Minecraft

Porra, AGORA? Quinhentos anos depois de ficar famoso? Ok, primeiro que nem todo mundo sabe o que é o Minecraft, principalmente as pessoas mais velhas e menos nerds, segundo que eu não tenho interesse ainda em fazer review de jogo sem ter um assunto maior para mencionar. E terceiro que deu na telha falar disso agora. Motivos suficientes? Ótimo! Pra vocês que acham que eu bati a cabeça, vou falar hoje sobre provavelmente o jogo mais famoso do mundo na atualidade. E o tamanho do fenômeno que a maioria dos adultos ainda não perceberam que é…

Para explicar melhor, Minecraft é um jogo originalmente para computadores que agora tem versões até para torradeiras, sério, está em todos os videogames, tablets e smartphones disponíveis. O conceito do jogo é o de “sandbox”, traduzido como caixa de areia e significando que a mecânica principal do jogo é você poder fazer o que bem entender. Construa seus castelos, derrube-os, jogue areia nas outras crianças, o que te parecer interessante. Não tem nenhum objetivo claro como num jogo antigo do Mario, não precisa ir para a direita e chegar no final da fase, a fase não termina. Você joga até não querer mais.

O que pode parecer estranho para gerações que não gozavam desse tipo de liberdade em seus videogames acaba sendo exatamente o que faz de Minecraft um sucesso estrondoso, principalmente entre os mais novos. Para quem é mais velho, imagina um lego com peças praticamente infinitas que você monta do jeito que quiser. É difícil explicar exatamente como isso funciona em texto, mas metade do Youtube já está tomado por vídeos do jogo, então vocês não vão ter dificuldade de vê-lo em funcionamento. Virtualmente tudo que está na tela pode ser transformado.

Você começa o jogo numa paisagem natural formada por blocos que representam diversos elementos, e começa a “trabalhar” em cima disso. Derruba árvores para conseguir madeira para fazer tochas e ferramentas, quebra pedras para construir tijolos, colhe sementes para plantar comida… é simples no conceito, mas extremamente complexo. Você pode ver uma montanha no horizonte, ir até ela, quebrá-la inteira e construir um castelo no lugar. Ah, o cenário é praticamente infinito, para onde quer que vá, tem mais e mais cenários, simulando locais e climas diferentes que em sua maioria representam paisagens terrestres (tem algumas pirações…). Sai de um deserto, encontra um pântano, sai do pântano, encontra montanhas nevadas, e por aí vai. O jogo também simula o ciclo de dia e noite, e durante a noite começam a surgir inimigos que tentam te matar.

Mas isso é só para colocar em perspectiva o jogo para quem nem imagina o que seja, eu quero falar mais da história e das novidades que o jogo trouxe para o mercado de games. Eu já devo ter dito isso várias vezes, mas meu eu criança trocaria todos os Sonics e Marios por Minecraft, sem pensar meia vez. E faria uma boa escolha. É uma das coisas mais brilhantes já boladas para uma mente infantil… mas, nem sempre foi esse o público.

Eu já fiz parte dele. Comprei o jogo quando pouca gente conhecia ainda, lá no longínquo 2010. E jogava versão pirateada antes… quem nasce brasileiro não ganha a majestade. Em 2009, um programador sueco chamado Markus Persson começa a trabalhar no protótipo do que seria o Minecraft, ele vai dividindo com amigos e conhecidos as versões extremamente iniciais do jogo, e alguns círculos da internet ficam sabendo disso. Calhou de eu estar prestando atenção num deles. Eu lembro do começo muito bem, era só uma prova de conceito, quase nada se parecia com um jogo de verdade. Mas era criativo. Destruir blocos e recolocá-los da forma que bem entender cutucava aquela nostalgia “pobre” de nunca conseguir ter legos suficientes para fazer o que queria.

Naquele tempo (e nem faz tanto tempo assim), jogos que começavam nessa humildade toda acabavam perdendo o fôlego, com o programador tendo que mudar de foco para pagar suas contas. A indústria dos games indies ainda não existia de verdade. Jogos precisavam estar prontos para alguém comprar! E isso demandava tempo e dinheiro. E aí vem o que pra mim é a sacada de uma vida: cobrar por um jogo que não está pronto ainda. Markus – cujo apelido é “Notch”, o que eu vou chamar ele até o final do texto – recebeu muito crédito pela ideia do jogo em si, mas a ideia dos blocos e da caixa de areia já existia, ele só fez o dele. Mas pra mim não tem nem o que pensar, esse cara pode ser chamado de gênio pelo o que ele fez na hora de vender seu peixe: ela basicamente entregou um demo tecnológico para as pessoas e uma promissória que um dia aquilo viraria um jogo. A vantagem para as pessoas era poder brincar com o conceito desde aquele momento e ainda participar dando pitacos em como gostariam que o produto fosse.

E isso colou. Colou absurdamente. Com o passar do tempo, mais e mais gente resolvia “investir” no Minecraft. Eu inclusive. Mesmo antes de lançar a versão beta do jogo, Notch já tinha dinheiro suficiente para viver exclusivamente disso. Mas nerd gordo é uma merda (estou falando com você também, Gabe! Cadê o Half-life 3?) e começa a fazer corpo mole na primeira chance. Minecraft foi começando a ficar mais e mais lento nas suas atualizações, Notch – ou “gordo filho-da-puta” como o chamávamos carinhosamente – começou a tirar longas férias e ficar claramente de saco cheio. Não o culpo, eu também sou vagabundo e ele não prometeu data nenhuma, azar de quem comprou.

Mas é nessa enrolação dele que começa a dar muito certo algo que definiu o sucesso do jogo: as modificações feitas pelos usuários. Notch fez o jogo de um jeito que outros programadores tinham facilidade de mexer no código e colocar suas ideias. A comunidade se organizou e criou um enorme ecossistema de modificações de jogabilidade e até mesmo visuais no Minecraft. Como o gordo filho-da-puta não atualizava nunca, as modificações continuavam válidas por muito tempo, dando tempo das pessoas aprenderem como fazer, mesmo que chegassem tarde para a festa. Notch até que fez algum doce para aceitar essa enxurrada de modificações feitas na sua ausência, mas novamente foi esperto o suficiente para enxergar como isso fazia bem para sua criação.

Os jogadores são parte integrante desse sucesso. As construções grandiosas de alguns malucos e os circuitos (o jogo tem uma simulação maluca de eletricidade para criar máquinas) incríveis feitos por nerds da mais alta tarimba se juntam às modificações feitas por fãs sem cobrar nada em troca para atrair mais e mais gente para comprar. Não é difícil piratear, mas quase todo mundo compra para poder jogar nos servidores multiplayer, onde os jogadores constroem juntos, se matam ou simulam outros jogos dentro do Minecraft. A ideia original é bacana, a estratégia comercial foi brilhante, mas foram os fãs do jogo que tornaram tudo tão grande e lucrativo.

Hoje em dia são as modificações do Minecraft que dão sobrevida ao jogo. A versão oficial saiu em 2011, e ainda não tem sinais de perder o fôlego. A estratégia foi perfeita naquele sentido Mac versus PC. Os PCs venderam e ainda vendem mais que os Macs não só pelo menor preço, mas pela arquitetura aberta, todo mundo pode fazer peças e programas para PC sem precisar de bênção dos “donos”. Com o Minecraft foi muito parecido, eventualmente se tocaram que deixar o povão criar em cima do jogo era manter a máquina de fazer dinheiro em movimento. E que máquina de fazer dinheiro!

No ano passado, a Microsoft comprou o Minecraft. Por dois bilhões e meio de dólares. Não, você não leu errado, Notch já estava com o cu cheio de dinheiro e recebeu sozinho o suficiente para se tornar um bilionário por causa do jogo dos bloquinhos. E a gente xingando ele… quem ri por último ri melhor mesmo. A empresa do Bill Gates foi esperta e não mexeu em basicamente nada, deixando só a marca e as vendas recuperarem seu investimento com o passar dos anos. Notch hoje vive em Ibiza, reclamando no Twitter que está se sentindo solitário… nerd é nerd. Ao invés de literalmente esticar o dedo e traçar uma modelo a hora que quiser, reclama na internet que está chateado. Bom, azar o meu que sou pobre.

Mas se a história da cinderela sueca barbuda acaba aqui, não digo o mesmo do meu texto: Minecraft ainda inaugurou uma nova era na internet com sua “Youtubilidade”. Inventei mesmo, chamem a polícia… o jogo parece que foi feito para ser exibido em vídeo. Eu acho chato de ver, até porque hoje em dia o público é infantil e quem faz esses vídeos só berra de forma incoerente, mas é inegável como num ambiente onde se pode fazer de tudo e com tantas modificações disponíveis, a produção de conteúdo baseada no Minecraft desbanca praticamente todos os outros temas possíveis no Youtube. E muito por culpa do público infantil. Eles piram vendo os vídeos, até mais do que jogando, um comportamento estranho que já virou norma: criança de hoje gosta mais de ver alguém fazendo bagunça e jogando um jogo no Youtube do que jogar o jogo ela mesma. Sinal dos tempos, não estou entendendo mais nada…

O que parece só um joguinho que criança se amarra em ver e talvez jogar tem um impacto enorme no mercado dos jogos até hoje (o mercado indie de jogos explodiu, quem tem Steam sabe), além de uma mudança de atitude nos mais jovens em relação ao entretenimento de jogos. Por isso que eu demorei para falar dele… essa porra mexeu sim no mundo, e precisava de um certo distanciamento para analisar direito. E agora eu não sinto mais que esteja ajudando a vender. Propaganda aqui só se pagarem dois bilhões e meio para mim… de qualquer forma, se ele vai ser eterno eu não sei, talvez algo o substitua logo logo, mas vários dos conceitos que surgiram por sacadas do sueco ou mesmo pela sua inépcia em fazer seu trabalho continuam dando frutos na sociedade.

Eu ainda acho um jogo interessante. Mesmo sendo muito mais do que isso. Se você vir uma criança jogando, preste atenção. É um pouco mais do que você imagina do que é… é o futuro. Gostando dele ou não, faz bem saber o que está acontecendo.

Para dizer que eu consegui tirar a graça até disso, para dizer que meu timing está cada vez pior, ou mesmo para dizer que eu só estou sendo hipster dizendo que conhecia antes: somir@desfavor.com

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