Extinções em massa.

Tudo que é vivo, morre. E como morre! Estima-se que já passaram por este planeta algo em torno de 5 bilhões de espécies diferentes de seres vivos. Microorganismos, plantas, insetos, animais e afins. Mas, mais de 99% deles não estão mais aqui para dividir o planeta conosco. Ainda bem, até porque sem essa morte toda, nossa vida não teria sido possível. Então, vamos entender a agradecer às extinções em massa. Morrei por nós!

Obviamente não estamos falando de alguém acabando com um prato de macarrão. Extinções em massa são, por definição, um decréscimo elevado e abrangente na quantidade de vida na Terra. Muitos falam do tema como um momento trágico na nossa história, mas se pararmos para pensar mesmo, de vez em quando faz bem dar uma limpada no armário da biodiversidade. Quer dizer, isso do ponto de vista de quem estava lá no fundo desse armário e só conseguiu seu lugar ao sol quando o resto saiu da frente. Triste para os dinossauros, mas feliz para nós.

É mais uma daquelas questões que podem ser distorcidas por quem procura indícios de “design inteligente” na vida em nosso planeta: somos o que somos por uma sequência incrível de acontecimentos, frutos de inúmeros desastres. Ser vivo hoje em dia é pisar sobre a carcaça de bilhões de espécies que não conseguiram se adaptar às condições locais. Inclusive até andamos por aí usando os restos deles como combustível! Fazer o quê? A morte é extremamente útil para quem está vivo.

Mas chega de divagar, vamos falar do que realmente importa, as extinções em massa.

AS GRANDES CINCO

Cientistas contam muito mais que cinco eventos de extinções em massa no planeta, mas como povo se amarra numa lista, logo categorizaram os maiores e mais mortíferos para que panacas como eu não precisassem ficar pesquisando demais. Obrigado, ciência! Mas como eu sempre acho um jeito de complicar as coisas, tem mais uma sobre a qual eu gostaria de falar. Talvez a mais importante de todas para quem está respirando hoje em dia.

A CRISE DO OXIGÊNIO

Há alguns bilhões de anos atrás, o planeta Terra seria um tanto quanto complicado de se viver. O principal motivo para seres aeróbicos como nós seria a falta de oxigênio. E não, não importa se você faz aquelas aulas ridículas na academia, ser aeróbico significa que você respira oxigênio. Os primeiros seres vivos daqui não eram assim, até porque não tinha oxigênio suficiente para respirar. As bactérias extremófilas (não, não eram da Al Qaeda) e algas-azuis que dominavam o mundo há mais ou menos uns 2 bilhões e meio de anos atrás consumiam outros gases e devolviam oxigênio para a atmosfera. Mais ou menos como nossas plantas atuais já fazem.

Durante centenas de milhões de anos, elas continuaram “peidando” oxigênio impunes na atmosfera. As rochas conseguiam absorver tudo isso e manter o ar próprio para nossos antepassados (seu tatatata¹°°°ravô era uma bactéria, aceita que dói menos), até que… não deu mais. As rochas saturaram e o oxigênio começou a “poluir” o ar. Como ninguém parou para fazer uma campanha de conscientização, as bactérias e algas continuaram produzindo o gás até a atmosfera estar toda cagada de oxigênio.

Foi provavelmente a maior extinção em massa de todas. Não eram muitos seres vivos que tinham se adiantado e começado a trabalhar com oxigênio, mas esses se deram muito bem. Uma bactéria prevenida vale por dezenove milhões. O que importa aqui é que se quem dominava esse mundo há dois bilhões de anos atrás não tivesse cometido um lento suicídio por produção de oxigênio, não estaríamos aqui. Se conseguirmos mesmo controlar o aquecimento global, as próximas espécies na sucessão vão se sentir traídas…

AS GRANDES CINCO DE NOVO

Agora sim. Num mundo já cheio de oxigênio e com espécies mais parecidas com as que convivemos, foram cinco os eventos mais notáveis de extinção. Mas eu ainda vou falar sobre um que não entra nessa conta!

EXTINÇÃO CAMBRIANA

O bacana sobre a era Cambriana é que ele é basicamente o último ponto onde damos nome para uma era. É o último ponto onde achamos fósseis com alguma consistência. Tanto que tudo que vem antes é chamado de pré cambriano quando falamos de vida. Começou a mais ou menos 540 milhões de anos atrás. E é na era Cambriana que encontramos uma das maiores explosões de diversidade na vida no planeta. É como se a vida na Terra estivesse numa fase de experimentar novas sensações, sabe quando você tentou aprender a tocar violão ou começar a esculpir e resolveu que não era para você? Foi mais ou menos isso. A vida no planeta tentou se diferenciar de milhões de formas diferentes, mas ainda faltava a experiência para fazer aquilo direito.

O mundo era muito mais quente naquela época, por questões geográficas não havia terra nas áreas mais frias do planeta, então era clima tropical (sem plantas terrestres) para onde quer que se olhasse. O tempo passou, o mundo começou a esfriar… e adeus aulas de violão ou de escultura! Estava na hora de começar a ser adulto nessa história toda de evolução. A extinção cambriana arrebentou com a maior parte dos seres vivos do planeta. Sorte de alguns seres, que viram a concorrência morrer na praia e tiveram mais espaço para continuar evoluindo. Que seres? Os cordados. Tipo os peixes… ou nós. Os seres com espinha dorsal, por assim dizer. Mas ainda tem muita evolução pra acontecer, ainda estava praticamente todo mundo vivendo debaixo d’água nos oceanos.

AS GRANDES CINCO… AGORA VAI?

Pronto! Agora sim, sem mais delongas:

Extinção do Ordoviciano-Siluriano: sim, todos os nomes vão ser assim. Vai se acostumando, ou seja extinto deste texto! Logo após o período Cambriano, veio o Ordoviciano. 440 milhões de anos atrás, com alguma margem de erro (de milhões de anos!). Ainda todo mundo nos mares, mas com aqueles nossos parentes antigos, os cordados, ganhando algum destaque. A teoria para explicar essa extinção em massa reside em alguma coisa tornando as águas dos oceanos inóspitas para boa parte da vida. Seja pelo esfriamento causado pelo supercontinente Gondwana indo mais para o sul, seja por uma queda de oxigênio dissolvido na água, ou sugerem até alguns, por um “arroto estelar” chamado “explosão de raios gama” que basicamente acabou com o ozônio da atmosfera. Mas não é a versão mais “séria”, só é a mais bacana.

O que importa aqui? Essa extinção em massa começa o próximo período da história: o Siluriano. E adivinha o que começa a acontecer depois que os oceanos ficam ruins de sustentar vida? Algumas formas de vida começam a tentar a sorte… em terra firme.

Extinção do Devoniano Superior: o período Devoniano foi quando a pobralhada dos oceanos realmente subiu para a terra. Malditos imigrantes! Mas eles acabaram se adaptando. As plantas começaram a demonstrar as características atuais como raízes e sementes nessa época. Alguns invertebrados também vieram “para cima” e começaram a se acostumar com o ambiente. Ainda bem! Se eles não tivessem vindo, os nossos antepassados não teriam o que comer. Essa extinção atingiu basicamente a vida marinha. O que também é bom, porque a turma da coluna vertebral realmente precisava de menos concorrência. Sugere-se que a melhor hipótese para explicar essa mortandade toda nos oceanos seja uma queda elevada de oxigênio na água. Embora impactos de meteoros e resfriamento global também possam ser candidatos.

A Grande Agonia: ou Extinção do Permiano-Triássico para quem não gosta dos nomes mais poéticos. A extinção em massa no final do Paleozóico há cerca de 250 milhões de anos atrás foi a mais hardcore de todas. 95% das espécies marinhas e 70% das terrestres pediram pra sair. Foi tão pesada que o planeta sofreu para se repovoar. Só aguentou quem rebolou muito para se adaptar às novas condições, o que levou a uma enorme mudança na face da vida na Terra. Segundo as teorias sobre a motivação desse desastre todo, foi culpa da Sibéria! Um MEGA vulcão explodiu, fazendo a temperatura do mundo subir cinco graus (por causa do efeito estufa), e com essa gracinha do manto, o metano que estava quietinho no fundo do mar subiu, deixando o efeito ainda mais estufa. A temperatura média do planeta subiu 10 graus em pouco tempo. Só os fortes sobreviveram.

Agora, vejam só… essa catástrofe permitiu que os ancentrais dos dinossauros tomassem conta do mundo, crescendo e se tornando cada vez mais poderosos. E foi um balde de água fria nos mamíferos, que já começavam a gostar da vida na terra firme. Os dinossauros foram dominando o mundo e os mamíferos tiveram que continuar bem pequeninos e discretos, para não acabarem morrendo. E foi isso que os salvou. Logo depois veio a Extinção do Triássico-Jurássico, que realmente botou os dinossauros no mapa, sem ninguém mais para competir. Quem fosse esperto que ficasse quietinho, esperando sua chance.

Extinção do Cretáceo-Paleogeno: Agora vai? Agora vai! Os dinossauros mandaram e desmandaram por milhões e milhões de anos. Até que a uns 66 milhões de anos atrás, havia uma pedra no caminho. A teoria mais aceita para o evento que acabou com os dinossauros é o do impacto de um asteróide que caiu onde chamamos de México atualmente. Com a pancada, o céu se encheu de poeira e o planeta viveu uma era realmente complicada para qualquer ser vivo que dependesse de muitas calorias para sobreviver. Azar dos dinos, sorte dos mamíferos. Lembra que a Grande Agonia os forçou a ficarem minúsculos? Isso realmente veio a calhar quando o estoque de comida no mundo caiu consideravelmente.

Os dinossauros que escaparam hoje estão voando por aí. Ou mesmo num prato na sua frente! Só aqueles que já estavam bem próximos do que são as aves atuais seguraram o tranco. Ser uma galinha é um fim melancólico para os seres que dominaram o mundo sem competição por milhões e milhões de anos, mas eles precisavam dar espaço para nós, os mamíferos.

SORTE! SORTE?

Cada um dos grandes eventos de extinção em massa no planeta plantaram pelo menos uma sementinha para a nossa existência. Evolução não para, mas tenta mexer o mínimo possível em time que está ganhando. Sem todas essas catástrofes que eliminaram quase toda a vida que já existiu nesse planeta, ninguém teria levantado a bunda do oceano. Extinções em massa são as melhores coisas que nos aconteceram, até porque… imagina evoluir com um tiranossauro correndo atrás de você? Não seria muito prático.

Parece muita sorte, alguns otários vão até dizer que é prova de que alguém estava orquestrando tudo isso… mas, se parar pra pensar, se tinha alguém pensando nesse processo todo, com certeza era um imbecil. Você acha que uma pessoa que faz 5 bilhões de cadeiras e acerta umas dez milhões é um bom carpinteiro? Eu não. A evolução só fecha os olhos e tenta acertar. Tem que matar mais de 99% dos seres que criou só para achar um que sequer tenta explicar como ela funciona.

A taxa de acerto é ridícula. Mas às vezes acerta. Sorte nossa. Para quase todos os seres vivos que já existiram, vai minha mensagem: vocês não morreram em vão. Vocês morreram para que os bailes funk pudessem existir. Parabéns, vida! Parabéns e obrigado.

Para dizer que foi um texto muito deprê, para dizer que não foi um texto megalomaníaco, ou mesmo para dizer que tentou ler, mas sua paciência foi extinta: somir@desfavor.com

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