Enquanto isso…

Enquanto isso, na sala mais secreta da base mais secreta do exército:

GENERAL: Senhor, é uma honra tê-lo aqui conosco.
PRESIDENTE: Igualmente. Agora, vocês podem me dizer porque me fizeram vir até aqui no meio da madrugada sem dar nenhuma explicação?
GENERAL: Senhor, peço desculpas pela intromissão, mas era de vital importância não alertar ninguém mais além do necessário. Só as pessoas dentro dessa sala sabem o que está acontecendo.
PRESIDENTE: Que seja. Por que minha presença aqui é necessária?
GENERAL: Eles fizeram questão de falar com nosso líder, senhor.
PRESIDENTE: Eles quem?
GENERAL: Há aproximadamente três horas fomos contatados pelo o que parece ser uma civilização alienígena.
PRESIDENTE: Isso é alguma brincadeira? Uma pegadinha que vocês fazem com os novos presidentes?
GENERAL: Temo que não, senhor. Nossas análises apontam a presença de uma enorme frota de naves nas proximidades da Lua. É questão de poucas horas até elas estarem visíveis para qualquer astrônomo amador.
PRESIDENTE: Estamos sendo invadidos?
GENERAL: Não temos essa impressão ainda, mas já ativamos todas nossas defesas cabíveis.
PRESIDENTE: Você me disse que eles entraram em contato?
GENERAL: Sim senhor. Eles aparentemente sabem como decodificar nossos sinais e abrir comunicação diretamente conosco.
PRESIDENTE: E o que eles disseram?
GENERAL: Eles apenas pediram para falar com nosso líder o mais rápido possível. Temos o canal disponível no monitor principal à sua frente.
PRESIDENTE: Ok… ok… se isso for uma piada, você sabe que estão todos expulsos do exército, não?
GENERAL: Não é uma piada, senhor. Eles estão esperando, senhor. Devo abrir a comunicação?
PRESIDENTE: Ok. Siga em frente.

O General acena com a cabeça, fazendo um dos técnicos à sua frente liberar o sinal de vídeo num imenso monitor. Do outro lado, um ser estranho observa atentamente. Grandes olhos negros ocupando a maior parte de uma desproporcional cabeça acinzentada. Sua diminuta boca começa a se mexer:

ALIEN: Vocês não fizeram de novo, não é?
PRESIDENTE: Em nome da humanidade, é com imensa honra que…
ALIEN: Poupe-me do discurso florido. Não sou um diplomata. Você é o presidente de verdade, certo?
PRESIDENTE: Sim.
ALIEN: Avise para seus comandados que colocar um soldado vestido com roupas cerimoniais para falar conosco passando-se por presidente é um péssimo começo para essa relação.
PRESIDENTE: Garanto que não tive nada a ver com isso.
ALIEN: Tudo bem. Bom, não tem um jeito fácil de falar isso, então vai assim mesmo… o seu planeta está prestes a ser atacado.
PRESIDENTE: Não vamos nos apressar, amigo. Tenho certeza que nossos povos podem coexistir pacificamente e…
ALIEN: Não, não somos nós que vamos atacar. Na verdade, nós estamos do seu lado.
PRESIDENTE: Como assim?
ALIEN: Vocês são alvo de uma poderosa civilização que não partilha dos princípios da Liga. Nossa Inteligência conseguiu os planos de um ataque de larga escala, com o objetivo de dominação completa da sua espécie.
PRESIDENTE: Mas quando isso vai acontecer?
ALIEN: Na verdade, já era para estar acontecendo. Nós viemos para tentar salvar alguma coisa. Nem que fosse alguma amostra de DNA para recriar vocês em laboratório…
PRESIDENTE: Então você acha que eles desistiram?
ALIEN: Dificilmente, nunca os vi perdendo uma chance dessas. Alguma coisa deve ter feito eles atrasarem.
PRESIDENTE: E pelo o que eu entendi, vocês vão nos proteger?
ALIEN: É… não sei se você prefere tirar o resto dos seus comandados da sala para ouvir essa parte.
PRESIDENTE: Não, estamos todos juntos aqui. São pessoas da mais alta confiança.
ALIEN: Você que sabe… a verdade é que estamos numa frota pelo menos dez vezes menor que o que esperamos que eles tragam. Nosso objetivo era entrar no meio da guerra, salvar qualquer coisa que pudéssemos e sair.
PRESIDENTE: Mas como vocês chegaram antes, podem pedir reforços, certo?
ALIEN: Na verdade, não. Quer dizer, eu posso fazer o pedido, mas demoraria entre cinco e dez anos dos seus para alguém mais chegar aqui. Uma invasão típica está terminada em um ou dois no máximo. E já foi bem difícil conseguir reunir esse time aqui. Não apostaria nos nossos líderes mandando mais soldados para uma batalha quase impossível como essa.
PRESIDENTE: Deus…
ALIEN: E eu não posso exigir dos meus soldados que aceitem uma missão suicida como essa. Podemos fazer vocês ganharem alguns meses, no máximo, mas todos acabaríamos mortos do mesmo jeito.
PRESIDENTE: Estamos condenados então? Vocês não podem fazer nada?
ALIEN: Infelizmente, não… sentimos muito. A Federação pode apenas ajudar a evacuar algumas pessoas.
PRESIDENTE: Eu preciso pensar melhor nisso…

Um dos técnicos se volta para o presidente, dedo em riste como se estivesse pedindo permissão para falar.

PRESIDENTE: Pois não?
TÉCNICO: Posso… posso fazer uma pergunta para ele? *apontando para o monitor*
GENERAL: Calado!
PRESIDENTE: Não… não, deixa. Fale.
TÉCNICO: Olá!
ALIEN: Olá…
TÉCNICO: Você disse que a Federação pode ajudar a evacuar, certo?
ALIEN: Sim, mas só algumas pessoas, é um proce…
TÉCNICO: Mas você disse Liga da primeira vez que mencionou seu… grupo. É Federação ou Liga? E do quê?
ALIEN: Federação! Deve ter sido um problema da tradução automática… e isso é importante para quê?
TÉCNICO: É que…
PRESIDENTE: Isso não importa. Estamos condenados! Temos uma lista de pessoas que poderiam ser salvas, General?
GENERAL: Está um pouco desatualizada, mas podemos dar conta disso rapidamente.
PRESIDENTE: Comece.

Na tela, outro alien aparece rapidamente, como se cochichasse algo no ouvido do outro.

ALIEN: Não, isso não funcionaria… funcionaria?
PRESIDENTE: O quê?
ALIEN: Esquece, nunca foi tentado. Deve ser lenda.
PRESIDENTE: Diga! Estamos precisando desesperadamente de ideias!
ALIEN: Se você faz questão…
PRESIDENTE: Por favor! Estamos nas suas mãos!
ALIEN: Tudo bem… talvez possamos construir um disruptor de aporte quântico.
PRESIDENTE: Um o quê?
ALIEN: De forma simplificada, ele faz com que o inimigo se materialize em outro ponto da galáxia ao invés de próximo do seu planeta. Mas isso é apenas teoria. Não tenha muitas esperanças.
PRESIDENTE: Mas vocês tem quem consiga construir um?
ALIEN: Até temos alguns cientistas e engenheiros entre nós, mas mesmo que quiséssemos, não teríamos os materiais.
PRESIDENTE: E não tem como buscar?
ALIEN: Não é possível. Precisaríamos de milhares de toneladas de algo chamado ouro, e nunca se encontrou mais que poucos quilos até hoje. Duvido até que vocês conheçam o elemento…
PRESIDENTE: Nós temos ouro! Nós temos ouro sim!
ALIEN: Mas não milhares de toneladas! É um equipamento muito grande que precisamos construir.
PRESIDENTE: Nós temos milhares de toneladas!
ALIEN: Não é possível! Milhares de toneladas?
PRESIDENTE: Sim! Hahaha! Não acredito! Nós temos sim! Se conseguirmos o ouro, vocês podem construir essa máquina?
ALIEN: Não posso prometer que vai funcionar, mas nós fazemos sim.
PRESIDENTE: General, comece agora a operação para recolher todo o ouro que…

O técnico pigarreia.

PRESIDENTE: Pois não? Isso é importante!
TÉCNICO: Posso… fazer outra pergunta?
PRESIDENTE: Vá em frente.
TÉCNICO: Oi. É… tem que ser ouro?
ALIEN: Anh… sim, só ouro é denso o suficiente para modular as partículas de antimatéria…
TÉCNICO: É que eu sou fã de química, sabe? Fiquei entre seguir carreira no exército ou me formar em química. Adoro mesmo. Por um acaso chumbo não serviria também? Temos muito mais chumbo do que ouro.
ALIEN: Precisamos bloquear efetivamente as ondulações da radiação…
TÉCNICO: Chumbo é ótimo pra isso!
ALIEN: Mas só o ouro reage da forma certa…
TÉCNICO: É… ouro não é muito de reagir com nada. Até por isso é tão valioso.
ALIEN: Vem cá, quem entende de disruptor de suporte quântico aqui?
PRESIDENTE: Não irrite nosso amigo!
TÉCNICO: Aporte.
ALIEN: Hã?
TÉCNICO: Da primeira vez você disse aporte quântico, agora foi suporte.
ALIEN: Eu não quero mais falar com esse insolente! Estamos aqui tentando ajudar vocês e ele fica me questionando?
GENERAL: Silêncio, técnico!
PRESIDENTE:
GENERAL: Presidente?
PRESIDENTE: Onde seria construído o disruptor de aporte quântico?
ALIEN: Teríamos que colocá-lo num local seguro como a órbita de Júpiter.
PRESIDENTE: E como entregaríamos o ouro para vocês?
ALIEN: Uma das nossas naves de carga os encontraria no local designado e recolheria o material.
TÉCNICO: Então vocês viriam até aqui, pegariam o ouro e iriam para Júpiter?
GENERAL:
ALIEN: É…
PRESIDENTE: E poderíamos levar nossos cientistas para trabalhar com vocês?
ALIEN: Não é uma boa ideia, nossas naves não estão adaptadas ao funcionamento do corpo de vocês…
GENERAL: Como é que chama mesmo o equipamento?
ALIEN: Disruptor de transporte quântico.
GENERAL: Aporte.
TÉCNICO: É, engraçado como ele se confunde com o nome, né?
PRESIDENTE: Então vamos fazer o seguinte. Traga todas suas naves para a nossa superfície. Assim podemos carregar mais rápido.
ALIEN: Mas, precisamos de alguém para ficar aqui… caso os invasores apareçam. Melhor descer só uma nave.
TÉCNICO: Sabem o que eu achei interessante? Recebemos sinais de dezenas de naves, mas só uma delas está aparecendo nas leituras do satélite.
ALIEN: São… são naves secretas… com desativadores sequenciais… de pulso… quântico.
PRESIDENTE: Desça aqui, vamos conversar melhor.
ALIEN: Não temos tempo para isso…
PRESIDENTE: Faço questão!
GENERAL: Presidente, não terminamos os testes de mísseis nucleares espaciais? Se os invasores vierem, poderíamos acertar mísseis neles até mesmo se estivessem orbitando a Lua!
PRESIDENTE: Bem lembrado!
TÉCNICO: E com muita precisão.
ALIEN: Estamos… é… recebendo sinais… e… precisamos desligar um pouco… a…

Estática na tela. O presidente olha para o técnico:

PRESIDENTE: Como foi que você percebeu tão rápido?
TÉCNICO: Nascido e criado no Brasil.

Para dizer que foi uma piada desnecessariamente longa, para dizer que foi menos nerd do que esperava, ou mesmo para comemorar que finalmente um brasileiro salva o dia: somir@desfavor.com

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