Pelo menos 129 pessoas perderam a vida após os atentados de 13 de novembro em Paris. Quase todos foram identificados.

Eles eram advogados, professores, músicos ou engenheiros. Negros, árabes, orientais, brancos. E um concerto no Bataclan, em um terraço de um restaurante ou em frente a um estádio de futebol. Suas vidas foram brutalmente interrompidas na noite de sexta-feira por conta dos atentados que mataram 129 pessoas até agora.

Desfavor presta homenagem às pessoas mortas naquela sexta-feira 13, e apresenta uma lista ainda incompleta. Atualizaremos a lista conforme recebermos testemunhos de parentes e de amigos das vítimas.

Suzette Soveral, 63 anos

Funcionária Pública, divorciada, mãe de 2 filhas e avó de três netas, Suzette morreu do coração ao tentar fugir do Bataclan. Segundo sobreviventes, Suzette sofreu um ataqueao passar pela saída de emergência, e seu corpo bloqueou as portas. Esse desmaio foi fatal para muitas vítimas, que não conseguiram retirar rapidamente os mais de 100 kg de Suzette do caminho e assim liberar as portas. “Minha ex-mulher sempre foi uma pessoa grande, obesa, e quando nós falávamos para ela emagrecer, ela sempre dizia que a única pessoa que prejudicava com sua gula era ela mesma. Só que acabou não sendo bem assim”, ironizou seu ex-marido, Jean. “Minha mãe era ridícula. Passava muito tempo inútil na internet trocando ideias com gente mais nova do que as próprias netas e acho que foi ao show no Bataclan só para encontrar um desses amigos de internet. Era uma versão GG da Suzana Vieira. E, agora, quem é que vai cuidar das minhas filhas enquanto eu trabalho? Como é que eu vou ficar?”, reclamou Justine, a filha mais velha.

Marcel Épingle, 33 anos

Comissário de bordo, nascido na cidade interiorana de RuisseauNoir, mudou-se para a capital francesa no começo deste ano para começar um novo relacionamento, que acabou durando poucos meses. “Era um vagabundoa lienado, perdido em seu mundo de certezas sem qualquer fundamento, e que não me ajudava nas despesas, nem nas tarefas domésticas. Era incapaz de pendurar suas cuecas no varal. E me culpava por qualquer coisa, até pela doença que acabou nos separando”, disse Bruno (nome fictício), colega de empresa, em alusão a um câncer no ânus recém descoberto por Épingle. A ida ao Bataclan era a despedida de Marcel da cidade, antes de começar a quimioterapia em um hospital público na cidade de Coubisou. Morreu na entrada da casa de espetáculos, cravejado de balas.

Sylvain Le Brut de Marchand, 30 anos

Publicitário, torcedor fanático do Paris Saint Germain, foi ao Bataclan com os amigos Andre Pinces, René Poitrine, Jean e Robert (esses dois últimos sobreviveram ao massacre). De acordo com os relatos desses últimos, após os primeiros disparos, LeBrut teria achado “que pareceria uma ótima ideia naquele momento” se o grupo de amigos tentasse tomar as armas dos terroristas. A imprudência custou a vida de Le Brut, Poitrine, e de mais dezenas de pessoas ao redor deles.

Annette Caroline Portugal, 29 anos

Executiva do BNP-Paribas e moradora de um condomínio fechado de alto padrão nos arredores de Paris, Annette havia ganhado ingressos do chefe para o Bataclan como um prêmio por sua dedicação, pois o banco havia cortado o pagamento de horas extras. Segundo os colegas, a jovem ascendeu rapidamente dentro da instituição por priorizar o trabalho acima de tudo e de todos, inclusive dela mesma. Extremamente religiosa, acreditava que sua devoção à Igreja era o que a mantinha moralmente acima das demais pessoas, assoladas por seus problemas mundanos e pela falta de amor ao próximo. Seu corpo foi encontrado em frente à saída de emergência, e Annette segurava um terço.

Marion Nudnik, 32 anos

Judia ortodoxa, era professora de rede pública de ensino de Paris.Segundo colegas, Marion era uma pessoa bem intencionada porém inconveniente com os alunos e pouco objetiva nas aulas, tendo sido objeto de abaixo-assinado de várias de suas turmas requisitando sua substituição. “Só assim para nos livrarmos dela”, comemorou um de seus alunos ao saber de sua morte. De acordo com sobreviventes, Marion havia escapado ilesa dos primeiros disparos efetuados dentro do Bataclan. Contudo, tentou argumentar com um dos terroristas, que acabou enfiando uma granada em sua boca. Sua morte atrasará a liberação do Bataclan, pois a busca minuciosa por seus restos mortais é justificada pelo fato de a religião judaica determinar que o corpo humano por inteiro deve ser enterrado.

Andre Pinces, 29 anos

Herdeiro de um dos maiores industriais de laticínios do país, morreu junto com os amigos Sylvain e Renê no Bataclan. De acordo com os amigos Jean e Robert, Pinces quis ficar ainda mais rico que seu pai, diversificando os negócios da família. Passou a vender armas e munições para qualquer grupo armado do Oriente Médio, oferecendo-se para lavar dinheiro para eles utilizando como fachada as diversas empresas do grupo empresarial agora sob sua direção. Indagado se ele conseguiria dormir à noite, Pinces alegava cinicamente a quem quer que o perguntasse que ele não havia sido o primeiro nem seria o último a lucrar com o terrorismo. De acordo com testemunhas, na tentativa de salvar a própria pele, Pinces tentou convencer os terroristas de que estaria do lado deles. Em resposta, como agradecimento pelos serviços prestados, levou um tiro de fuzil no rosto, morrendo na hora.

Salomé Rodriguez, 40 anos

Argentina de nascimento, Salomé era escritora, blogueira, roteirista de sucesso em sua terra natal, e havia se mudado em junho para Paris em busca do novos desafios profissionais. Contudo, em contraste com o sucesso profissional, era tida pelos amigos e familiares como uma pessoa de difícil trato. “Era ateia, precisa falar mais alguma coisa?”, questionou a mãe de Salomé, por telefone. Além disso, o rancor era sua segunda natureza. “Quando disse que não aceitava que ela fosse morar junto com o namorado, ficou dez anos sem falar comigo”, disse o pai. Na confusão que se seguiu à invasão do Bataclan, acabou pisoteada pelos demais espectadores em razão de sua baixa estatura. Seu corpo foi descoberto embaixo do corpo de Suzette Soveral, que bloqueavaa saída de emergência, quando a polícia removia os corpos das centenas de vítimas para o necrotério do hospital.

Jean-HuguesMarinade, 38 anos

Pai de 3 filhos e em seu terceiro casamento, Marinade, um Webdesigner de Marselha, foi uma das dezenas de vítimas atingidas por rajadas de metralhadoras quando o grupo de amigos de Sylvain Le Brut de Marchand tentaram tomar as armas dos terroristas no Bataclan.

Diferentemente de muitas outras vítimas, a família de Marinade expressou alívio com a morte da Marinade, conhecido pelos amigos por suas opiniões fortes e pelo fraco pelas drogas. “É duro dizer isso, mas o prêmio do seguro de vida do meu marido nos permitirá um padrão de vida que ele jamais se propôs a nos proporcionar, nem que vivesse por mais de cem anos”, confessou sua esposa.

Renê Poitrine, 30 anos

Amigo de infância de Marchand, Poitrine era o que os amigos chamavam de “ativista de facebook”. Segundo Jean e Robert, amigos de Poitrine sobreviventes do massacre, Poitrine postava em seu perfil diariamente diversos textos contra o preconceito e os maus tratos contra minorias, em uma postura totalmente oposta ao trato com essas pessoas no dia-a-dia. “O cretino pagava um salário de fome para uma imigrante nigeriana lavar e passar suas roupas”, disse Jean. Houve também um outro episódio que definiu o caráter hipócrita de seu ativismo. “Uma vez, roubaram a carteira dele no trabalho, em um horário em que havia apenas no prédio dois funcionários da limpeza, um argelino e um imigrante polonês. Adivinhe qual dos dois ele apontou com toda certeza como o possível ladrão?”, questionou Robert. Depois de ser inocentado, o ex-funcionário teria sido denunciado para a imigração por Poitrine, que queria dar fim a essa situação incômoda, mas se enforcou antes de ser deportado. Com peso na consciência, Poitrine disse a amigos que teria passado a sonhar constantemente que acabaria um dia morto por terroristas árabes, justamente o que lhe aconteceu naquela noite no Bataclan junto com seus amigos Sylvain e Andre Pinces.

Assinado: Suellen

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: ,

Comments (22)

  • Suellen, se eu fosse diretor de jornalismo, não hesitaria em designa-la como correspondente…Alias, pensando bem, eu lhe concedia o meu posto. Talento de jornalista. Texto informativo, elucidativo, gostoso de ler (apesar de se tratar de óbito). Parabéns!!! Continue…

  • Grata mesmo pelos elogios. Estava de saco cheio daquelas listas quilométricas de vítimas que aparecem a cada tragédia, em que todo mundo era descrito como alguém relevante e recheado apenas de qualidades positivas. Nesse sentido, procurem no Youtube o funeral de Graham Chapman, e a “homenagem” prestada a ele pelos outros Pythons.

    • (…) o funeral de Graham Chapman, e a “homenagem” (…)

      Ah, sim, conferindo desde agora a pouco…

      hahahahahahahahahahahahaha

      Tinha que ser…

  • Juntamente com os da Sally e do Somir, os comentários da Suellen são os que mais gosto de ler, pois são sempre pertinentes e interessantes. E com o texto não foi diferente. Adorei os easter eggs e as referências utilizadas.

  • SPOILER:

    >>>>>>>>>>>

    >>>>>>>>>>>

    >>>>>>>>>>>

    Suellen
    Marciel
    Somir
    Annette (não captei de primeira)
    Mariana
    Alicate
    Sally
    Hugo
    Chester

  • (gargalhadas intervaladas)

    Pois é, a fragilidade humana em poder até chegar asofrer em definitivo após tolice(s) que causou desperdício(s) (não tão) anterior(es)…

    (…) zombar um pouquinho da cara dos espertões.

    Mil vezes esta comédia “drástica” do que um “a não ser as crianças, deveriam matar os outros (muslims) !” e toda aquele “falacionismo” daqueles BMs (tão) naziteístas !!!

    (…) faxina voluntaria (…)

    Viva !!!

  • Nem reparei que era convidado, saí lendo e tentando adivinhar de quem era o texto. Muito bom, Suellen! Adorei a ótima postagem.

  • Adorei. Bem melhor que aquele outro que escreve aqui as sextas. (brinqs).

    Tipo de texto pra fazer faxina voluntaria no publico desavisado.

    Adorei os easter eggs nos nomes e particularidades de cada vítima.

  • CRÍTICA:

    Homenagem profundamente deselegante, indiscreta e indelicada.

    O primeiro relato já revelou o velho estilo autodestrutivo do autor, mas é o segundo que cravou certeza absoluta (Quem mais escreveria o segundo relato??? Quem???), fato que se confirmou com a assinatura ao final do texto.

    A ausência de sutileza na maquiagem grosseira de algumas vítimas confunde o leitor que entende um pouquinho de línguas ou acha que conhece bem o povo francês, porque não há como saber se a intenção do autor foi realmente provocar alívio cômico (humor negro?) neste momento sombrio e triste que a humanidade atravessa, aproveitando, também, para zombar um pouquinho da cara dos espertões.

    Será? Será? Será?

    Enfim, gostei muito!
    Ótima homenagem!

    Parabéns pela criatividade!

    • Acredito que a Nudnik, ganhou as granadas justamente quando chegou na parte em que foi criticar a “ausência de sutileza” dos terroristas..

      Só acho…

      • Também acho. A tolice dos tolos é infinita. Mas ela morreu lutando por mais sutileza e mais coerência no mundo, buscando encontrar fora o que nunca encontrou dentro.

        Uma morte bem mais poética do que a do descontrolado passional Webdesigner.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: