que essa ficha cair, o pessoal se une e “inventa” novas formas de lazer mais agradáveis.

      • Concordo. Mas não consigo encontrar uma forma de lidar melhor com eventos insuportáveis sem ser considerada “chata”, “estranha”, etc. Porque a melhor forma de lidar seria não indo.

      • Eu acho que pouca gente gosta, mas acho que os motivos combinados impedem um novo formato.

        Por exemplo: eu saio para um happy hour com um chefe chato que só fala de mulher e bebo para aturá-lo, ele, por sua vez, detesta o outro coordenador que gosta de falar de política, ao mesmo tempo que o coordenador detesta a música do lugar.

        Acho que isso é dilema de tostines. Difícil de resolver…

  • O que a Sally falou merece um estudo acadêmico de psicologia comportamental, pois colocou às claras algo que venho tentando formular já há algum tempo. Nunca gostei muito das baladas, mas vez e meia acabava ainda pra tentar pegar “asmina”, mas nem bêbado eu conseguia superar minha timidez. Aos poucos substituí as baladas pelos bares e o papo de boteco e minhas chances aumentaram consideravelmente. Porém, eram sempre pessoas medíocres, eventos medíocres e as únicas saídas que importavam era o encontro mensal (hoje quase anual) dos “cumpádis”.

    Depois que minha filha nasceu, diminuí consideravelmente a bebida e o cigarro, chegando a quase zero o consumo deste segundo item. Com a chegada do segundo filho, espero abolir de vez esse hábito. Creio que exemplo vem de casa, além do mais quero ter mais tempo de vida ao lado dos meus pequenos.

    Os ambientes que possuem bebida são carregados naturalmente e sempre atraíram a escória da humanidade. Antigamente as tavernas eram sinônimo de prostituição e de reunião de corjas de andarilhos e assassinos. Ao longo do tempo foi ficando um ambiente mais sociável e hoje em dia atrai uma horda de adolescentes que não sabem beber.

    A mudança com a propagação da internet, como a Sally disse, é visível. Na minha adolescência, aqui em Campinas haviam várias opções para baladas. Ao longo do tempo foram fechando, tem até um caso de uma casa de shows que hoje virou templo de reunião da Bola de Neve. A internet tem seus riscos, cada um pode ser o que quer, mas na balada também é assim, não é mesmo? Se você for esperto, pode até marcar algo com alguém pela internet em um ambiente movimentado e fugir sem ser visto pelo outro. Numa balada não tem como fugir, qualquer cagada e você volta pra casa de olho roxo, com alguma doença sexual, com uma gravidez indesejada ou simplesmente não volta.

    Balada é diversão sim, mas uma diversão muito cara na atual situação. Festas e eventos valem a pena para fazer uma boca livre, talvez rever alguns velhos conhecidos, mas normalmente são eventos entediantes. Nem bêbado eu suporto esses eventos familiares, só um churrasco de vez em quando com meus pais ou as festas de fim de ano. De resto, dispenso sem pensar duas vezes.

    Eu sou antissocial por natureza, os outros estão se transformando em antissociais devido à conectividade. Se Baudrillard e outros pensadores estiverem certos, esse comportamento transformará as pessoas em seres andróginos e assexuados, colocando o futuro da humanidade em apatia e letargia. Aqui em Campinas isso já está acontecendo, nem as baladas gays, que faziam tanto sucesso, hoje conseguem se manter com as portas abertas. Conhecer as pessoas, principalmente aquelas que valem a pena, será um processo cada vez mais árduo.

    • Espero que a coletividade tome consciência de que essa balada moldes anos 80/90 não nos atende mais e se reinventem novas formas de lazer, para que não terminemos todos idiotizados o dia inteiro na frente de um computador.

    • Chester,

      Por que será que eventos familiares costumam ser os mais insuportáveis para a maioria de nós?

      Também luto contra a minha natureza antissocial. Até pra Carnaval eu vou.

      Mas o que seria uma pessoa sociável por natureza? Alguém que, naturalmente, gostasse de estar com as pessoas. Mas pra ter vontade genuína de estar com as pessoas, tem que gostar das pessoas e, pra gostar das pessoas, tem que abaixar o nível de exigência. E como se faz isso? Bebendo. É um círculo vicioso difícil de quebrar.

      A não ser que a gente encontre um outro jeito de baixar as exigências angustiantes que tornam quase todo mundo um saco.

  • Eu adoro essas filosofadas sobre o comportamento das pessoas. Pura verdade que o nível dos progranas caiu e só se atura de cara cheia. Mrsmo caso de botar música berrando, pra não precisar conversar. O combo bebedeira+som no máximo =felicidade!

    • Mas as pessoas estão tristes, desgostosas desses programas, chateadas. Porque levar adiante um lazer que no fundo ninguém parece gostar?

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