O Reino Unido decidiu recentemente, por meio de plebiscito, deixar a União Europeia. A votação foi chamada de Brexit (um trocadilho com britânico e saída em inglês) e foi uma das maiores polêmicas na Europa nos últimos tempos. Com tudo decidido, Sally e Somir discordam sobre o resultado. Os impopulares opinam, se não quiserem sair.

Tema de hoje: Vai ser bom para o Reino Unido sair da União Europeia?

SOMIR

Não. Aliás, nem era esperado que esse fosse o resultado. O primeiro ministro britânico sugeriu a votação para fazer uma média de democrático com a população e quebrou a cara, porque o Reino Unido só tinha a perder com esse movimento. E praticamente todo mundo com conhecimento sobre a relação quer seria posta à prova concordava com isso. Tremenda cagada do primeiro ministro deles, que talvez estivesse confiante demais quando conseguiu convencer os escoceses a não deixar o Reino Unido tempos atrás.

Se a ideia é deixar os locais com poder sobre todas suas decisões, melhor prestar mais atenção em quem está no poder. Cameron, o primeiro ministro, acaba de demonstrar que tem o senso de detecção de problemas do Pilha. E as principais lideranças que defendiam o voto pela saída do Reino Unido eram justamente os “Trumps” e “Bolsonaros” deles. Souberam trabalhar com os medos da população, muitos justificáveis, sobre imigração e divisão de recursos com estrangeiros. A cabeça do movimento de separação se chamava Nigel Farage, de um partido chamado UKIP, famoso por borrar a linha entre preocupação com imigração e racismo deslavado.

Ok, estou indo por uma linha perigosamente “ad hominem”, afinal, até um relógio quebrado está certo duas vezes por dia. Os britânicos não erraram ao votar pela saída da União Europeia porque um “Bolsonaro” da vida era a favor. A questão é que os argumentos eram dúbios e curiosamente todos muito apelativos pra quem não entende nada de nada do funcionamento do próprio país e suas relações com o bloco continental.

O ponto principal era sobre a imigração, e realmente o Reino Unido, principalmente a Inglaterra, estão cheios de problemas por causa de imigrantes resistentes à cultura secular atacando a população local. Ok, esse problema deve ser resolvido, mas… o que sair da União Europeia faz nesse sentido? O problema é imigração legal? Vejam bem, na Inglaterra temos vários indianos, paquistaneses e afins das colônias de outrora. Os ingleses até chiavam pela perda de empregos, mas esses estavam lá desde o final da Segunda Guerra e não causavam problemas de segurança ou terror. Esses, muito numerosos, não vinham da União Europeia, na verdade, são “responsabilidade” do antigo império mesmo. Podem entrar legalmente.

Ingleses também reclamam bastante de romenos e poloneses. Esses também entram a rodo a ocupam áreas mais pobres. Novamente, causam algumas dificuldades, mas… são a força de trabalho barato do país. Meio que nem os mexicanos nos EUA, mas branquelos. Foi isso que causou o problema recente de imigrantes violentos e resistentes à cultura local? Porque essa turma da Europa pobre que entra legalmente o faz há décadas, sem grandes traumas na sociedade local.

Dizer que sair da União Europeia vai reduzir o número de imigrantes perigosos é a mesma coisa que dizer que banir as armas legais vai reduzir a criminalidade. O problema se chama imigração ilegal de gente vinda do Oriente Médio e África, PRINCIPALMENTE os muçulmanos. E esses não entram no país legalmente. Estar na União Europeia não significa aceitar imigração ilegal, não existe esse tipo de regra! E se vocês acham que o problema são outros países dando cidadania europeia para esses imigrantes, que depois entram legalmente no Reino Unido, provavelmente não sabe como cidadania europeia é difícil de conseguir para um refugiado. Não é um processo legal simples que a Inglaterra vai cortar totalmente com a saída. O grosso do problema continuará a acontecer. Ilegalmente, como de costume.

Mais uma vez são políticos espertos usando o medo da população para sugerir medidas mágicas, tipo o muro do Trump, só para gerar a ilusão de que algo está sendo feito. Tem que mudar a cultura dos imigrantes, e isso se faz com atenção, cuidado e tempo. Tapar sol com a peneira fez a Europa chegar nesse estado lastimável que está. Sair da União Europeia não elimina o “politicamente correto” que deixa de responsabilizar quem deve ser responsabilizado, não reduz o preconceito que reforça o isolamento dessas comunidades de imigrantes… não faz nada nesse sentido.

Só permite a ilusão de construir um muro. Um muro que imigrantes estão acostumados a pular… o custo dessa gracinha de sair da União Europeia vai vir numa crise econômica e não vai gerar o resultado esperado nas políticas de imigração! O Reino Unido ganha mais dinheiro estando na União Europeia do que economiza não tendo que seguir suas regras. A partir de agora, os britânicos vão ter que refazer TODOS os acordos comerciais que tem com quem mais faz negócios. Mais da metade das exportações deles são para a União Europeia.

E, vocês acham que Alemanha e França estão felizes com isso? Que vão dar acordos bacanas para os ingleses depois dessa roída de corda? Se não pegarem pesado com o Reino Unido, vão incentivar outros países a sair fora da União também. E isso vai ser desastroso para todo o bloco. A Europa se uniu não só pra ganhar mais dinheiro, mas pra evitar que séculos de tensões eclodissem em novas guerras. A União Europeia também é uma tentativa de manutenção de paz na região. Não precisa conhecer muito de história pra saber onde a coisa mais escala quando tem uma guerra… a Europa não pode ficar dividida.

E só pra arrematar, sabem quais foram as pesquisas mais feitas no Google no dia seguinte do resultado do plebiscito por lá?

“O que é a União Europeia?”

“O que acontece quando se sai da União Europeia?”.

DEPOIS de votarem. Parabéns ao britânico médio. Parabéns por nada…

Para dizer que não gosta dessa coluna com política, para perguntar porque está saindo texto tão tarde (achei feio deixar os textos de ontem com tão pouco tempo no ar, amanhã volta ao normal), ou mesmo para dizer que eles que são brancos que se entendam: somir@desfavor.com

SALLY

Foi bom para o Reino Unido se retirar da União Européia?

Sim, eu acho que foi bom sim.

Primeiro porque eles queriam, se a maioria do povo quer, nem tínhamos que estar aqui discutindo. Democracia é democracia (e a deles é de verdade!). Pode ser a burrada que for, mas pior do que fazer uma burrada é não poder fazer uma burrada que emana da vontade do povo. Então, se maioria quer, que ótimo que fizeram. Não faz sentido um povo que não quer estar ali ficar amarrado por um papel assinado.

Fora meu apreço pela vontade da maioria, que de tempos em tempos faço valer por aqui também, tem uma opinião que vem me conquistando nos últimos tempos. Como já disse em outros textos, acho muito bacana essa coisa de mundo globalizado, de diversidade e mistura, que acrescenta e enriquece, MAS não a qualquer preço. A partir do momento em que imigrantes promovem agressões sexuais, mortes e massacres, ainda que uma minoria deles, vai desculpar, mas eu priorizo meu cidadão. Se por isso eu tiver que fechar as portas para milhões de inocentes, bem, eu faria sim.

Se você deixar a porta da sua casa aberta para entrar quem quiser, com uma placa informando que pode entrar, você certamente vai acabar conhecendo muita gente bacana que vai te acrescentar conhecimento e ajudar em diversos aspectos. Porém, cedo ou tarde, vai entrar alguém que pode te fazer muito mal. A pergunta é: em troca de várias coisas bacanas, você aceita um grande mal perpetrado contra você ou contra alguém da sua família? Mesmo que seja apenas um único, eu não aceito. Tranco a porta mesmo ciente que haverá uma perda de coisas boas. Certas coisas são tão graves que justificam fechar as portas, mesmo que não sejam a regra.

E, bem sinceramente, afinal anonimato está aí pra isso mesmo, independente da questão da violência, eu acho válido pisar no freio para manter a identidade cultural de um povo. A globalização trouxe muita coisa boa, mas, como tudo em excesso, está começando a me incomodar.

Vocês já me viram dizer mil vezes que a história é um movimento pendular: a coisa vai em uma direção durante muito tempo, até que chega um ponto onde começa a andar para o sentido oposto. Eu acho que o pendulo da globalização está virando, pela forma invasiva e excessiva que ela cresceu. Sim, diversidade é bacana. Sim, povos fechados ficam empobrecidos. Mas porra, isso não quer dizer que tenhamos que virar uma só coisa, sem peculiaridades e identidade cultural.

No caso do Brasil, onde qualquer coisa é melhor do que a cultura local, excessivamente colorida, cafona e barulhenta, eu acho que tem que deixa passar o trator por cima. Que venham os nórdicos melhorar essa bosta zoneada e carnavalesca para, quem sabe, trazer tradições mais dignas. Mas, quando o contrário acontece, quando países com cultura rica, estética e mundialmente apreciada começam a abrigar batuques e tosquices, super entendo fechar as portas e tentar preservar o que se tem. Sim, eu sou uma bárbara que crê na barbárie, eu acho que algumas culturas são melhores do que as outras. Você não? Será mesmo?

Você, que grita em redes sociais contra desmandos cometidos com mulheres, será mesmo que você não acha inferior uma cultura que admite violência sexual contra elas? Porque para gritar com força contra a “cultura do estupro” no Brasil ok, mas imputar isso a estrangeiros não pode, porque né, vai que pensam que você é de direita? Que medo! Não pode. Deixa estuprarem, mas você é super prefrentex, moderno, revolucionário. Tá de parbéns, viu?

Minha verdade é que pessoas educadas, calmas, que falam baixo, que são pontuais, só tem a perder se forem invadidas por povos atrasados. Não precisa proibi-los de pisar em seu território, e nem é isso o que o Reino Unido pretende, basta não ser tão “porteiras abertas”. Eles querem criar suas próprias regras, de acordo com suas necessidades específicas. Não acho essa atrocidade toda que dizem. Olhem para esta realidade com novos olhos, sob a ótica do excesso de globalização e não com uma cabeça 1990, quando o problema era a falta de diversidade!

Não me parece muito produtivo que um bloco grande e heterogêneo como a Comunidade Europeia estabeleça regras gerais de imigração que valham para todos os países. É como dizer que todos os casais tem que fazer sexo “x” vezes por dia. Simplesmente não funciona. Cada um tem uma necessidade, uma vontade, que pode ser alterada de acordo com a realidade daquele período.

Globalização trouxe sim muita coisa boa, mas um país abrir mão da sua soberania e se sujeitar a regras generalistas que podem não ser o melhor para seu povo não é uma delas. Não pense com cabeça de brasileiro, porque aqui é tudo tão cagado, que qualquer regra de fora seria de fato melhor. Pense como quem vive em um país sério, que funciona, mas está se nivelando por baixo e se sujeitando a regras criadas para atender a países piores do que ele.

A grande diferença que foi se desenrolando aos poucos e talvez por isso não tenha sido percebida, é que globalização como escolha é bacana, mas como imposição regrada faz mais mal do que bem. Quando alguém tenta acabar com uma tradição local que considera bárbara meio mundo surge para faniquitar sobre o respeito à cultura de outros países. Pois bem, esta globalização institucionalizada é uma forma pós-moderna de decepar a cultura local também e os países tem todos o direito de se proteger dela.

Sinceramente? O Reino Unido não precisa da União Europeia. E mesmo que precise, mesmo que entre em uma crise econômica filha da puta, mesmo que o Big Ben despenque por falta de manutenção, é melhor para eles ter saído, pois independente do que aconteça, o foi feita a vontade do povo, algo que, aqui no Brasil, é impensado, já que o povo é tão tosco que nem vontade tem, por não conseguir raciocinar. Brasileiro, tem, no máximo, rompantes e geralmente bem esquizofrênicos.

Sai mesmo. Fecha as portas mesmo. Restringe pra caralho as normas de imigração. Foda-se. Cuida dos seus cidadãos e da sua identidade cultural como prioridade em detrimento até da economia. Acho nobre, acho louvável. Pessoas antes de tudo, antes de dinheiro, antes de política internacional, antes de caridade. Assim como tem essa preocupação humanitária com os coitados dos refugiados, vamos ter um pouquinho também com os nacionais que estão sendo mortos, estuprados e agredidos?

Muito feliz que o Reino Unido abriu esse precedente, agora os outros paumolengas da Europa que queriam fazer isso mas tinham medinho do politicamente correto vão criar coragem também.

Erramos. O ser humano errou. Quando se democratiza e se dá acesso sem antes educar, a barbárie engole os civilizados. Se querem abrir as portas, primeiro terão que educar quem entra. Tá certíssimo o Reino Unido, meus parabéns!

Para me chamar de nazista, para me chamar de fascista ou para me chamar de reacionária de direita coxinha patricinha neoliberal conservadora babaca: sally@desfavor.com

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Comments (11)

  • Enxuga gelo. Sair, de fato, não resolveria o problema. Ao contrario, outros seriam criados.

    Mas qual deles seria pior do que rejeitar o humanismo, a cultura local, a identidade do povo? Também concordo que a Globalização já deu no que tinha dar.

    Já pensou? Um mundo pausterizado?!

    PS: Sally, certa vez você observou num comentário que eu estava muito formal. Aceitei seu feedback ( Como não? Vc sempre tem razão…) e busquei solucionar o problema.

    E agora? O que tem notado?

  • Tenho que concordar com o Somir aqui, o maior argumento para o Brexit foi essa história de manter longe os imigrantes bárbaros do oriente médio, mas é um argumento falho como o Somir muito bem explicou.

    Concordo que existam culturas melhores que as outras e concordo que deixar indivíduos de países atrasados culturalmente entrarem num país claramente mais evoluído é um problemão, mas sair da UE não significa eliminar o problema, não significa sequer tentar resolver o problema.

    Britânico pode ser burro e inconsequente também, e dessa vez eles erraram feio. Foram induzidos ao erro com a ameaça dos imigrantes assim como Brasileiro é induzido ao erro com o discurso de acabar com o assistencialismo. Ninguém sabe o que vai acontecer a partir de agora, mas só conseguiram duas coisas com o Brexit: 1.Virar piada, já que muita gente votou sem saber no que estava votando. 2. Deixar a Europa puta.

  • Concordo plenamente que existem culturas superiores e inferiores, não nego isso. Além disso, é um preço muito alto a se pagar por colocar gente atrasada num país evoluído só pela mão de obra. Sinto pena da população, sabe…

  • Sally abordou um ponto interessante nesse contexto: o controle dessa entrada descontrolada de imigrantes é essencial. Não só no Reino Unido, mas em toda a UE. Acho que, sob esse aspecto, pode ter sido um bom negócio ter saído da UE para poder ter autonomia de resolver esse problema, mostrar que seu país não é a casa da mãe joana, e fazer o que é necessário para proteger seu povo, independente da opinião alheia de pessoas bundas que vem taxar o governo de algum “ismo”, alguma “fobia”, etc. Definitivamente pode ser um grande benefício tomar a dianteira e se desvencilhar da paumolescência dos outros governos do bloco que só não fazem o necessário por medo de serem considerados “qualquer-coisa-istas”.

    Todavia, não dá pra ignorar o argumento levantado pelo Somir: o preço a se pagar por essa liberdade de se resolver os problemas vai ser bem alto. Mais precisamente um puta choque econômico geral no país.

  • amoeba metálica

    São Paulo também deveria se separar do resto do país, afinal é o único estado do Brasil que não é uma bosta completa. Ainda.

  • E as principais lideranças que defendiam o voto pela saída do Reino Unido eram justamente os “Trumps” e “Bolsonaros” deles.

    Somir,

    Que acharam “o sangue para tubarões” que eles acabaram sendo : esperaram pelas condições e pelas brechas de quem, enquanto isso (…), tanto “pegou a onda de se mostrar jovem” que ainda (até ainda) tem (duas) redes sociais do cargo e apareceu no videoclipe dos Gaystarts deles do One Direction…

    E ainda concluo (mais !) : se a Commonwealth não fosse da velha (rainha)

    eu acho que algumas culturas são melhores do que as outras. Você não?

    Eu sim, eu também, é claro ! (risos)

    Democracia é democracia (e a deles é de verdade!)

    sob a ótica do excesso de globalização e não com uma cabeça 1990

    As (mais que) excelentes partes, Sally, com certeza !
    Fundamentou bastante (!)…

  • Concordo com a Sally, nada a acrescentar. Esse evento foi nada mais que uma pessoa saindo de um relacionamento abusivo, mesmo o cônjuge sendo rico e provendo estabilidade financeira.

    Só achei meio chato brasileiro (que nem deve ter grana pra imigrar pra casa do lado) metendo o bedelho nessa decisão. Não falo de uma discussão sensata como esta aqui, e sim de opiniões de especialistas de Twitter. SJWs falando que o Reino Unido voltou à Idade Média, que é [____]fobia, que é [____]ismo, que Reino Unido tem dívida histórica e ZZzZZzzZzZzZz. Ah, e também apareceram uns gatos pingados querendo que o Brasil saia do Mercosul.

    É melhor eu estudar um pouco a respeito do Mercosul, antes de falar alguma coisa.

    • Pois é, também acabei concordando (mais) com ela…

      Além do mais…

      * Até houve parte desses gatos pingados já “formando” o nome “Brassaída”…

      * Nenhum “lado de rede social” costuma saber algo nem de Mercosul, nem de Parlasul e, menos ainda, de que também continuam sendo possíveis parcerias com a Aliança do Pacífico, uso do segundo Canal do Panamá e todo o necessário…

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