Ninguém merece.

+Um em cada três brasileiros acredita que, nos casos de estupro, a culpa é da mulher, de acordo com pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgada nesta quarta-feira (21). Segundo o levantamento, 33,3% da população brasileira acredita que a vítima é culpada.

E dessa vez não é erro estatístico, como naquela pesquisa da qual falamos tempos atrás. Desfavor da semana.

SALLY

Uma pesquisa com dados bem similares foi publicada faz algum tempo e também virou Desfavor da Semana. Poucos dias depois foi desmentida. Mas, pelo visto, estava correta mesmo. Nova pesquisa aponta que uma a cada três pessoas acha que a mulher é culpada pelo seu estupro, afirmando que se ela se desse ao respeito não seria estuprada. E aí? Vão admitir que a sociedade é um lixo ou vão maquiar e desmentir dados novamente?

Esta não é uma opinião exclusivamente masculina, mulheres também foram entrevistadas. Mulheres culpam mulheres por estupro, mas na hora de combater o problema, todos se voltam para os homens, para o machismo e para a “cultura do estupro”. De onde vem isso tudo? Eu lhes digo uma coisa: quanto mais machista o pai, menos ele participa da criação do filho, ele foca em seu papel de provedor de “levar dinheiro para dentro de casa”. Então, grandes chances dessas cabecinhas mais fodidas serem fruto da educação predominantemente feminina. Enquanto a sociedade só responsabilizar os homens, nada vai mudar. Quem cria essas pessoas com essa mentalidade são as mulheres.

Mulher é vítima ou é bicho ruim que quando outra é estuprada se apressa em julgar, fofocar e condenar? Desculpa mas mulher também é algoz. E só porque pode ser vítima, isso não é motivo para não recrimina-la quando ela age como carrasco. Da mesma forma que o filho do vizinho é um viadinho, uma bicha louca promíscua e o seu filho é um homossexual, a filha do vizinho é uma piranha que fez por merecer ser estuprada e sua filha é uma vítima. Até quando vamos aceitar dois pesos e duas medidas?

O brasileiro é dois pesos e duas medidas para tudo, o que o torna basicamente um hipócrita. Se processam a Claudia Cruz junto com o Cunha é bem feito, mas se processam Dona Marisa junto com o Lula é um absurdo. Se FHC privatiza estatais é um ladrão filho da puta que vendeu o país, se o PT faz algo semelhante é porque não tinha escolha. Se político não repassa dinheiro para a merenda escolar é um delinquente, mas se a pessoa sonega imposto tá ok, porque ela não concorda em pagar. Se continuarmos por este caminho, vamos mal. Não é nada pessoal com mulher não, ok? É uma hipocrisia injusta e generalizada. Não adianta combater a ponta do iceberg.

Enquanto as pessoas insistem em combater o problema de forma segmentada, como “cultura do estupro” ou machismo, você só está cortando o rabo do dragão. O problema é muito maior do que isso e não afeta apenas as mulheres. Mas, lógico, se você encarar o problema como um todo, verá que a base da pirâmide não é opressão de homem malvado contra mulher vítima e isso tira um grande potencial de vitimização do qual as mulheres não querem abrir mão. A maioria nem consegue ver, se apega ao argumento porque no Brasil já está no inconsciente coletivo que compensa ser vítima. Com licença, eu não quero ser vítima, quero ser protagonista dessa história. Vamos abrir a cabeça e ver mais além.

Com essa vitimização o que se consegue é que homem sempre tenha presunção de culpa em tudo e que fique nas mãos das mulheres. Quando isso se consolidar, se massificar, em minha opinião, teremos uma forma de violência invertida. Se homem agride mulher com porrada e estupro, mulher agride homem com manipulação e chantagem. Quando um homem tiver medo de sequer abordar ou contrariar uma mulher já vai ser tarde demais para tentar reverter isso. Um perigo dar tanto poder para uma mulher como a brasileira, infantilizada, sem maturidade e histérica. Se o que se pretende é equilíbrio e igualdade, estamos no caminho errado.

A culpa é de todos nós, não dos homens malvados e estupradores em potencial. Mulheres são igualmente culpadas, pois além de criar machistas ainda se valem disso quando se portam de forma histérica por estar com raiva de um homem acusando-o do que ele não fez, exagerando ou chantageando. Também são igualmente culpadas quando julgam e condenam outras mulheres em vez de defende-las. Ninguém, em hipótese alguma, “merece” sofrer um estupro. A mulher pode ter consentido tudo, estar pelada em um motel e no último segundo dizer “não, mudei de ideia, não quero” e tem que ser respeitado. Não é não, ponto final. Mas, quando convém, quando é para defender seu filho ou detonar uma “inimiga” (termo horroroso) a mulher convenientemente costuma esquecer disso.

Esse tipo de repulsa a uma ética flutuante deve ser combatido massivamente, abarcando toda a sociedade, não direcionando responsabilidade para um determinado grupo. Todo mundo se porta com dois pesos e duas medidas. Sei que ser vítima em um primeiro momento é muito atraente, dá cota, dá presunção de veracidade e uma série de outros confortos sociais, mas, acreditem, ser vítima só piora as coisas. Dar poder a ESSE tipo de mulher que vemos hoje, que se vitimiza mas joga merda na colega quando ela é estuprada, é desfavor.

A mulher brasileira é, em sua maioria, um DESASTRE, uma retardada emocional, descontrolada, sem noção que se porta de forma vergonhosa nas mais diversas ocasiões, por gentileza, não vamos dar armas para essas pessoas. Vamos combater estupro, não um gênero. Empoderamento (com licença, vou vomitar) não se pede, se conquista. Dar empoderamento a quem está aos berros e se porta de forma infantil e descontrolada é dar um navalha a um macaco.

Que tal combater um problema social responsabilizando a todos os envolvidos? Que tal campanhas voltadas para constranger mulheres que detonam mulheres vítimas de estupro? Ou campanhas para recriminar mulheres que ensinam coisas machistas como aplaudir seu filho ser pegador? Ou, melhor ainda, campanhas nos ensinado a não ser dois pesos e duas medidas em nenhuma esfera do convívio social, seja sexual, seja em qualquer outra área?

Não, não. Vamos detonar os homens, como grupo “rival”, pois aí tem o ganho secundário de deixa-los desacreditados, com presunção de agressores e cada vez que precisarmos usamos a carta “machismo” para silenciá-los, assim como os negros usam a carta “racismo” como fator de intimidação sem que necessariamente seja verdade, desmerecendo os casos reais e graves, quando de fato isso acontece. Essa babaquice desacredita problemas sérios, reais e importantes.

O problema seriam os homens se na pesquisa apenas os homens tivessem mostrado essa mentalidade de “merecer estupro”. O problema é a sociedade toda. Se o problema é sociedade toda e você o combate em apenas parte dela, obviamente vai criar um desequilíbrio e um novo problema. É perfeitamente possível eliminar esse pensamento doentio que quem foi estuprado teve culpa sem necessariamente detonar o gênero masculino e responsabilizá-lo totalmente por algo que muitas mulheres também fazem.

Hora de ver o problema como um todo: o brasileiro vive de dois pesos e duas medidas. É, em sua essência, um dos povos mais hipócritas do mundo. Quando é com ele, ou com alguém que ele defende, o ato cometido é grave, é horrível, é reprovável. Mas quando é com alguém que ele não simpatiza, a pessoa tem sua parcela de culpa e tudo fica relativizado. Da mesma forma quando ele ou alguém que ele simpatiza comete um erro há milhões de atenuantes mas quando alguém que ele antipatiza erra, é sempre um filho da puta que merece ser punido. Chega. Os valores são únicos, a ética é uma só. O que não pode para mim, não pode para você. E se você quer criticar, pense antes, porque se você também o faz, você é hipócrita.

Enquanto pinçarmos problemas pontuais deste grande problema maior que é a conduta hipócrita, nada vai melhorar. Não é só no sexo que isso se faz presente. É maior, mais grave. Virou o modo de funcionar do brasileiro depois dessa era das trevas de “nós e eles”. Chega. Tem que combater o double standard como um modo de funcionar, em todas as áreas, em todos os momentos. Tem que reeducar o brasileiro mostrando essa visão macro, mostrando a reprovabilidade de ser um hipócrita seja nas pequenas coisas, seja nas graves, dentre elas, nessa questão do estupro.

E se por algum motivo você acha que meu texto foi “contra” as mulheres, faça um favor a si mesmo: me ache uma escrota, feche esta página e nunca mais volte aqui. Você não tem interesse em mim e, acredite, eu também não tenho o menor interesse em você.

Para dizer que hoje eu vou apanhar de todos os lados, para dizer que prefere ter um culpado para apontar do que dividir a culpa ou ainda para dizer que este texto só será compreendido em cem anos: sally@desfavor.com

SOMIR

Podem me pintar como pessimista, mas eu acredito que o número seja ainda maior do que isso. Na pesquisa, o maior índice de concordância com a culpa conjugada da mulher no caso de estupro vem de pessoas mais velhas, com menor escolaridade e que moram em cidades menores. O que encaixa perfeitamente com os pré e pós conceitos que temos desses grupos. Sim, pessoas mais simples e brutalizadas pelo estilo brasileiro de viver tendem a pensar os maiores absurdos.

E acreditar que a vítima tem culpa num estupro encaixa claramente na categoria de absurdo. Mas… será que não estamos vendo uma distorção dos números reais, ainda mais assustadores? Porque esse tipo de mentalidade não é essencialmente maligna, não precisa fazer um pacto com o capeta para chegar nesse tipo de conclusão. Ela tem um “fedor utilitarista” de quem vê a vida como ela é sem muita esperança, ou francamente, sem mesmo muito interesse em como ela poderia ser.

A pessoa de mais idade, pouco estudada que vive numa cidade pequena só junta fatos: homens mexem mais com mulheres vestidas de forma provocante, como se ganhassem direito de usufruir do corpo alheio a partir de um certo nível de pele exposta. Não é correto, mas é verdade que acontece. Cidadão ou cidadã – porque a pesquisa mostra que quase um terço das mulheres também concorda com isso – não costuma pensar se é certo ou errado, só une as informações na cabeça. Se eles sabem que homens abusam quando veem mulheres vestidas de uma certa forma, presumem que a mulher que se veste assim pensa de forma idêntica e está assumindo um risco consciente de estupro.

Agora, vamos ser honestos, pelo menos no pensamento: vocês realmente acham que essa simples lógica de presunção de intenção da mulher está restrita ao público que respondeu sim à pergunta da pesquisa? Numa sociedade onde o grosso da população mora em grandes centros – muitos com mais estudo e relativamente jovens – não é estranho que esse assunto ainda seja discutido? Se fossem só aquelas pessoas pensando dessa forma, será que teríamos tantos estupros assim nas cidades grandes? Algo parece meio fora dessa lógica, não? 85% das mulheres temem o estupro, e por excelentes motivos no Brasil.

Argumento o seguinte: junto com essa mentalidade retrógrada de culpar a mulher pelo estupro vem no pacote a dificuldade de entender as perguntas que lhe são feitas, e principalmente, a inocência de responder algo assim. Um jovem com um pouco mais de estudo de um grande centro urbano já foi exposto algumas vezes à ideia de que é absurdo dizer isso sobre uma vítima de estupro. Sabe que não é uma presunção que quer ver sobre si. Será que a pesquisa não está mostrando quem é “tonto” de falar a verdade sobre o que pensa e não os reais dados sobre a mentalidade deste povo?

Porque esse mesmo povo, em sua maioria, acredita que as leis protegem os estupradores. Claro, talvez seja a dissonância entre a ineficiência do poder público e suas funções presumidas, mas eu apostaria e ganharia se presumisse que na verdade, a ideia dessas pessoas é que o errado é não existir pena de morte para estuprador. Quantas pessoas com pouco estudo você conhece que não defendem a pena de morte? Novamente, estou pegando a linha da brutalização e do utilitarismo exacerbado. Pra maior parte desse povo é mais fácil matar bandido, ponto. Não estou fugindo do tema, estou só fazendo uma presunção: aposto que o grupo do “tem que matar” e o grupo do “mulher faz por merecer” tem uma intersecção considerável. Tem uma raiz parecida.

Com o mínimo de contato com a mídia de massa e a mentalidade já prevalente (em tese) nas grandes cidades, já é possível perceber que uma coisa você pode dizer sem medo, a outra… a outra não pega mais bem. Pode pensar, pode até falar entre os amigos, mas em público não é mais tão aceitável dizer que mulher que se veste “daquele jeito” estava pedindo pra ser estuprada. Então, quando vem a pesquisa, não se garante que a opinião desse povo seja essa. E sim que o Brasil é um país tão atrasado que quase METADE das pessoas de baixa renda nem percebeu ainda que é feio falar algo assim para o pesquisador.

Admito, estou presumindo demais, mas mais um dado da pesquisa: mais da metade dos entrevistados acha que a polícia não está preparada para lidar com os casos que recebe. 51% pra ser exato. Qualquer número abaixo de 99,99% é preocupante nesse caso. Porque a mentalidade de muitos policiais (e até promotores e juízes) é de um utilitarismo brutalizado idêntico ao que a população exprime nessas pesquisas. O primeiro que olha torto pra mulher é o policial. Como é que quem não acha que é culpa da mulher pode olhar pra polícia brasileira e achar que o tratamento está aceitável? Pela lógica, tem um mix de 20% dos entrevistados que também estão dando alguma bandeira sobre algo de podre em suas respostas.

E voltando ao texto da Sally, num país como o nosso, pais quase não criam os filhos. Essa gente foi criada por mulheres que passaram esses valores. 30% das mulheres acham, 40% dos homens? Mais 10% de algo meio estranho no ar, só se eles são filhos de chocadeira. Nem tudo é culpa do machismo dos homens.

O desfavor da semana é essa opinião estúpida ainda ter essa força, mas também porque dá pra desconfiar seriamente que tem mais gente com essa opinião do que está aparecendo nos resultados. Se brasileiro fosse muito consistente em fazer o que fala, o Brasil não seria assim. Hipocrisia e desinteresse pelo outro correm soltos. Adestraram boa parte dos brasileiros a não dizer essa bobagem, mas… estamos em 2016 e os que admitem são um terço.

Imaginem só os que pensam e não dizem.

Para dizer que eu especulei tanto que vou ser chamado pra trabalhar na Bolsa de Valores, para dizer que é culpa da direita alternativa, ou mesmo para dizer que o que falta neste país é aborto: somir@desfavor.com

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Comments (9)

  • A velha tendência de responsabilizar os outros e safar-se da culpa.
    Castramento.
    Como se diz no interior: tem que capar.
    Lex Tallionis

  • Destacaram tanto o índice entre ´pessoas mais velhas e de baixa escolaridade´ mas nem lembraram dos números absurdos de violência sexual nas Universidades brasileiras.
    Brasileiro de modo geral se recusa a ver as coisas como um todo reduz a uma fração pro poder maquiar e continuar fingindo que está tudo bem, me dá uma angústia toda vez que leio/vejo noticiários.

    • Educação vem de casa, é a base de tudo. Não se pode esperar que por cursar colégio ou faculdade alguém aprenda respeito.

      • Concordo mas para muitos ainda pesa a ideia de “gente educada, estudiosa, de família boa jamais faria isso” por isso o contraponto seria importante.

  • Acredito que essas pesquisas que envolvem questões polêmicas, perguntando a opinião dos brasileiros, mostram resultados que não condizem com a realidade. Sério que “apenas” 1/3 dos brasileiros pensa assim? Acho que está mais como foi apontado pelo Somir: 33% dos brasileiros ainda não se valem de opiniões socialmente aceitáveis pra esconder a merda que pensam. Acredito que esse número de pessoas ignorantes seja bem maior.

    • Certamente mais pensam assim, 33% são de fato os completos sem noção que nem ao menos tem a percepção de esconder

  • “Será que a pesquisa não está mostrando quem é “tonto” de falar a verdade sobre o que pensa e não os reais dados sobre a mentalidade deste povo?”
    Eu penso o mesmo nessas pesquisas sobre aceitação de LGBTs, Somir. Brasileiro só gosta de gay (e olhe lá) na novela, aquela coisa estereotipada, risível, com aquele sotaque e aquelas mãozinhas sacolejando.

    Existe um grau de atraso civilizatório que nem o mais forçado empodreramento ajuda. Na verdade, só faz o povo se agarrar ainda mais nos seus achismos retrógados. E mesmo os que estavam quase mudando seu pensamento, acabam regredindo quando vê a agressividade do Esquadrão Mente Aberta, que erguem as peixeiras se você mostrar uma sombra de discordância.

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