Passatempo primário.

+O mercado editorial expandiu a cartela de cores para além dos tons de cinza: 11 dos 20 livros mais vendidos no Brasil são livros de colorir para adultos, numa lista dominada por títulos como “Jardim Secreto” (750 mil cópias em seis meses) e “Mãe, Te Amo com Todas as Cores”.

Um seria um fenômeno, mas mais da metade? Um desânimo. Desfavor da semana.

SOMIR

Estresse é foda. É sim. Tem horas que a mente quer abrigo de tudo, que você não consegue parar de pensar em coisas que te frustram e parece não ter fim na angústia. Eu mesmo tenho vontade de sair correndo à lá Forrest Gump de tempos em tempos, de tanto que acumula. Você só quer algo fácil de fazer que tire sua cabeça dos problemas.

Mesmo sendo mais afeito a desenhar do que colorir, consigo entender um apelo nessa história de livros para colorir adultos. Tem mesmo gente por aí que precisa de todos os truques que puder utilizar para acalmar uma mente tempestuosa. Para elas, é fácil de compreender o mecanismo. Isso mesmo, para elas… eu flerto com o estresse diariamente, mas na verdade as coisas não são tão ruins assim. Às vezes não se escapa, mas contanto o tempo de tranquilidade e de estresse, a balança pende mais para a tranquilidade. O mundo é cheio de oportunidades para dar uma escapada dessa pressão toda.

Tem muita gente estressada por aí? Tem. Elas são 11 entre 20 da média? Ah, não… tudo bem que cada um sabe onde o sapato lhe aperta, mas, não… a maioria dos trabalhos desse mundo não são tão estressantes assim. Maçantes, repetitivos, quiçá desnecessários; mas nem tão estressantes assim. As pessoas parecem valorizar demais o quanto sofrem com atividades cerebrais complexas, sendo que na prática o que mais vemos é incompetência e falta de atenção. Não se vê na vida real sinais que tantas pessoas estão trabalhando seus cérebros à exaustão.

O trabalho é chato? Tem que resolver problemas de clientes chatos? Tem que lidar com chefes exigentes? Chega em casa e tem mil contas pra pagar? Olha, isso se chama vida média. Tá ruim pra todo mundo. É estressante se você não tem muitas ferramentas para lidar com isso a não ser se dopar. Um pouco mais de foco e objetivos paralelos dissiparia boa parte desse desajuste. Focar numa qualificação, buscar uma empresa melhor, aprender a cuidar melhor de dinheiro… tem muita coisa que se pode fazer para atacar na raiz do estresse e não se faz por preguiça e/ou acomodação.

A verdade é que não tem tanta gente assim nesse mundo desesperada ao ponto de comprar um livro de colorir para FINALMENTE ter algo que deixe sua cabeça sossegar um pouco. Não é todo mundo que trabalha no limite, com prazos absurdos, responsabilidades sufocantes… eu mesmo não o faço. As coisas acumulam, é claro. A mente pede um descanso, é claro. Mas daí a dizer que é normal e aceitável reduzir-se a pintar um desenho depois de adulto para ter um descanso? Ah vá! Se as pessoas chegassem nesse grau de desespero, ou viveríamos numa utopia de eficiência, ou teríamos nos suicidado todos tempos atrás.

Livro para colorir para boa parte das pessoas que o compram é basicamente mais uma forma de se dopar. E viciado sempre tem uma desculpa. Se faz de sua vida algo muito difícil, perdoa-se ao buscar os menores denominadores comuns. É a mesma coisa da pessoa que enche a cara no final do dia porque o time perdeu no campeonato: o problema não exige tamanha reação, mas a pessoa acredita que está lá por esse motivo. Está enchendo a cara, isso sim. Nada contra quem o faz sem atrapalhar os outros, mas sejamos honestos.

Quer fazer algo terrivelmente fácil porque algo terrivelmente fácil é uma das suas únicas oportunidades de sucesso retumbante na vida? Manda ver! Seja feliz. Mas não venha dizer que o estresse te forçou a isso. A oportunidade de material mais exigente está disponível da mesma maneira e dificilmente sua vida é complicada ao ponto de não poder consumi-lo. Cérebro é “músculo”: quanto mais se exercita, mais força ele consegue fazer. Livro de colorir é um exercício leve destinado a quem ainda está começando nessa coisa toda de treinar a mente.

Numa analogia com exercícios físicos, é como considerar um treino válido andar de um cômodo a outro da casa. Para uma criança aprendendo a andar, é digno de nota e toda a festa que seus pais fizerem. Para alguém fazendo fisioterapia, um grande avanço e motivo de orgulho. Mas para um adulto saudável? Grandes merdas.

O que incomoda é a ideia de mover a linha de chegada para mais perto e considerar que a maratona está completa. Vamos fingir que nossa vida cotidiana é muito mais complexa e exigente do que é e nos permitir vitórias vazias com atividades infantis! Isso sim vai resolver alguma coisa! Estamos lidando com um influxo de mentes obesas iludidas que estão sofrendo de overtraining! A pessoa não está cansada porque exagerou, está cansada porque sedentarismo faz tudo parecer mais cansativo.

Treina essa massa cinzenta que a vida cansa menos. Estresse é coisa séria, mas não passa nem perto de ser essa epidemia toda que se propaga por aí. Muito do que se acredita ser excesso de pressão e cobranças não passa de falta de estímulos. Ler um livro com palavras ao invés de desenhinhos para colorir é uma outra forma de acalmar o cérebro irrequieto, com a vantagem de ter efeitos mais duradouros.

Evidente que esses livros viraram moda. As pessoas se auto-perdoam ao comprá-los e ainda por cima pagam de mais complexas e perturbadas do que realmente são. Infantilizam-se ao ignorar as necessidades da mente no longo prazo, e parecem contentes com qualquer resultado pífio que alcançam. Dopam-se com insignificância.

E desde que as próximas modas também exijam tão pouco, sabe-se lá onde a infantilização vai parar. O primeiro que abrir uma creche para adultos vai ficar rico.

Para dizer que eu sou feio, para dizer que eu sou bobo, ou mesmo para dizer que eu sou chato: somir@desfavor.com

SALLY

A boa notícia: brasileiro está comprando mais livros. A má notícia: são de colorir. 11 dos 20 livros mais vendidos no Brasil são livros de colorir para adultos.

Como não dá para chamar consumidor de imbecilóide, o pretexto para vender um livro com figurinhas para colorir é “aliviar o estresse”. Pessoas passam seus dias desenvolvendo uma atividade típica de crianças em período pré-escolar a pretexto de reduzir seu estresse.

Quão simplório tem que ser um cérebro para se deixar inebriar pela sensação de recompensa de ter concluído uma tarefa tosca como colorir um desenho? Caralho, imagino quão pouco desafio intelectual teve uma pessoa que se beneficia dessa migalha que é colorir uma figura!

LER um livro nem pensar, né? Usar o tempo para ganhar algum conhecimento não, né? Vamos desenvolver uma atividade motora rudimentar. Gente que precisa fazer o básico para ser bem sucedida e concluir uma tarefa. Existir uma margem de medíocres no mundo, ok. Mas eles são maioria. Taí a prova do que eu sempre disse: eles são maioria.

Eu entendo o livro para colorir como um recurso eventual, mas não como livro mais vendido do país. Alguém aqui duvida que a maioria das pessoas que compra esses livrinhos para colorir não compra mais nada em matéria de livros? Numa boa, para mim nem sequer livro isso é, é uma forma de arte, uma terapia manual, é qualquer coisa menos livro.

O mais curioso é o status que livrinho de colorir alcançou. Além de não ser vergonhoso, virou status ter um. Você pode imprimir centenas de figuras preto e branco na internet para colorir, mas a pessoa quer desembolsar dinheiro e ostentar o Jardim Secreto na sua mesa, como se isso fosse cool. É o mesmo mecanismo de sempre, além de não ter vergonha, ainda acham status. Essa porra está esgotada nas livrarias, pode?

Isso me soa como mais um passo nesse processo de infantilização de adultos. Os adultos brasileiros parecem estar regredindo, década após década. O próximo passo qual vai ser? Cagar nas calças? Desde quando adultos passaram a ter esse prazer infantil por se desconectar da realidade? Já não bastava a bebida para isso?

Quando a pessoa está colorindo, o cérebro fica em standby, pela falta de uso. É algo quase que automático. A pessoa esquece da vida, se aliena, fica em off. Caralho, até quando a vida da pessoa vai estar uma merda e a solução encontrada será se desconectar dela o máximo possível em vez de arregaçar as mangas e mudar alguma coisa? Em vez de reagir, o ser humano está criando cada vez mais formas de ficar em off. TÁ SERTO.

Salvo engano, o Jardim Secreto ocupa atualmente o terceiro lugar de livro mais vendido. A pessoa vai até a livraria para comprar algo e escolhe algo que não lhe oferece estímulo intelectual nenhum, desafio nenhum. Ela leva para casa uma coisa que tem a certeza que pode e sabe fazer sem esforço. Me explica, onde está o mérito disso?

Percebam que não tenho nada contra os livros em si, eu coloriria uma porra dessas enquanto falo ao telefone, por exemplo. O que me mata é o monopólio do mercado literário por livrinhos de colorir. Tá errado que eles não sejam um complemento para o tempo livre e sim O Lazer Principal no tempo livre.

É de uma infantilidade e mediocridade enormes pensar que para se distrair ou desestressar é necessário fazer uma atividade com demanda cerebral zero. Dá para se divertir e aprender, acrescer conhecimento, ao mesmo tempo. Quer dizer, se você tiver um cérebro e alguma capacidade cognitiva. Parece que para o Brasileiro Médio, se houver qualquer grau de aprendizado ou acréscimo de informação o cérebro já começa a latejar e a atividade é considerada tortuosa.

É relaxante colorir? É divertido? É legal? Alivia o estresse? LINDO, mas atividades que usam seu cérebro também podem fazer isso por você, com o plus de ter um ganho, um acréscimo para o resto da vida com isso. Ler um bom livro alivia o estresse, é divertido e é relaxante – com o plus que te acrescenta informação, gera um ganho indelével. Não, não. Melhor fazer o que é mais fácil, não é mesmo?

Então, havendo as duas possibilidades, de relaxar com algo vazio, que não gera ganho algum além do relaxamento, ou relaxar com algo que ainda acresce cultura, informação e conhecimento, porque merda as pessoas preferem a primeira opção? Provavelmente por não terem cérebro nem estímulo intelectual para conseguir desempenhar uma atividade mais aprimorada, que acrescente.

Muito triste ter a constatação, mais uma vez, da mediocridade do Brasileiro Médio. Basta encontrar uma justificativa comercial que seja socialmente aceita que eles se prestam ao ridículo. O senso de ridículo vem de fora para dentro: se as pessoas não me acham ridícula, então eu posso fazer isso. A pessoa não tem parâmetros próprios, depende do olhar alheio para traçar as linhas que representam fronteiras nas suas vidas.

Se amanhã criarem uma fralda adulta com algum plus comercialmente atrativo e um slogan que justifique se cagar nas calças (nem precisa de criatividade, basta dizer que alivia o estresse e relaxa), as pessoas vão aderir. As pessoas aderem a tudo, não pensam. Aderem a aquilo que é fácil, que é garantido. Ninguém busca se desafiar, se aprimorar. Zona de conforto é o que há. E pelo visto a zona de conforto é bem medíocre.

Mas não ouse você falar mal dos livrinhos para colorir: elitista, amarga, de mal com a vida. Sua opinião será desmerecida a qualquer custo, afinal, é muito mais agradável pensar que nós somos escrotos do que cogitar sobre sua própria imbecilidade. Continuem colorindo…

Para pedir uma versão desfavor de um livro para colorir com imagens do Pilha em seus momentos marcantes, para ignorar o texto e se dedicar a acompanhar o último dia de votações da Postagem Sim Senhores ou ainda para dizer que Brasil é o país onde criança canta sobre sexo e adulto colore figurinhas: sally@desfavor.com

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Comments (38)

  • Que se dane a leitura de bons livros. Tampouco me importa os inigualaveis textos da Sally e do Somir ou os brilhantes comentarios da Marina, do Hugo e da Suellen…
    Ora, o importante é a moda. Colorir desenhos? Vou participar. Que se dane os bons textos.
    O importante é colorir, pois desenvolve a inteligencia e estimula a imaginacao.

    Juntos…

    Para um Brasil mais colorido.

  • Pasmem, já ouvi relvados de pessoas que brigaram por causa dos livros. Aparentemente um grupo de “pintoras” no face brigaram com uma que estava colorindo os desenhos pequenos com canetinha, oque seria “trapaça”. Eu sabia que seria a maior jogada da Faber Castell, parabéns a todos os envolvidos!

  • Eu não tinha ideia da proporção que isso tomou. E sinto-me aliviada por não ter em meus círculo de amigos consumidores desse livro. Talvez não faça tanto sucesso aqui em MG. Me lembro de ter visto 1 ou 2 amigos somente postando imagens de seus rabiscos.

    O argumento que livros são muito caros no Brasil e por isso as pessoas não lêem JAZZ aqui! Tem $ pra dar 38,00 no Jardim secreto. Vergonha alheia!

  • Hoje mesmo, enquanto pintava o meu livro, conversava com a minha sogra. Falei que todo mundo tá comprando esses livros, mas queria ver quantas pessoas iam chegar até o fim quando a moda terminasse.

  • Hoje estava passando no supermercado e naquela gôndola da boca do caixa topei com o tal livro. Trinta reais. Fabuloso.

    Mas lembrei daquela cena do Cidade de Deus que um negão lá falava que só sabia ler livro com figura.

  • Torço para que se limite ao lazer e aos livros. Uma conhecida ministrou prova de anatomia com lapis de cor, pressionada pelo empregador, um instituto de ensino superior, por conta dos alunos terem exigido menos reprovação e maiores notas. Enfim, qualquer atividade que possa ser ridiculamente terminada. Para futuros profissionais da área de saúde…

  • Enquanto uns choram outros vendem lenço.

    mas prefiro a nova versão de minha autoria:

    Enquanto uns reclamam da idiotice das pessoas, outros ganham com ela.

  • Bem, colorir é tão bom, é salutar como um passatempo. Claro que é bom que se acompanhe com outras coisas, como ler, mas colorir é beleza!

    *Tenho dois livros de colorir: Um pra colorir mesmo e outro pra tirar riscos para bordado livre a mão(sim, eu amo pintar e bordar – literalmente hahahahaha – além de outras artes como tricô, crochet, costura, canto, piano, música em geral, etc, coisas que também faço). Claro que não faço por modismos – até porque, odeio modismos – faço mesmo porque… porque eu gosto, porque amo a arte e as cores.

    P.S: Poxa, eu pensei que vocês colocariam na coluna do desfavor da semana o mega – escândalo da FIFA, o babado é forte, muito forte – tem até o presidente da Rússia – o Putinho – com o cu na mão porque ele teria pago propina para que a Rússia fosse escolhida como sede da copa de 2018 e ainda por cima criticando a prisão dos envolvidos no escândalo do “Fifão”. A coisa vai ficar cada vez mais quente e espero que os mafiosos do futebol mundial recebam o que merecem.

    Adoraria ver vocês escrevendo sobre o Fifão, depois dos “lives” da copa do ano passado, bem que seria muito legal ler o texto de vocês sobre isso.

    ;)

  • Confesso a vocês que mal tinha ouvido falar nessa modinha de “livros de colorir para adultos” (argh!). Não sei se é porque estive dando mais atenção a outras coisas ultimamente, mas eu não achava que esse “fenômeno” tivesse essa proporção. Quanto aos textos, ambos falam por mim sem tirar nem pôr – especialmente o que o Somir disse sobre o verdadeiro estresse – e eu já espalhei o link deste post para alguns dos meus contatos. Só espero agora não ter o desprazer de descobrir que alguns desses contatos também entraram nessa de colorir figuras “por estarem estressados”…

  • Pessoal, o gosto pop É o gosto infantil. Coisas infantis vendem bem. Paulo Coelho é infantil, Romero Britto é infantil, música pop é infantil. Crianças gostam. É o teste mais primário da publicidade e do marketing: se criança gostar, vai vender. Tem que adotar com esse povo pop a estratégia que se usa com crianças: começa colorindo, depois coloca figurinhas com pouco texto, história em quadrinhos, livro fácil de acompanhar, Paulo Coelho, auto-ajuda, Sidney Sheldon, depois vai começando com livros de verdade. Não precisa chegar em Joyce, que aí passou do ponto.

  • Fiquei sabendo da existência desses livros para colorir quando recebi essa imagem aqui:

    http://www.kibeloco.com.br/wp-content/uploads/2015/05/CANAVIAL-DE-COLORIR.jpg

    Nesse formato até que me agradou… Hahaha…

    Achei que era brincadeira, não tinha entendido que realmente esse tipo de “livro” estava a venda. Confesso que quando fui à livraria semana passada, vi isso e achei estranho, mas não aprofundei na crítica, na hora eu estava com meus amigos, o objetivo ali era tomar um cafezin pq tinhamos filme pra assistir logo mais.

    Concordo com vcs. E penso que quando realmente estamos estressados escolhemos outras coisas. Um esporte, viagem rápida, namorar, meditar, dormir, ler, assistir filme… Cansaço mesmo, nem colorir a pessoa quer.

  • As pessoas postam fotos e textos de como estão pintando, dando dicas de como pintar (!!!!), tá uma coisa meio competitiva “Quem colore mais bunitim?”.
    Cada um tem sua catarse, mas:
    1) Livro de pintar pra adulto já é meio exagerado, não? Tem tantas coisas divertidas que um adulto pode fazer (duplo sentido intencional)
    2) Qual é o conceito de estresse pra maior parte dessas pessoas? O Wi fi não funcionar? Filho fazendo birra por negligência? A gente sabe como brasileiro adora ostentar problemas e afirmar que os dele são maiores que os de todo mundo (guerreiro exemplo de superação e essas coisas). É relativo, mas putz grilo.

  • Então, né? E o que já vi de psicólogos de porta de manicômio defendendo essa porra não tá no gibi (ou no livro de colorir!)! Eles vêm com os argumentos mais estapafúrdios pra justificar essa nova marra do povinho cool (ou dos “publicitários de óculos coloridos e gravatas de Mickey Mouse”, como dizia aquele cara do infelizmente falecido Cocadaboa e que é como eu enxergo genericamente toda essa gente, mesmo que não sejam publici(o)tários). Eles chegam mesmo a postar no FuckBook as páginas que colorem (degradê é chique! Eles adoram!) e é pior ainda quando fazem isso no Eataly! Pau no cool de todo esse povo, putaquepariu!

    Essas coisas, esses holocaustos culturais – pode ver! – sempre encontram entrada no braziu por São Paulo, cidade que adoro até a hora em que o povo da Paulista, da Vila Olímpia e Madalena, da marginal Pinheiros e da Berrini sucumbem a esses modismos ideológicos criados pelos gringos expressamente para a venda no terceiro mundo; daí, passo a odiar esse epicentro das babaquices que logo encontram nos descompensados de plantão seus arautos, sob os mais imbecis “argumentos”. É que nem o B. B. King: de repente todo mundo virou fã do cara. De repente, todo mundo virou fã do livrinho de colorir e revela seu lado medíocre vergonhosamente.

    “Elitista, amarga, de mal com a vida”. E se não for isso, serão ofensas mais leves, subentendidas, ou, simplesmente o silêncio desdenhoso. Você não se atreva a criticar a fraqueza, a pobreza de espírito e a incapacidade de superar problemas de cabeça erguida em lugar de se afundar numa atividade limítrofe ao subdesenvolvimento cognitivo: a Veja, a Marie Claire, a Você S/A e a Capricho, por meio de seus cães de guarda ideológicos (ou “leitores antenados e moderninhos”, como é mais bonitinho chamá-los) vão te rotular imediatamente de “insensível”, pra dizer um mínimo. E se você for mulher, dirão que é “mal comida”. Se for homem, dirão que “voçe naum sabe de nada! É viadinho! Vai chupar rola!”, típico do perfil de quem assimila essa subatividade como algo de normal na vida duma pessoa adulta.

    Enfim… isso é só mais uma prova de que o ser humano está disposto cada vez mais a descer um degrau na escala evolutiva (ou subir mais um na escala involutiva – depende do referencial!). Não tá aí o DINOFAURO pra comprovar o que estou dizendo? (já viu isso, Sally?).

  • As crianças terem comportamento de adulto significa uma esperança pro futuro? Não digo fazer funk de baixaria, mas vc acessa tutoriais no Youtube todos feitos por pirralhos. Outro dia eu aprendi a fazer root no meu cel no vídeo dum moleque, devia ter uns 12 anos. A geração futura será menos fodida e bmzada?

  • Se eu tivesse que escolher um Desfavor da semana, do mês, do semestre… seria exatamente esse!

    A modinha, espalhada por todos os lados, me irrita muito. Especialmente por se tratar de livros. Engraçado… há alguns meses nunca tinham dinheiro para comprar. Mas agora, em plena crise, compram e exibem como se fosse um celular novo. A Rosana Hermann falou uma coisa interessante: caderno de atividades não deveria estar na lista dos LIVROS mais vendidos.

    Existe recalque na minha indignação. Sinto inveja declarada da inteligência de quem é capaz de antever o que fará sucesso. De quem dita a moda! A autora do Jardim Secreto teve muita sorte e muita competência para ter soltado a faísca que incendiou o mundo com a moda do momento. Quando passar, excelentes escritores continuarão pobres e esquecidos, mas ela estará muito rica. Ela e as fábricas de lápis de cor! Parabéns pra ela!

    Os textos de hoje falaram por mim. Principalmente o da Sally. Sinto-me elitista, amarga, de mal com a vida toda vez que me dá vontade de reclamar desses caderninhos de atividade pra adultos “na moda”. E toda hora me dá vontade de reclamar, porque estou cercada por adultos falando neles há semanas sem parar! Sim, eu queria ter o poder de ficar feliz com tão pouco. Acho que deveria voltar a trabalhar com crianças. A alegria delas ao conseguir colorir e desenhar era genuína e encantadora. Mas um adulto feliz porque está colorindo me deprime. Cada vez que colegas começam a comentar sobre o caderninho, eu quero morrer. Mas me calo, porque a errada sou eu.

    Amei os textos. Obrigada.

    • Não seja por isso, eu te dou a fórmula: qualquer atividade que seja ridiculamente fácil de ser terminada e bem sucedida vende, pois o BM se sente importante e inteligente quando completa qualquer merda. É o mesmo princípio do álbum de figurinhas para adultos que vendeu horrores na Copa. Vai pensando aí em coisas fáceis de serem concluídas!

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