O futuro da fé.

Como ateu, e como eterno otimista sobre o futuro da humanidade, sempre fico curioso para saber se a virada do mundo para longe de religião já está chegando ou não. Porque deveria ser apenas uma questão de tempo. Quando tivermos iluminado o suficiente dessa grande sala escura que é a existência humana, faz sentido que o espaço do misticismo diminua, não? Pena que a realidade não é tão lógica assim.

Recentemente eu li um relatório de um instituto chamado Pew Research Center intitulado “O Futuro das Religiões Mundiais: Projeções de Crescimento Populacional, 2010 – 2050”. Está linkado para quem quiser ler, não estou defendendo ou criticando as conclusões deles, mas vou analisar alguns desses dados e tentar fazer senso do futuro da superstição humana.

Algumas das projeções:

O número de muçulmanos vai quase que igualar com o de cristãos, o país com a maior população dessa religião vai ser a Índia. A população budista tende a ficar mais ou menos do mesmo tamanho. Um quarto dos cristãos do mundo estará na África sub-saariana. E para o meu espanto: o número de ateus e agnósticos, apesar de aumentar em alguns países como EUA e França, vai diminuir em proporção até 2050.

Por partes, o crescimento da religião muçulmana era previsível, ainda mais com o pêndulo do comportamento humano médio indo para o conservadorismo. As outras religiões ficaram boazinhas demais para a sede de sangue da humanidade… e, além disso, evidente também, uma religião tão focada na manutenção dos seus fiéis – mesmo que tenha que ameaçá-los por isso e intimidar as outras religiões – tende mesmo a manter um crescimento estável. Talvez quando o elefante na sala estiver realmente fazendo estragos, olhem para ele. Enquanto isso, é intolerância dizer que essa religião está fora de controle e em metástase no mundo.

Me preocupa muito que a Índia vire o maior país muçulmano do mundo. Não me parece uma boa ideia que o “gigante gentil” com mais de um bilhão de pessoas que normalmente não pentelhavam o resto do mundo vire um ninho da religião que mais apronta no mundo atualmente. O hinduísmo vai continuar sendo a maior por lá, mas a margem vai diminuir. Já o cristianismo vai seguindo suas novas fronteiras rumo à África e a Ásia, especialmente a China. Logo logo vamos ver a China se tornando o maior país cristão do mundo, roubando o título do Brasil.

O que nos leva até o ponto que mais me chamou a atenção: os sem religião diminuindo em proporção? Mas que mundo é esse? Estamos involuindo? Eu apostaria que… não. Antes de melhorar, piora. O número de sem religião no mundo tende a desabar com a abertura do mercado na China. A religião cristã é uma marca poderosa, e o sistema chinês tinha várias limitações ao desenvolvimento mercadológico dessa religião por lá. Agora que o chinês pode beber coca-cola e usar iPhone, nada mais natural do que consumir uma religião ocidental. Status.

Não podemos esquecer que é uma população pobre e praticamente sem suporte do Estado. Chinês trabalha até morrer num país escrotamente desigual. Evidente que a religião que mais deu certo no Brasil daria certo nesse cenário também. Sempre fui muito cético com essa história de russos e chineses serem ateus. Não é todo mundo que tem a capacidade ou mesmo o mínimo de interesse na realidade para abandonar a religião. Se aqueles povos não tinham permissão de serem religiosos, não é como se o ateísmo fosse algo racionalizado neles.

Assim como não se pode culpar quem nunca teve outra alternativa além da fé dominante em sua região, não se pode culpar quem é “falso ateu” por ter sido proibido de escolher alguma religião. Ao invés de achar triste que a proporção de pessoas sem religião do mundo esteja diminuindo, eu acho um excelente sinal: acabou o bloqueio numa grande parcela da população mundial, e agora quem não entende porque ser ateu não vai mais ser. As religiões populares vão se arreganhar ainda mais para conquistar novos fiéis nesses mercados, iniciando mais uma era de irrelevância dogmática.

Quando as igrejas brasileiras estiverem livres para infestar China e Índia como já estão fazendo na África (terreno preparado pelos brilhantes católicos anti-camisinha no continente com a maior população com AIDS no mundo), quando todos os picaretas cristãos, muçulmanos e seja lá o que mais estiverem realmente inseridos nesses novos mercados, vocês acham que vai acontecer o quê? Se Hollywood já está abrindo as pernas para conseguir as bilheterias chinesas, podem apostar que os religiosos vão abrir em dobro para conquistar o doce dízimo asiático.

Povos mais diretos e sem noção como chineses e indianos são uma excelente adição a qualquer religião, isso é, se você quer ver uma religião perdendo força e moral. Porque por mais que tenhamos uma nova era de ouro no catequismo mundial começando agora, argumento que não dá pra criar uma cultura atéia (como acontece em países nórdicos ou mesmo na França agora) sem passar por alguns perrengues religiosos primeiro. E, vamos ser honestos? Tem um fator de arrogância que pode ajudar sim. Quando o povão acredita em algo, quem tem um pouco mais de cultura sente-se mais inclinado a tratar como bobagem.

Num país onde todos eram obrigados a se dizerem ateus, grandes coisas os motivos pelos quais você fazia isso. Mas num país livre (pra isso) onde a massa escolhe acreditar no zumbi judeu ou no profeta sem rosto, a pessoa pode se sentir mais especial só por não pactuar com essa bobagem toda. É um motivo merda para ser ateu? É. É uma sentença inescapável de continuar merda pra sempre? Claro que não. Dar o passo para longe de superstição cria novas ferramentas no cérebro da pessoa, e com o tempo e boas companhias ela é mais do que capaz de pensar que abandonar a religião vai muito além de vaidade intelectual.

Sem passarmos por essa fase de expansão religiosa, o modelo de pensamento ateu não tem nem o que confrontar. Chineses e russos eram ateus não praticantes, por assim dizer. Só vou me assustar quando países como índices de desenvolvimento humano elevado começarem a perder sua população “não afiliada”. Agora, China, Índia e África entrando para esse clube das mega-marcas religiosas do mundo? Me preocupa tanto quanto a expansão da coca-cola ou qualquer outra empresa focada em lucro. Até porque…

Para dizer que só eu pra deixar uma pesquisa ainda mais chata, para dizer que estava com saudades de eu batendo em religião, ou mesmo para dizer que riu do nome do instituto (somos dois): somir@desfavor.com

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Comments (24)

  • China infestada de cristãos?

    Número de ateus diminuindo?

    Inacreditável!

    Eu achava que a tendência era justamente contrária…

  • Hm… vou salvar esse texto pra ler daqui a alguns anos…

    Mas deixo o meu palpite nesse “bolão”: com o aumento do cristianismo para o lado da Ásia, essa religião vai perder o prestígio. Será visto como algo de gente atrasada, tipo o islamismo atual. Na Europa e Canadá vai ficar mais ou menos a mesma coisa que está (conservadores conseguirão segurar o cristianismo por lá durante algum tempo), mas as novas gerações crescerão com o medo constante de um atentado no meio da rua ou da sala de aula. Mais ou menos como no Brasil a gente conversa sobre assaltos com a maior naturalidade.

    Eu às vezes brinco dizendo que quanto mais irreligiosos existem, menos irreligiosos existem. Mas como na Europa a expectativa de vida é alta esse povo não vai desaparecer tão cedo.

    O budismo… hã… Não cheira nem fede. Com a população japonesa encolhendo, essa religião é a que está mais em vias de desaparecer.

    O islamismo vai dar uma crescida, mas vai estagnar. Se não pelo aumento da hostilidade ocidental com essa religião (eu sou pessimista e acredito num holocausto islâmico), pelo fato de que nos países mais islâmicos as pessoas morrem de coisas bem… atrasadas. Fome, sede, doenças, violência excessiva etc. Acho que nem a procriação animalesca deles vai compensar. O mesmo para o hinduísmo.

    Haverá várias migrações em massa devido ao aumeto da temperatura nos lugares mais quentes. A China vai se tornar mais miscigenada e talvez os países do golfo tenham problemas com conterrêneos “traidores” indo para o clubinho de Jesus. Especialmente a Arábia Saudita, que acredito (ou prefiro acreditar) que não vai conseguir manter pra sempre seu povo isolado naquela caixa de areia patética.

  • acredito que qualquer brecha que a ciência deixa já é motivo para algumas religiões existirem, por pura ignorância. E se além disso tudo, ser crente for uma questão genética? aí ferra tudo de vez, não vai acabar nunca.

    • Existem sim correntes que dizem que a religiosidade é um “bug” do sistema empático humano. Crianças com amigos imaginários estariam trabalhando com o mesmo processo da fé numa divindade. O amigo imaginário “normal” é reprimido, mas o dos céus não é.

      • se for um bug cerebral, teria como mudar isso? alguns genes podem ser “ativados” ou “desativados”. então, já que os religiosos são os que mais procriam, esse bug vai passando de geração para geração. a questão é saber se todos, até nós ateus, temos esse bug, só que não foi “ativado”.

  • Eu não acredito no fim das religiões, simplesmente por que as possibilidades são infinitas, sempre vai existir uma religião da moda, desde as religiões mais punitivas como as abraâmicas, até religiões como o budismo, religiões espiritualistas e new ages, tem pra todos os gostos é mais fácil uma popularização de religiões que antes não estavam em voga do que acabar de vez.

    • O ser humano está menos supersticioso com o avanço da informação. Entre fé cega e uma “religião de estimação”, até naquele efeito “vai que” que a Sally escreveu… bom, isso me parece menos danoso.

  • Acho que as religiões nunca irão acabar. Mesmo que as atuais sejam extintas, surgirão outras que talvez sejam mais “convenientes” e que até mesmo se apropriem de dados científicos para tentar comprovar a sua fé…
    Enquanto existir um espaço vazio de conhecimento, por mínimo que seja, sempre haverá espaço para alguma religião.

    • Religiões tendo que se apertar num canto para se manterem economicamente viáveis são muito menos danosas, creio eu.

  • Somir, entendo tua preocupação com o crescimento de religiões conservadoras e fanáticas, pra dizer o mínimo. Isso também me espanta.
    Mas não creio que um dia a humanidade vá evoluir a ponto de não ter mais religião, até porquê ela é uma espécie de refúgio, conforto, devaneio para a mente humana.

    Sobre os russos, até onde eu já pude observar estudando um pouco da cultura desse povo, eles não tem nada de ateus, viu? Há uma questão muito forte de fé na ortodoxia (que é diferente do catolicismo apostólico romano) interligada ao nacionalismo.

    • Mas a religião vai evoluir até o ponto de não ser mais religião. Eu acredito sim num ponto onde o radicalismo vai ser basicamente um distúrbio mental catalogado, com tratamento. Quando as religiões assumirem de vez seu papel de marcas para continuarem lucrativas no mercado, o que conhecemos como fé vai mudar muito.

      Os russos eu mencionei porque tecnicamente eles faziam parte da falsa estatística de ateus. Concordo com você que é um povo religioso e supersticioso como qualquer outro.

    • Todo bandido que fica famoso acaba passando por isso: o maníaco do parque tinha centenas de admiradoras. Só não me sinto apta a explicar uma coisa dessas, acho que seria trabalho para um psicólogo.

      • Nos EUA eu já sabia que acontecia muito; uma que “(realmente) apenas era (tão pacífica e) curiosa” que já comentava até isso ( naquele tal “principal grupo de facebook em que eu mais frequentava” )…

  • Vai ser um inferno essa infestação de muçulmanos. Pior que crente, além de serem fanáticos fazem terrorismo e peocriam pra cacete. Ainda bem que já vou ter morrido quando acontecer. Por que não percebem que locais sem religião se desenvolvem e eles vivem na guerra e miséria? Ainda bem que não vou ter filhos nesse mundo pau no cu!

    • pena dos suecos… vão ser obrigados a esconder seus lindos rostos e cabelos dourados por não enfrentarem essa escória que está destruindo o país deles

      eu não tolero quem não me tolera prontofalei

    • e as feminazi e os viado tudo aplaudindo
      quando estiverem na faca do muçulmano vão morrer de saudade do cristianismo

    • Ainda bem que não vou ter filhos nesse mundo pau no cu!

      Ainda bem que já vou ter morrido quando acontecer.

      Queria “ter esse otimismo” sobre meu “se morrer de velho”…Boa sorte para nós !

    • Embora eu saiba que tecnicamente a religião em si não seja o problema, porque gente que não está fodida da cabeça tende a não aprontar dessas mesmo sendo muçulmana. Mas a combinação é maligna… e não falta gente brutalizada e emputecida nesse mundo.

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