Protesto de voto.

+José Luiz Datena descobriu qual é a sensação de deixar de ser pedra para se tornar vidraça. Lançado pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PP, virou piada na internet e sofreu ataques dos possíveis adversários políticos. Assim como Datena, outros dois nomes da TV já anunciaram que pretendem tomar a cadeira do prefeito Fernando Haddad (PT). O deputado Celso Russomanno, que comanda quadros de defesa do consumidor na TV Record, deve ser candidato pelo PRB. E o empresário João Dória Jr., que tem programa de entrevistas e apresentou “O Aprendiz”, tenta se viabilizar no PSDB.

A piada está começando a ficar séria demais. Pior: a capital paulista costuma ser termômetro nacional, por isso, desfavor da semana.

SOMIR

De quem é a culpa disso? O povo não controla quem vai se candidatar, mas depois de tantos votos ridículos em candidatos igualmente ridículos, há de se considerá-lo cúmplice nesse crime. Datana e cia. não se meteriam nessa se não soubessem que tem chances reais de conseguir o cargo. Na última eleição, Russomano (o segundo n é supérfluo) chegou perigosamente perto de ganhar a eleição. Se por um acaso não houver nenhum concorrente “de verdade” para equilibrar a situação, São Paulo corre o risco de eleger mais um Tiririca, numa piada com muito menos graça.

Legislativo e executivo são poderes bem diferentes. Eventualmente dá para fazer uma graça na eleição de deputados, muito embora eu ache esse tipo de protesto contraproducente. Um panaca a mais ou a menos nesse contexto não vai mudar consideravelmente os rumos da vida de quem votou. Mas no executivo as coisas funcionam diferente: cidadão tem um poder muito mais prático de influenciar o cotidiano. Tudo bem que num país governado por um fantasma chamado Dilma o poder que ela representa também parece figurativo, mas na hora do vamos ver, os cargos maiores do executivo vem com um potencial destrutivo muito maior.

Se São Paulo está adiantando uma tendência, é hora de se preocupar. Mais ainda. É como se todos assumissem ao mesmo tempo que não tem nem ideia do que um prefeito deveria fazer para começo de conversa. Precisa estar bem preparado para assumir um cargo desses, afinal, é o setor do poder que efetivamente coloca as coisas em movimento. O executivo… executa. Tanto que as polícias estão sob seu controle. O cidadão que assume esse cargo tem que agir como um administrador, pode parecer estranho para você, mas esses cargos deveriam ser os mais técnicos e menos políticos de todos.

Num mundo ideal, o judiciário deveria ser deixado nas mãos de pessoas sábias e experientes, o legislativo aos cuidados de quem é bom de ouvir e negociar, e o executivo com alguém muito especializado em administrar. Mas sabemos que isso não acontece na vida real. Nossas figuras de poder vivem numa área cinza entre popularidade e fisiologismo que convencionamos a chamar de política. Como poucos dos que são eleitos e/ou indicados por políticos parecem saber sua função, a população não sabe muito para onde correr. Ganha quem aparecer mais, e já está de bom tamanho.

Se isso já era um problema quando não havia mistura considerável entre celebridades e políticos, a tendência é piorar quando a visibilidade na mídia virar fator determinante para a chance de ser eleito para uma função que essas pessoas claramente não estão preparadas para assumir. Pode-se argumentar que imbecil por imbecil não estaremos fazendo nada de muito diferente, mas eu tendo a discordar aqui: se você construiu sua imagem pública sob holofotes diferentes dos da política, está muito menos exposto às críticas numa eventual carreira política.

E pior, ainda pode tirar lugar de quem efetivamente se preparou para isso. Sim, sempre tem os malucos por aí que acreditam pelo menos um pouco que o cargo público exige estudo e preparação. O povo raramente vota neles, mas pelo menos eles disputam com pessoas que tem de enfrentar o mesmo processo de exposição no processo eleitoral. Ninguém vem com vantagens claras. Isso deixa de ser verdade se pessoas como o Datena começarem a disputar eleições: a fama prévia concentra o foco e escancara uma disputa por popularidade que só é vantajosa para quem não precisa gastar seu tempo sendo famoso.

Os candidatos malucos são uma tradição do senso de humor esculhambatório brasileiro, mas vamos vendo um perigoso processo onde eles começam a ser levados a sério. Eleger Tiririca é engraçado uma vez, mas se isso continuar acontecendo, os eleitores que viram piada. Começa a ficar normal ver gente famosa pleiteando funções complexas como prefeitura da maior cidade do país, como se fosse mera questão de querer e poder. Tudo bem que não seria democrático proibir alguém de se candidatar, mas se o cidadão não se proteger negando o voto para profissionais da popularidade, é justamente nisso que a nossa já cambaleante classe política vai se tornar.

Com um bando de palhaços berrando por atenção tomando as vezes de opções disponíveis para o público, a lógica é que um deles ganhe mesmo. E aí teremos toda uma nova categoria de cretinos no poder. Em algum ponto temos de prestar mais atenção no que fazemos durante as eleições, se isso vira moda e personalidades da mídia se virem cotadas para assumir até mesmo cargos do executivo, a novela vai começar mais cedo nos dias de horário eleitoral gratuito! Muita gente adoraria ter esse poder nas mãos.

Se um povo sequer entende a função na qual vai fazer sua escolha de representante, como diferenciar o bom candidato do ruim? São Paulo parece destinada a ter uma das eleições mais absurdas de todos os tempos. De um lado o PT apostando em algo mais tradicional (mesmo que cheio de problemas), do outro tantos outros partidos prontos para transformar o processo democrático numa piada ainda maior. Vai ser engraçado até quando?

Chega de protestar assim. Estamos criando monstros.

Para dizer que vai ter dúvidas até se quiser votar no pior, para dizer que enquanto pastores não tiverem chance você aguenta, ou mesmo para dizer que o povo vai piscar a luz no dia da eleição: somir@desfavor.com

SALLY

São Paulo é a maior cidade do país e a mais diversificada. Justamente por isso a considero um termômetro do que acontece politicamente no país. E a imagem que São Paulo nos passa politicamente hoje é desesperadora.

Até segunda ordem, as eleições para a Prefeitura de São Paulo serão risíveis. Três figuras pouco honrosas da TV brasileira devem disputar o cargo de Prefeito: Jose Luiz Datena, Celso Russomano e João Dória Jr. Se você não sabe quem é um ou até mesmo todos eles, parabéns, isso só depõe a seu favor, você não assiste programas bostas. Mas, infelizmente, é uma questão de tempo até você conhecer estes indigentes mentais.

Até o PT, que emplacou um metalúrgico que passou 20 anos sem trabalhar após perder um dedo e é semi-analfabeto, está fazendo piada. Assessores de Haddad disseram que estavam esperando o SBT liberar o Bozo para disputar também. Quando uma crítica do PT é pertinente, é sinal que a situação está pior do que se imaginava. E, por sinal, eu prefiro o Bozo, ainda que na versão drogadão, do que um desses três.

Esses três patetas ainda não estão confirmados, mas não pense você que por isso não há motivos para se preocupar. Eles estão dando pequenos passinhos na direção da Prefeitura de São Paulo para testar o que acontece. Sabe cachorro proibido de entrar no quarto, que começa a testar o dono e colocar lentamente uma pata para dentro, depois a outra, depois meio corpo, até conseguir entrar? Pois é.

Vejo muita gente dizendo que nem vai se preocupar com isso, pois nem foi oficializada a candidatura. Erro. Vocês de São Paulo deveriam saber muito bem depois de aberrações como Clodovil, Franky Aguiar e Tiririca que quantos bizarros se candidatarem, quantos bizarros ganham. A hora de dar um veto com uma forte reprovação da opinião pública é agora, enquanto a coisa ainda está em estágio embrionário. Caso eles se candidatem, ferrou. Você, São Paulo, elegeu Maluf depois dele estar condenado criminalmente, com o maravilhoso argumento que “rouba mas faz”. Mexam-se antes que seja tarde demais.

Que país é esse, onde os que detém o poder estão cada vez mais despreparados, cada vez fazendo mais merda e os eleitores insistem em piorar sistematicamente seu voto? Eu compreendo que para erguer uma cidade do tamanho de São Paulo é necessária muita mão de obra desqualificada e esses brasileiros médios votam até em um Muppet, mas porra, será que nem por tentativa e erro perceberam que o lugar de famoso é na frente das câmeras e não na política?

Para governar (ou fazer leis, ou aplicar as leis), é preciso um conhecimento legal enorme, caso contrário, ou se faz merda, ou se vira fantoche nas mãos de quem conhece. É evidente que pessoas como Datena não tem um notório poder jurídico, ou seja, vem merda fedida por aí. Mas meus queridos colegas de São Paulo colocam gente ignóbil para FAZER leis (dá uma olhada em quem São Paulo manda para Brasília), não me estranha que coloquem gente ignóbil para executá-la. Obs: Haddad entra nessa categoria também.

Não que outras cidades votem bem, todo mundo vota mal, inclusive o Rio de Janeiro. É que eu tenho apreço por São Paulo. Se o Rio elege uma pessoa merda, bem, o que esperar? É isso aí. Mas se São Paulo elege uma pessoa merda eu fico triste por achar que poderiam fazer melhor. São melhores em tantos outros aspectos…

Além disso, como eu já disse, São Paulo é o termômetro do país, e a Nova Iorque brasileira, que reúne pessoas de todos os cantos, de todas as tribos. Se, em uma sinopse do brasileiro, o que temos é a eleição de um desses três imbecilóides, a situação é tensa. Nenhuma das justificativas para explicar esse fenômeno me parece válida. Voto de protesto? Mas quanta burrice protestar de uma forma que te ferre pelos próximos quatro anos, hein? Idealização de figuras famosas? Triste perceber que o povo continua infantilizado e precisando de ídolos.

O que me parece é que de uma forma ou de outra o povo continua gostando de ter alguém para seguir. Escolhem o menos pior, aquele que de alguma forma lhes dá uma sensação de pertinência a um grupo que gostam de ostentar e seguem. Seguem, compram briga, fazem questão de não ver os defeitos. Idealizam, idolatram, pois no final das contas, é melhor ter alguém que decida por você do que ter que pensar sozinho o tempo todo, questionar, duvidar, viver na insegurança de não ter certezas. O brasileiro precisa de certezas para se sentir seguro.

E para isto pessoas famosas são ótimas: o povo já conhece, já acompanha, já gosta e já confia. Não tem que pensar, avaliar, ler os projetos. Não se vota em partido e sim em pessoas. Poupa trabalho, afinal, se é famoso, se tem um programa, já passou por algum tipo de pré-seleção e já foi aprovado por um monte de gente. Vamos nesse aí que deve ser bom!

Existe esse conceito errado de político como ente externo. Parece que um animal exótico coloca um ovo e nasce um político, que cresce predisposto a nos roubar. A solução? Basta votar em quem não é político, já que político é tudo ladrão. O que as pessoas não percebem é que qualquer um que chegue ao poder se transforma em um político e que, para conseguir passar pelas inúmeras etapas para se chegar a esse poder, certamente a pessoa já se corrompeu de montão.

Não são os políticos que são todos ladrões. No Brasil, os ladrões é que acabam sendo políticos, por vislumbrar o terreno fértil para seus roubos nesse meio. Não adianta não votar em político, qualquer um que seja eleito já é um político pelo simples fato de estar ali. E ninguém consegue sozinho peitar o sistema, no grau de corrupção em que ele se encontra. Quem diz que está entrando na política para tentar mudar as coisas mente, pois já na porta de entrara só passa se aderir ao sistema. Ninguém chega nem mesmo a candidato se já não tiver corrompida até a última prega do cu.

Apenas parem de votar nessas pessoas que não “parecem” políticos, pois se eles estão ali, eles são. Votem em quem está mais bem preparado.

Para dizer que não tem ninguém bem preparado, para dizer que apenas não votem no PT que já está ótimo ou ainda para dizer que quer votar no Maluf mais uma vez: sally@desfavor.com

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