Seguindo em frente.

Merdas acontecem. Sally e Somir concordam que perdão não é algo que se distribua indiscriminadamente, mas não se entendem quando pensamos no desenrolar da vida pós-perdão. Mágoas são realmente para sempre? Os impopulares nos perdoam pela bagunça recente dando suas opiniões.

Tema de hoje: Se alguém te magoa e você perdoa, é melhor esquecer o que te causou a mágoa?

SOMIR

Em primeiro lugar, admito que não estava num dos meus melhores momentos nos últimos dias. Vontade de apagar tudo e manter a pose de inabalável. Mas, o que está feito está feito. E considerando o que eu ganhei em troca, ficou barato, ficou muito barato… está na hora de esquecer os momentos ruins e se concentrar no que vem pela frente.

Sim, eu sou partidário de esquecer. Não aquela coisa maluca de fingir que não aconteceu… tem uma particularidade aqui. Como não estou com muito crédito na praça, desconfio que vá perder hoje. Mas pelo menos escutem meu argumento: o que que fica de útil de uma mágoa, um momento ruim da sua vida? A dor? A frustração? O desânimo? Claro que não. O que fica é a lição. Aprende-se com os tombos.

E o aprendizado é tudo o que você precisa ter. A mágoa é descartável, até porque o passado é imutável. Eu aprendi que fico muito mais cego do que achava quando sentimentos entravam em jogo. Sempre acreditei no controle total, na lógica de tomar decisões racionais em todas as situações. Na maior das alegrias ou das tristezas, sempre há uma verdade inabalável que deve ser encontrada.

E é aí que a teoria atrapalha a prática. Aprendi que se pode fabricar essa “verdade inabalável” em meio a uma crise e tomar decisões estúpidas. Achar que algo é lógico não é sinônimo desse algo ser lógico. Um erro dolorido que me custou muito tempo e quase me fez perder provavelmente a maior chance que a vida me colocou na frente não é algo que mereça ser revivido em culpa. O erro pertence ao passado.

O aprendizado é do presente. Desde quando o medo de perder é mais útil que ter as ferramentas para manter? Esquecer não é fingir que não aconteceu, esquecer é sacudir a poeira e se concentrar no que você pode fazer de melhor. Não sei se estou explicando demais algo que vocês já perceberam faz tempo, mas é essencial para o meu argumento: se eu perdôo alguém eu não quero mais ver essa pessoa pela lente distorcida de um erro que já passou, quero vê-la claramente através do que está fazendo para tornar o presente melhor.

Aprendam com o mestre: presumir demais faz mal. Quando se usa o erro já perdoado como modificador da sua percepção sobre alguém, você pode e vai enxergar coisas erradas sobre ela. O que te incomodou continua flutuando sobre a cabeça dela como um fantasma, pronto para te fazer pular em conclusões onde elas ainda não podem ser feitas. Se eu acredito tanto na minha capacidade de aprender, como não estender isso para quem eu quero por perto de mim? Só eu seria capaz de aprender? Ou pior: ninguém seria?

Sempre digo que ninguém muda. Mantenho. Mas as pessoas evoluem. Evolução é parte integrante do funcionamento do Universo e nada parece ser imune. Se você vai gostar da evolução são outros quinhentos, mas apostar no imutável é apostar para perder. Por exemplo: esperar que uma pessoa teimosa simplesmente abandone essa característica é esperar uma mudança, é esperar pelo o que não acontece espontaneamente. Agora, esperar que esse ser teimoso comece a pensar de forma menos egoísta e faça sua teimosia causar menos problemas para terceiros é esperar uma evolução. Não acontece do dia para a noite, mas é um processo possível. Tem muita diferença entre esperar que o incômodo desapareça e esperar que ele seja menos danoso.

Perdoar e esquecer significa entender que ninguém muda (afinal, perdoou), mas se concentrar na parte da evolução. Deixe para trás o problema e foque na solução. De nada adianta guardar as mágoas e continuar julgando a pessoa por elas dia após dia. Até porque você não consegue mais enxergar direito a parte boa: a evolução. Quem quer ficar sofrendo? Sofrimento é um pedágio, não a estrada.

E outra: erros acontecem. Mas isso vai bem mais fundo do que parece. Somos, por definição, seres completamente isolados uns dos outros. Cada mente é um universo próprio montado por estímulos e memórias inescapavelmente separadas de outras mentes. É um erro achar que outra pessoa enxergou a situação exatamente como você enxergou. Não estou advogando ser bunda mole e aceitar qualquer divergência em nome desse relativismo de percepções, mas estou dizendo que uma pessoa ver uma situação de forma completamente oposta à sua não é sinônimo imediato de incompatibilidade. São tantos fatores influindo nisso – a imensa maioria fora de controle – que é mesmo possível ter mentalidades parecidas, ver coisas parecidas e ainda sim sair com conclusões diferentes.

Apegar-se ao erro me soa um erro por si próprio. Se fosse imperdoável, bom, a situação já estaria resolvida. Mas não foi. O contexto da discussão de hoje parte do perdão. De alguma forma todas essas variáveis que eu fui definindo até aqui chegaram a um resultado positivo. Não acredito que valha a pena carregar mais bagagem do que o necessário nessa vida. Perdoar é um difícil processo de deixar para trás algo que te parecia impossível de se desvencilhar, então… por que continuar fazendo força extra? Está mais leve. Dá para andar mais rápido agora.

É questão de escolher suas batalhas e não se render a traumas. O que deu errado antes numa configuração não vai necessariamente dar errado no futuro, dado que tenha algum aprendizado envolvido. A primeira vez é mais confusa que a segunda, não? Quando nos concentramos no que dá certo ao invés do que deu errado, fazemos melhor.

E mesmo que nem sempre se consiga, fazer melhor é um ótimo plano. O erro é um passo do aprendizado, mas ele não é o foco.

Para dizer que não vai cometer o erro de acreditar nisso, para dizer que gosta do meu discurso mas prefere fazer o que a Sally sugere, ou mesmo para dizer que vou ter que fazer bem melhor: somir@desfavor.com

SALLY

Se alguém te magoa e você perdoa, é melhor esquecer aquilo que te causou a mágoa? NÃO.

É um instinto de preservação natural do ser humano armazenar experiências que lhe geraram qualquer tipo de prejuízo para evitar sua ocorrência outras vezes. Chega a ser um mecanismo evolutivo de sobrevivência. Desde os primórdios contamos histórias para passar adiante para o grupo o que dá certo e o que dá errado.

Manter o erro vivo ajuda com que ele não seja cometido novamente. Obsrva só se alguma vez na história da humanidade alguém levanta um dedo contra os judeus novamente? Jamais. No entanto morrem diversos grupos de forma repetida sistematicamente ao longo da história. Esquecer é perigoso, esquecer é descuido, esquecer é flertar com o desastre.

Eu adoraria que cada vez que estivesse prestes a cometer o mesmo erro, um erro recorrente, tocasse uma sineta, um alarme ou qualquer outra coisa que me lembrasse a merda que deu da última vez que me enveredei por esse caminho. Seria uma ajuda, e não um ataque.

E, só para esclarecer, não esquecer não significa ficar jogando na cara, guardar rancor, não confiar ou buscar vingança. Não problematizem onde não tem: não esquecer significa NÃO ESQUECER, qualquer coisa além é por conta de vocês.

As grandes lições da nossa vida vem do não esquecimento. Uma mãe pode dizer vinte vezes para uma criança não colocar o dedo na tomada, pois vai levar um choque, mas nada será mais eficiente do que ele de fato colocar e receber uma bela descarga elétrica. Ao levar um choque, a criança não esquece, e ao não esquecer, não repete o erro.

E tendemos ao esquecimento. Todo mundo gosta de lembrar o que fez de bom nessa vida, mas as merdas, as cagadas gigantes, essas tendem a ser gradativamente apagadas, pois não gostamos de pensar que somos falíveis, muitas das vezes, idiotas completos. Por uma questão de sobrevivência digna, tendemos a apagar ou mitigar gradativamente nossos erros. Daí a importância de um Guardião que nos relembre exatamente como e quando costumamos merdar.

Esquecer não é fazer um favor à pessoa. Esquecer é criar uma armadilha para ela e para você mesmo, pois a propensão ao mesmo erro será maior. Além disso, é anormal esquecer algo que te magoou. Talvez eu seja muito filha da puta, mas eu não esqueço daquilo que me magoou. Poderia apenas sufocar, arquivar no fundo de uma gaveta mental, com muito esforço. Mas não seria natural.

A convivência não fica natural. Vai achando que a pessoa realmente esqueceu… duvido. Ela apenas não está falando sobre isso. Acho bem bizarro esses combinados de “nunca mais falar no assunto”. Fica aquele elefante branco no meio da sala e as pessoas fingindo que não está ali. Com licença, se fez algo que me magoou eu tenho o direito de falar sobre isso quantas vezes seja necessário, relembrar, perguntar, questionar quantas vezes seja preciso.

Francamente, até para quem merdou é melhor o não esquecimento. Mantendo fresco na memória da pessoa a merda que ela fez, as chances dela se policiar e não repetir são maiores. Não se enganem, somos medíocres, todos nós, e quando deixados ao sabor do vento tendemos a cometer sempre os mesmos erros. Não esquecer mostra à pessoa que ela tem uma propensão a aquele tipo de merda e a ajuda a se policiar.

Eu gosto de manter frescos na minha memória os erros que eu cometo, como forma de me policiar e não cometê-los novamente. Penso que todo mundo deveria agir assim, mas a maioria não gosta. Claro, é uma punhalada no ego ser lembrado de uma bela bosta que fez. É preciso muito desprendimento para topar não apagar da história uma cagada GG. Eu tenho, mas quase ninguém o tem.

E quem não o tem, como regra, ataca quem o tem na tentativa de desmerecê-lo: rancorosa, fria, mesquinha. Arrogante aquele que pensa ser capaz de aprender com um erro se ele for facilmente esquecido. O ser humano tende ao erro, tende a repetir mecanismos de funcionamento. Manter o erro vivo na lembrança é a melhor forma de se policiar para não repeti-lo.

Minha opinião é a de que essa babaquice politicamente correta somada a uma culpa cristã fazem com que as pessoas se sintam mal em bancar o fato de não esquecerem o que as magoou. Você é uma pessoa escrota se não esquece. Daí muita gente diz que esquece para não passar por escrota. De onde tiraram que uma pessoa que esquece é, sob qualquer aspecto, melhor do que a que esquece? Repensem isso aí, não faz sentido algum.

Eu não esqueço, eu não quero esquecer. Assim como não quero que esqueçam as minhas pisadas de bola, para o meu próprio bem. E sou bem resolvida o bastante para saber que é para o meu próprio bem. Sacrifico meu ego para ser uma pessoa melhor. Sou confrontada com meu lado fraco, podre, idiota, para evitar que ele se manifeste com tanta frequência. É preciso ter uma autoestima bem inteira para topar essa metodologia.

Observem. Observem o que acontece com gente que perdoa, esquece e apaga da existência uma grande mágoa causada. Garanto que na maior parte dos casos a pessoa toma no cu novamente, pelos mesmos motivos. Não, obrigada. Minha cota de tomada de cu nessa vida já expirou, vou fazer por onde diminuir as chances de que isso se repita.

Ao contrário do que essa sociedade “boazinha” e puritana te empurra goela abaixo, não esquecer é inteligente, é bacana e não é errado. Pau no cu de quem me julgar, não esquecer o que me causou mágoa não faz de mim má pessoa e não mina o relacionamento com a pessoa que me magoou. Muito pelo contrário, colabora para evitar que os mesmos problemas se repitam.

Perdão deve zerar sentimentos negativos, mas não deve apagar o passado, para o bem dos envolvidos.

Para ignorar o tema e me encher de perguntas e ouvir evasivas, para cagar para a coluna e focar no castigo pelo furo de ontem que deveria ser debatido na próxima postagem ou ainda para encher o Somir de perguntas e ouvir o som dos grilos: sally@desfavor.com

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Comments (11)

  • Esquecer a mágoa, claro que sim. Bem, pelo menos esforçar-se em evitar pensar no assunto. Repisar magoas, mesmo que seja mentalmente, é um prejuízo para si próprio. Pois, enquanto voce revive situacoes desagradaveis, quem bateu talvez nem lembre o que fez ou seja indiferente aos efeitos tragicos que recairam sobre voce.

    Esquecer nao é facil.
    Empenhar-se para esquecer, sim. Perdoar sempre (quem nao precisa?).

    Sua saude agradece.

  • The North Remembers.

    Tenho mágoas e desejo de me vingar de gente do colégio há 25 anos atrás…

    E olha só, pode levar o tempo que for… Mas eu sempre dou o troco.

  • Não tem nem graça comentar, concordo com tudo que a Sally escreveu. Concordo que há diferenças, uma coisa é vc alimentar rancor outra coisa é vc lembrar e não identificar nenhum sentimento negativo.

    Acredito que o perdão é algo bem mais interno que externo no sentido de que, muitas vezes quando a gente perdoa, significa que vc está mais se perdoando por ter se permitido ser enganada/magoada, do que necessariamente perdoar o outro.

    Acredito que não esquecer nos protege. Esquecer, só em situações sem importância. Aqui tb entra o que sempre falo do perigo de pagar de descolada. E aí existe outra diferença: o realmente se magoar por uma filha da putagem real, da dodoizagem. Gente dodói é um capítulo a parte nesse tema.

  • Eu acho, só acho que a Sally poderia perdoar as bostas do Somir para que ele evolua e seja menos egoísta. Assim Sally se torna meio que um freio e contra pesos . Pelo menos Sally pode rir da cara do Somir for ever e dizer que ele é um filho da mãe cheio de erros como qualquer bosta de ser humano.

  • Se algo foi marcante na sua vida não tem como esquecer, eu acho que pelo menos pras mulheres, não da pra simplesmente esquecer. O perdão é valioso e marca uma mudança na forma como encaramos o passado. A lembrança serve pra delimitar limites. Sou contra ficar jogando na cara do outro o que ele fez de errado, quando aceitamos perdoar a gente escolhe virar a página.
    Se fosse uma escolha simples de apertar botão e nunca mais lembrar eu acho que faria essa opção, mas não é tão simples.
    A lembrança vai existir, o que fará diferença é a forma como cada um vai lidar com isso, o que perdoou não pode ficar jogando na cara e o perdoado tem que ficar preocupado em nunca mais deixar que as coisas que causaram problema no passado voltem a se repetir, tem que agir de forma a deixar o outro confortável e desta forma a parte da lembrança que era magoa vai se enfraquecer cada dia mais, até que aquela lembrança seja só uma lembrança que perdeu a importância, de tão baixas as probabilidades de ocorrer de novo.

  • Uma coisa é esquecer o fato, outra é alimentar o rancor. Sou a favor de lembrar do fato, mas não de guardar rancor. Se a pessoa te faz mal, fique longe dela e deixe a vida seguir, vire a página. Se te faz bem, fique perto dela e deixe a vida seguir, vire a página.

  • Concordo mais com o Somir nessa. Acho que o processo do perdão passa por questionamentos, discussões, explicações, quantas vezes for necessário. Mas, uma vez esclarecido, o merdeiro tem duas opções: aprender ou repetir.

    A outra parte não tem como interferir nesse processo. Se a outra pessoa aprendeu, mudou, evoluiu, ficar lembrando o que era antes, não colabora para o que a relação se torna, assim como não colabora em evitar a próxima merda, se ele não aprendeu…

    Eu sou minha maior crítica, me lembro ate de pequenas merdas que passaram em branco para outras pessoas. E sofro com isso. Em um primeiro momento serve como a limpeza do perdão: te faz refletir, pensar e criar mecanismos para mudar e não repetir. Porém, depois de algum tempo só serve como tortura psicológica mesmo. Já mudei, nunca mais repeti o erro e fico relembrando a cagada. Para que? Só para ocupar a mente?

    O que deve ser guardado é o aprendizado, isso sim, sempre…

    De qqr forma, na torcida e a disposição.

  • Pra mim perdoar é uma vez só e não significa esquecer. Cortei uma relação faz pouco tempo por esse motivo. Eu perdoei da primeira vez e a pessoa cometeu o MESMO erro de novo.

  • Gostei do texto do inabalável.

    Sim, se alguém me magoa e eu decidi perdoar, é melhor esquecer o que me causou a mágoa.

    Por um motivo muito simples: A vida é muito curta. E eu não acredito que exista outra. É só esta. Tudo o que eu tenho é o hoje. O ontem já foi, já chega. Passou. Não sou da turma do mimimi eterno.

    Se eu não puder esquecer o que me causou a mágoa, é melhor nem perdoar. Se perdoei , não vou ficar repisando e repetindo o que foi feito de errado eternamente, porque nem eu nem a minha vida somos eternos. Bola pra frente. Hoje é tudo o que eu tenho. O ontem eu já perdi. Escolho esquecer para poder seguir em frente em paz com minhas escolhas.

  • Sally, acho que as pessoas apontam como melhor aquelas que esquecem justamente pelo fato de marcarem o outro como rancoroso. É como se o perdão compreende-se o esquecimento. A maioria das pessoas espera que depois de cometer um erro você não mude com elas. Esperam que tudo retorne ao status quo. Tenho a impressão que se você, após sofrer pelo erro de alguém, mude seu comportamento as pessoas acabam taxando você com um rótulo negativo e aquele que errou passa a ser uma vítima, um incompreendido.
    Acho que aqueles que esquecem conseguem viver melhor, por mais escroto que seja . Deve ser mais fácil não conviver com os erros.
    Eu nem querendo esquecer consigo. Perdoar não significa esquecer, mas como o Somir falou, é preciso tirar uma lição e não se apegar ao lado negativo, o que isso não significa que o perdão zera as falhas cometidas. Enfim, concordo com a opinião da Sally.

  • Há alguns conceitos importantes nessa postagem sobre os quais gostaria de comentar. O primeiro é a noção de ERRO. Ela só existe se existir a noção de propósito, e é muito engraçado quando a natureza humana projeta seus propósitos no mundo ao redor. Um exemplo clássico é a discussão sobre eficiência de sistemas de replicação biológica, classificando ¨falhas¨ no sistema de replicação como erros, quando é óbvio que os sistemas biológicos de replicação evoluíram no sentido de não serem perfeitos por que se o fossem não teriam adaptabilidade. Nesse sentido, a própria concepção de erro deveria ser revisada, o que muda bastante a importância de alguns argumentos sobre culpa etc.
    O segundo ponto é a questão do ESQUECIMENTO. É importante considerar níveis para esse processo, de eficiência e profundidade. A ética e cultura cristãs, como a maioria das manifestações de cunho religioso, tende a ser maniqueísta e dualista, mas isso não coaduna com a natureza biológica do ser humano e dos seres vivos. Um exemplo de como o esquecimento é relativo e essencial é o fato de que nosso cérebro esquece 90% da informação obtida a curto e médio prazo justamente por que isso faz parte da solidificação da memória de eventos importantes a longo prazo. Dessa forma, esquecer é parte do nosso próprio processo de sanidade mental, algo que foi lapidado pela evolução por milhões de anos e que até PEIXINHOS DOURADOS fazem no dia a dia. É apenas um processo que, sendo realizado de forma não consciente, possibilita um melhor armazenamento de memórias significativas. Portanto é ingênuo acreditar que podemos esquecer de algo conscientemente, da mesma forma que também o é achar que podemos controlar o esquecimento de forma a usar a memória voluntariamente. O grau de esquecimento estará associado à história e escala de valores e prioridades de cada um, e a ilusão de controle que temos tem mais caráter de preservação da identidade do que qualquer outra coisa. Enfim, após essas considerações, para mim apenas resta a questão do PERDÃO, que ao menos é o que mais se aproxima de operação consciente, e nessa eu fico com o Somir, pois ele libera energias psicológicas importantes para a vida presente e futura do ser humano. Acho que é por isso que ele está arraigado em diversas culturas, não por que ele seja algo divino, mas sim por que é algo eficiente e prático para seres humanos, que são indissociavelmente organismos sociais e super dependentes de interações com os outros ao redor. Beijos no coração e que os dois tenham um ótimo purgatório.

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