Tender critica: The man in the high castle

The man in the high castle

(Brasil: O homem do castelo alto), 2015 – Criado por: Frank Spotnitz. Estrelando: Alexa Davalos, Rupert Evans, Luke Kleintank, DJ Qualls , Cary-Hiroyuki Tagawa, Rufus Sewell, Joel de la Fuente. Gênero: Guerra / Ficção Científica.


Deus, em sua infinita bondade, permitiu que três mentes brilhantes convergissem em um ponto comum. A primeira mente é de Philip K. Dick, escritor de ficção científica que inspirou filmes como “Minority Report” e “Blade Runner”, o que nos leva à mente de Ridley Scott, diretor do filme do caçador de andróides, além de “Aliens” e “The Martian” e que aqui ele atua como um dos produtores da série. Por último, temos a mente de Frank Spotnitz, escritor e um dos responsáveis pela existência de Arquivo X, uma das série mais influentes dos últimos tempos. Essas três mentes unidas criaram a série “The man in the high castle”, um misto de guerra, ficção científica e suspense que mostra que realmente vivemos uma Era de Ouro das séries, o que é muito bom já que no cinema pouco coisa bacana têm aparecido.

Na trama apresentada em “The man in the high castle” provavelmente teria sido pior, já que os nazistas teriam ganho a guerra e, conseqüentemente, conquistado os principais países aliados. Como estamos falando de uma produção americana, é lógico que toda a história se passa em solo estadunidense, mostrando um pequeno grupo de rebeldes lutando contra a tirania dos alemães e dos japoneses, que dividiram os EUA conforme um frágil acordo de colaboração entre os países do eixo.

Se fosse um canal de TV como Fox, Warner ou Sony, uma história como essa seria uma fórmula fácil recheada de clichês e propagandas ianques fajutas. Não que a série não sofra com esses pequenos deslizes, senão não seria uma obra do Tio Sam, mas como a produção está sendo exibida pela Amazon, a qualidade e a liberdade criativa batem frente a frente com as melhores series da Netflix. Isso porque o que poderia ser uma propagada estadunidense acaba virando uma grande teoria da conspiração, desde às pequenas relações entre os personagens até os bastidores das duas maiores potências mundiais da história.

Tudo começa por causa de algumas cópias de filmes cuja assinatura é de uma pessoa chamada ”O homem no alto da colina”, uma figura misteriosa e persona non grata diante dos olhos nazistas. Tanto alvoroço acontece porque os filmes revelam a história como a conhecemos, com os países aliados ganhando a guerra. Isso, na visão dos alemães é uma propaganda que alimenta os grupos rebeldes espalhados pelo país. Por um acaso do destino, uma das cópias cai nas mãos de Juliana Crain (Alexa Davalos) que percorre o país com o filme em uma missão que ela nem sabe muito bem qual é. Enquanto isso Joe Blake (Luke Kleitank), um rebelde recrutado recentemente, também acaba em poder de uma das cópias e seu caminho se cruza com o de Juliana.

Do outro lado do país, o namorado de Juliana, Frank Frink (Rupert Evans) passa maus bocados nas mãos dos japoneses, que além de descobrirem que ela fugiu com uma das cópias, descobrem também que os antepassados do rapaz são judeus. Essas pequenas relações entre os personagens, fazem do roteiro de “The man in the high castle” algo notável, te prendendo a todo momento para saber como eles ficarão, se vão sofrer nas mãos dos ditadores ou se vão conseguir desvendar os mistérios dos filmes e do homem do castelo alto. Desses três, a atuação que mais gostei foi a de Luke Kleitank, que apresenta um personagem cheio de facetas e mistérios, revelando aos poucos seus verdadeiros propósitos. Outro que também tirei o chapéu foi para Rupert Evans, que sofre física e psicologicamente nas mãos dos japoneses.

Aliás, apresentar a história lentamente é uma das melhores decisões tomadas pelos roteiristas, que não se apressam em momento algum e deixam sempre alguma expectativa, alguma ponta solta de mistério que motiva a acompanhar a série episódio após episódio. Vai se vendo, por exemplo, em que um mundo dominado por ditadores, não se pode confiar em ninguém, mas ao mesmo tempo, algumas pessoas ligadas ao poder ficam infelizes com tanta violência e desgraça, virando a casaca ocasionalmente. É nesse clima de conspiração que entramos no ambiente político, em um mundo dividido pelo Japão e pela Alemanha, que venceram a guerra após soltarem uma bomba atômica em Washington D.C. Porém, a Alemanha demonstra poderio bélico, tecnologia e influência muito maiores do que o Japão, o que acaba causando alguns desconfortos diplomáticos entre os dois países, principalmente durante a visita da família real japonesa em território americano. Nesses bastidores, há também gente jogando dos dois lados, alguns defendendo interesses japoneses, outros defendendo os alemães e até alguns poucos rebeldes infiltrados, mas no final das contas, o clima vai ficando cada vez mais tenso e alguns chegam a falar de uma possível guerra entre os dois países.

A Itália não aparece muito na trama, mas pelo livro dá para saber que ela preferiu manter seu poder no mediterrâneo e países africanos, pouco se metendo no enxame de abelhas que virou os Estados Unidos, principalmente após uma doença não declarada de Hitler. Esse fato fará com que em algum momento o líder se aposente, deixando o poder nas mãos de nazistas que acham que os japoneses são muito brandos com as culturas dominadas por eles. Como podem notar, é um cenário complexo, cheio de pequenas feridas expostas e barris de pólvora prestes a explodirem.

O clima de opressão constante e a forma de mostrar uma realidade que por pouco não aconteceu são os maiores trunfos da série. Além disso, os já citados deslizes de propaganda americana meio que se justificam na forma dos rebeldes terem algum pouco de orgulho patriota como motivação. Para quem procura uma série com mistério, suspense e reviravoltas, esta é a oportunidade ideal, uma obra que com certeza entrou no meu seleto ranking das melhores séries que já vi.

Por: Tender, o pseudo crítico

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Comments (3)

  • Uma sugestão para o próximo Tender critica: Death Note. O anime, não a série.
    Ele conta a história de um rapaz que encontra um caderno e o nome de quem ele escrever nele, irá morrer, da forma descrita.
    Foi um anime de Sucesso, provavelmente muitos assistiram, mas uma análise e debate sobre ele seria interessante.

  • O clima de opressão constante e a forma de mostrar uma realidade que por pouco não aconteceu são os maiores trunfos da série.

    Sim !

    Opressão constante têm sido ainda mais atual / predominante e (especialmente) essa possibilidade que foi uma das mais próximas de ser (já ouvi uma conversa sobre “…se tivesse sido de tal forma com os V2 (etc)”) devem estar como uma soma fascinante nesta (ufa !) “ficção histórica”.

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