Enquanto isso…

Enquanto isso, num famoso bar gay de uma grande metrópole, Alfredo contempla a existência observando um copo de uísque:

ESTRANHO: Perdido nos seus pensamentos?
ALFREDO: Na verdade, acho que finalmente me encontrei neles.
ESTRANHO: Você acabou de se aceitar? Faz muito bem! A vida é muito curta para viver dentro de um armário…
ALFREDO: Para ser honesto, não é uma questão de aceitação.
ESTRANHO: Hmmm… isso parece ser profundo, se importa se eu te acompanhar num drinque?
ALFREDO: Claro que não. Alfredo.
ESTRANHO: Vágner.
ALFREDO: Meu nome é mais gay que o seu.
VÁGNER: Hahaha! O seu é mais afetado, eu concedo.
ALFREDO: Agora só falta o resto.
VÁGNER: Isso depende de você. *sorrindo*
ALFREDO: Não poderia estar mais certo. Por isso eu vim até aqui.
VÁGNER: Sorte a minha.
ALFREDO: Eu decidi algo. A partir de agora, eu sou gay!
VÁGNER: Depois nós fazemos um brinde a isso, mas eu tenho que falar… você nasceu assim. É quem você é.
ALFREDO: Não. Eu sou heterossexual, mas eu vou virar homossexual, começando aqui!
VÁGNER: Não estou te acompanhando…
ALFREDO: Até hoje, eu nunca me senti atraído por homens.
VÁGNER: Você reprimiu essa atração, você quer dizer…
ALFREDO: Não, eu nunca senti mesmo. Sempre gostei de mulheres.
VÁGNER: Eu acho que você não entendeu direito essa coisa de ser gay. Você pode ser bissexual, talvez.
ALFREDO: Não, se deixar meu corpo escolher, nunca vai escolher homem.
VÁGNER: Então você é hétero, meu bem.
ALFREDO: Não se eu puder impedir!
VÁGNER: Estava bom demais para ser verdade… deixa eu adivinhar, tomou um fora de uma mulher ou terminou um relacionamento?
ALFREDO: Isso aconteceu inúmeras vezes.
VÁGNER: Todo mundo tem esses problemas. Não quer dizer que dê para escolher trocar de orientação sexual.
ALFREDO: E se ninguém tentou de verdade até hoje?
VÁGNER: Eu vou deixar essa passar porque você parece na fossa. Acredite em mim, muitos tentaram. Vários estão ao seu redor.
ALFREDO: Mas vocês são viados, podem ter ficado de frescurinha. Falta um homem macho de verdade tentar!
VÁGNER: Um… dois… três… quatro… tá bom, tá bom… você deve estar bêbado. Eu não vou arranjar briga, estou aqui para me divertir. Passar bem!
ALFREDO: Não, espera!
VÁGNER: Seu caso é perdido.
ALFREDO: Foi o meu eu antigo falando. Desculpa. Estou tentando melhorar.
VÁGNER: Você se diz hétero e está num bar gay dizendo que vai trocar de time. Você pode ser muito bonito, mas é maluco. Eu já tive minha cota de malucos na vida.
ALFREDO: Eu vou trocar de time. Isso já está decidido.
VÁGNER: Por que é sempre comigo, Deus? Ninguém troca de time. Você já esteve com um homem?
ALFREDO: Eca.
VÁGNER: Eca?
ALFREDO: Desculpa, desculpa… hábitos antigos. Não, eu nunca… estive… com um homem.
VÁGNER: E, é claro, está aqui para achar um e começar sua mudança.
ALFREDO: Exato!
VÁGNER: E… no seu grande plano… como você vai escolher um homem se não se sente atraído por eles?
ALFREDO: Não deve ser difícil, qualquer um serve. Escolhendo mulher eu sei o que procurar, mas em homem? Sendo limpo, não tendo doenças e tendo um pinto, tem jogo. Não é meio assim que funciona para vocês?
VÁGNER: Eu não… consigo expressar em palavras… o quanto isso é ofensivo.
ALFREDO: Todo mundo tem que começar em algum lugar. Quem sabe depois de dar eu vou ficando mais sensível?
VÁGNER:
ALFREDO: Você acha que teria jogo comigo? Digo, eu sou bonito e as mulheres costumam gostar de mim. Não sei se isso se traduz com vocês.
VÁGNER: Se você não fosse um imbecil, teria sim.
ALFREDO: Eu malho bastante, abdômen riscado e tudo. Não compensa?
VÁGNER: Você acha que é assim que funciona com os gays?
ALFREDO: Sempre funcionou com as mulheres.
VÁGNER: Não importa o que tenha entre as pernas, sempre tem quem se rebaixe. Mas normalmente a gente descobre que o outro é um babaca depois de ter ficado com ele.
ALFREDO: Me dá uma chance.
VÁGNER: Você disse que qualquer um estaria bom para você não faz nem dois minutos.
ALFREDO: Então… alguém vai sair daqui comigo. Por que não você? E eu já adianto, sou determinado! O que for para fazer… sexualmente… tem jogo. Como é que funciona?
VÁGNER: Sexo? Acho que você já está bem crescidinho para saber.
ALFREDO: Digo, a gente decide antes quem dá e quem come? Ou é uma coisa mais de calor do momento?
VÁGNER: Varia de caso a caso… cada pessoa prefere de um jeito.
ALFREDO: Vagnão, meu camarada, hoje é seu dia de sorte! O que você preferir eu me adapto. Se vai ser gay, não pode fazer doce. A contramão vira mão dupla e tudo mais!
VÁGNER: Como vai ser meu dia de sorte se eu fizer sexo com alguém que não se sente atraído por homens? Como isso vai ser bom pra mim?
ALFREDO: Não é todo dia que você vai ter alguém bonito como eu disposto a fazer qualquer coisa, vai?
VÁGNER: Não sei se te explicaram isso na escola, meu amor… mas nós que nascemos com um pênis não conseguimos fingir que estamos interessados.
ALFREDO: Você não tem um vibrador? Aqueles pintos de borracha?
VÁGNER: Então você está dizendo que vai broxar comigo e vai tentar resolver tudo com um consolo?
ALFREDO: Melhor do que alguém que desiste no primeiro problema. E eu não sei se vou falhar… e se acontecer, quando eu disser que isso nunca me aconteceu antes, vai ser a mais pura verdade. Nunca com um homem!
VÁGNER: Você está me fazendo rever alguns conceitos.
ALFREDO: Espera só até me ver pelado!
VÁGNER: Eu sempre achei que a comunidade gay deveria aceitar de coração qualquer nova adição, mas você coloca tudo em perspectiva.
ALFREDO: Eu prometo que não fico chateado se você não me ligar no dia seguinte. Não tem erro!
VÁGNER: Sabe do que mais? Eu topo. E eu já aviso que não vou ser gentil! Vamos para o meu apartamento.
ALFREDO: Espera, deixa eu tomar mais uma dose. Ou dez.

Na manhã seguinte, na cama de Vágner:

VÁGNER: Olha… já tive piores, vou te dar isso. Gostou?
ALFREDO: Não.

Para dizer que não gosta dessas piadas longas sem graça, para dizer que prefere acreditar que tem algo profundo escondido no texto, ou mesmo para dizer que foi uma tremenda viadagem: somir@desfavor.com

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