Vícios.

Hoje o Desfavor comemora o Dia dos Fracos. Em homenagem, hoje a Tia Sally explica para vocês direitinho o que são e como funcionam os vícios. A fascinante jornada de um ser humano rumo à dependência de uma substância ou mesmo de um comportamento. Se você é fraco ou lida com gente fraca, este texto pode te ajudar a pelo menos entender melhor como as coisas funcionam. Conhecimento é poder.

“Mas Sally, não é feio chamar viciados de fracos?” Feio é mentir. Feio é o Belo(?) chupando manga. Todo mundo tem suas fraquezas, e uma das maiores é não reconhecê-las. Eu não bebo, não fumo, não me drogo, não preciso de nada do tipo para me sentir bem comigo mesma. Acho uma fraqueza precisar, dá licença?

Vício, no sentido da palavra, é um hábito repetitivo que causa prejuízos ao viciado ou às pessoas ao seu redor. Não precisa ser só relacionado às drogas, hoje em dia há muito mais que se considera vício. Pode ser maconha, pode ser vício em jogo ou sexo. Atualmente, até a internet vicia! O que une tudo isso é que o vício sempre gera recompensas cada vez menores em troca de sacrifícios cada vez maiores. E isso tem raiz no funcionamento do cérebro.

O cérebro é baseado num sistema de recompensas planejado para nos incentivar a fazer coisas úteis como nos alimentar, socializar e reproduzir. Quando fazemos algo “bom”, nosso cérebro dispara uma substância chamada dopamina. Dopamina nos faz sentir prazer. Chocolate e sexo liberam dopamina, por exemplo. Seja o que for que consumirmos ou fizermos, se libera dopamina, tem uma grande chance de ser repetido futuramente. Muitas vezes contra nosso bom-senso.

B. F. Skinner foi um psicólogo que ficou famoso pelos seus estudos sobre comportamento e a ativação desses centros de prazer no cérebro. Um de seus maiores legados para o estudo nessa área foi a Caixa de Skinner, onde um animal fica preso, sendo obrigado a fazer repetidas escolhas com recompensas e punições, até que desenvolva um comportamento baseado nelas. Num desses estudos, ratos foram ligados a eletrodos que estimulavam o centro de prazer do cérebro. Mas eles tinham que fazer uma escolha: se escolhessem o prazer, não receberiam água ou comida. Resumo da ópera? Os ratos morreram de prazer, mesmo com seguidas oportunidades de escolher o sustento ao invés da recompensa cerebral.

Não somos tão diferentes. Os vícios sempre começam com alguma forma de prazer, e é esse prazer ou a busca por ele que levam aos comportamentos danosos com o passar do tempo. A primeira dose normalmente causa uma surpresa ao corpo, os efeitos são poderosos porque não há nenhuma defesa contra o estímulo. Mas o corpo começa a se adaptar, porque o corpo humano não gosta de surpresas. Na próxima dose, alguma adaptação já ocorreu, o cérebro não é mais uma vítima indefesa.

E assim por diante. O corpo não permite mais que tanta dopamina seja liberada por estímulo, e os estímulos precisam ficar cada vez maiores e/ou mais frequentes. Tudo em busca daquela sensação inicial, que… spoiler: não volta mais. E se não bastassem às recompensas diminuírem a cada dose, ainda geram dependência no corpo. O corpo se acostuma, e não quer nada menos do que está recebendo. Existem dois tipos de dependência: a física e a psicológica.

A dependência física é resultado do costume do corpo de ter aquela substância. É como se seu organismo acreditasse que aquela coisa fosse parte integrante de seu funcionamento. Uma das mais comuns é a da nicotina, presente no cigarro. A nicotina se aloja no cérebro e começa a trollar os neurônios dizendo que eles precisam dela para funcionar, na verdade, ela se disfarça de uma função essencial do cérebro e começa a participar do funcionamento habitual dele como se nada. Quando alguém para de fumar, os neurônios ficam desesperados, achando que estão com um problema sério. O corpo é levado ao engano que a substância do vício faz parte dele naturalmente.

A dependência psicológica é um problema à parte. Não tem como explicar um vício em jogo com uma substância sacana invadindo o funcionamento do cérebro. Nesses casos, a mente prega uma peça na pessoa, liberando dopamina só quando fazem alguma coisa bem específica. É a Caixa de Skinner: tem que puxar uma alavanca para sentir prazer, e eventualmente a pessoa só consegue enxergar a alavanca. E como a dopamina é um recurso instintivo de recompensa por ações “corretas”, acaba tudo misturado num mesmo pacote. Alimentação, socialização, reprodução e apostar as economias da família num jogo de cartas: todos essenciais.

Falemos de drogas. Primeiro as legalizadas… o álcool é a maior droga desse mundo (com trocadilho, por favor). Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam que o ser humano consuma 6.2 litros de álcool por ano em média. Eu não bebo, então algum de vocês deve ter bebido 12! E da população mundial, algo em torno de 8% bebem muito e com frequência. Outros estudos sugerem que algo em torno de 10% da FUCKIN’ população mundial são dependentes psicológicos de álcool. Mas pelo menos o tabagismo está em declínio, não é mesmo? Não. As empresas do cigarro estão ganhando mais dinheiro do que nunca com a abertura dos mercados emergentes. Existem… se segura aí… um BILHÃO de fumantes no mundo. 80% em países pobres, ainda segundo a OMS.

E temos as ilegais, com mais dados da OMS: 3.8% da população mundial consome maconha. Mais 1% depende de derivados do ópio. E juntando cocaína, ecstasy e anfetaminas, são mais 1,5%. Mas as campanhas contra o uso de drogas estão funcionando, não? Nããããoooo… A ONU estima que o uso de drogas ilegais vai subir 25% até 2050. De novo põe na conta dos países emergentes. O ser humano é uma porcaria muito fraca mesmo. Escravo com orgulho!

“Mas Sally, qual a substância mais viciante de todas?” Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, esse título fica com a heroína. O cérebro já vem de fábrica com um monte de receptores preparados para receber a substância. As substâncias derivadas do ópio (que vem da Papoula) agem de forma muito parecida com as endorfinas, responsáveis por reduzir dores e gerar prazer. Logo depois vem o crack, uma versão bastarda da cocaína. Como o crack gera resultados mais rápidos e mais intensos, o cérebro fica maluco por mais muito mais rápido. Além de tudo é mais barato e mais fácil de ser consumido. A terceira de lista é a nicotina. Eu já falei sobre ela acima, mas só quero deixar um recado: neguinho tem que ser muito BURRO para consumir a fuckin’ terceira substância mais viciante do mundo, não tem? E a cafeína? Nesse estudo não a colocaram, mas estima-se que ela esteja pau a pau com a anfetamina, dentro da lista das 10 mais. Cafeína gera dependência física e apresenta todos os sintomas clássicos de ausência. Tava achando que café não era droga?

Mas nem só de substâncias vivem os vícios. A cada dia se reconhecem mais comportamentos que podem ser considerados vícios, mas uma lista segura contaria com vícios em sexo, jogos, comida, compras, trabalho, video games e internet. Todas coisas que normais de se fazer, mas que quando viram obsessão, viram a vida do cidadão de cabeça para baixo. É aquela coisa de começar a fazer parte do que o cérebro considera básico e obrigatório fazer. E também a questão de recompensas menores por sacrifícios maiores. Comprar um sapato a mais do que o cartão de crédito gostaria é uma coisa, comprar vinte porque você só se sente completa se consumir é outra coisa completamente diferente.

Não sou de fazer pouco dos problemas dos outros, até porque não gosto que diminuam os meus (“ela tem mais medo de você” o seu cu), vício é coisa séria e precisa de muito cuidado. Pessoas que ficam sem o alimento de seu vício podem apresentar sintomas físicos e psicológicos severos. Taquicardia, hipertensão, dores, irritabilidade, náuseas, insônia, ansiedade, depressão e vários outros. Esses problemas não são imaginários, o corpo reage com força quando sente a ausência de algo que considerava tão vital para seu funcionamento.

Tem um programa ruim/ótimo no TLC chamado chamado “Meu Vício Estranho”, é uma viagem antropológica pela fascinante mente humana: tem desde uma mulher viciada em cheirar fraldas sujas (eu quase tive um colapso assistindo) até um cidadão viciado em fazer sexo com carros (se bem que pensando bem nem é tão estranho, eles só faltam fazer isso mesmo normalmente). Pessoas viciam em uma enormidade de coisas diferentes, mas normalmente sempre pelos mesmos motivos: dopamina e falta de força de vontade e disciplina pessoal.

Como tratar vícios? Existem várias abordagens. Desde drogas que substituem o vício por outro, um mais fácil de controlar e com menos consequências para a vida social do viciado até mesmo o arriscado método de simplesmente parar. Métodos mais focados na parte química do controle do vício tem resultados melhores em média do que os baseados em pura força de vontade. Quanto mais disponível a droga ou o comportamento que desencadeia o vício, mais difícil é parar sem ajuda.

Muita gente faz ponto de honra em não utilizar as ferramentas disponíveis pela medicina para controlar seu vício. Eu fico impressionada com quem consegue parar com suas drogas ou comportamentos viciantes só pelo querer, mas ninguém é obrigado a sofrer por sofrer. Existem formas de se ajudar, é muito importante procurar ajuda especializada. Porque no final das contas o que vale mesmo é se livrar do vício.

Para dizer que seu vício é o desfavor, para dizer que esse Dia dos Fracos foi fraco, ou mesmo para me perguntar se eu não sou viciada em chocolate: sally@desfavor.com

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Comments (34)

  • Já logo aviso que sou uma negação com as palavras, mas… Duvidazinhas chatas que às vezes dão nó na cabeça e já deram treta em “confrarias”: Alguém pode me responder quais, além dos motivos supracitados, induzem aos vícios? É sempre necessário um motivo para que se desenvolva o “vício”? E, hipoteticamente falando, sem motivos ou compulsões, o gostar moderado configuraria vício, ainda que não causasse danos ou riscos a si ou outrem? Como, por exemplo, beber uma cerveja vez ou outra? Alguém poderia me ajudar a entender qual o motivo de a cerveja (álcool), por exemplo, ser uma “droga” e, se consumida esporadicamente, não ser vista como vício e nem discriminada, enquanto outras substâncias, ainda que consumidas de maneira idêntica, serem vistas de modo discrepante? Não sei se me expressei corretamente ou se alguém vai entender a coisa toda, anyway, tá aí. Meu “intelecto” (ou falta do mesmo) não me permitiu expressar de forma mais coerente.

    • Geralmente o que desencadeia o vício é uma mistura de propensão genética com comportamentos adquiridos (criação, meio, valores…). Quem é viciado em uma substância o é independente de tipo ou marca.

      • Além do que a Sally disse, devo ressaltar que o vício e como isso será visto/discriminado ou o quanto é prejudicial a sua vida é em escala progressiva e deve ser avaliado pela própria pessoa:

        Primeiro, tudo fica mais legal com o uso da droga/bebida de preferência; conversar, assistir um filme, sair com amigos, chegar num (a) garoto (a), se divertir, etc

        Depois o individuo só consegue fazer estas coisas SE TIVER feito uso destas substâncias.

        Por fim, a pessoa não consegue fazer mais nada das coisas citadas acima. Só o que interessa é a droga.

        Alguns nunca chegam no último estágio. Mas todos que chegam nele, passaram pelos dois primeiros.

        Acho que por enquanto é isso.

        Espero ter ajudado.

  • Eu sou viciado no Processa Eu. Já li e reli vários. Estou com abstinência. Façam o desfavor de escrever outro por favor.

  • Vício é escravizante! Largar o cigarro foi um desafio. Balas, copo com agua, café, medicamentos, pilulas de nicotina…Nada disso resolveu.
    Somente depois de ver meu pai ser vitimado pelo uso compulsivo do cigarro a ficha caiu. Sempre admirei o fato de ele fumar desde a adolescencia (ele dizia que, na epoca era pra mostrar que ja era homem) e mesmo aos 60 anos, continuar bem (?). Acontece que este amigo das horas de solidao, de vazio…é traicoeiro e cedo ou tarde ele vai puxar o seu tapete.

    O vício de internet lhe afasta da familia e amigos. Vício por jogo pode levar à falencia e ao hábito de furtar. Mas nada melhor do que a mulher que voce ama ser viciada em sexo!

    Agora tenho que controlar o vício pela leitura. Nao apenas um parente me chamou atencao de que leio em excesso. Sempre discordo, ora, quanto mais ler, melhor. E, quando pegam (em excesso) no meu pé, digo que quem inventou essa de que “quem ler demais, fica maluco”, respondo que maluco é quem tem preguiça de ler. De qualquer modo, recentemente, passei a levar em conta tais observacoes bem intencionadas. Passei a me preocupo com a quantidade de leitura edificante. Afinal, tudo demais é sobra.

    Sally, deixando de lado os beneficios da leitura (pois se trata de alguem que em sua cabeceira tem tres ou quatro livros), até que ponto ler demais é prejudicial? Nao vi nada a respeito (por enquanto, na internet), mas gostaria de saber sua opiniao. Êta, mas eu tou chato hoje, né?
    Bem, para justificar, nao tinha como evitar falar em primeira pessoa, em se tratando de vícios, devido à luta que enfrentei para larga-lo.
    Espero, com isso, que saber do pouco de minha historia, ajude alguem a lembrar que nao esta sozinho nessa. A luta continua.

    • A leitura te escraviza a ponto de não te deixar dormir, de te fazer sair à noite em busca de novos livros, de te fazer perder compromissos importantes para ficar lendo? Seu vício em livros te faria cometer furtos caso faltasse dinheiro para novos livros? Acredito que não. Só é vício quando é prejudicial.

  • Então. Muito interessante o texto e mais ainda os comentários. Hugo, escreva mais sobre isso, fiquei curiosa.

    Sou alcoólatra. Já fiz tratamentos psiquiátricos para parar de beber (embora nunca em clínica, apenas consultório médico mesmo) e só parei quando entrei pro AA.

    Sei que há muitas críticas, e realmente essa coisa de Poder Superior como eu O Concebo (maiúsculas por minha conta) às vezes torra a paciência.

    No meu caso, não sou NADA religiosa, inclusive nem sei se acredito em alguma coisa. Mas tem funcionado pra mim (há cinco meses – sei que não é muito, mas eu nunca cheguei a completar sequer um mês sem encher a cara). Então acho que dá pra filtrar o que há de bom, sim.

    Claro, tem reunião que é uma bosta, tem alguns babacas, como em qualquer lugar do mundo, mas em geral o que se encontra é pessoas que compartilham a mesma fraqueza e que estão dispostas a ajudar. No começo eu ficava pensando que se esses caras, alguns chegaram a morar na rua, tinham conseguido, por que não eu? E o fato é que uma pessoa que vai de beber álcool de limpeza a uma vida digna sabe parar de beber. Eu optei por aprender com essas pessoas e pra mim tem funcionado.

    De novo, tem muita podreira, muita autoajuda barata, até. Mas eles mesmos dizem que é um self-service: vc escolhe o que é bom para você e ignora o resto. Eu nunca achei que pudesse me encaixar bem em uma sala de AA mas me encaixei. E espero não sair de lá tão cedo – em cinco meses já estou retomando o controle da minha vida e certamente já saí do inferno absoluto que é minha vida quando eu bebo.

    • O AA e NA realmente funcionam. Mas não pela forma e pelos motivos que acreditam.

      Qual a premissa básica destas irmandades? “Pessoas que se encontram para partilhar suas histórias de recuperação.” E é isso. Só isso. Todo o resto, os dogmas, as frases feitas e ditas nos momentos certos, poder superior as ameaças nem sempre sutis de que “se vc parar de vir, vai recair” são balela.

      O que funciona mesmo, é vc nunca se esquecer de onde esteve, onde chegou, e ter a certeza de que não quer voltar. As reuniões reforçam isso. Além de te ajudara criar um novo circulo social onde as pessoas não tem como premissa básica de se encontrar apenas par beber ou se drogar -como a maioria dos seus antigos amigos, ou mesmo a maioria das pessoas comuns que “não fazem amigos bebendo leite.”

      Sou secretário das reuniões e faço RP para visitar instituições e clínicas para pessoas em estado de vulnerabilidade. Nesta posição, não posso falr tudo o que acho do NA e nem que a pessoa precisa mais de vergonha na cara, do que poder superior. Mas eu continuo, porque muitos realmente precisam disso no inicio. Muitos se tornaram indisciplinados, então precisam dos dogmas. Muitos não acreditam tanto neles mesmos, então acreditar numa força maior ajuda, e assim por diante. Mas vc tem de ir se preparando para conseguir abandonar a muleta. Abandonar a premissa do “Eu não posso.” Para “eu não quero” e acabou.

      Fora como eles tratam um cara que recai. Vc pode ter 12 anos limpos, recaiu. toda sua trajetória se torna lixo e vc não pode mais ajudar ninguem através da instituição. Ao invés de verem que a pessoa se desviou do caminho, e voltou. Consideram que ela voltou do zero.

      Etc.etc..

      Quanto a sua recuperação, parabéns. Vc já sabe como é sua vida ‘na ativa’ e sua vida em recuperação. Qual prefere? Voltar a usar em hipótese alguma é alternativa.

  • Eu tinha vício por comida. Foi tb lendo o Desfavor q descobri ser um vício. Só assim fui tratar e deu certo. Sem ONG e sem igreja, só psiquiatra.

  • Por isso tomei tanto cuidado ao falar do café, que possui vários benefícios quando bem escolhido e na quantidade diária aceitável. Não me considero uma viciada, pois posso passar dias e meses sem tomar e não sentir nada. Não vou mentir que já tive sim esses momentos de ter dor de cabeça por não tomar café, e foi exatamente aí que meu sinal de alerta me sinalizou que exagerava.

    Não sei se poderia considerar um vicio psicológico, mas costumo chamar o café de meu alimento conforto. Tipo o que alguns têm com o leite antes de dormir… Me sinto confortável tomar café antes de iniciar minha jornada de trabalho, como se iniciasse um ritual interno.

    Uma vez li que o fumante é viciado tb no comportamento de tirar o cigarro da carteira, colocar na boca, acender e dar a primeira tragada… Acho que tenho isso, mas com o café. É como iniciar minha rotina. Final de semana não sinto nem falta, por isso penso que é por aí.

  • “Comprar um sapato a mais do que o cartão de crédito gostaria é uma coisa, comprar vinte porque você só se sente completa se consumir é outra coisa completamente diferente.” essa bateu direto no meu queixo! uiiiiiiiiiii tenho um vício de comprar, comprar, comprar!

  • Muito bom o texto. A parte da louca da fralda suja foi bizarra. Que mundo estranho, meu Deus!

    Eu acho que vícios gritam para a humanidade que estamos errando. Há alguma coisa de errado com o mundo. Todo ser humano sabe disso e cada um paga um preço alto em troca da negação desse desconforto. Não é fácil suportar a dolorida consciência da nossa finitude, a nossa falta de controle, a falta de bola de cristal, a limitação dos nossos sentidos, a nossa impotência, a nossa fraqueza, a nossa pofunda ignorância…

    Não é nem que a vida seja ruim: ela é boa em muitos momentos. O problema é que nosso cérebro não suporta a falta de sentido das coisas. A vida é caos. Então, precisamos de drogas, ilusões e distrações da realidade que não conseguimos suportar.

    Eu já “flertei com o desastre” algumas vezes. Chocolate, Internet e álcool. Consigo controlar a ausência de chocolate e Internet. Não sei se posso dizer o mesmo do álcool, porque a fuga da embriaguez é mais forte do que o prazer facilmente controlável de um chocolate ou de navegar livremente na Internet. Posso ficar semanas sem chocolate e Internet. Mas In vino veritas.

  • Muito bom o texto, com um assunto que tem me encucado muito depois de um sonho que tive, fora as histórias que hora e meia acabo ouvindo no terreiro. Resultado que acabei me envolvendo com a secretaria de combate às drogas em Campinas e com uma ONG de um padre bem conhecido no tratamento de dependentes químicos. Produzi um comercial para eles, mas não vi no ar até hj, enfim…
    Em uma das conversas com o representante da ONG, ele me perguntou se eu sabia qual a droga mais popular entre os usuários. Respondi que não. Ele disse “Álcool e cigarro, primeiro que existem produtos baratos e segundo que são legalizados”. Ele disse que já conheceu casos em que empresas promoviam festas e encontros apenas com bebidas alcoólicas, ou seja, quem nao bebia passava sede. Absurdo não?
    Por outro lado, em uma pesquisa pessoal dele, sem dados muito concretos, ele percebeu que muitos mendingos e moradores de rua estavam desesperados em parar com seus vicios. Alguns pediam dinheiro em semáforo, mas rezavam mentalmente para que ninguem desse dinheiro e assim ele nao alimentasse o vício.
    Executivos querendo ficar bêbados, mendigos querendo ficar sóbrios…. achei tudo aquilo muito interessante, maluco e sem sentido….
    Intrigado, perguntei: “Porque você acha que as pessoas se viciam?”
    Filosoficamente ele respondeu: “Muitas pessoas acham que o mundo é uma prisão, que suas vidas são uma prisão, que os relacionamentos são uma prisão e que ao utilizar as drogas, elas possuem um momento de plena liberdade. Entrar por opção, entrar por influência, entrar para experimentar, não importa, embarcar nas drogas sempre tem esse mesmo objetivo de libertar a mente, mesmo que por poucos segundos, de uma realidade que a pessoa não quer viver. Mas no fundo, mesmo que inconsciente, todos eles sabem que estão escolhendo apenas uma cela cada vez menor”.
    Por outro lado, já conheci pessoas inteligentes que embarcaram nas drogas e nunca mais voltaram e pessoas que quase morriam de overdose, mas que hoje são profissionais exemplares.

    • Muito interessante, Chester! A gente sempre acha que é fácil entender o porquê de um mendigo usar drogas. Difícil é compreender o porquê de gente que tem dinheiro, sucesso, amigos genuínos, afeto, talentos, inteligência, saúde e prestígio precisar usar. Só que não é tão simples assim. Porque sabemos muito pouco além do que os outros (mesmo os mais próximos) parecem ser, parecem ter, parecem querer.

      Só precisa de drogas, religião ou qualquer outra muleta um ser humano que está realmente em paz com o que é no momento presente. Mas um ser humano em paz é um milagre que não depende de carimbos materialistas como: sucesso, dinheiro, sexo, prestígio, amizades, saúde, fama, beleza. Mas a gente insiste em não enxergar isso, porque ainda estamos correndo atrás de todas essas esperanças de ficarmos satisfeitos e não podemos parar pra pensar no quão devastador seria se soubéssemos, com certeza, que nossa corrida será em vão.

      “Como posso ir em frente se não sei para que lado estou virado?” (John Lennon)

      Você poderia falar mais aqui nos comentários ou escrever um Desfavor Convidado sobre essa experiência e tudo o que viveu.

  • Ps.: A meses tenho pensado em escrever sobre os bastidores do mundo a parte que é a recuperação. Desde clinícas especializadas que não tem a menor ideia do que estão fazendo e jogam com a sorte em seus métodos. Até instituições como AA e NA que se dizem não religiosos, mas são recheados de dogmas e se baseiam na máxima de que vc “tem de continuar voltando; pois FUNCIONA até o momento que não funcionar mais (sic). E as pessoas deixam de ser escravos da droga para se tornarem dependentes destas irmandades. Nos EUA existem movimentos contrários bem fortes quanto a eles.

    O problema, é que seria pessoal demais e meu pseudônimo não é tão anonimo assim. Então prefiro limitar o que exponho.

    Mas se se interessar, posso lhe pinçar, Sally, algumas coisas no ar, se se interessar escrever sobre o assunto qualquer dia.

    Era isso.

    • Hugo,

      Escreva mais sobre isso. Eu me interesso!!! Poucos falam sobre esse outro lado da “cura”.

      PS: Por que seu perfil não é tão anônimo assim? Seu nome é Hugo mesmo???????

  • Perfeita colocação que resume bem a situação: São fracos.

    Mas acaba entrando em leve contradição no fim, pois privilegia o tratamento químico ante a vontade da pessoa de parar – no caso vício psicológico e para algumas interpretações espiritual no sentido não religioso.

    Para a dependência química-física pode sim ser necessário um período de desintoxicação dependendo da droga, leva de 3 a 9 meses. Mas depois disso o que resta a a vontade da pessoa. Ela tem de passar por uma readaptação social e comportamental, pois o vicio se deu por associação: lugares, amigos/pessoas ou hábitos.

    Como já citei: 1º Tudo fica mais legal com a droga; depois não se consegue fazer nada sem a droga, e depois não se consegue fazer mais nada -tudo é a droga.

    Se a pessoa não estiver mesmo disposta parar – levando em consideração todas as mudanças em sua vida que isso trará – ela não vai parar. Tu pode encher de remédios, psicólogos, internações, ameaças ou porrada, que nada vai adiantar se o cara não quiser parar.

    Então os outros métodos citados é que são mais perigosos. Vc apenas substitui um vicio por uma muleta e acaba se viciando nela.

    • No livro fala muito de manter a deixa do vicio e a recompensa, mas mudar a rotina. O que seria quase substituir um vicio por outro, mas mais saudável.

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