Culpando a vítima.

Aviso: vai começar estranho. Ultimamente eu ando gastando alguns do meus cada vez mais raros minutos num jogo chamado Agar.io, joguinho simples que simula um ambiente celular altamente predatório. Uma das coisas mais interessantes do jogo é que para ter mais chances de comer outras células, você deve aprender a arriscar se dividir para cobrir mais área a cada ataque. Mas, a cada vez que se divide, seus pedaços ficam menores e mais vulneráveis a outros predadores. Risco e recompensa, como é comum na vida, e por consequência, na sociedade.

Se quiser jogar, procure pelo Somir no servidor da América do Norte (não me misturo com a gentalha da América do Sul). Vamos provar de uma vez por todas que um nerd pode comer alguém… mas, tergiverso: o texto de hoje não tem nada a ver com um jogo, e ao mesmo tempo, tudo. Cada chance de assimilação vem com o risco da exposição. Dividir demais suas forças para cobrir uma área maior também te faz mais vulnerável a ataques que, caso estivesse completo, não seriam perigosos.

E talvez seja exatamente essa a dinâmica entre a cultura secular europeia e os imigrantes muçulmanos. Risco e recompensa. A tentativa de assimilar um povo vindo de um ambiente tão brutalizado pode ser espetacular para a evolução da humanidade, mas… só se der certo. E mesmo assim, não se pode esperar não perder alguma coisa no processo. Toda assimilação te deixa com um pouco do assimilado. Claro, para um continente que está parando de se reproduzir e com dificuldade de preencher vagas mais… limitadas, um influxo de imigrantes oriundos de países pobres pode ser a solução. Mas, novamente… tem que dar certo.

E para tudo isso funcionar, a estratégia tem que ser um pouco mais complexa do que simplesmente abrir os braços e esperar reconhecimento. Assimilar uma cultura também pressupõe aniquilá-la. Recentemente vi uma entrevista de uma jornalista sueca descendo a lenha nos homens europeus por serem muito frouxos. Um tom acima até daquele texto recente da Sally. A mulher estava claramente incomodada com a falta de hombridade de seus pares diante da crise cultural em movimento. Segundo ela, a maioria dos imigrantes causando problemas só responderiam a agressividade. Criados para não respeitar mulheres, não sentiam medo algum de homens que julgavam agir como elas. O que até “explicava” os abusos: quem considera mulher propriedade não vai ter problemas em vandalizar uma que julgam abandonada.

A primeira reação como ser pensante é achar uma ideia horrível. Usar a força contra os imigrantes violentos é negociar com terrorista. Rebaixar-se a um menor denominador comum que demorou milênios para ser considerado assim naquelas sociedades. Como exigir de quem está fazendo teoricamente a coisa justa e humana uma atitude isolacionista e agressiva? Quem está errado está errado justamente pela violência, a mera ideia de endurecer as atitudes contra essas pessoas não deixa de ser uma forma de culpar a vítima.

Se não quer ser vítima de violência e abusos como um estupro, tenha uma arma ou um homem (suficientemente intimidador) ao seu lado. E se possível, não se vista de forma muito chamativa. Como assim? Como dizer para a pessoa que está vivendo numa sociedade avançada o suficiente para respeitar seus direitos que ela tem que agir como se não estivesse mais pela própria segurança? Até mesmo a ideia de que os homens nativos (ou devidamente aculturados) tem a obrigação de proteger as mulheres é bizarra: num mundo mais evoluído, até os homens tem o direito de não quererem ser combativos, deixando essa coisa de macho-alfa para documentários sobre a natureza. Até mesmo pedir para que os homens sejam mais protetores é culpar a vítima.

Mas, se chega-se num ponto onde só uma parte tem interesse ou capacidade de mudar seu comportamento, a tendência é que a vítima esteja mais disposta. O que está fazendo a coisa errada já tem tudo da forma que quer, o impulso de mudança fica atrofiado. A inércia é uma lei universal por um motivo. Culpar a vítima é um pensamento nefasto, mas se uma parte pode ser manipulada para tentar manter uma cultura mais protegida, é justamente a mais civilizada. Tanto que já foram: acreditaram que os imigrantes eram pássaros feridos precisando só de um pouco de carinho para voar livremente. A ideia é linda quando entram alguns por ano, mas é devastadora quando a força de assimilação cultural, tal qual a célula do jogo, está dividida demais para engolir e transformar o que não é aceitável.

E provavelmente essa falha na estratégia já fosse previsível. Antes da Primavera Árabe já se falava que os regimes ditatoriais presentes eram uma espécie de muro entre os planos de assimilação de terroristas e a cultura secular europeia. Recentemente a ISIS declarou que tem planos de enviar mais centenas de milhares de refugiados para a Europa se continuarem a serem atacados. Com o claro objetivo de desestabilizar os países dali. E esses planos só podem dar frutos se os europeus forem vorazes demais nas suas tentativas de assimilação. São dois lados tentando engolir um ao outro, um claramente mais poderoso, mas incapaz de tomar decisões duras o suficiente.

Há um ponto de equilíbrio aqui. Um momento potencial onde a capacidade europeia de lidar com esse influxo de gente fique tão dividida que a cultura mais bárbara tenha capacidade de vencer as pequenas batalhas e começar a mudar os rumos do que seria uma disputa totalmente desbalanceada. Aliás, Roma caiu assim. Existe um limite antes de começarem a aparecer buracos no cobertor de tolerância baseado em pensamento evoluído. E cada buraco tem sua chance de ser aumentado.

E é aqui que eu mudo de rumo de novo: parece que a solução é culpar a vítima e exigir dos europeus medidas duras contra aqueles que não partilham de sua cultura atual: ande com roupas menos decotadas e barbarize quem te ameaçar. Parece, mas se a história nos ensinou algo, é que culpar a vítima dificilmente corrobora com algum avanço social significativo. Tem que ter uma ideia melhor entre abrir as pernas de vez ou fechar todas as fronteiras. Até porque mesmo com as fronteiras fechadas, entrou gente por tudo quanto era fresta. Tentar evitar que um povo com alta taxa de fertilidade vindo de países em ruínas entre no seu país é ver uma pilha de corpos se formando e mesmo assim não conseguir o resultado desejado.

Um lado quer assimilar o outro, mas só um tem o suficiente a perder caso não desista. A Europa é tão boa em assimilar que fez isso basicamente no mundo todo, com resultados variáveis. O que o mundo radical muçulmano quer fazer agora não deixa de ser uma doce ironia, mas infelizmente é o lado que se ganhar, todos perdemos. Ao invés de ficarem preocupados demais com a escolha entre acolher ou banir imigrantes, que tal entrar numa guerra cultural assumida? Porque diante da visão que um dos lados tem que ganhar, fica mais fácil agir de forma concentrada. Uma célula maior que impeça um concorrente muito dividido de ser ameaçador.

Eu só vejo a situação desescalando com uma forte ofensiva de assimilação da cultura secular europeia sobre a radical islâmica. Ao invés de gastar dinheiro lidando com imigrantes, seria excelente corromper os religiosos fanáticos com toda a “podridão ocidental”, enfraquecendo a postura dos líderes radicais e tornando seus países natais um pouco mais agradáveis no processo. Juro que se fosse um líder europeu, estaria mais preocupado com inundar o Oriente Médio de bebida e baixaria do que com políticas de integração dentro do meu país.

Primeiro que pode manter mais gente onde está, segundo que faz os que chegarem na terra prometida de mulheres indefesas mais insensíveis com as tentações diante de seus olhos. Não precisa fazer disso uma política oficial, a opinião pública ficaria emputecida, mas já fazem tantas merdas por lá debaixo dos panos que essa seria só mais uma. Claro que isso não ensinaria valores como igualdade, mas enfraqueceria muito o orgulho da própria cultura (o ser humano adora se julgar correto mesmo quando faz a pior das merdas – é “fácil” estuprar uma europeia porque do ponto de vista do maluco, ela já está estragada mesmo). Até por isso é um flertando com o desastre, estou sugerindo massacrar o orgulho de uma cultura para poder enfrentá-la com mais força quando ela fizer a travessia.

É feio? É. E, mais uma mudança de rumo: também é culpar a vítima. Quem vem de uma sociedade com poucas escolhas além da visão atrasada que impera não deveria ser culpado por agir da forma que foi criado para ser. O ponto aqui é que alguém TEM que perder nessa história. Convivência pacífica não é uma opção, pelo menos não nos moldes atuais. E se é para fazer alguém perder seu orgulho, que seja o grupo mais atrasado.

Bebida, pornografia, consumismo, subcelebridades e futilidades… ao injetar esses elementos numa cultura, que assim como a maioria das culturas, se julga superior, ela começa a ficar sem alternativas senão transicionar para um estado um pouco mais aceitável na questão de direitos humanos simplesmente para lidar com a vergonha. Ou mesmo baixar mais a cabeça diante de uma sociedade que parece mais organizada.

Eu vejo a situação ficando cada vez mais complicada e arriscada para a cultura vigente na Europa evoluída caso não sigam um plano nessa linha. É hora de se unir e jogar com a arma mais poderosa.

Para dizer que sempre precisa parar um pouco para entender as voltas que eu dou nos textos, para dizer que eu acho desculpas cada vez mais elaboradas para falar de nerdices, ou mesmo para dizer que eu sou pior que o Hitler (eu acho que faria melhor que ele, sinceramente – sorte nossa que ele era incompetente): somir@desfavor.com

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Comments (17)

  • Ótimo ponto de vista, eu não poderia concordar mais.
    Meu medo é que os europeus, em toda sua civilidade, só aceitem essa verdade inconveniente quando for tarde demais.
    Inconveniente mesmo, faz alguns anos a França tentou proibir o véu e deu o maior bafafá. Onde já se viu reprimir a cultura dos outros, muitos disseram.

    • Atacar mulheres nas ruas por não estarem acompanhadas é reprimir cultura também, mas ninguém parece enxergar assim.

  • É pra mulherada perceber o custo da castração. Desde quer o mundo é mundo os locais defendiam suas mulheres do estupro e seus filhos da escravidão. Tudo na base da porrada e da estratégia. Aí as mulheres deixaram de ser deles e passaram a cobrar que fossem frouxos.

    O preço de ser civilizado é manter os selvagens fora.

    • Civilizado Surtado

      Frouxidão ?! Você não “chegaria aos pés” da “minha” !

      Se acha que um país estratégico deve ser “Violentópolis”, vá pra Uganda !

      • Civilizado é quem pode meter a porrada, mas decide não fazê-lo por preferir um mundo não-violento. Frouxo é quem diz preferir um mundo não-violento por ser incapaz de meter a porrada.

        • Concordo taaaaaantooooo! Assino embaixo. Tá cheio de gente por aí se dizendo “pessoa civilizada” que tem, na verdade, medo de enfiar umas porradinhas em quem merece.

  • Libertino Empolgado Racional

    Então, né…(re)lembrei de duas reportagens, uma em que muitos já agiam na clandestinidade para beber e “petroplayboy$” já eram “baladeiro$ hardcore”, mas ainda não considerava isso das “brechas quase inevitáveis” das fronteiras deles ,tá aí…

  • É, não vejo uma solução melhor. Embora haja um ou outro imigrante que, após um tempo, assimile o idioma e a cultura, vira um religioso mais light e procrie menos (ou pelo menos é o que dizem), sempre vai ter um cabeça dura infiltrado que olha pros habitantes que o acolheram como se fossem pragas que precisam de um tratamento. E tem os que acham que tem que exterminar todos os infiéis e só deixar os muçulmanos abençoados pra formar o tão sonhado mundo muçulmano (o que pra mim, flerta um pouco com pensamentos nazistas e eugênicos).

    A propósito… Europeus, parem de colocar neonazistas ultradireita e pessoas questionadoras preocupadas com o futuro no mesmo saco. Vocês estão piores que os chativistas daqui, putz grilo.

    • O fanático é perigoso, o fanático muçulmano, o fanático nazista… a diferença é que, pelo menos por enquanto, a Europa consegue oferecer para seus cidadãos uma qualidade de vida e uma liberdade cultural que enfraquece o ponto dos ultradireitistas locais. Lembrando que a Alemanha estava bem na merda quando Hitler e seu partido ganharam notoriedade. Não deixa de ser uma guerra cultural a resposta da Europa ao nazismo nas décadas seguintes, e, caso não se erre a mão na assimilação dos imigrantes atuais, foi uma guerra que funcionou.

  • Eu nunca tinha realmente considerado essa idéia de corromper a cultura deles, mas ao mesmo tempo tinha a consciência de que violência aberta não é a melhor solução: a última coisa que você quer dar pra fanáticos religiosos é um bando de mártires.

    • Violência tem sua função, mas em casos pontuais. Para defender seu povo diante de uma ameaça aberta e iminente, faz-se necessário. Mas se for uma guerra de atrição cultural no cerne da questão, é bom prestar atenção no que é realmente o campo de batalha e adaptar-se a isso.

      • Terceira(s) Via(s) na veia !!!

        Pois é, lá (pelo menos ainda…) já havia até parlamento continental (não dá pra considerar “o Parlasul” latRino, né ?) e você que teorizou melhor até agora !

  • Certeza que você dá todas essas voltas de propósito e fica mudando de rumo por puro sadismo.

    Mas a ideia (se eu não perdi o rumo de veeeeez, já que meu cérebro médio nem sempre interpreta os textos direito) é ÓTIMA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Se a guerra é inevitável…
    Se não há como um lado não perder…
    Se a justiça, para todos, é impossível…
    Se não adianta fechar as portas porque os malas de burca sempre vão passar pelas frestas, feito ratos…
    Se não adianta abrir as portas, porque essa gente ingrata não entende a linguagem da tolerância…
    Se proibir piora tudo…
    Se ninguém está conseguindo proteger as mulheres europeias…
    Se matar cem idiotas gera mil revoltados querendo vingança…
    Por que não experimentar a filosofia do Cavalo de Tróia?

    Será que nenhum líder de alguma coisa importante foi inteligente o bastante para pensar que o melhor jeito de combater o terrorismo é quebrar suas certezas, uma por uma, por dentro?

    Trollar o Oriente Médio, com armas de baixaria, apresentá-los para bebidas mais interessantes do que rios de mel, provar a eles que virgens, salvo exceções, são chatas e chatos, plantar a semente da dúvida, a semente do “E SE?” (E se Deus não for tão poderoso? E se Deus não for o que me ensinaram que ele é? E se quando a gente se explode a gente simplesmente se explode?) mas sem que eles percebam que as sugestões vem de fora é um jeito eficaz de ir destruindo seus valores, seu orgulho e suas certezas, lentamente, até que eles não tenham mais para onde correr, porque o inimigo vai estar dentro deles, misturado a eles…

    SEMPRE tem um jeito de entrar numa fortaleza. Sempre tem um jeito de entrar numa casa. Sempre. Ninguém está seguro. É possível mapear cada fragilidadezinha dos “valores” deles até quebrá-los por dentro.

    Somir, sua ideia, ou o que eu consegui entender da sua ideia, é simplesmente GENIAL!

    • Sim, foi essa a ideia. Guerra cultural, e uma bem suja: despejar em outra cultura elementos subversivos que a enfraqueçam na sua base. Até acredito que com o passar do tempo os que já estão na Europa vão começar a seguir nesse caminho, mas se não for “atacar” o local de onde esses refugiados estão saindo, corre-se o risco do processo não ter o tempo necessário para ser funcional. Orgulho baseado em crença religiosa deveria ser combatido, substituído pelo da liberdade pessoal, mesmo que isso signifique um estágio transitório de libertinagem.

      Por incrível que pareça, eu acredito que antes de entrar no esquema mais europeu (rico) de cultura, o Oriente Médio precisa passar por uma fase mais… brasileira.

  • “Toda assimilação te deixa com um pouco do assimilado.”

    Por isso, repito que multiculturalismo só é bom quando é uma via de mão dupla.

    Em geral os muçulmanos estão assimilando muito pouco da cultura ocidental e abrindo mão em quase nada de sua cultura regida pela sharia e religião.

    • E aqui um pouco da minha intolerância: religião envenena culturas quando se considera elementos básicos como direitos humanos. Se a Europa tivesse que aceitar pratos exóticos, roupas curiosas ou mesmo uma ética de trabalho e dinâmica familiar um pouco diferente da média para integrar os imigrantes, seria um problema até divertido de lidar. Mas quando essa assimilação presume erodir as conquistas sociais e humanista de séculos, a linha está traçada.

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