Festa de casamento falsa.

Uma nova moda começou na Argentina e está se espalhando pelo mundo, não vai demorar a chegar aqui: festas de casamento falsas.

É isso mesmo que você leu. Festas falsas de casamento, declaradamente falsas. No original, “Falsa Boda”, uma ideia de cinco amigos da cidade de La Plata, Argentina. A ideia surgiu do publicitário Martín Acerbi, que, reunido com seus amigos, constatou que nunca iriam a uma festa de casamento juntos, a menos que um deles se casasse, coisa improvável de acontecer. Se deram conta que, em função da crise econômica, cada vez menos pessoas faziam grandes festas de casamento e que muitos colegas de mais de 25 anos nunca sequer haviam ido a uma. Cabecinha de publicitário é algo terrível e Martín logo viu um jeito de ganhar dinheiro com isso.

Funciona da seguinte forma: é uma festa de casamento com tudo que uma festa tradicional tem, com a diferença que os noivos são falsos e os convites são comprados. Os noivos são “atores” contratados para uma encenação, com direito a slides e depoimentos emocionados e os convidados são todos desconhecidos que compraram convite para estar ali. É uma boate com roupagem mais familiar e convidados mais bem vestidos.

A adesão foi explosiva. Aparentemente as pessoas estão carentes desse tipo de evento. Os idealizadores contam que no começo tinham suas dúvidas se homens topariam esse tipo de festa pois a roupa além de ser cara e desconfortável, não é algo que todos tenham em seus guarda-roupas. Descobriram que sim, que todos, inclusive os homens, estão adorando se vestir bem para ir a uma festa, e com isso estão alavancando mercados paralelos, como lojas de alugueis de roupa e de organização de casamentos.

Não apenas isso, alavancaram todo o entorno de festas de casamento: bufê, fotógrafos e tudo mais. Foi uma sacada genial: pessoas amam festas de casamento, mas para que elas aconteçam, até então, era necessário que uma única pessoa tenha dinheiro para bancar tudo. Não mais, eles inventaram uma forma de cotizar essa grande despesa de modo a que não fique pesado para ninguém e todos possam reproduzir muito mais vezes esse ambiente que tanto gostam.

Onde havia um buraco, um publicitário explorou uma oportunidade. Palmas para eles, que nas primeiras horas venderam os 300 convites da primeira festa e hoje tem quase 20 mil pessoas em fila de espera para comprar os convites das próximas festas falsas de casamento. Mas… o que essa receptividade do público nos diz sobre a sociedade atual?

Por mais que eu adore comer bem, dançar e ver as gordas brigando por um buquê, uma trava bate forte quando penso na ideia teatral de dois noivos que na verdade são desconhecidos, simulando um amor verdadeiro, com fotos de suas vidas sendo projetadas em um telão e juras de amor trocadas em um microfone. Para ser bem sincera, mesmo quando o amor é supostamente real, isso já me constrange um pouquinho. Fico pensando “Amigão, quando você divorciar vai se arrepender tanto desse papel que está fazendo…”.

Por qual motivo essa mesma trava, esse mesmo desconforto não bate em quem vai a uma festa de casamento falsa? Talvez pela bebida, todo mundo bebe em casamentos e a bebida coloca um filtro cor de rosa no nosso olhar. Talvez eu deva começar a beber, sóbria está puxado. Talvez as pessoas sintam falta de glamour, de se vestir bem, de ver histórias de amor românticas, cada vez mais raras. Talvez seja a aura do casamento, festas notoriamente conhecidas por juntar novos casais. Talvez seja tudo isso e muito mais.

É isso que quero discutir aqui hoje. Quem segue tendências está atrasado, por isso trago a discussão antes que a tendência chegue e quero a opinião de vocês: pros e contras de festas de casamento falsas. Prático? Doentio? Progresso? Retrocesso?

Que buracos são esses que levam as pessoas a topar participar de um teatrinho coletivo, com direito a jogada de buquê e “sim”? As opções de lazer finalmente se esgotaram? O clássico sair para encher a cara em boate finalmente se tornou insatisfatório? Se sim, fico feliz. Só fico triste que precisem requentar um ritual mais velho que a fome para dar uma segunda opção para que os jovens se divirtam.

Talvez fosse mais saudável acatar minha sugestão de anos atrás e fazer uma festa de descasamento, essas sim teríamos aos montes. E nem precisam ser bancadas por uma pessoa só, tenho certeza que ao ver o amigo ou a amiga saindo de um casamento infeliz os amigos se cotizariam e fariam uma baita festa com o maior prazer. Não sei, a ideia de criar algo novo, ou de ao menos combinar duas coisas que já existam me atrai mais do que essa festa meio fraudulenta. Talvez me falta leveza.

Ao mesmo tempo em que atende a uma demanda de jovens que anseiam por participar de uma festa de casamento tradicional, será que essa festa falsa de casamento também não vai desvalorizar a verdadeira? Se sim, fico mais feliz ainda. Vai ser uma forma de mostrar à sociedade de uma vez por todas que a última coisa que importa no casamento é o amor. Mesmo com dois noivos que nunca se viram antes a festa pode ser divertidíssima. Ou seja, se faz a festa por outros motivos que passam longe de sentimento: ostentar, diversão, etc.

Fico me perguntando se o teatrinho é mesmo necessário. Eu toparia ir a uma festa nos moldes de um casamento, mas sem o teatrinho. Por algum motivo, o teatrinho é atraente para quem participa. Vi reportagens onde mostram moças chorando quando a noiva entra ou quando o noivo diz o “sim”. O que é isso, minha gente? A pessoa sabe que é tudo falso e se emociona mesmo assim? Alguém me ajuda a entender? Está no DNA feminino? Se sim, não devo ser 100% mulher, deve ter um testículo retido em alguma cavidade abdominal.

Independente da análise social e antropológica que se faça, uma coisa é certa: há um nicho na área de lazer e entretenimento de jovens. Eles finalmente cansaram do que está à disposição. Se você não é um falido sem o menor espírito empreendedor como eu, abre o olho e bota a cabeça para funcionar, que se uma festa de casamento falsa está começando a decolar, dá para emplacar coisa muito melhor e mais criativa. Talvez festas de casamento pouco convencionais sejam um mercado que possa ter futuro.

Certa vez, conversando com o Somir, brincamos como seria uma festa de casamento nossa, adequada e coerente com nossas vidas. Pensamos em dar uma festa totalmente fora dos padrões, convidando todos vocês, mas com um detalhe: os noivos não seriamos nós, seriam duas pessoas contratadas para se fazerem passar por nós. Nós estaríamos misturados entre os convidados para ver se alguém descobria e, ao mesmo tempo, para ver o que vocês falariam da gente quando achassem que não estavam sendo observados. Somir realmente se empolgou e, mesmo avesso a casamentos ao extremo, disse que toparia colocar em prática.

O que quero dizer é que sim, há uma festa de casamento adequada para cada um de nós, ainda que seja suja, babaca e filha da puta como a que Somir e eu pensamos em fazer. E esse mercado está inexplorado, massificado por festas cafonas padronizadas, todas iguais. Quem se dedicar a explorar isso vai se dar bem, fica a dica.

Sobre as festas falsas, apesar do ridículo do teatrinho, me compadeço de uma geração que precisa disso para vivenciar um ritual tão clássico da sociedade atual. Bato palmas para meus Hermanos que tiveram uma ideia genial e deixo a eles a sugestão: usem o dinheiro para fazer festas fora dos padrões, pois muita gente não casa justamente por não querer cair na mesmice.

Podem inclusive continuar a promover casamentos cotizados, só que dessa vez para noivos reais. Uma das maiores dificuldades dos noivos é quem cortar da lista de casamento, então, sobra gente. Dá para cobrar desses fdps. Em vez de dar presentes como eletrodomésticos, cada um dá alguma coisa (ou uma cota de alguma coisa da festa), sabendo que a festa só acontece se fechar tudo que precisa.

O nicho está aí, escancaradamente bem sucedido. Ainda não chegou no Brasil. O primeiro que o explorar com competência vai se dar bem. Fica a dica. Mandem ver, e me convidem de graça, afinal, eu dei a ideia de mão beijada para vocês.

Obs: Agradeçam ao Gugu por não disponibilizar o programa com o Pilha, no cu que eu pago uma assinatura da Record para poder assistir a tudo. Eles que deveriam pagar para que os outros vejam esse lixo de programação.

Para opinar sobre festas de casamento falsas, para começar a pensar em ideais novas relacionadas ou ainda para reclamar que para sempre vai pairar a desconfiança na sua cabeça se os noivos são realmente os noivos: sally@desfavor.com

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Comments (32)

  • O desejo de participar de algo inócuo como um casamento fake é até compreensível. Bônus sem o ônus, enfim. Agora, o que não dá para compreender é topar participar de um reality show em que, uma aldeia isolada na República Tcheca, três gerações de uma mesma família toparam participar de um reality show que recria a vida sob a ocupação nazista. Fico pensando na forma em que os participantes serão eliminados.

    E quem sabe, tendo sucesso, lancem algo como “Big Brother Auschwitz” em seguida ou mesmo Survivor – Syrian Refugees.

  • Sou do time “Só tô aqui pelos doces”. Muito amor por camafeu!
    Já fui em 3 casamentos e achei todo o procedimento um tédio total. E detesto usar vestido e salto.
    Eu não faço a menor ideia do que quero na minha vida amorosa e do que irá acontecer, mas se eu vier a me casar (quem seria o doente?) nem ferrando que farei uma festança e muito menos usar aquela roupa mamãe-quero-ser-princesa.
    Enfim, acho que é melhor eu começar a pensar logo numa maneira de investir em cima de gente média. Mas sem me expor. Invejinha de uma pessoa próxima a mim que é Youtuber sem vergonha na cara e ganha fazendo vídeos jogando e pagando mico na facecam.

  • Casar definitivamente não está nos meus planos, mas, se acontecer, já sei como quero: Vai ser só no civil e festa porque sou ateia e o noivo certamente não vai ser crente. Meu vestido de noiva não vai ser branco. Vai ser rosé, com mangas compridas e transparente, ou talvez mais curto na altura dos joelhos. E vou contratar uns atores pra fazer barraco na festa e outro pra fazer aqueles fiascos de bêbado. Casamento que é casamento tem que ter né.

  • Hahahahaha
    Adorei a idéia do casamento made in desfavor!
    Chama eu!!
    Obs. Pra mim casamentos sao bregas, ostentações desnecessarias com o unico objetivo de mostrar uma pseudo felicidade/poder aquisitivo que só existe externamente, mas amo ir a casamentos (claro ,só na festa) por causa dos doces…me julguem.

  • Deve tá dificil casal de verdade, então precisa arrumar fakes. Eu iria numa festa dessas de boa. Casar é depressivo mas festar é legal, só o lado bom da coisa.

  • Como assim Gugu não disponibilizou? Cadê a pirataria, gente? Impossível que ninguém tenha gravado esse troço para colocar para download ou no youtube. Se ele está achando que assim o ibope vai aumentar, que fique sabendo que o mundo mudou e assistir na hora que eles querem está fora de moda.
    Quanto aos casamentos falsos: muito mais prático! A pessoa vai na festa e nem precisa dar presente. Sério que tem gente chorando? Melhor não falar nada, vai que esse DNA está em mim e eu não sei…
    E favor casarem logo. Já que estão convidadando a gente mesmo, quero ir.

  • Doentio. Patético. Incompreensível…

    Não entendo nem o porquê de pagarem por casamentos verdadeiros… Jamais entenderia quem pagasse por casamentos falsos…

    De todas as festas, acho o casamento pior. Vou. Não deixo o desprezo transparecer (o que faz de mim um tanto quanto hipócrita?) Já fui madrinha mais de uma vez. Sorri, ajudei os noivos, desejei tudo de bom. Mas, nenhuma vez, tive como evitar a sensação de ridículo que me invadiu.

    Certeza que vai viralizar, vai virar modinha. Os Hermanos podem ter conseguido antever as necessidades das pessoas e quem consegue antever as necessidades das pessoas se dá muito bem financeiramente.

    Mas… De onde vem essa necessidade? Por que uma festa de casamento falsa? Por que tanta necessidade de casar, de pertencer a esse ritual ultrapassado?

    Medo de morrer, medo de viver?

    “Você estará sozinho com os deuses. E as noites se inflamarão em chamas.”

      • Por coincidência, tenho que ir a um casamento amanhã. É o segundo este semestre. Fico pensando que, se fosse um casamento fake, ao menos ia ter a chance de fugir do tédio e me embriagar de um sopro de novidade (em vez de álcool) na hora de brindar a felicidade dos noivos?

        “But I can’t help the feeling…
        I could blow through the ceiling…
        If I just turn and run…”

        PS: Sally, você tem ideias tão geniais, como o cemitério de cães, o rodízio de chocolate, o hotel para soneca do almoço, o personal friend… Por que não coloca algo em prática, fica milionária e ganha mais tempo para se dedicar ao Desfavor, aos livros, aos roteiros?

  • O que mais empolga na festa de casamento para mim é a oportunidade de me arrumar, amo vestidos com brilho, penteados e fora festa de casamento e a sua festa de formatura não tenho oportunidade para me arrumar dessa forma, o teatrinho é para dar sentido na coisa e ter um “ar jovem” senão vira um baile e isso parece coisa de velho.

  • Eu preferiria uma lua de mel falsa. Pegaria uma mulher com vontade de casar, lá pela faixa dos 35, 40, participaria da festa de casamento falsa com ela de noiva e eu de noivo, os presentes seriam em grana para uma viagem a um local paradisíaco, onde eu ficaria passeando de graça com a mulher, fazendo refeições caprichadas em bons restaurantes. Mas tem que ter contrato explicitando que o casamento é falso e a lua de mel também. Mesmo que na empolgação do local paradisíaco role um sexo falso.

    • Explore essa ideia. Você vai ficar rico. A razão pela qual as pessoas viajam em lua de mel hoje é mais pelas fotos para redes sociais do que pelo sexo em si!

    • Ah… eu adoraria ter uma lua de mel com o JM de S… Já que é tudo falso, eu sendo homem posso ser uma mulher falsa.

  • Já acho festa de casamento uma coisa BREGA e essa de casamento fake consegue ser ainda pior. Acho que não vai pegar nesses moldes.

  • Quando eu vi essa noticia achei genial e ao mesmo tempo extremamente irônica e só evidencia o quanto o casamento é uma instituição falida, eu sempre acreditei que as mulheres não queriam se casar de fato e estavam mais interessadas na cerimônia; a cada dia que passa vai ficando mais evidente que fazer uma puta festa de casamento é um ritual ultrapassado além de um desperdício de dinheiro

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