Abraço.

Ato de entrelaçar os braços total ou parcialmente em outra pessoa. Algo simples, mas com muitos significados e benefícios. Desfavor Explica: Abraço.

Ninguém sabe exatamente quando eles começaram, mas se sabe o motivo: líderes cumprimentavam uns aos outros encostando o corpo e entrelaçando os braços para verificar se não estavam armados. O que começou como uma medida de segurança, foi sendo copiado pelo povão, que adora emular os hábitos dos poderosos. O tempo foi passando e o significado original se perdeu. O abraço foi sendo incorporado como um gesto de afeição. Não se sabe se ele acabou ficando por ser prazeroso ou se é prazeroso porque acabou ficando, o fato é que hoje ele faz parte de todas as culturas.

O abraço pode ter diferentes significados nas mais diversas culturas, mas sempre tem uma conotação positiva: proteção, afeto, compaixão, saudade, congratulação… Até mesmo no reino animal ele está presente, em mamíferos mais desenvolvidos, como por exemplo nos gorilas, que abraçam seus filhotes pelo simples desejo de abraçar, sem qualquer finalidade secundária visível.

Abraçar e ser abraçado gera conforto psicológico e também uma série de benefícios físicos.Um abraço de pelo menos 20 segundos libera no organismo hormônios que causam sensação de bem estar (papo técnico: oxitocina e endorfina). A oxitocina é chamado de “hormônio do amor” e é um dos grandes responsáveis pelos sentimentos de apego, confiança, cumplicidade e intimidade. Estudos revelam que quanto mais altos os níveis de oxitocina, menor as chances de casais se traírem. Já a endorfina gera uma sensação de bem e calma, que reduz a dor, o estresse e a ansiedade e melhora a qualidade do sono.

Entre casais, um abraço demorado também libera um hormônio responsável pelo aumento do desejo sexual (papo técnico: dopamina) de forma significativa. Estudos indicam que casais que se abraçam com frequência fazem quase o dobro de sexo do que aqueles que não tem esse hábito. Ajuda a manter não apenas o desejo sexual como também a cumplicidade e o vínculo emocional. As mulheres parecem ser mais suscetíveis aos efeitos dos abraços em se tratando de relacionamento: estudos também indicam que mulheres cujos parceiros tem o hábito de abraçar traem menos.

Um abraço bem dado também reduz os níveis de estresse, melhorando a pressão arterial e, por consequência, reduzindo os riscos de doenças cardíacas. Isso porque o abraço reduz o nível de cortisol, o hormônio do estresse, extremamente nocivo para o organismo. Essa redução ajuda a melhorar a memória e até mesmo na prevenção do câncer.

Abraçar relaxa os músculos e nos acalma. Libera a tensão do corpo, gerando benefícios concretos similares ao de horas de boas risadas ou de meditação. Abraço pode ajudar a reduzir os medos e preocupações, sendo capaz até de acabar com a insônia. Vale lembrar que todos estes benefícios não vem de um único abraço e sim do hábito rotineiro de abraçar. É por isso que desde cedo se recomenda abraçar bebês e crianças regularmente, isso influencia na sua autoestima a e na forma como lidarão com os abraços pelo resto da vida.

O abraço mexe primordialmente com um dos nossos sentidos mais importantes: o tato. É o primeiro sentido que se desenvolve e último que o ser humano perde. Se visão e audição acabam se esvaindo ao longo dos anos, o tato continua lá, sinal de que ele deve mesmo ter um papel importante, pois a mãe natureza escolheu preservá-lo. O tato é o primeiro dos sentidos com o qual temos contato, ainda no útero e diversos estudos apontam que crianças que crescem em lares sem abraços e demonstrações físicas de afeto estão mais propensas não só à violência, como a distúrbios emocionais e uso de drogas.

Além de promover ganhos a longo prazo, abraços também geram ganhos imediatos. Ajudam, por exemplo, a acalmar pessoas furiosas. Uma pessoa em estado de extrema putez tem suas reações fisiológicas mitigadas com um abraço: redução de batimentos cardíacos, redução do estresse, etc. Se contar até dez funciona, abraçar funciona mais ainda.

Abraços regulares também ajudam a melhorar o sistema imunológico, nos deixando menos propensos a doenças. Chegou a ser feito um experimento com cerca de 400 voluntários, onde um grupo abraçava de montão e outro não, nas mesmas condições de vida e depois todos foram expostos ao vírus da gripe. Adivinha qual foi o grupo onde ninguém adoeceu?

Porém, um abraço só tem esses efeitos positivos se vier de uma pessoa à qual queremos bem. O abraço vindo de uma pessoa da qual se tem antipatia gera o efeito contrário: aumenta a produção de cortisol, o hormônio do estresse, que gera diversas consequências negativas para seu organismo.

Por isso, além de abraçar as pessoas queridas, é importante também não se sujeitar a abraçar as pessoas não tão queridas assim. Essa iniciativa de FreeHugs, uma campanha mundial para que as pessoas se abracem, pode não ser a melhor ideia do mundo no caso de pessoas mais reservadas como eu. Deveria vir acompanhada de “freedentist”, para atenuar os efeitos que um abraçonão solicitado pode causar.

Existe um grupo de pessoas que não se beneficia do abraço: os autistas. Autistasnão gostam da sensação do abraço e isso lhes provoca um enorme estresse. Ha quem diga que se acertar a mão na pressão, eles gostem, que o problema vem de abraços muito apertados ou muito frouxos, mas no geral é consenso que autistasnão gostam de seremabraçados. E mesmo assim, eles se beneficiam do abraço, se conseguirem um meio alternativo de fazê-lo.

Aconstrição é um poderoso mecanismo físico para acalmar e reduzir o estresse. Como a constrição não pode ser fornecida na forma de abraços, foi desenvolvida uma “maquina do abraço”, que consiste basicamente em duas tabuas que fazem uma constrição regulada pela própria pessoa que se coloca entre elas. Essa “máquina de abraços” começou a ser usada em autistas e os resultados foram surpreendentes, reduzindo o estresse e gerando um efeito calmante. Ou seja, não é o psicológico do abraço o responsável por todos os benefícios, uma constrição não resistida, ainda que feita por uma máquina, gera consequências boas.

Não me perguntem os critérios, mas estudos indicam que o numero de abraços que precisamos, em média, por dia, para obter todos esses benefícios de forma significativa é, em média, 14 abraços, cada um deles com mais de 20 segundos de duração e de preferencia “apertados”, ou seja, daqueles onde os dois coraçõesestão pressionados um contra o outro . Se o tempo estiver curto, tente pelo menos oito abraços por dia, menos do que isso gera defasagem.

Nos últimos tempos uma paranoia de abuso sexual vem tomando conta da sociedade ocidental, fazendo com que o hábito do abraço seja visto com desconfiança, até mesmo quando implica em abraço de adulto com criança. O resultado dessa redução é aumento do estresse, ansiedade e agressividade. Tudo piora com o distanciamento físico gerado pela TV, internet e redes sociais, que nos afasta cada vez mais do contato ao vivo. Conclusão: abraçamos cada vez menos e, acredite você ou não, estamos perdendo muito em qualidade de vida por causa disso.

Não é a solução para tudo, não é solução milagrosa, mas porra, é de graça! Já abraçou alguém hoje?

Para perguntar se abraçar cachorro conta, para sugerir a criação de uma máquina para abraço virtual ou para lançar o “PayHugs”: sally@desfavor.com

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Comments (13)

  • 12 abraços por dia é muito para uma pessoa reservada como eu. Onde vende um coquetel de oxitocina, endorfina e uma pitada de dopamina?

  • Gosto muito de abraçar, especialmente as baixinhas. Elas dizem que se sentem seguras, acolhidas. Tambem nao abro mao de um abraço de 1 minuto no meu moleque. Ele tambem gosrta. E, asabendo que isto traz beneficios, vou continuar neste habito. Obrigado pelo empenho em pesquiosar este tema.

    “Estudos também indicam que
    mulheres cujos parceiros tem o hábito de abraçar traem menos.”
    Bom saber que existe este recusrso estrategico.

    Espero, um dia, dar um forte abraço na Melly.

  • Eu tb tenho uma postura mais reservada, não é todo mundo que sinto abertura para abraçar. E sim, as vezes isso é estressante pra mim. FreeHugs é o carái.

    Diria que alem de vc precisar gostar da pessoa, sintonia conta demais. Tenho uma amigo que toda vez que nos encontramos eu recebo o melhor abraço do mundo, demorado, sem pirocada, sem segundas intenções… Hahahah

    Abraçar cachorro é quase uma cartela inteira de antidepressivo. Coisa mais gostosa dar um abraço no labrador. Ele parece que pede tb. Acho engraçado como ele senta ao meu lado e dá tipo um escorada no meu ombro e fica observando eu ler um livro ou mexer no computador quando me sento no chão.

    • Eu acho que deveria existir uma PET TERAPIA, para pessoas que estão tristes: leva para uma sala cheia de filhotes do bicho que a pessoa gostar e deixa ela lá brincando por uma hora, duas ou três vezes na semana. Resolve tudo? Certamente não, mas muita gente pagaria bem por esse momento.
      (olha a dica de negócio aí…)

  • Não tem nada melhor do que acordar e dar um abraço apertado na mãezinha da gente. Este é o melhor abraço do mundo!

  • Pohan, Sally… Me abraça? rs

    Interessante o texto. E me fez refletir sobre essa questão: mundo virtual aí e diminuindo cada vez mais o contato físico entre as pessoas. É por isso que eu defendo – como bem já o fiz em alguns textos do Somir – que, mesmo que a tecnologia avance a tal ponto de termos inteligência artificial, robôs e bla bla bla, o “material humano” não é substituível assim. Não acredito que caminharemos para que um dia as pessoas sejam frias e solitárias, fechadas em si mesmas, tendo fetiches com bonecos ou desenhos animados, ou fazendo sexo com robôs.

    • Mas talvez caminhemos para implantes de chips no cérebro que, em conjunto com a computação, emulem sensações de bem estar antes só conseguidas com contato humano…

      • Eita… Que futuro medonho!

        Off: malzz aí. Fiz um limpa no navegador e esqueci de completar a caixinha ali de novo. O anônimo do comentário anterior, no caso, sou eu.

  • Curiosidade: a inventora da máquina de abraço é a Dra Temple Grandin, autista, savant e criadora também de um protocolo de criação e abate “humanitários” de gado de corte. É muito interessante o trabalho dela.

    Nao gosto muito de abraços, fico desconfortável, mesmo sendo de conhecidos. Desde pequena, para desespero da minha mãe, uma abraçadeira de mão cheia, me esquivo e saio de fininho. São raros os casos onde me sinto bem com isso…

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