+A porcentagem de homens que consome de quatro a cinco doses de bebida alcoólica por mês no continente americano duplicou nos últimos cinco anos, enquanto entre as mulheres o total triplicou, revelou um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS).

Tudo bem que às vezes é difícil encarar esse mundo estando sóbrio, mas precisa de tudo isso? Desfavor da semana.

SOMIR

Vamos partir de um princípio: a humanidade está viciada em álcool. Não estou falando de cada indivíduo, mas do conjunto da obra. Entre os que não bebem, os que bebem eventualmente e os bebedores profissionais, encontramos uma ideia bem arraigada que o consumo dessa substância faz parte da vida de praticamente qualquer sociedade. O álcool se integrou ao nosso dia-a-dia de forma que nenhuma outra droga já fez. Ele é central para uma imensa parte da nossa socialização.

E como na maioria dos vícios, o viciado acredita piamente que precisa da substância para funcionar normalmente. Assim é a natureza do vício: ele vira parte de você até você se esquecer que havia sim uma vida antes dele fazer parte dela. Apesar de indivíduos agirem das mais distintas formas diante do álcool, a espécie humana acabou aceitando a necessidade desse líquido para lubrificar as relações entre as pessoas.

O que não quer dizer que elas dependam de algum grau de embriaguez para um desenvolvimento mais rápido e honesto. Não passa de uma convenção. Embora a substância tenha sim efeitos claros no funcionamento de uma pessoa, não é como se ele nos conferisse poderes que já não estavam lá para começo de conversa. A pessoa pode ser mais receptiva e desinibida apenas com as ferramentas que já tem normalmente.

Muitas vezes a bebida age feito um placebo: cidadão ou cidadã acredita tanto que vai ter mais facilidade de se relacionar depois de algumas doses que acaba sendo indiferente seu grau de embriaguez. Muitas mulheres acabam dependendo do álcool para se tornarem mais receptivas, por exemplo. Essa mulher então se sente mais livre para flertar pois pode “botar a culpa” na bebida se algo nesse comportamento gera repressão interna. Não foi a pessoa que tomou a decisão repreensível, foi o que ela bebeu. Claro que existem casos mais extremos onde o acúmulo da substância causa sim falhas severas de julgamento, mas o uso do álcool como desculpa é sim muito difundido.

Sem contar o álcool que é consumido para “lavar” os problemas da vida. Esse é ainda mais perigoso, porque gera uma sensação de bem estar momentânea, mascarando os sintomas de algo que não foi tratado. Bebe-se muito para se divertir e para se anestesiar. Num mundo onde a expressão “afogar as mágoas” não precisa de explicação, levanta alguma suspeita que o consumo de bebidas alcoólicas tenha aumentado nessa escala. Estamos lubrificando ou afogando? As duas probabilidades tem seu risco de dependência severa, mas a segunda é mais eficiente nesse processo. Bebemos quando estamos felizes, bebemos quando estamos tristes… e isso não trata de nenhuma das questões, de verdade. Mais pessoas bebendo mais sugere que aumentou a quantidade de gente com vontade de se desligar um pouco da vida real. Qual a dose saudável dessa mentalidade? Se é que há alguma…

E também seguindo a cartilha do viciado, a humanidade acredita que pode parar assim que quiser, que o consumo é fruto de pura escolha. Talvez para o indivíduo, mas não para a coletividade. Os dependentes frequentes e os ocasionais desequilibram essa balança. Tanto que temos exemplos históricos dos resultados de uma abstenção forçada. Abandonar o álcool não é uma opção, nem mesmo diante da ilegalidade do seu consumo. Já é algo que faz parte do que entendemos como vida social natural do ser humano. Se deixar de beber parecer tão insano quando deixar de comer, não estamos falando de uma escolha. Não para quando quiser, longe disso.

Mas, calma, não estou advogando uma possível proibição. Estou apenas argumentando que temos dificuldades em tratar o tema do ponto de vista mais básico: é uma substância que causa dependência e é tratada como elemento indispensável na vida humana em geral. Oras, indispensabilidade é uma característica que o viciado credita à sua droga. Não dá para separar o álcool dos outros vícios, por mais que seu consumo seja tão prevalente e que a maioria das pessoas não possa ser categorizada como dependente química num sentido mais clássico. E essa visão causa problemas.

Quando alguém fuma, acaba repreendido. As pessoas ao seu redor não se furtam de te contar os malefícios do hábito, muitos perdem as papas na língua e te atacam diretamente. É um vício que faz mal para o corpo e a pessoa não precisa mesmo disso para ser feliz. Se você para de fumar, fica impressionado com o apoio e o carinho recebido! Anos de conscientização da sociedade parecem estar funcionando: nos países onde houve o esforço de longo prazo para a redução do tabagismo, isso efetivamente aconteceu. E isso passa muito por fazer as pessoas enxergarem o vício pelo o que ele realmente é e esquecerem qualquer “glamour” aliado ao hábito. Dizer que não fuma só gera presunções positivas sobre você.

Agora, beber não causa repreensão. Mesmo que beba além da conta. Esse vício é tratado de forma diferente, quase como um fato da vida. Se você diz que parou de beber ou mesmo que nem bebe em geral, é visto como um alienígena. Muitas vezes se é hostilizado por isso! As pessoas parecem se ofender com quem não bebe, a maioria usando o deboche como escudo. Álcool é uma substância que causa problemas de saúde e é viciante. Onde está a auto-regulamentação social aqui? Beber muito vira status.

E eu sei que vai ter algum chato que vai pensar ou escrever que cigarro e bebida não são comparáveis, que o álcool vicia menos e que cobra um preço menor em média para a saúde humana. Justo se você pensar em indivíduos, mas não muito razoável ao se analisar o quadro geral: doenças e acidentes relacionados à bebida geram custos elevados para o Estado e para os cidadãos. Um fumante ocasional não vai ter mais chances de matar um inocente dirigindo após fumar. Não é o tabagismo que está relacionado à violência doméstica. Quando se adicionam os números gerais, o consumo de álcool é bem mais danoso para a sociedade que todos os outros vícios em conjunto. Deve-se combater todos os que causem problemas de saúde, é claro, mas é ridículo tratar o álcool como se fosse uma exceção à regra.

Esse aumento no consumo noticiado só vem reforçar como agimos como adictos em negação quando o assunto é bebida. Passa debaixo dos radares por parecer algo essencial para nossa vida, o que claramente não precisa ser. O primeiro passo não é reconhecer o problema?

Para dizer que achou o texto moralista, para dizer que o assunto é chato demais para se tratar sóbrio, ou mesmo para oferecer um brinde aos vícios: somir@desfavor.com

SALLY

Um relatório da Organização Pan Americana de Saúde constatou que o consumo de álcool na América duplicou entre homens e triplicou entre mulheres. Não é que o que era pouco tenha aumentado, o consumo atual está acima da média mundial. Fato: estão bebendo muito.

Nem vou me aprofundar nos desdobramentos para a saúde, pois isso é de conhecimento público. Seja o vício, sejam suas consequências para a saúde, o assunto já é bastante divulgado. O foco aqui é outro: as pessoas estão dependentes de álcool não apenas de forma física, mas também psicológica. Muito se fala do alcoolismo físico, aquele alcoólatra que tem tremedeiras quando não bebe e entra em síndrome de abstinência, mas nada se fala da dependência psicológica, que me parece tão grave quanto.

O que me pergunto é: quão bosta está o mundo e as pessoas para que em qualquer ato de socialização seja necessário envolver álcool. É extremamente raro que qualquer evento cuja proposta seja atrair público não se disponibilize (de forma paga ou não) álcool. Também é incomum que quem sai para socializar ou flertar não o consuma. Álcool é oficialmente tratado como opção, mas na prática está mais para necessidade.

As pessoas estão com problemas de autoestima? Estão inseguras? Estão mal resolvidas a ponto de precisar de álcool para camuflar suas inibições? Ou será que as pessoas estão muito chatas e um grupo de seres humanos juntos só parece divertido se houver algum grau de entorpecimento? Talvez ambos. Talvez existam muito mais coisas aí, coisas que eu não consigo nem arranhar a superfície por não beber e que, infelizmente, quem bebe jamais terá a humildade de perceber.

Fato é que álcool como combustível para socialização já é aceito sem causar questionamentos. Não me parece natural, não me parece saudável. E não é achismo meu, álcool já é considerado por muitos especialistas como a droga mais perigosa da atualidade. Por mais que seus malefícios não sejam tão imediatos como o de outras drogas, o álcool é a droga que mais tem usuários no mundo todo e geralmente é a que começa a ser consumida mais cedo. Provavelmente por ser socialmente aceita, o abuso é mais tolerado, o que a torna perigosa de uma forma muito particular.

O grande problema da aceitação social do consumo do álcool são os danos colaterais que ele causa. Primeiro ao cérebro de quem o consome, já que provoca lesão em tecidos adiposos e nosso cérebro é todo recoberto por tecido adiposo, que é atacado quando exposto ao álcool. Está provado que consumir álcool na adolescência pode causar danos irreversíveis à cognição e ao aprendizado. Bem, o brasileiro médio já não é muito esperto, some-se a isso uma sabotagem química e você terá coisas como o PT 20 anos no poder.

Tem também os danos colaterais sociais: pessoas atropeladas por motoristas bêbados, pessoas fazendo merda, pegando doenças, se metendo em brigas ou toda sorte de encrencas que uma baixa inibição pode gerar. Junte-se a isso a facilidade em obter álcool, por ser lícito, e a glorificação e o status que bebida tem no Brasil e observe o desastre. O pior é que muitas vezes até esse desastre é motivo de falso status: “bebi muito ontem, nem lembro como cheguei em casa” pode ser uma frase proferida com um certo orgulho. Assim fica difícil fazer um país melhorar sua qualidade intelectual.

O que faz com que pessoas precisem de uma substância que altera sua percepção da realidade e faz mal ao seu corpo como recurso onipresente para se divertir e socializar? O que quer que seja, o “precisar”, por si só, já é deprimente. Mas os motivos podem nos dizer muito sobre a atual sociedade brasileira.

Em uma era de liberdade, de milhões de opções e estímulos, ainda se precisa de uma muleta como o álcool. O que isso nos diz? Que nada externo parece ser suficiente para entreter essas pessoas. O problema é de ordem interna e é anestesiado com álcool.

Conheço gente que quando tem que tomar antibióticos ou, por algum outro motivo, não pode beber, prefere nem sair. Ou sai e volta cedo por não suportar o lugar e as pessoas. Francamente, que palhaçada é essa? Sinal de que estão escolhendo os lugares e/ou as pessoas erradas e nem ao menos parecem dispostos a rever isso. Em vez de rever, enchem a cara para suportar o insuportável.

Seja da parte do usuário (precisar beber para perder a inibição), seja da parte do entorno (precisar beber para conseguir suportar certas pessoas ou ambientes), é um erro grave fazer do álcool um viabilizador de socialização e diversão. Aparentemente as pessoas não percebem que é um erro grave e ainda acham isso bacana, ostentando seu equívoco. Em vez de aproveitar para fazer uma reflexão sobre o que está errado, as pessoas desvalorizam que não adere a essa confluência de erros e não bebe como muleta.

Curioso que o consumo aumentou mais entre as mulheres (duplicou nos homens, triplicou nas mulheres). Logo elas, as mais vulneráveis ao álcool. Não é machismo, gostem ou não, o organismo feminino é mais suscetível a seus efeitos e socialmente a mulher é mais vulnerável, até por ser fisicamente mais fraca. E, ainda assim, estão bebendo três vezes mais.

Acho que pelo andar da nossa sociedade, ninguém duvida que não está dando certo. PRECISAR beber como condição para que um programa ou um grupo de pessoas fiquem divertidos ou apenas toleráveis é um problema sério. Pergunte-se: os programas que você faz, as pessoas com as quais sai, ficariam menos divertidos ou toleráveis se você estivesse sem beber? Se a resposta for “sim”, é hora de refletir um pouco sobre sua vida e suas escolhas.

Nossa sociedade nos deu a falsa impressão de que beber para alcançar diversão é um caminho válido. Não é. É comum, mas não é normal. Aceitar isso só porque “todo mundo faz” é medíocre. Não se sentir desconfortável com isso te faz um burro ou um negador. PRECISAR de álcool para fazer qualquer coisa nessa vida é um claro sinal de problemas. E por muito tempo a maior parte dos brasileiros discordarão deste texto. Lamentável.

Para dizer que o único problema é não beber, para dizer que o único problema é o Brasil ou ainda para dizer que para sair com quem não bebe tem que sair com evangélico e nesse caso você prefere os bêbados: sally@desfavor.com

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Comments (14)

  • “…É um erro grave fazer do álcool um viabilizador de socialização e diversão.”
    Uma verdade.
    Tal erro embrutece!

  • Eu acho engraçado as pessoas beberem com tanto prazer, e até entendo as pessoas mais velhas beberem sem se importar. Meu problema mesmo é com os jovens, principalmente os de classe média/alta que (supostamente) tem o conhecimento de que o álcool é uma droga, mas não ligam, e perpetuam essa ideia de beber até cair.

    Outro ponto que eu vejo, sobre as drogas no cotidiano, são o açúcar e café. Esses dois itens, essenciais para uma grande parte da população (incluindo, por parte do açúcar, a mim) são bem pouco comentados pela mídia no quesito dependência. Portanto eu me pergunto: será que eu consigo parar de comer doces? Meu medo é que, se eu tentar, aconteça algo bem parecido com o que aconteceu com um primo meu, ao largar da bebida, uma crise de abstinência absurda.

    Eu estou certo, ou apenas ficando louco e vendo coisas onde não existem?

    • Comer doces só faz mal a quem os come, então, acho que nem entra em discussão. Vicie-se quem quiser e sofra as consequências. Eu não vou morrer porque uma pessoa comeu doce. Já o álcool mata, isso sim deveria sofrer punição exemplar.

  • Eu acho que, diferente do suicídio mencionado no texto de quinta, o aumento do uso de álcool talvez seja fruto do estilo de vida de hoje. Não a única explicação, mas a maior.

    Já estive em lugares onde só bebendo pra gostar de estar ali. A Sally falou que talvez as pessoas estejam procurando os programas, as pessoas e os lugares errados pra se socializarem. Mas será que existem os certos? E se existem, será que são fáceis de achar e estão disponíveis pra qualquer pessoa?

    Pegar um salão vazio, colocar caixas de som e um balcão pra vender bebidas é barato e lucrativo pra quem faz, e barato pra quem freqüenta. E pra muita gente é a opção de diversão que tem depois de uma semana inteira de trabalho.

    A alternativa que sobra é ficar em casa. Pra se divertir com livros, quadrinhos, seriados ou jogos de videogame ninguém precisa beber antes. Mas muita gente não entende que não tem nada de errado em ficar em casa numa sexta-feira de noite…

    • Existem pessoas e lugares que nos são agradáveis. Mas não são fáceis. Vai de você fazer o impossível para batalhar por eles…

    • “Mas será que existem os certos? E se existem, será que são fáceis de achar e estão disponíveis pra qualquer pessoa?”

      O que mais existe é programa que não precisa de álcool pra ser interessante. Ir ao cinema, ao teatro, ao museu. Frequentar restaurantes, cafés e mesmo lugares com a atmosfera muito parecida com a de bares, como hamburguerias etc, até ir a um barzinho e sentar na mesa pra bater papo não significa, necessariamente, beber.
      A única alternativa não é só ficar em casa. Os programas que fazemos hoje podem ser feitos sem beber naturalmente, o problema e que não são vistos como uma coisa normal de se fazer, especialmente se você é jovem. A maioria das pessoas sentem que “perdem a noite” se saírem algum dia e não beberem. E pra “perder a noite” é melhor ficar em casa.
      Hoje, com 21 anos, eu conseguiria alguém pra sair à meia noite pra beber num dia de semana, mas não consigo companhia pra visitar um museu aos domingos.
      O problema não são os programas, o problema são as pessoas.

  • Percebo que (reservadas as ressalvas quanto à eficiência, claro) o álcool se tornou um anti-depressivo, calmante, sonífero e desinibidor que é relativamente barato, não precisa de receita E ainda confere ao usuário um status! Seja como despojado, social, bom apreciador de maltes e destilados, ou mesmo um sinal de posses ao beber e exibir bebidas caras.

    E afinal, um homem que não bebe é um maricas, um chato, e uma mulher que não bebe beira a frigidez.

  • Sally, tenho percebido mesmo esse endeusamento da bebida.
    Para quem participa de redes sociais é notável o valor (status) que a bebida agrega na vida das pessoas.
    Fotos e mais fotos de baladas regadas a bebidas (todos com seus respectivos copos cheios) e sorrisos como se a vida só fosse feliz e verdadeira de cara cheia.
    Um fenômeno que venho reparando também é quando alguém desse grupo de “amigos de copo” morre. A pessoa então publica fotos e mais fotos de baladas com o falecido. Frases tristes, comentários depressivos, etc etc etc. Mas o luto dura algumas horas, pois no dia seguinte já estão se divertindo na balada outra vez com seus copos cheios…
    Não quero minimizar a dor de ninguém, mas tudo me parece tão raso, tão teatral…

    • É superficial. As pessoas estão desaprendendo a gostar com intensidade de pessoas, só sabem amar coisas, bens e status.

  • isso é reflexo de uma geração que cresceu com expectativas cada vez mais altas, que cresceu acreditando na mentira de que pode fazer o que quiser da vida e ganhar rios de dinheiro, quando essas pessoas são confrontadas com a realidade a primeira atitude é a negação, depois a alienação, deixam de suportar a vida real e precisam de algo pra se agarrarem e anestesiar a ferida do ego

      • Não é só isso. Não é só esta geração. Quem foi mesmo que transformou água em vinho há mais de 2 mil anos? Faz tempo que a humanidade bebe pra esquecer, bebe para comemorar, bebe para suportar…

        É mais do que expectativas frustradas. É mais do que timidez ou fobia social. É uma dificuldade de lidar com a dureza da realidade, sim, mas é também consequência de um desconforto generalizado que vivemos e que não sabemos explicar…

        Nossas vidas são pequenas e a longo prazo estaremos todos mortos. E daqui a alguns séculos, mesmos os gênios serão esquecidos enquanto indivíduos, como se nunca tivessem existido. Mas, enquanto vivos, temos que lidar com tanta rigidez, tanta regra, tanto horário, tanta tragédia, tanta doença, tantos riscos, tanta burocracia burra que nos apodrece de dentro para fora, com tanta miséria, tanta injustiça, tanta falta de lógica, tanto caos, tanto medo, tanta gente chata sem nenhuma graça… E tanta alegria inesperada, tanta coisa para “bebemorar”.

        A embriaguez é leveza. O álcool tempera os outros de uma graça que eles não teriam se fossem vistos de cara limpa. É ilusão consentida.

        Eu nunca fui tímida. Não tenho problemas em falar em público. Mas bebo sempre em eventos chatos, bebo para suportar o insuportável. Mas não bebo a ponto de cair, de me tornar presa fácil dos predadores assaltantes e 171. Nunca bebi sozinha nem bebo quando gosto do evento/pessoa. Por que eu simplesmente não vou aonde não quero ir? É uma pergunta simples e direta, mas a resposta eu não sei…

        O erro está em mim. Sei que sou “brasileira média” nessa incapacidade de negar o insuportável em vez de fazer de conta que está tudo bem. Mas tem um pouco de desesperança nessa atitude. Eu não procuro pessoas mais interessantes porque não acredito que elas existam?

        In vino veritas. Não vamos nos esquecer: Cristo transformou a água em vinho, deixando uma mensagem clara: Água é vida, mas vinho é ainda mais precioso. É que Cristo também não suportava o mundo sem álcool.

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