Tender Critica Especial: Drive

Guia de cinema para principiantes parte 1 (Planos básicos)

Drive

(Brasil: Drive), 2011 – Dirigido por: Nicolas Winding Refn. Estrelando: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Cranston. Gênero: Ação.


Bom meus queridos, este seria meu primeiro vídeo para o Youtube, mas como notaram, isso ainda não foi possível devido à falta de tempo e alguns detalhes técnicos que ainda preciso acertar para não ser processado por direitos autorais e nem ter meus vídeos bloqueados pelo próprio Youtube. De qualquer forma vamos continuar em nossa incursão pelo mundo da critica e agora com um plus, um pequeno curso de cinema para principiantes. Tive essa ideia há um ano atrás assim que assisti Drive, filme de ação que segue algumas regras bem básicas de cinema e que por isso mesmo entrega uma obra muito bem acabada. Eu particularmente não tenho nada contra efeitos especiais, superproduções ou entretenimento barato, mas isso é puro escapismo e alguns críticos não consideram filmes assim dignos para serem considerados como sétima arte. Particularmente eu assisto esses filmes sem pensar muito no que estou vendo, por isso, não esperem muitas críticas de blockbusters por aqui. Filmes como Drive por outro lado, ao entregarem uma fotografia básica porém com qualidade técnica, remetem aos primórdios do cinema e garantem uma boa experiência audiovisual.

Dito isso, vamos partir do princípio de que o cinema nada mais é que fotografia em movimento e por isso segue a maioria das regras de enquadramento fotográfico, ainda mais nos dias de hoje em que até DSLRs estão gravando por aí. Por esse motivo, começaremos este guia por este assunto tão rico, antigo e já bem detalhado em obras acadêmicas, mas que mesmo assim alguns diretores insistem em esquecer: planos básicos de enquadramento.

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Imagem 1: Cuidado, muitas pessoas tiveram torcicolo vendo este filme.

Na imagem acima vemos uma cena de Battlefield Earth, considerado um dos piores filmes já feitos na história do cinema e que jogou John Travolta num caminho sem volta em direção ao limbo de Hollywood, mas será que o filme é tão ruim assim? Sim, primeiro que o filme inteiro tem um enquadramento ligeiramente torto sem motivo algum. Mesmo quando se faz isso em uma cena, é preciso uma justificativa muito boa para que ela seja enquadrada desta forma, mas em um filme inteiro isso é inaceitável. Segundo que o roteiro é baseado num livro de L. Ron Hubbard, o fundador da cientologia (religião adotada por John Travolta). Religiões não costumam fazer sentido, mas a cientologia ganha em disparada no quesito nonsense de ser. Terceiro que todos os atores estão péssimos em cena, até mesmo John Travolta que em teoria está fazendo isso por amor à sua religião, está no automático total.

Bem, vocês tiveram uma noção do que não deve ser feito, agora vamos ao que deve ser feito. Todo enquadramento em um filme deve proporcionar a melhor visibilidade das informações apresentadas no quadro. Se qualquer detalhe ou informação ficar confusa ou tirar a atenção do foco central da cena, o enquadramento está errado ou inadequado. Sim meus caros, cinema é mais complicado que parece, senão qualquer um com uma câmera poderia sair por aí fazendo. De praxe, os enquadramentos se resumem a três tipos básicos de plano: aberto, médio e fechado. Existem outros tipos de plano, que são variações desses três principais, mas ficarão para o próximo texto para não me alongar demais aqui, ok?

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Imagem 2: Plano Aberto

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Imagem 3: Plano Médio

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Imagem 4: Plano Fechado

Nas imagens acima nota-se muito bem o propósito de cada plano e assim a maneira como o diretor encara o olhar da câmera, mostrando de forma clara e objetiva a informação de cada plano gravado. Na imagem 2 temos um plano aberto, que tem como conceito mostrar o ambiente da cena, no caso Los Angeles que é a cidade aonde se passa a história. Se um filme mostra uma cena como essa, tenha a certeza que a cidade será importante para o andamento da história e isso acontece em Drive, já que o personagem principal é um motorista e a todo momento está percorrendo as ruas de Los Angeles. Viu um filme que mostra o ambiente em um plano parecido, mas que em que nenhum momento tem sua devida atenção? Errado, muito errado….

O plano médio é muito utilizado para mostrar a ação dos personagens, desde um andar pela casa até uma cena de briga, como é o caso da imagem 3. Notem como o diretor trabalha as informações do quadro, colocando detalhes na frente, no meio e no fundo da cena. Assim temos uma ideia da onde essa briga está acontecendo e mesmo com tanta informação, não perdemos o foco principal que é a briga centralizada no quadro. Sob uma perspectiva semiótica, a centralização da cena é o básico para que a informação principal não seja perdida por causa de uns seios de fora (Briga? Que briga???). Viu um plano médio e não entendeu aonde a cena se passa ou qual é o foco principal da ação? Você está pagando muito caro para ver isso no cinema….

Enfim o plano fechado, que destaca detalhes, emoções, olhares, objetos, etc. Se o diretor fechou em alguma coisa na cena, é obrigatório que aquilo seja importante para dramatizar a história e dar importância objetiva ou subjetiva a algum detalhe do quadro. Na imagem 4 o plano está fechado na atriz, mas notem que ao lado dela há um espelho refletindo o ator e uma pequena fotografia grudada no espelho. Objetivamente, essa cena representa a empatia entre os dois personagens durante um diálogo, subjetivamente, mostra que a moça tem relação íntima com as pessoas da foto. Viu um plano fechado que não dramatiza ou que mostra detalhes que não possuem relevância alguma? Sinto muito, mas você está perdendo seu precioso tempo….

Bom, por hoje é só, espero que tenham gostado e ainda trataremos neste guia outros tipos de planos e ângulos, enquanto isso, vejam mais alguns prints e tentem identificar quem está no comando subjetivo da cena, que será um dos assuntos tratados no próximo texto.

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Imagens 5 e 6: Ângulos falam mais que mil palavras

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Comments (8)

  • Adorei o texto, Drive é um dos meu filmes preferidos! Além da fotografia primorosa a trilha sonora é sensacional.

  • É impressão minha ou censuraram a loira no plano médio? Na foto está chamando mais atenção que a briga.

    quem está no comando subjetivo da cena nas imagens 5 e 6 são o homem com a mão esticada e o colocando as luvas?

    Estou curiosa para ver esse vídeo no youtube.

  • Gostei do seu guia, Tender. Gostei mesmo Não sou estudioso de cinema, mas já tinha visto algumas dessas noções antes. Mesmo assim, sempre é bom recordar e também sempre há algo a acrescentar. Já estou esperando pelas partes 2,3 4, 5…

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