Macaquinhos.

+Neste carnaval, a família resolveu se fantasiar para curtir a folia. Os personagens do filme Aladim serviram de inspiração. Fernando virou o próprio menino do tapete voador, a mulher se tornou Jasmine e o filho veio caracterizado como o fiel amigo de Aladim, o macaco Abu. Mateus, filho de Fernando e Cintia, é negro. A imagem da família se divertindo no carnaval caiu nas redes sociais e os pais da criança foram acusados de racismo.

Aparentemente a preocupação com o racismo no Brasil também é uma fantasia… desfavor da semana.

SALLY

Ano passado a sociedade se perguntava se existiam limites para o humor. Este ano parece que a coisa piorou e as pessoas estão se perguntando se existem limites para fantasias de carnaval. Isso mesmo. Em uma modalidade nunca antes vista de ofensa por procuração, o Brasil se ofendeu pela fantasia que um pai escolheu para seu filho de dois anos.

Mas não uma ofensa qualquer. Eu entendo que uma bebê vestido de prostituta sendo colocada para fazer pole dance cause indignação, afinal, é degradante, é precoce, é inadequado para qualquer bebê (sim, isso existe). Mas uma criança vestida de um personagem de desenho Disney, em uma fantasia conjunta e familiar? Desculpa, mas nesse caso eu acho que o racismo está nos olhos de quem vê.

Se fosse uma criança branca, ninguém teria dito nada. Como era uma criança negra, fizeram um escândalo. Pensem comigo: tem algo mais racista do que tratar diferente duas pessoas na exata mesma situação por causa da cor da sua pele? Essa é a definição de racismo e foi exatamente isso que o brasileiro médio fez nas redes sociais.

Esse menino se chama Matheus. Por gentileza, essa criança tem nome e é pelo nome que vou trata-la, ao contrário da imprensa, que o despersonificou e o transformou em um show, uma atração. Esse menino tem nome e seus pais tem nome: Fernando e Cynthia. Pois bem, essa família, Fernando (fantasiado de Aladim), Cynthia (fantasiada de Jasmine) e Matheus(fantasiado de Abu, o macaquinho que é o melhor amigo do Aladdin no desenho Disney) fez cair a máscara de muita gente: cada acusação de racismo foi uma projeção, um espelhamento do que há dentro da cabeça de cada acusador. Quem viu racismo, provavelmente o é.

Ok, era previsível que em uma sociedade pau no cu politicamente correta essa fantasia poderia gerar polêmica – e nesse ponto, apenas nesse ponto, os pais erraram. Com ou sem razão, o ideal é que uma criança seja preservada de escândalos, mesmo que para isso os pais tenham que fazer alguma concessão injusta em sua liberdade de expressão. Eu faria concessões? Eu não faria, meu filho se vestiria de gonorreia se quisesse, mas eu não tenho filhos justamente pela minha falta de limites.

Mas… será que realmente os pais conseguiram antever que causaria todo esse escândalo? Senhores do Bom Senso dirão que era óbvio que a fantasia causaria repercussão, mas, se pararmos para pensar no histórico de merdas que vemos gente fazer, coisas muito piores do que uma fantasia de carnaval, perceberemos que o brasileiro não é muito bom em antever a repercussão de seus atos. Aliás, basta olhar para nossos próprios rabos: quem nunca errou a mão e fez algo que julgava pequeno mas que acabou repercutindo demais?

Estamos em um dos países do mundo onde mais chegam pais de família no pronto socorro com objetos nada anatômicos entalados no ânus (e temos um texto aqui com depoimentos reais para ilustrar). Pessoas enfiam gnomos de jardim no próprio cu, enfiam lâmpadas de vidro que quebram e transformam seu colón em um sashimi. Por favor, é mais do que óbvio que falta um desconfiômetro de “vai dar merda” na maioria das pessoas,qual é a novidade? Vocês tem merda na cabeça? Estava esperando bom senso de brasileiro, é isso? Se sim, vão se tratar, a coisa beira a insanidade.

Acontece no Brasil em escala industrial, mas a verdade é que acontece com todo mundo algumas vezes na vida. Quem de nós nunca anteviu errado a repercussão de um ato? Todos, até eu, Control Freak Queen, cagam na previsão de vez em quando, como aconteceu no texto sobre lado negro da gestação, que, se vocês repararem, é um Desfavor Explica, coluna que não se propõe a causar polêmica. Gente, acontece. Aceitem e sejam mais compassivos. Amanhã pode ser com você.

Todos nós já erramos a mão, e certamente erraremos novamente. A nossa diferença para Fernando e Cynthia é que tivemos a grande sorte, isso mesmo, apenas SORTE, de nenhum filho da puta fotografar nossa cagada e ficar polemizando em cima dela em rede social. Por enquanto. Celulares com câmera e vídeos e fotos vazadas são uma realidade constante. Cuidado, ninguém está livre de linchamento virtual. Repito: amanhã pode ser você.

A repercussão foi estrondosa a ponto de ter sido o assunto mais comentado do carnaval. O pequeno Matheus, que estava lindo de Abu, foi mais falado do que todas as subcelebridades semi-nuas, todos os escândalos de famosos bêbados, toda a putaria e baixaria inerente ao carnaval brasileiro. Foi mais falado que políticos corruptos que saíram da prisão em um momento de distração popular. Mais falado do que Zika vírus que está se disseminando em forma de pandemia. Não está óbvio que as prioridades brasileiras estão bastante distorcidas?

A histeria punitiva chegou ao cúmulo de cogitar que o pequeno Matheus seja tirado de seus pais. Para quem não sabe, ele é filho adotivo de Fernando e Cynthia. Sim, existem pessoas que acham que ele estará melhor em um orfanato ou talvez até mesmo nas ruas do que com pais supostamente monstruosos que… que… fantasiam o filho como um personagem Disney! É muita vontade de parece corretão às custas dos outros, não é não? Quanto mais atrasado e tosco um povo, menos compassivo ele é com o erro dos outros e menos tolerante com as diferenças. Estou com asco das pessoas que lincharam esta família, a ponto de Fernando ter ir a público se desculpar pela fantasia que escolheu para seu filho!

Honestamente, hoje eu meço meu grau de interesse por uma pessoa (interesse enquanto ser humano, que fique claro) de acordo com a compaixão com a qual ele trata o equívoco dos outros. Tenho para mim que esse vai ser o grande diferencial que vai nos permitir peneirar gente bosta de gente com alguma massa encefálica dentro do crânio. Trucidar quem comete um único erro (até onde eu pesquisei, não há nada que deponha contra este casal como pais), linchar, espezinhar, incitar revolta, é coisa de gente vil, insegura e baixa.

A sanha destrutiva é tanta que foge à coerência. Se Fernando e Cynthia fossem racistas, será que adotariam um menino negro? Orfanatos estão cheios de crianças negras que são recusadas por pais brancos em todo Brasil, enquanto crianças branquinhas são imediatamente adotadas, havendo inclusive, fila de espera para elas. Por sinal, eles estão na fila para adotar mais uma criança. Quem dera racista fosse assim!

Racismo, meus queridos, seria não vestir o filho com a fantasia que ele queria porque ele é negro. Isso sim seria racismo. Mas no Brasil racismo, por definição, é qualquer ato que desperte um incômodo causado pela projeção do racismo do interlocutor na pessoa que será acusada. A definição de racismo, assim como a de feminismo, foi totalmente estuprada, assassinada e substituída por uma aberração fruto de uma mentalidade coletiva ignorante e atrasada.

A família Fernando, Cynthia e Matheus usou outras fantasias ao longo do carnaval. Por exemplo, saíram em um combo Pequeno Príncipe, Matheus era o Príncipe, Cynthia era a Rosa e Fernando a Raposa. Percebem que a fantasia de Abu era apenas mais uma fantasia e não uma forma de degradar a criança? Para quem não percebe, quero terminar o texto propondo um simples exercício mental (funciona melhor com quem tem filhos). Vamos lá.

Suponha que você tenha um filho. Você, como todo pai de criança pequena, de tempos em tempos recorre a desenhos Disney para acalmar ou entreter seu filho. Ele assiste Aladdin, (que por sinal virou desenho fixo da TV também) e adorou. Ele quer ver seu e pai como o Príncipe e sua mãe como a Princesa e que ser o Abu, nada mais natural, pois crianças amam animais, principalmente animais em desenhos. O que você faz? Você nega esse pedido a seu filho por ele ser negro ou realiza o desejo do seu filho e foda-se o mundo? Eu realizaria. E você? Será que você é assim tão diferente de Fernando e Cynthia? Fica mais difícil de jogar merda nos outros quando se humaniza a situação, não é mesmo?

Lembra do Desfavor em 2009, quando tudo começou? Lembra o que nos fazia diferentes de todo mundo? Era ter a coragem que ninguém tinha de criticar de forma dura aquilo que entendíamos nocivo. Vejam vocês, oito anos se passaram e hoje o que nos faz diferente dos outros é lutarmos contra covardia e linchamento. Que bela bosta este país virou.

OBS: Infelizmente a babaquice do brasileiro ofuscou o tema ao qual eu estava agarrada com unhas e dentes. O macaco que merecia destaque não era o personagem Abu e sim um lindo macaquinho que apelidamos de “BM”. Eu cato notícias desfavoráveis desde 2009 e, puta que me pariu, não lembro deter visto uma notícia tão deliciosa e que expresse tão bem o que é este país como essa. Não vamos poder falar de BM hoje, mas ele, junto com Tilikum, já virou mascote do desfavor. Gente… TEM COISAS QUE SÓ ACONTECEM NO BRASIL! MUITO AMOR POR ESSA NOTÍCIA, É A CARA DO BRASIL!

Para chafurdar na sua mediocridade e me chamar de racista, para declarar seu amor por BM ou para dizer que ainda está com choque com a bebê stripper do primeiro parágrafo: sally@desfavor.com

SOMIR

Talvez eu esteja ficando velho. Estou começando a sentir falta de algo que lembrava no passado e não estou mais encontrando nos dias de hoje: contexto. Em tempos de informações mais limitadas, sofríamos com a manipulação da mídia, mas nossas fontes precisavam montar toda uma narrativa para passar a ideia desejada. Não que fosse bonito, mas ainda havia alguma “arte” na distorção. Tanto que as pessoas não saíam concluindo muita coisa sozinhas, precisava de alguma figura de autoridade contando uma história para gerar indignação popular.

Em tempos de redes sociais, o processo mudou. Mas, ao invés de utilizar as vantagens da internet e da informação que flui livre para diminuir a confusão sobre os fatos que nos são apresentados, a via do menor esforço foi escolhida: manipulamo-nos sozinhos, abdicando de contextos para fazer julgamentos de valor à medida que a “timeline” corre, ganhando tempo precioso para… bom, para fazer tudo de novo.

Ou alguém controla por nós, ou não controlamos nada. O caminho de analisar as informações recebidas antes de tomar uma posição sobre elas presume muito mais trabalho do que as pessoas parecem dispostas a ter. Se uma foto mostra um garoto fantasiado de macaco no carnaval, pronto, é racismo! Execremos os envolvidos rapidamente, antes que surja uma nova informação e a indignação potencial vire notícia velha. Não temos tempo a perder! Se parece, é! E mesmo se não for, pelo menos a linha de produção continua funcionando eficientemente, num país onde a maioria das pessoas parece não se importar em deixar alguns corpos inocentes pelo caminho na busca de uma maior sensação de segurança, não é de se estranhar o pouco cuidado com a integridade de uma família cujo crime foi ter sido fotografada.

O que incomoda, até mais do que a covardia coletiva, é a noção que isso já virou um modo de funcionar de sociedades conectadas. A internet realmente entregou na promessa de nos deixar mais próximos, mas isso também significa que a mentalidade de bando está tomando sua maior proporção na história. Turbas enfurecidas são tão inteligentes quanto seus elos mais fracos, é uma tendência natural que exige cuidados. Tanto que mesmo o Brasil sendo o campeão mundial de linchamentos, eles ainda são ilegais. Não dá pra deixar na mão do povo a execução da justiça: vai ser a justiça do menos capaz elevada ao poder do grupo.

Se lidar com a difusão de responsabilidade ainda é um desafio no mundo moderno, parece que ela ainda não é tratada nos termos que deveria. Como uma manifestação da mentalidade coletiva. Mentalidade que abre mão de contextos por serem complexos demais para o “correto” funcionamento do grupo de linchamento da vez. Pudera: se for esperar que cada um dos elementos que foram ou se convidaram para o apedrejamento da vez entendam exatamente o que estão julgando, não há tempo hábil para aplicar uma sentença. Só a reação instintiva é célere o suficiente.

Pessoas razoavelmente inteligentes conseguem perceber os riscos desse modo de funcionar dos seres humanos enquanto em bandos quando falamos de casos mais “reais”. Tanto que os pais da criança só foram lidar com as reações negativas na internet. Não chegou ninguém na rua para apontar para eles seu suposto racismo. Na vida real, precisamos de contextos, normalmente não adianta só apontar o dedo para alguém e acusá-la, as pessoas tendem a não dar a mínima. E outra: ao vivo a pessoa tem que manter sua acusação “ativa”, tentando angariar simpatizantes a sua causa.

Na internet, cria-se o ambiente perfeito: o linchamento self-service. De qualquer lugar, a qualquer hora, e com a intensidade que você quiser. Ao invés de uma matilha de lobos atacando um alvo coordenadamente, um bando de urubus se servindo, bicada a bicada, do sofrimento alheio. Eu não sou do tipo que vai vir aqui pedir leis mais severas na internet, até porque acredito de coração em liberdade de expressão irrestrita, mas precisamos conversar sobre isso. Pessoas são linchadas todos os dias na grande rede, e parecem sequer perceber isso. Ou, pior: acham que linchamentos são formas aceitáveis de exercer justiça.

Eu aposto na segunda opção porque até mesmo a turma do politicamente correto (que não é ser humanista, é ser chato, burro e egoísta) entra de cabeça em qualquer oportunidade de isolar e atacar um alvo. Quem aparece para julgar o casal acredita, de uma forma torta, que está fazendo o bem. Que vale a pena se juntar para tentar envergonhar e até mesmo ferir alguém que já sentenciaram vilão, mesmo sem ter se dado ao trabalho de sequer pesquisar sobre o assunto.

Essa é exatamente a mentalidade do grupo que se junta para torturar e matar um ladrão na rua. A subversão da justiça para ganhos próprios: o prazer de estar certo, de ser superior, de ter poder. E, azar dos inocentes que caírem pelo caminho, porque quem vem dar chilique em rede social fingindo se importar com questões nobres só quer mesmo ter prazer às custas de outras pessoas. Atacar o elo mais fraco, e hoje em dia o elo mais fraco é mera questão de exposição. Basta ser acusado para ser criminoso.

E o contexto? Oras, o contexto ficou obsoleto.

Em tempo: Sim, temos um novo mascote. BM, o macaco bêbado com uma peixeira! Brasil-sil-sil!

Para dizer que já cansou de ler sobre gente que não sabe ler, para dizer que esperança também é uma fantasia, ou mesmo para dizer que nunca vamos ser expostos com tanto texto: somir@desfavor.com

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Comments (15)

  • O que era que um dos setores da vitimizacao o IFPJ (Intocáveis Fiscais de Racismo sem Parâmetros para Juizo) queriam desta vez? Que o Abu fosse o grandão e o Aladin, um baixinho? Era só o que faltava: alem de tudo, ainda desvirtuar a ficção.

  • Nem vejo tanto pelo racismo. Isso é o de menos. A paunocuzisse é bem mais ampla hoje em dia.

    Hoje todo mundo precisa de uma causa pra chamar de sua. São justiceiros sociais, que usam a censura como regra.

    Discurso de ódio, de gente estúpida que só sabe repetir “apropriação cultural”, opressor, lugar de fala, fascista, coxinha, reaça.

    As pessoas pegam algo ou alguém aleatório, adapta a sua ideologia e seu oportunismo e aponta o dedo pra se mostrar uma pessoa melhor que aquilo e engajada. Foda-se se o cara é inocente, se foi uma mancada tola, se pessoas perderão emprego, família, clientes.

    Não precisamos mais de sistema judiciário, promotores, advogados, policia. Temos a internet e suas redes sociais.

    Acabei por exemplo de ser bloqueado na página chamando pra evento de ‘fechamento do Bar Quintandinha’, por fazer o seguinte comentário que serve pra muitas situações:

    “Sabem por que linchamentos (reais e virtuais) são tão imorais e nos levam de volta a idade média?

    Porque deixa o julgamento da vida e reputação das pessoas na mão de gente ignorante e permeadas pela emoção.

    Empoderamento é diferente de histeria.”

  • O BM merece uma postagem especial como novo mascote! Achei muito simpático da parte dele não atacar mulheres. Ganhou uma fã.

  • Adorei os textos! Concordo com tudo.

    Quando vi a foto, antes da polêmica estourar, julguei imediatamente os pais. Pensei: “Que estúpidos! Como não previram o óbvio??? Não sabem que qualquer associação entre negros e macacos será vista como racismo??? De que planeta eles vieram??? Não está mais do que óbvio que quem se alimenta de vitimismo vai se deliciar com os novos vilões bobinhos da vez?”

    Talvez não seja tão óbvio assim, como a Sally brilhantemente argumentou. Depois de visitar o Facebook do pai percebi, pela postura dele, que realmente foi inocente, pois exatamente por não ser racista, ele não teve a malícia de antever que aquela foto tinha tudo para viralizar e trazer consequências negativas para eles… E os comentários??? Li cada comentário de ódio assustador feito por brancos e negros que mostram a cara, o nome, a profissão, os amigos, a família, tudo exposto pelo perfil do Facebook! O excesso de certeza de que estão certos faz os comentaristas não terem vergonha nenhuma de serem cruéis abertamente, sem anonimato, sem medo de estarem sendo injustos… “Racista” foi um dos xingamentos menos pesados que eu vi…

    Conversei com amigos negros e me disseram que pais negros JAMAIS fantasiariam filhos de macacos, pois sabem o quanto essa associação é dolorosa, racista e cruel. Alguns disseram que não é porque adotaram uma criança negra que os pais não são racistas. Disseram que é o mesmo que dizer “Não sou racista, até tenho amigos negros.”, “Não sou racista, adoro comer mulatas.” ou “Não sou racista, até tenho um filho negro.”

    Enfim, é uma história assustadora em muitos sentidos. Gostei da definição do Somir para os linchamentos virtuais: “um bando de urubus se servindo, bicada a bicada, do sofrimento alheio.” As pessoas sentem PRAZER em bater nos vilões da vez. Isso deveria nos fazer, no mínimo, parar e pensar, mas ninguém para e pensa em nada. Logo logo o assunto mais importante do Carnaval morrerá, todo mundo se cansa de dar opiniões sobre ele. Mas não se preocupem! Amanhã as redes sociais produzem um novo Judas para nos divertir.

    Triste.

    • Triste mesmo é vc cair nessa falaciazinha do “não é porque faz isso que não pode ser racista…”

      Racismo consiste em demonstrar uma atitude depreciativa com noção de superioridade sobre outras raças. PONTO.

      Racismo tem sim, a ver com escolhas. A partir do momento que vc escolhe uma mulher negra pra ser mãe do seu filho, escolhe um bebê negro para adoção, ou se relaciona com pessoas brancas e negras – em que a cor da pele não determinou essa escolha, dificilmente vc pode ser racista, porra!

      Sob a lógica dos seus amiguinho, TODOS podem ter o dedo apontado na cara pra ouvir um “racista”, TODOS podem ser racistas, MENOS os militantes negros, claro… e… não… péra…

      • Hugo,

        Eu não disse que concordo. Eu apenas fui em busca da vivência e do pensamento deles.

        Eu gostaria de ser como você e carregar menos incertezas. Mas eu não sou. Eu me interesso pelos outros lados, pelos múltiplos tons de cinza que há entre o preto e o branco (será que esse foi um comentário racista???)

        • Marina, de tempos em tempos eu solto que não louvo certezas absolutas. E que devem duvidar inclusive de mim. Não deturpe o que eu disse ou prego.

          E quanto a sua pergunta – se vc é racista….

          … não sei. Pergunte pra um militante, provavelmente ouvirá um sim.

          Até.

  • Parabéns, Sally e Somir pelos textos! Quando vi esta histeria toda contra fantasia de criança e de família, não pude deixar de pensar em vcs. Este blog é um alento da liberdade de expressão cada vez mais ameaçada na era das redes sociais e da internet, na qual, ironicamente, se esperava mais liberdade e mais conhecimento.

    A preocupação do racismo no Brasil é uma fantasia e a fantasia mais usada nestas horas é a do politicamente correto – somado à usual hipocrisia do BM. E isto remete a uma característica do BM: O autoritarismo inerente à forma de como ele vê o mundo e como ele vê o direito dos outros de expressarem opiniões. O politicamente correto veio a calhar em uma sociedade terrivelmente mal educada (e até mesmo anti-intelectual, quando a intelectualidade atenta por uma forma mais equilibrada de ver certas coisas, algo que o BM não quer saber, pois foi criado para defender pontos de vista mais autoritários – pior, de uma forma mais autoritária também, o que leva ao desrespeito aos oponentes, levando inclusive a corte de laços de amizade, etc, pela simples oposição de idéias). este tipo de atitude também revela porque sociedades como a brasileira tendem a se inclinar a governos autoritários ou de viés autocrático, pois o próprio povo se comporta desta maneira em um âmbito mais particular das próprias vidas, seja dentro de casa, no trabalho, e isto chegando nas discussões nas redes sociais, criando unanimidades burras e histéricas, que acabam virando verdadeiros dogmas que, se questionados, fazem do questionador um verdadeiro pária social virtual (ou mesmo real, a depender do meio que ele viver). No meio deste cadinho, soma-se a baixíssima auto estima dos BMs, bem como o preconceito disfarçado de bondade e aí tome projeção do próprio preconceito, acusando os outros daquilo que eles mesmos fazem: Acusam os pais de colocarem uma fantasia no filhinho negro, baseado em uma relação de conceitos que os próprios acusadores fazem, e guardam para sempre impigirem aos seus opositores: Associar negros a macacos. Os pais certamente não pensaram nisto, são eles, em sua histeria coletiva punitiva é que estão usando uma associaçao
    que eles mesmos fazem(e guardam para apontar o dedo na cara dos outros) com intuito de punir. E repare como eles criticam os religiosos por fazer coisas semelhantes (e com razão) mas, no final das contas, eles mesmos, que se dizem tolerantes, acabam se comportando como a malta mais primitiva e intolerante quando “acham” que algo está “errado”, são os primeiros a agir como martelo da justiça nos outros. E assim, vão crucificando pais amorosos por causa de uma fantasia usada para se divertir no carnaval, enquanto a liberdade alheia é cerceada em nome da opressão ideológica disfarçado por uma “luta por igualdade” que apenas é usada como meio político para que uns e outros alcancem o poder – e uma vez alcançado o poder, foda-se todos aqueles que os ajudaram a chegar lá. Este filme continua funcionando (especialmente em país da América Lat(r)ina e outros de terceiro mundo) justamente porque ainda existe aquela noção de ser polícia moral dos outros ao invés de cuidar da própria vida, que atinge também a discussão política e social (e a recente onda de politicamente correto no Brasil traz uma triste noção do quanto isto é danoso, o caso desta família é um triste exemplo).

    • Morena Flor,

      Você disse algo muito importante para a gente refletir e reconhecer: “E repare como eles criticam os religiosos por fazer coisas semelhantes (e com razão) mas, no final das contas, eles mesmos, que se dizem tolerantes, acabam se comportando como a malta mais primitiva e intolerante quando “acham” que algo está “errado”, são os primeiros a agir como martelo da justiça nos outros.”

      Essa tendência da humanidade a se tornar igual ou pior do que aqueles que tanto critica ou odeia é universal, é atemporal, acontece a toda hora e diz muito sobre todos, todos, todos, TODOS nós.

      “Nada mais conservador do que um liberal no poder”. A única vacina para isso é autocrítica e muitoooooooo questionamento.

      “Toda crítica é uma confissão.” é uma frase que me faz refletir sempre sobre o quão igual aos que eu detesto eu sou ou tenho potencial pra me tornar. Não sei o porquê da humanidade se repetir desse jeito, geração após geração… Tem a ver com projeção, tem a ver com falta de autoconhecimento… Mas lógica não tem. Nenhuma.

  • Innen Wahrheit

    Oi Sally,

    Esta foto rendeu alguns minutos de assunto lá no lugar onde trabalho anteontem, e coincidentemente (ou não), abordei-o com algumas considerações que você fez hoje em sua abordagem.

    Considerando o ambiente em que eu cresci, achei estranho a atenção dada a essa imagem.

    As piadas com negros tinham bem mais graça no meu tempo… Quando estava no segundo grau, eu costumava pedir a um colega que sentava ao meu lado, nas ocasiões em que faltava energia (houve um tempo em que eram frequentes, e a gente estudava à noite) que ele desse um sorriso pra eu conseguir achar ele no escuro. Ele, por sua vez, me perguntava se eu era gay, afinal por que eu queria ver um homem sorrindo pra mim… E ficava por isso mesmo…

    Essa tal de histeria punitiva está tornando a vida de todo mundo um pouco pior (mesmo de quem não tem nada a ver com o que está acontecendo). Talvez isso explique minha atração pelo politicamente incorreto (que no meu ver deveria ser mais colocado em prática para remediar a situação).

    • Concordo com você. A sociedade é uma mola comprimida no sentido do politicamente correto que a qualquer momento vai descomprimir na outra direção. Involução do caralho ficarem regulando humor, opinião e preferências alheias!

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