Enquanto isso…
Enquanto isso, num restaurante lotado:
HOMEM: Mas eu reservei!
MAÎTRE: Não está aqui… desculpe-me, senhor.
HOMEM: Vem cá, amigo… será que não tem algo que eu possa fazer por você para… você fazer algo por mim?
MAÎTRE: Não entendi, senhor.
HOMEM: É que deu um trabalho fazer essa mulher sair comigo… vai ficar ruim pra mim a gente não conseguir.
MULHER: Tudo certo aí?
HOMEM: Claro, linda. Estou só acertando uns detalhes aqui… cara, você tem que me quebrar essa. Cenzinho resolve?
MAÎTRE: …
HOMEM: Heheh… duzentos?
MAÎTRE: Senhor…
HOMEM: Quebra essa! Tenho trezentos aqui… pegar ou largar.
MAÎTRE: Então, eu vou largar. Próximo!
PRÓXIMO DA FILA: Boa noi…
HOMEM: Opa, opa! Espera um pouco aí camarada… um segundinho.
MAÎTRE: Senhor, eu preciso continuar o atendimento.
HOMEM: E vai continuar, mas me diz aí o que eu preciso fazer pra você me liberar uma mesa.
MAÎTRE: Voltar no tempo e reservar.
HOMEM: Você sabe com quem está falando?
MAÎTRE: Não, mas se você tivesse reservado eu estaria vendo seu nome.
HOMEM: Tá, tá… podia colar, né? Não dá pra colocar mais uma mesinha no salão?
MAÎTRE: Não. Próximo!
PRÓXIMO DA FILA: …
HOMEM: É… só mais um pouquinho, amigão.
MAÎTRE: Senhor, eu vou ter que chamar a segurança.
HOMEM: E… e se você fosse até ela e se desculpasse pelo restaurante por terem errado a reserva de dia?
MAÎTRE: Não erramos. O senhor tentou três nomes diferentes assim que entrou.
HOMEM: Errei, assumo. Mas aqueles duzentinhos ainda estão de pé se você for lá falar isso. Você ganha, ninguém que reservou fica sem mesa… perfeito, né?
MAÎTRE: Não eram trezentos?
HOMEM: Está negociando! Bom sinal. Ok, trezentos. Vai lá então…
MAÎTRE: Eu não disse que iria.
PRÓXIMO DA FILA: Podemos ser atendidos?
MAÎTRE: Perdão, senhor. E você, dê licença.
HOMEM: Ok… ok…
MULHER: O que aconteceu aqui?
HOMEM: Nada, querida, nada. Volta lá pro bar que eu já estou pegando a nossa mesa…
MAÎTRE: O senhor está incomodando a clientela, por favor, retire-se.
MULHER: O que ele fez?
HOMEM: Nada!
MAÎTRE: O senhor não tem o direito de estar aqui incomodando os outros clientes.
HOMEM: Eu… eu sabia! Preconceito!
MAÎTRE: Hã?
HOMEM: E eu achando que nunca mais ia passar por isso…
MULHER: O que está acontecendo aqui?
HOMEM: Minha presença te incomoda? Hein?
MAÎTRE: O senhor está causando uma cena…
HOMEM: Ah, sim. É melhor para todos se o meu povo ficar bem quietinho, né?
MULHER: Seu… povo?
HOMEM: E pensar num restaurante chique desses, com um chef famoso da TV… e com essa mentalidade.
MAÎTRE: Não sei do que o senhor está falando…
HOMEM: Não, vocês nunca sabem. Mas nós sentimos, tá bom? *escondendo o rosto*
MULHER: O QUE VOCÊ FALOU PRA ELE? *abraçando o homem*
HOMEM: Deixa… deixa pra lá… eu não pertenço mesmo a sociedade de vocês, meu lugar não é aqui com essa gente de alto nível.
MAÎTRE: Eu… eu tenho certeza que aconteceu algum engano.
PRÓXIMO DA FILA: O senhor está bem?
HOMEM: Eu tentei… eu tentei estar bem…
PRÓXIMO DA FILA: O que você disse para esse senhor?
MAÎTRE: Nada! Eu só disse que a reserva…
HOMEM: NO TELEFONE… *atraindo todos os olhares* no telefone eu era gente, mas quando eu apareci aqui… eu deixei de ser gente, né? Você devia ter vergonha.
MULHER: Mas que absurdo! Chama a polícia! Isso é crime!
PRÓXIMO DA FILA: Eu sou testemunha! Minha mulher também!
MULHER DO PRÓXIMO DA FILA: Ninguém aqui aceita preconceito!
MAÎTRE: Mas…
HOMEM: Chega, eu não aguento mais essa humilhação… vamos embora?
MULHER: Não mesmo! Chama o Chef! Eu quero falar com ele.
POVO ATRÁS: Isso! Chama o Chef! Absurdo!
MAÎTRE: O Chef com certeza está muito ocupado pra…
HOMEM: Falar com alguém inferior como eu?
MAÎTRE: Não! Eu não quis dizer isso…
MULHER: CHEF! CHEF! CHEF!
POVO ATRÁS: CHEF! CHEF! CHEF!
MAÎTRE: …
Alguns segundos de gritaria depois, chega o Chef.
CHEF: O que está acontecendo aqui?
MULHER: Seu funcionário não quer deixar ele entrar por ser preconceituoso!
POVO ATRÁS: É! Absurdo! Isso é crime!
CHEF: Deve ter uma boa explicação para tudo isso…
HOMEM: Até você, Chef? Até você vai defender esse tipo de intolerância?
MULHER: Eu esperava mais de você.
POVO ATRÁS: Absurdo! Decepção! Horror!
MAÎTRE: Chef, eu não…
CHEF: Não fala mais nada! Pode voltar pra casa agora!
MAÎTRE: Senhor…
CHEF: Agora! Fora do meu restaurante! Eu não tolero preconceito aqui!
POVO ATRÁS: VIVA! CHEF! CHEF! CHEF!
O Maître sai cabisbaixo sob vaias de todos os presentes.
CHEF: E, não sei como eu posso me desculpar com você…
HOMEM: Eu só queria jantar com essa mulher linda…
MULHER: Óh…
CHEF: Vem comigo! Você vai ter a melhor mesa da casa, vou te fazer pessoalmente as minhas maiores especialidades e nem sonhe em pagar a conta!
POVO ATRÁS: *aplaudindo e comemorando*
HOMEM: Eu sabia que não estava enganado sobre você, Chef.
CHEF: É o mínimo que eu posso fazer.
HOMEM: Tá bom, vamos jantar?
MULHER: É claro, meu querido!
Os dois são levados para uma mesa com vista para a varanda, o garçom traz o melhor vinho da casa. Assim que ele se afasta:
HOMEM: Às vezes é difícil lidar com a socie…
MULHER: Me poupe da atuação. Da próxima vez reserva antes!
HOMEM: …
Para dizer que não conseguiu depreender qual era o povo dele (preconceituoso!), para dizer que o mundo é dos escrotos, ou mesmo para dizer que essa é pra casar: somir@desfavor.com
Desfavores relacionados:
Etiquetas: enquanto isso
Ivo
“MULHER: Me poupe da atuação. Da próxima vez reserva antes!”
Esta reação foi a cara da Sally!
Um dos melhores contos. Vou usar essa da próxima vez.
Vai que cola?
Alfredo
Puuuta que pariiiiiu… aplausos! Sensacional! Este conto ilustra perfeitamente como se transformou em “modismo” o “vitimismo”… Lembram-se do caso daquele cara, o “Luis Miranda” (que faz papeis toscos na Globo) que acusou um cliente de um restaurante, de racismo, apenas por ele não ter “Babado ovo”…
Infelizmente este mundo é escroto!
Sally
Já me confundiram com vendedora em loja, com atendente no Outback e até com professora na academia. Nunca me ofendi, porque o preconceito não está em mim. Não acho ofensivo ser uma garçonete, uma vendedora ou uma professora. Esse caso desse idiota que se ofendeu por ser confundido é a cara dessa sociedade histérica!
LF
mto boa! qquer semelhança com o mundo real é mera coincidência
Somir
O pior é quando a ficção debochada vira futurologia…