Casamento renovável.

Casamento até que a morte os separe? Será que isso é viável nos dias de hoje?

A sagrada instituição do matrimônio está mais falida do que nunca. Entretanto, os incentivos sociais para casar são enormes. Não me refiro apenas à pressão social, mas também a questões mais concretas. Acho que já comentei aqui em outro texto: certa vez, quando estava em um relacionamento sério, fiz as contas do quanto eu economizaria por mês se o casamento fosse formalizado. A resposta foi assustadora: mais de mil reais.

É mais barato ser casado. Há uma presunção de seriedade pairando em torno de quem casa (na maior parte das vezes, equivocada). Por isso despesas como seguros (de vida, do carro, etc), por exemplo, ficam mais baratas se você assinar o papel. Não apenas isso. Tente alugar um apartamento sendo casado e sendo solteiro e observe a diferença de tratamento e até mesmo de valor. Plano de saúde e muitas outras despesas flutuam de acordo com seu estado civil.

O custo social também se reflete na esfera econômica. Tente procurar emprego com mais de 35 anos e estado civil solteiro e observe a desconfiança. Quem rompe com o status quo gera medo, receio. Que pessoa é essa que não é como o resto? Só pode ter algo errado com ela… Só pode ter algo de muito hediondo, por isso ela NÃO CONSEGUIU casar. Sim, nunca ter casado fecha portas na vida profissional. É isso mesmo. Nosso país está nesse grau de merdificação. Se for homem, talvez possa ter algo bom creditado: “quer curtir a vida, não quis se prender a ninguém”. Mas se for mulher…

Então, já que no Brasil custa caro ser solteiro e também custa caro se divorciar, o DesPotas de hoje propõe o melhor dos mundos: casamento por tempo determinado, renovável ou não, a critério das partes. Pacotes de um, cinco, dez ou vinte anos, que quando chegam ao final, obrigam as partes a manifestar sua vontade se quiserem continuar juntos. A inércia, o silêncio, a não manifestação faz presumir que estas pessoas não querem mais continuar juntas e o contrato se desfaz, sem que se precise fazer nada. Simples assim, sem Judiciário, sem advogados, um contrato que se resolve pelo mero decurso do prazo.

Se você está chocado, sua mentalidade está atrasada, destoa da realidade. Acompanha a sociedade, mas destoa da realidade. A humanidade é assim, está sempre um passinho atrás da realidade, pois reluta em aceitar as mudanças. Essas pessoinhas que tem medo do que é novo, elas sempre atravancam a evolução humana. Desde sempre a humanidade é isso: 90% agarrados ao status quo e 10% fazendo uma força do caralho para empurrar o mundo para frente.

Sinto informar, mas hoje, o casamento não é mais para sempre. Na verdade, em sua essência, nunca foi. Dificilmente duas pessoas fazem a quantidade de renúncias necessárias para isso voluntariamente. O fazem quando não tem opção, seja esta falta de opção decorrente de proibição ou condenação social em se separar, seja pela incapacidade de manter seu padrão econômico sozinha, seja por insegurança. Havendo opção, pouquíssimos casais ficam juntos até que a morte os separe. E não há nada errado nisso.

Hora de romper com o final feliz fantasioso, com a ideia equivocada de que se for amor de verdade é para sempre. Não, amor é como um Tamagotchi, tem um ciclo de vida, geralmente curto, que depende da competência de quem cuida dele. Se cuidar muito bem cuidado, pode durar muito, mas nas mãos de pessoas comuns, morre antes do que se imagina. E o quanto antes o ser humano aceitar que está tudo bem se o amor acabar, que não é uma morte nem um fracasso, antes romperemos com esse modelo ilusório que não se encaixa mais na realidade. Gente, aceita que dói menos: esse modelo de casamento não está dando certo.

Se não for para sempre, você não pode celebrar uma união com a pessoa amada? Meio hipócrita. Quantas pessoas já casam sabendo que não é para sempre? Muitas. Com essa brincadeira, abarrotamos o Judiciário, magoamos uns aos outros (às vezes um dos dois acredita que é para sempre e sooooofre quando acaba) e, de quebra, gastamos dinheiro com advogado e saúde em uma divisão de bens estressantes. Por qual motivo não estipular um prazo? Acredite, não vai ser a existência de um prazo que vai fazer o amor acabar. Aliás, muito pelo contrário. Isso sim te permite saber quem te ama de verdade.

Seu amor é forte e vai ser para sempre? Prove. Case com prazo marcado. Se, ao final do prazo, ambos quiserem, não há problema algum: renovam os votos e continuam casados. É… as mulheres não vão querer. As mulheres, logo as mulheres, as maiores interessadas, não vão querer. A brasileira média faz do seu objetivo de vida arrastar um homem para o altar, ela joga todas as suas cartas, usa toda sua energia, gasta todas as suas forças para isso. Imagina ter que fazer isso todo ano? Não, não. Elas preferem estar ao lado de um homem que está acomodado e que, se tivesse a liberdade de ir embora, iria.

Mais: falam da conquista de “dobrar” um homem e finalmente conseguir leva-lo ao altar. Nunca compreendi esse orgulho em conseguir “dobrar” um homem. Eu acho extremamente humilhante precisar convencer alguém a casar comigo. Se não partir da pessoa, se precisar de um mínimo empurrão meu para que o casamento saia, desculpa, eu acho humilhante. Casar forçando a barra não é vitória, é derrota. E, mais cedo ou mais tarde, essa conta vem.

Apegar-se a um casamento para sempre é querer contar com a acomodação do outro em ficar, amarrado por um contrato. Amor mesmo, amor de verdade, é quando se abre uma janela para que a pessoa pule fora sem custo, sem ônus e sem burocracia e, ainda assim, a pessoa decide ficar. Meus Queridos, se você quer saber se uma pessoa realmente te ama, faça um casamento renovável que a verdade vem à tona.

Além disso, quando há prazo para acabar (ou não) as pessoas conseguem se programar. Todo santo dia vejo pessoas que se meteram em dívidas conjuntas com parceiros que se ferram de todas as formas imagináveis por isso. É aquela história que discutimos no texto sobre negação seletiva: no fundo, no fundo, todo mundo sabe que o casamento vai acabar (e os que não sabem são ainda mais cegos), mas escolhemos não ver, escolhemos acreditar que é para sempre, pois nós, seres humanos, temos uma dificuldade enorme em antever mudanças de sentimentos futuros.

Quando você ama muito uma música, acha que para sempre vai gostar dessa música. Talvez cinco anos depois você se ache um imbecil por ter gostado tanto daquela música. Estudos confirmam a enorme dificuldade humana em antever/aceitar que mudarão de ideia a respeito de algo que hoje amam. E, cá entre nós, mudar é bom e necessário, é sinal de que estamos em evolução. Vou ficar muito preocupada no dia em que olhar para trás e perceber que minhas opiniões, meus gostos e pensamentos são iguais ao que eram cinco anos antes. Mudar é bom, mudar é necessário.

Infelizmente o casamento por tempo determinado será massivamente rejeitado hoje. A insegurança humana fala mais alto. A massa tende a querer segurança a qualquer preço, ainda que fictícia, ainda que ilusória. Religiões estão aí para confirmar minha teoria: a segurança é a muleta que atrasa o caminhar da humanidade.

Ninguém vai querer “se arriscar” a ser largado quando a validade do casamento expirar. O que para mim seria uma coisa boa (se não está feliz, quero mais é que vá embora!) para outros é motivo de medo. Meu medo, de verdade, é que alguém fique comigo por estar acomodado. Tudo é questão de ponto de vista.

Se quiserem continuar casando para sempre, ok. Mantenha-se o casamento “até que a morte os separe”, ainda que eu acredite com muita convicção que nesse mundo atual, fluido e mutável, não exista mais espaço para contratos eternos. Mas, poxa, liberem o casamento por período determinado, renovável quantas vezes a pessoa quiser, assim toda a sociedade, até mesmo os que não são negadores e não precisam de muletas, conseguem se beneficiar desta instituição.

Vai acontecer. Não agora, mas vai acontecer. Agora vai ser violentamente rejeitado. É o que conversamos naquele texto sobre escudos, quando você tira o escudo de uma pessoa, ela te ataca por se sentir vulnerável. Este texto tira o escudo das pessoas que se afirmam por um casamento. Ouvirei nos comentários que sou mal amada, que só escrevo essas coisas por desconhecer amor de verdade e todas aquelas ofensas que vocês já conhecem.

Quando acontecer, provavelmente não estarei viva para ver. Isso eu já me conformei, eu nasci um século atrasada, minha cabeça não é compatível com a era em que vivo. Mas o pior é que quando acontecer, eu nem ao menos serei lembrada como a autora da ideia. Alguém com a cabeça igual à minha, mas que tenha nascido na hora certa, será aplaudido e celebrado por ter melhorado a vida das pessoas, por ter desafogado o Judiciário e por ter permitido uma nova forma de relacionamento, onde só ficam juntos os casais que realmente se amarem. A vida é injusta às vezes.

Que venham os xingamentos, acusações e presunções sobre minha pessoa. Estamos aqui para isso.

Para dizer que depois de acabar com a maternidade eu quero destruir o casamento, para dizer que em tese parece uma boa ideia mas é tão nova que assusta ou ainda para insistir que o seu casamento é para sempre: sally@desfavor.com

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Comments (40)

  • Gostei do texto. Concordo com seu pensamento.
    Casamento tem mais a ver com subsistência e apoio mútuo do que com sentimentos.
    O que sustenta um casamento com certeza não é o amor entre as partes.
    O amor se extingue quando o relacionamento não estiver potencializando ambas as partes.
    Quando uma parte se torna uma âncora ou fardo para outra, o amor acaba bem rápido.
    Casamentos com prazo determinado é uma grande ideia.
    O prazo de duração, se 1, 2, 3, … anos, pode ser negociado a cada renovação.
    Ora pode ser conveniente uma renovação por um ano, ora pode ser conveniente um prazo maior.
    Não dá tempo para acomodação.
    Acaba com a ilusão do “para sempre”, num mundo onde os perecíveis tem prazo de validade.
    E notadamente os relacionamentos são perecíveis.
    Uma grande ideia.

  • Sally,
    Penso que o grande problema do casamento é o imaginário social que o envolve, a imaturidade dos cônjuges e também a forma no qual é vivido. Pessoas se casando como se o mesmo tratasse de um processo compulsório e necessário à vida, jovens de mais, sem a menor estrutura financeira e emocional para tanto, idealizando um “construir juntos”. Confesso que costumo revirar os olhos quando ouço tal expressão, pois para mim somente seria interessante no campo afetivo e não no patrimonial, patrimônio básico em conjunto cria reféns!

    Por mais que isso soe elitista considerando a realidade social brasileira, acredito que antes de casar, ambos deveriam ter desenvolvido INDIVIDUALMENTE uma certa autonomia financeira — casa própria (ou capacidade de pagar aluguel) bens básicos, emprego — e também autonomia emocional o suficiente para não desejar prender o parceiro a todo custo e encarar com naturalidade a possibilidade de ficar só. Daí a importância de conhecer bem o outro e ser seletivo.

    Entretanto, a romanização barata, a propria realidade social, o conceito limitado de família (homem mulher, crianças e comunhão patrimonial) faz com que as pessoas se atem umas as outras imaginando um “felizes para sempre”, ignorando assim as possibilidades indesejadas, infelicidade, incompatibilidade, por exemplo, farores que desencadeariam um divórcio.

    O ideal mesmo é amar e viver a verdade, sem amarras financeiras ou emocionais, e ter o privilégio de saber que, assim como você, o parceiro tem a liberdade de ir a qualquer momento, mas ainda não o fez unicamente pelo fato de te amar e estar bem ao seu lado, e não por medo de ficar sozinho ou ter que abrir mão de metade da casa/bancar aluguel sozinho. Diminuir os riscos de o “juntos somos mais” se tornar “juntos pelo ‘mais'”. Viver a verdade não tem preço! Um modelo de casamento que tende a minar todos “benefícios subjacentes” e reste apenas o cerne que é estar de maneira mais intensa presente na vida de quem se ama. Uma espécie de namoro resignificado, talvez! Sei que é meio elitista ou até mesmo (infelizmente) idealista demais no nosso contexto, mas penso que evitaria muito sofrimento, bem como tempo e energia perdidos.
    Vish, perdi a mão!

    Mais uma vez me surpreendi com um texto extraordinário. Conheci esse blog em 2018, cheguei por meio de um link em um grupo childfree que me trouxe ao icônico “o lado negro da gravidez” a partir daí, mesmo não me sentindo à vontade para opinar, já faz parte da minha rotina e ajudou a repensar meu modo de ver o mundo. Gratíssima! S2

  • Bom dia,é muito corajosa surpreendi ao ler o texto e descobri que uma mulher defende está idéia. Na realidade i sso acontece com frequência, porem sem está no contrato o que assusta as pessoas é o contrato.

    • Não acontece não, Alessandra. O que acontece é uma dor de cabeça enorme caso uma das partes decida se separar, através de um divórcio caro e demorado.

  • Mesmo sendo casada acho interessante a idéia, até porque acho que hoje em dia o casamento é uma opção, casa quem quer e continua casado quem quer. Há quem esteja feliz, há quem não esteja. Metade dos casamentos acaba em divórcio e uma boa parte desses casamentos não dura 5 anos. Só acho que não seria aprovado o casamento renovável pela questão do patrimônio, financiamento de casa, carro, educação dos filhos(pra que quer ter), essas coisas seriam bem mais complicadas devido a burocracia.

  • Juro que já havia pensado em algo parecido (hahahahahaha) só que para (o pessoal daqueles) namoros (em si) !

    Do tipo : anual, daí (na última semana ou na semana após este contrato) – além da discussão sobre (não ?) renovação – ficaria para “a(s) individualidade(s)” que um(a) jamais suportaria no(a) outro(a), inclusive “desfixação(-ões)”…

  • Sally deliciosa tua ideia, e concordo totalmente com o texto. Também compartilho dessa ideia de que amor se constrói com o tempo, e depende de ambas as partes pra se desenvolver, não É bem da noite pro dia. E vejo por aí, aliás, que muita gente confunde essa paixão inicial profunda e avassaladora do começo de um relacionamento com amor. Tá errado, tá bem errado isso, e um período de “teste”, um prazo a ser estabelecido seria ideal para saber se as pessoas, de fato, se amam de verdade.

  • Acho, inclusive, que o primeiro ano deveria ser esquema de carta de motorista: um ano obrigatório de teste. Depois volta lá e escolhe outra opção (inclusive o “para sempre”). O que tem de gente que casa no castelo de chantilly e separa no dia seguinte… Eu só daria presente no “definitivo”, iria me economizar uma boa grana.

  • Mesmo apaixonada por meu namorado, concordo com você, Sally. Não há o que temer nesse tipo de casamento. Se ambas as partes se amassem e se quisessem depois do prazo, é só renovar. Se não se amassem mais, seria melhor para os dois. Insegurança é a palavra que define o sentimento de quem rejeita violentamente a ideia!

  • Acho uma boa…. tenho certeza que tem um monte de gente que não separa por ser muito trabalhoso…
    Mas como ficam os bens adquiridos no tempo juntos ? Não precisaria de um advogado para acertar essa parte?

    • Sabendo que tem prazo para acabar, cada um coloca no seu nome o que comprar. Se optarem por comprar algo juntos, quem ficar com o bem indeniza o outro com metade do valor ou vende-se o bem e se divide o valor. Mas porra, se tem prazo, quero crer que as pessoas terãoa consciência de não adquirir bens caros rm conjunto…

  • Sou a favor do Mariage strike desde sempre casamento sempre me pareceu uma instituição falida vejo muitos homens com medo de se separarem e perderem seus bens ainda que o amor e o desejo já tenham acabado a tempos é conveniente permanecer casado pra não ter maiores dores de cabeça e perder 50% de tudo que foi conquistado em uma vida minha esperança é que um dia não seja necessário um papel pra provar o amor que sentimos por outra pessoa se algum dia eu me apaixonar pretendo no máximo morar junto sem obrigações legais quanto a isso

    • Darwin,

      O problema é que não dá. A burocracia nos persegue feito um aguilhão. Inventaram a maldita União Estável e tem gente magoadinha que vai chorar para o Judiciário só por ter dividido a roupa de cama puída, os almoços deprimentes de domingo com a parentada como testemunha e umas continhas miseráveis…

      Há opções, como o contrato de namoro (pra proteger o patrimônio e impedir o futuro reconhecimento da maldita), mas é ridículo ter que celebrar contrato dizendo que não tem intenção de constituir família. Ridículo e constrangedor! E o pior é que tem um monte de juristas que afirmam que o contrato não adianta pra porra nenhuma.

  • Se eu falar que gostei da ideia….

    Gera um pouquinho de insegurança jurídica se a burocracia não for bem planejada.
    Tudo em CRPN ia ser muito bacana. Ótimo, na verdade.

    Se o casal realmente quer continuar junto, o prazo vai “forçar” o relacionamento a ser mais amistoso. Essa presunção de eternidade acaba possibilitando alguns comportamentos bem escrotos.

    uma ideia pra se estudar.

  • Acho que não é uma questão de pensar fora da caixa, voce está dando uma solução extremamente simplória para uma questão muito complexa. Acho que voce não pode julgar algo que envolve tantos aspectos baseada em conceitos unicamente pessoais, vc pode achar isso uma grande ideia, mas nao é assim que funciona para a maioria das pessoas. Muito se fala sobre estatísticas de quantos casais se separam por ano e bla bla bla, mas e o outro lado? e os casais que continuam juntos pra sempre? existe algum dado sobre isso? Casamento é muito mais que duas pessoas que se juntam, é algo que vai muito além de um suposto desejo de aceitação.Enfim, respeito sua opinião mas discordo totalmente.

    • Manolo, não estou privando ninguém do direito de casar para sempre, apenas acrescendo uma nova opção. Qual o problema de disponibilizar TAMBÉM essa opção?

    • Manolo,

      Manolo,

      Os casais que querem continuar ̶I̶n̶f̶e̶l̶i̶z̶e̶s̶,̶ ̶a̶l̶g̶e̶m̶a̶d̶o̶s̶,̶ ̶a̶m̶a̶r̶r̶a̶d̶o̶s̶,̶a̶p̶r̶i̶s̶i̶o̶n̶a̶d̶o̶s̶ juntinhos para sempre vão renovar o pacote ou escolher o jeito tradicional.

      O prazo determinado seRia OPÇÃO, não obrigação.

  • Eu não tinha me ligado no preço das coisas mais baratas pra casados, mas em entrevista de emprego rola direto. Consigo driblar a solteiro e dizendo que tenho “relacionamento estável” Acho babaquice, mas sempre funciona!

      • É porque quem não segue o fluxo dos BMS é considerado E.T. Numa entrevista de emprego até uma mãe solteira leva vantagem em cima de uma solteira sem filhos. A resposta correta é: Estou num relacionamento estável, pretendemos casar e ter filhos. Falou isso, tá contratado! Aff

          • Tinha uma amiga (entre o pessoal childfree) que já teve uma história de uma que perdeu uma seleção (para algo administrativo mesmo) para outra cheia de “prole”, claramente foi por isso, só não tenho certeza de ter sido com ela mesma…

            De qualquer forma, sei que acontece muitíssimo e que, por muito tempo, até uma parente minha está (ainda, porque ela têm sido a favor até a “se mudar para puxadinho) sujeita a isso…

  • Sua ideia é ótima!!!!!!!!!!!!!!!!! Ótima mesmo!!!!!!!!!!!!!!! Mais do que ótima: prática e realista. Mas será rejeitada por matar a ilusão dos que não conseguem pensar fora da caixa da tradição.

    Essa teimosia de casamento pra sempre e de amor obrigatoriamente eterno é uma negação da realidade. Acho que até é por isso que repetem tanto (principalmente para as meninas!) que “Casar é preciso. Viver não é preciso.” Precisam se convencer de que não há felicidade fora da caixa e precisam que os outros sejam um eco dessa verdade absoluta para se sentirem seguros. Os que pensam diferente, como a gente, são coisinhas indesejáveis.

    Se tirássemos uma selfie agora de todo mundo que há no mundo teríamos um futuro obituário, porque daqui a 100 anos estaremos todos mortos. Por que o casamento teria que sobreviver até o fim? Por que o casamento tem que ser uma condenação, uma prisão sem grades, uma sentença: “O que Deus uniu o homem não separa?”. (Que Deus tirano!)

    Mas não estaremos todos mortos apenas daqui a 100 anos. Morremos devagar, um pouco por dia… Mudamos o tempo todo. Como você muito bem argumentou, uma música que amamos hoje pode se tornar ridícula para nós daqui a 5 anos. Ou daqui a 5 dias.

    “Somos mortos insepultos, apodrecendo debaixo de um céu cruento e vazio”. Menos o casamento. Esse é pra sempre. Quando vejo alguém se casando eu não posso evitar o sentimento de pena que me invade. Não posso… É involuntário… Mas disfarço com todas as forças para evitar que me odeiem e até aceito ser madrinha quando me convidam. Sem uma certa dose de hipocrisia não dá pra conviver com os zumbis condenados à se repetirem e se repetirem…

    “But I can’t help the feeling
    I could blow through the ceiling
    If I just turn and run”

    Casamento é morte em vida. Já nasce podre. É uma desesperança. Uma sentença de morte em vida, na qual cada dia seguinte arrasta o cadáver do dia anterior.

    O seu texto foi tão lúcido… É triste a lucidez não ser bem-vinda neste mundo…

    • No momento, essa ideia será raivosamente rejeitada. A simples cogitação de que o casamento (e consequentemente o amor) possa não ser para sempre, já ofende. É preciso a certeza de que será eterno para o amor ser de verdade. Mas um dia, ahhhh um dia… um dia será permitido cogitar amor com possível prazo de validade sem ser desmerecido por isso. Pena que não vamos viver para ver.

      • Interessante como a ideia do amor não eterno é aplaudida no clássico de Vinicius de Morais (que a viveu como ninguém em seus sucessivos relacionamentos), mas é rechaçada para a vida comum…

        Soneto da Fidelidade

        De tudo, ao meu amor serei atento antes
        E com tal zelo, e sempre, e tanto
        Que mesmo em face do maior encanto
        Dele se encante mais meu pensamento

        Quero vivê-lo em cada vão momento
        E em seu louvor hei de espalhar meu canto
        E rir meu riso e derramar meu pranto
        Ao seu pesar ou seu contentamento

        E assim quando mais tarde me procure
        Quem sabe a morte, angústia de quem vive
        Quem sabe a solidão, fim de quem ama

        Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
        Que não seja imortal, posto que é chama
        Mas que seja infinito enquanto dure

        Estás em boa companhia…
        Quem criticar tua ideia terá, antes, de se ver com Vinicius de Morais.

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